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4 A PROPRIEDADE DA TERRA EM NOVA LIMA

4.4 Efeitos espaciais da propriedade da terra em Nova Lima

Segundo a Enciclopédia Mineira dos Municípios, elaborada em 1959, o empreendimento minerador novalimense, ao mesmo tempo em que se configurou como a atividade mais importante e, por isso, estruturadora das demais atividades econômicas no núcleo urbano da sede municipal, apresentava um alto índice de concentração territorial em seu poder “a maior empregadora, a maior proprietária rural e urbana, maior compradora de todo comércio” (ENCICLOPÉDIA MINEIRA DOS MUNICÍPIOS, 1957, p. 191).

Segundo a enciclopédia,

tão grande é a importância das minas de ouro na vida passada e presente do município e de sua sede que impossível se torna compreender a vida na comunidade sem se falar na Companhia que monopolizou toda a economia e, conseqüentemente, todas as manifestações de atividade social, cultural e política da população: começando pela concentração demográfica que atinge 70% na sede do município e terminando pela distribuição das propriedades na área rural, das quais cerca de 80% pertencem à Companhia em questão (ENCICLOPÉDIA MINEIRA DOS MUNICÍPIOS, 1957, p. 191).

No decorrer do desenvolvimento deste trabalho, com base nos dados coletados, ficou clara a importância, para atividade mineradora, dessas estratégias de retenção territorial, que visaram um amplo controle da expansão urbana e protegeram a atividade mineradora da própria intenção de crescimento da sede urbana.

Além disso, após o exame da legislação mineral, teve-se a impressão de que, a partir de 1934, a retenção deveria ser pesada em função da viabilidade de se lavrar a terra, conforme o Decreto n. 64.642, ou Código de Minas. No caso do ouro, a mineração continuou funcionando plenamente por conta desse decreto, mas, nos demais casos de

143 As constituições seguintes (1937, 1946, 1967 e 1988) legitimam o disposto na Constituição de 1934. O código de Minas foi modificado em 28/02/1967, passando por emendas nos decreto 318/67, 330/67, 723/69, pelas leis 6.430/76, 6.568/78 e regulamentado pelos decretos 62.934/68, 64.590/69, 66.404/70 e 69.885/71. Este último definiu, em favor dos titulares da propriedade da terra, as minas manifestadas, as minas concedidas, as jazidas e pesquisas com autorização e relatórios aprovados, as jazidas de substâncias minerais de emprego imediato na construção civil. A alteração do Código em 1968 concedeu a prioridade do pedido, cuja aferição era a data de entrada do pedido no DNPM. Instituiu o Imposto Único sobre

interesse sobre a mineração do ferro, apesar da criação da Companhia de Mineração Novalimense, a Saint John partiu para o arrendamento de algumas de suas terras, concedendo o direito de mineração aos empreendedores que a isso se dispusessem. Datou de 1947 o primeiro pedido de autorização para pesquisar minério em áreas de propriedade da Saint John em Nova Lima e adjacências por outra empresa do ramo, utilizando-se do instrumento da solicitação da autorização junto ao Departamento Nacional de Proteção Mineral – DNPM.

Logo a seguir, a partir de 1958, o que se viu foi esse mesmo recurso sendo utilizado pela Hanna Mining para obtenção de autorização de pesquisa e lavra via Companhia de Mineração Novalimense, antes de se tornar, ela própria, uma empresa de capital misto, formada no Brasil, para exploração do minério de ferro nas terras de propriedade da antiga Saint John Del Rey (MATTA MACHADO, 1958, p. 5).

Quando se relacionou a retenção de áreas das reservas de minério de ferro no Brasil, no início do século XX, por parte dos principais grupos econômicos, destacou-se, dentre eles a Saint John Del Rey Mining Company.

Relacionou-se também à empresa a capacidade que apresentava de reter terras com o objetivo de promover a garantia de uma futura expansão da área minerada, por meio dessas áreas. Porém, ao fazê-lo, a terra onde se localizava o minério ou a riqueza mineral, que é base do processo de acumulação da mineradora, não foi vista como possibilidade de transformação em renda fundiária.

A utilização da terra se fez para suporte ou utilização pelo capital industrial, e sua aquisição serviu a esse fim. A acumulação de áreas de fazendas se deu com o objetivo de garantir as melhores condições para o desenvolvimento da atividade produtiva da Saint John Del Rey Mining Company. A terra era vista como substrato onde estavam assentadas a produção e a infra-estrutura material que sustentava o processo produtivo.

Busca-se associar a acumulação indistinta de terras para fins minerários como parte da estratégia de garantir aos objetivos principais da atividade industrial condições ideais à atividade industrial. Nesse caso, a propriedade fundiária foi vista como garantia para o capital industrial e não como capital imobiliário. Chamou-se capital industrial aquele associado ao processo de acumulação pela garantia da produção e circulação de mercadorias enquanto o capital imobiliário ou construtor corresponde àquele que se utiliza

Minerais – IUM - que foi revertido em benefícios para o estado, o município e os órgãos de fiscalização

da terra urbana como fonte de renda feita com a construção de edificações (RIBEIRO, 1997, p. 72). As terras adquiridas pela Saint John no decorrer das primeiras décadas do século XX, muitas delas situadas em áreas inacessíveis do território, não se valorizam ou adquirem preço elevado, pelo menos até a década de 50, haja vista que não se favoreciam dos efeitos úteis que a aglomeração urbana trazida para as áreas servidas pela localização de elementos estruturadores do espaço urbano.

Quando se fala da terra urbana, vale lembrar a importância do processo de urbanização gerenciado pela mineradora na construção do arranjo espacial do distrito-sede para fins de garantir a sobrevivência da indústria mineral. Essa prática evidenciou o caráter secundário que o rentismo assumiu haja vista que a mineradora alugava e não cedia as habitações aos seus operários, produzindo, com isso, uma pequena renda diversa da proporcionada pelos processos de acumulação derivados da produção mineral. Tratou-se, assim, de um processo de reprodução ampliada que, além da construção da infra-estrutura para o funcionamento da empresa, incluiu secundariamente um processo de urbanização.

As áreas rurais, por sua vez, localizadas na porção oeste do território municipal foram trabalhadas sob outra conjuntura, a partir de meados da década de 50, apenas adquirindo valor de mercado quando sobre elas recaem os efeitos úteis da aglomeração

urbana.

A mudança do enfoque no trato da terra, de reserva de valor para o capital industrial, gradativamente, se transformou, à medida que ocorreu a sua inserção numa zona de expansão urbana, derivada do declínio da mineração do ouro, de venda da companhia inglesa e de industrialização mineira que ocasionaram a ruptura espacial da qual este trabalho tratará no capítulo seguinte.

(METAMIG, 1981, p. 70).

Figura 29 - Descerramento da placa comemorativa de inauguração da BR 3, pelo Governador Bias Fortes. Fonte – Arquivo particular de Jesus Drumond Batista

2ª PARTE

5 TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E CRESCIMENTO URBANO EM NOVA