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5 TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E CRESCIMENTO URBANO

5.2 A identificação dos agentes de transformação do espaço urbano

o problema é descobrir a lógica que domina a estruturação urbana. A espontaneidade de ocupação e a desordem urbana, na realidade, refletem o processo de ocupação do espaço através do mercado. Assim, fatores tais como o preço da terra, as localizações podem ser determinantes para a estruturação do espaço. (PLAMBEL 1984, p. 14),

Ao relacionarmos preço da terra e localização, trabalham-se a terra como mercadorias que pode ser consumida pelos ocupantes do espaço sendo que o acesso direto à propriedade dessa terra é determinado pela capacidade de acesso que os indivíduos ou grupos sociais têm a essas formas de consumo dentro desse mesmo espaço. O acesso direto aos efeitos úteis da urbanização determina o papel dentro do processo em curso.

Há de se lembrar sempre que, apesar de esses agentes pressionarem e influenciarem a mudança espacial da cidade. No entanto, não há como esquecer que “são as relações de circulação de capital, a reprodução da força de trabalho e das relações de classe e à necessidade de controlar a força de trabalho que permaneceram hegemônicas” (HARVEY, 1989, p. 51). A urbanização segundo o mesmo autor, “é um processo social que ocorre no espaço, no qual uma ampla gama de diferentes atores, com agendas diversas interage através de uma configuração específica de práticas espaciais interligadas”.

Nas fases de consolidação do processo de urbanização, na cidade de Nova Lima, pareceu-nos necessário determinar os papéis dos diversos agentes envolvidos na transformação do espaço urbano, pois, atuando de forma paralela, ajudaram a transformar a

152 Ou zona de fronteira como diz a autora.

terra em mercadoria para o consumo bem como identificar os agentes de resistência ao processo e os agentes de fiscalização e gestão que, também, passaram a interferir na organização do espaço urbano municipal.

Os agentes que estão direta ou indiretamente envolvidos nesse processo, podendo lutar a favor ou contra o sistema, sendo definidos como: os agentes privados e os agentes públicos. Outra categoria de agentes seria a sociedade civil organizada cuja origem histórica perfaz a trajetória dos movimentos sociais urbanos e nas agências não governamentais.

5.2.1 A identificação dos agentes:

 Os agentes privados - Os agentes privados podem ser definidos como agentes econômicos de mercado que representaram seus interesses e foco no processo de mineração que se iniciou em 1834, em Nova Lima. No momento alternam estes interesses, ora para a atividade industrial, ora para a atividade imobiliária. São eles:

 as empresas mineradoras - Essas empresas se transformaram de empreendedoras do ramo da mineração a empreendedoras do ramo imobiliário, por força do esgotamento da mineração ou inviabilidade econômica da extração das jazidas localizadas no município. Isso ocorreu por força da legislação como visto anteriormente que fez com que estas empresas acumulassem um excedente fundiário considerável na forma de terras utilizadas como áreas de expansão industrial. Na situação atual, de evidente esgotamento ou inviabilidade econômica da exploração, ficou a critério desse agente minerador abdicar da atividade-fim, adotando alternativas de uso desta reserva fundiária de seu

território. Concomitantemente a isso, a força atual das legislações municipais153

tornou difícil a manutenção de vazios localizados em área urbana haja vista que políticas públicas de controle tributário tais como as de cobrança de IPTU, com tributação progressiva em área urbana, acabam por transformar em prejuízo a manutenção de terras ociosas. Este prejuízo, por sua vez, pode ser transformado rapidamente em lucro pela atividade imobiliária. Assessorando a atuação desses agentes, estiveram a mão os estudos relacionados ao mapeamento da área

153 Em nível municipal, Plano Diretor e seus desdobramentos tais Lei de Uso e Ocupação do Solo, Código de Posturas e, em nível econômico, o Código Tributário são importantes instrumentos para subsidiar as políticas públicas de gestão territorial. E em outros níveis, a Lei federal que regulamenta o artigo 183, da Constituição de 1988, denominada Estatuto da Cidade, o Código Florestal, Código de Águas e a delimitação da Área de Proteção Ambiental – APA.

territorial de Nova Lima tanto para a atividade mineradora no município, ocorrida no início do século, como para a atividade imobiliária, agora em fins da década de 90. Com efeito, tais agentes acompanharam com interesse a atuação do Estado no planejamento, controle e fiscalização das atividades que envolvem o zoneamento do uso do solo urbano. Historicamente, pela influência econômica e política que detêm, se transformaram nos grandes porta-vozes da vontade dos demais agentes econômicos, emergentes, dentro da sociedade local.

 os pequenos proprietários de terras - Foram identificados aqueles que detêm ainda uma quantidade de lotes em reserva no aguardo da valorização da terra local, que iniciaram sua atividade imobiliária muito precocemente, na oportunidade encontrada com a abertura da BR 040, com os primeiros loteamentos ainda localizados em zonas rurais. A vantagem era a localização, próxima aos vetores rodoviários recém abertos e considerados definidores de uma nova localização urbana futura.

 os incorporadores e promotores imobiliários – Visualizaram, em momentos diferentes, oportunidades nessa mudança de enfoque da gestão pública e principalmente da visão dos principais proprietários de terra, representados pelas mineradoras. Vislumbraram possibilidades de ganhos com novos lançamentos imobiliários e relançamentos imobiliários, que transformaram o município de Nova Lima, em um novo pólo de crescimento urbano metropolitano. Tais agentes assumiram a tarefa de propagandear as vantagens, o estilo e a qualidade de vida presente nas localizações e no estilo vetor sul de morar, auxiliando o conjunto dos incorporadores e proprietários fundiários majoritários. Por sua vez, acabaram por auxiliar os pequenos proprietários a aproveitarem, em Nova Lima, oportunidade de ganhos com venda da terra. Esses promotores puderam ser facilmente localizados promovendo a venda de lotes, de forma acelerada, tal como aconteceu no loteamento Alphaville, propiciando, à parte da iniciativa privada e às mineradoras localizadas no município, a possibilidade de escolher um perfil selecionado de usuário e diversos tipos de empreendimentos a fim de se aproveitar, ao máximo, a oportunidade vislumbrada na mudança de enfoque na utilização da terra municipal.

Os agentes públicos - Dentre os agentes que representam as esferas públicas foram identificados os agentes locais e metropolitanos que evidenciaram uma

tendência pró ativa ligada à mudança do uso da terra local, e que seriam os responsáveis por disseminar as políticas de regulação urbana, de ordenamento e de gestão urbana, via documentos tais quais os planos diretores e os planos de uso do solo.

Pela forma de atuação, puderam ser subdivididos em:

 poder público municipal local - Que, a partir da década de 90, mobilizou-se politicamente no sentido de desenvolver planos de fomento e desenvolvimento urbano municipal, com ênfase na incorporação do discurso do planejamento estratégico (VAINER, 2001, SANCHES, 2001) ou do marketing de cidade. Neste caso, cidade foi considerada sujeito, e, portanto foi reificada154 pôde ser consumida como um objeto a oferecer vantagens e alteram a percepção do inconsciente coletivo. (HARVEY, 1989). Ao fazê-lo, dão um caráter novo às políticas públicas de gestão municipal que outrora foram pura e simplesmente organizadas e destinadas a ser base de recepção do funcionamento da atividade mineradora, atividade econômica que por sua vez foi produtora dos principais processos espaciais urbanos ao longo de trezentos anos de existência do município.

 os agentes metropolitanos - Voltados a planejar o crescimento físico territorial ao pólo urbano da região metropolitana se esforçaram por estabelecer propostas em torno das políticas públicas metropolitanas na década de 80, de acordo com o modelo autoritário vigente à época. Puderam ser identificados como órgãos de gestão metropolitanos ou até, nos últimos tempos, como os órgãos de gestão municipal, envolvidos com o processo de planejamento urbano. Estes incorporaram teorias que enfocaram os problemas regionais e não só os prementes problemas locais.

 os agentes públicos de preservação - foram capitaneados por secretarias estaduais de regulação ambiental preocupadas com o desenvolvimento urbano em Nova Lima e na região de influência da Região Metropolitana como um todo. Esses agentes estiveram voltados a preservar determinadas características do espaço territorial do município e buscaram a manutenção de mananciais e

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Segundo Harvey (1989), a reificação da cidade, quando combinada com uma linguagem que vê o processo urbano mais como um aspecto ativo do que passivo do desenvolvimento político-econômico,

áreas verdes, numa perspectiva de preservacionismo e sustentabilidade com base em um discurso bastante atual. Têm tido forte presença nas instâncias decisórias e de planejamento na atualidade.

Os movimentos sociais urbanos – Constituíram-se como uma representatividade paralela que, nas últimas décadas, diante da aparente ineficácia do Estado em se posicionar ou da crise relacionada a sua representatividade, surgiram com intuito de promover, baseadas em recursos próprios, o bem-estar social e resolver os problemas mais prementes relativos à vida do homem contemporâneo. Chamados de: a terceira via ou terceiro setor, os movimentos sociais organizados vão sendo o cerne de uma discussão sobre o papel das entidades representativas que estão fora do governo existentes desde a década de 80. Esses movimentos incorporaram a vontade de grupos da sociedade civil que não se sentem atendidos de forma direta pelo Estado. Nesse caso, expressam sua opinião por meio da organização independente, numa atitude que vem ganhando força não só no Brasil, mas no mundo, amparados pelo conceito de crise e de minoração do aparelho regulador do Estado.

São parte desta representatividade, os seguintes grupos:

Agências não governamentais - Em Nova Lima, pela especificidade do território, muitas vezes incorporavam o discurso preservacionista para a manutenção dos mananciais e das áreas verdes do município ou assumiram gradativamente a defesa de uma visão totalizante do território voltada para o desenvolvimento da metrópole como um todo e não de partes administrativas não coesas que, ao agirem segundo lógicas individuais, repercutiriam em degradação da área metropolitana como um todo. De um outro lado do processo, algumas agências governamentais vêm, no decurso de alguns anos, colaborando com os governos locais no sentido de promover o desenvolvimento da economia local ou dispõem de programas mais abrangentes que visam o planejamento estratégico da Grande Belo Horizonte155.

coloca sérios problemas. Dá a impressão de que a cidade pode ser um agente ativo quando não passa de uma mera coisa.

155 Em destaque, cita-se a atuação do Instituto Horizonte, entidade não governamental, com sede em Belo Horizonte, em que, entre os objetivos, estão: 1) elaborar o Planejamento Estratégico da Grande Belo Horizonte; 2) receber, apoiar, elaborar e promover projetos de relevância e interesse para a Grande Belo Horizonte, particularmente aqueles que dependam da intervenção de vários atores da comunidade e agentes públicos das diferentes esferas do governo.

5.3 O processo de ocupação e desenvolvimento da urbanização no município de Nova