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5 TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E CRESCIMENTO URBANO

5.4 A ruptura com a urbanização feita para o enclave minerador na sede urbana

crescimento urbano de Nova Lima, a partir da década de 50, passaram a serem impulsionados por fatores ligados aos seus interesses e mais estreitamente ligados existência ou não de uma atividade mineradora de ouro e minério de ferro, instalada no município. Esses fatores representaram um momento de intensa expansão urbana em relação aos principais condicionantes de desestruturação do espaço urbano, presentes até aquela data, e que se encontravam extremamente afinados com o crescimento e conformação da sede municipal, dentro das exigências da principal atividade econômica local.

A expansão urbana de Nova Lima, a partir dessa data, tendeu a apresentar uma direção de crescimento desarticulada do fato de existir uma mineração de ouro no coração da sede urbana, que concentrava em torno de si eixos radiais de crescimento espacial dedicados a servir às minas e condicionou a construção das principais políticas de intervenção no urbano local.

Até a década de 50, o modelo de urbanização prevalecente da mineração do ouro priorizou:

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O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE - é uma instituição técnica, criada em 1990, como apoio ao desenvolvimento da atividade empresarial de pequeno porte, voltada para o fomento e difusão de programas e projetos que visam a promoção e o fortalecimento das micro e pequenas empresas. Seu propósito é trabalhar de forma estratégica, inovadora e pragmática para fazer com que o universo dos pequenos negócios no Brasil tenha as melhores condições possíveis para uma evolução sustentável, contribuindo para o desenvolvimento do País como um todo, conforme descrito no documento Direcionamento estratégico 1999-2000. Foi criado por lei de iniciativa do Poder Executivo, concebida em harmonia com as confederações representativas das forças produtivas nacionais. O SEBRAE é predominantemente administrado pela iniciativa privada. Constitui-se em serviço social autônomo - uma sociedade civil sem fins lucrativos que, embora operando em sintonia com o setor público, não se vincula à estrutura pública federal. A instituição é fruto, portanto, de uma decisão política da cúpula empresarial e do Estado, que se associaram para criá-la e cooperam na busca de objetivos comuns. É por isso mesmo, uma entidade empresarial voltada para atender ao segmento privado, embora desempenhe função pública e tenha sempre em consideração as necessidades do desenvolvimento econômico e social do País. Fonte: <htpp/www.sebrae.org.br>.

 a centralidade - Ocorreu em função da mineração do ouro de Morro Velho e de algumas minas existentes nos arredores da cidade, descrita anteriormente como periferia urbana localizada na porção leste do território novalimense;

 a localização das minas - O espaço urbano estruturou-se nas proximidades da sede, pela justificativa de, nele, estarem localizadas as minas mais ricas administradas pela Saint John, nos séculos XIX e XX;

 a tipologia de assentamento urbano - Voltada para o setor residencial e para o atendimento de uma classe operária que efetivamente ocupava as habitações de ocupações promovidas pela empresa e que transformaram Nova Lima em uma cidade operária, cujo auge da expansão de unidades construídas do século XX que foi a década de 30.

Alguns fatores históricos relevantes romperam com essa ordem estabelecida e determinaram, por sua vez, a mudança de rumos no processo de crescimento urbano municipal. São eles:

1. de ordem financeiras: as dificuldades financeiras da Saint John no pós-guerra que culminaram com a venda da empresa para um grupo interessado na mineração do ferro; seu posterior desmembramento em duas fases distintas da mineração que definimos como sendo a fase do ouro e do ferro.

2. de ordem infra-estrutural: o plano estadual de viação do Governo JK, visando o desenvolvimento industrial mineiro, seguidos da própria ideologia de desenvolvimento do governador e que, logo após tornou-se presidente do Brasil e deu continuidade ao projeto de desenvolvimento industrial brasileiro;

3. de ordem financeira: a atividade imobiliária decorrente da venda de algumas glebas de terra não necessárias à mineração;

4. de ordem especulativa: o início da atividade imobiliária no território municipal em atendimento à necessidade de expansão do setor sul de Belo Horizonte e sua ligação direta com um eixo importante de escoamento da produção industrial mineira.

Convencionou-se chamar esse momento, ocasionado pelos fatores acima relacionados, de momento de ruptura, que introduziu no espaço temporal uma quebra com a ordenação ou com o modelo de urbanização até então conhecido como dependente da mineração do ouro.

Tentou-se explicar essa alteração, adotando a noção de rompimento incutido no termo ruptura161, porque se considerou que os fatores históricos, sociais e políticos

estreitamente relacionados com os processos de arranjo e ordenamento a economia local e com a conjuntura econômica nacional, produziram efeitos no processo de crescimento urbano. O crescimento urbano a partir daí não esteve ligado só a existência da atividade industrial, que ocorria na sede. Desse ponto em diante, a urbanização se expandiu segundo novas tendências. Conforme a etimologia da palavra ruptura, essa se relacionou à urbanização, no que tange à quebra da unidade com a urbanização da sede municipal, que possibilitou a construção de uma nova ordem espacial, ocasionada pela multiplicação das possibilidades de interferência no espaço, pela divisão do agente principal em dois e pela bipartição histórica de seu poder.

Abordando o problema pelo termo de ruptura, utiliza-se um recurso que se parte da história em recortes históricos temporais, pôde-se identificar, a partir do período subseqüente, ou em momentos históricos representativos, as origens do desenvolvimento espacial do lugar, os modelos prevalecentes e os principais agentes que, década a década, pressionaram e provocaram a alteração do arranjo do espaço urbano local.

Em síntese, no que tange aos seus principais agentes, a mineração pôde ser identificada como o principal sujeito da transformação, sendo causador ou retardador do crescimento urbano novalimense, podendo ser caracterizado também como o principal empreendedor econômico industrial do município até a data recente.

A empresa mineradora se transformou em principal dono da terra e, exatamente por deter um percentual de terras considerável, pôde, ao longo da história, transformar os rumos da expansão urbana pelo peso de sua interferência enquanto agente da história, como foi visto no capítulo anterior. A mineradora exerceu seu poder político e econômico sobre as diversas instituições públicas municipais e estaduais. Ao mesmo tempo, como proprietária de grandes áreas, no município, teve suas terras transformadas veladamente em alvo de disputas por parte dos vários agentes imobiliários metropolitanos. A partir da divisão da empresa mineradora em duas, o poder regulador para força da retenção da propriedade do ferro foi igualmente dividido, ficando as duas novas empresas em uma boa posição para negociar, com instâncias públicas e privadas, o futuro do desenvolvimento local. Exerceu-se mesmo assim, um controle rigoroso da expansão urbana, entre outros

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Ato ou efeito de romper-se, rompimento. 2- Quebra das relações sociais ou de compromisso. (FERREIRA, 1999, p. 1.789).

motivos, com a intenção de evitar a localização de assentamentos urbanos que pudessem vir a prejudicar projetos de mineração ainda não implementados.

As empresas incorporaram o papel de grandes proprietárias de terra, quando o assunto foi a gestão e o planejamento do futuro urbano municipal. As empresas mineradoras se tornaram peças fundamentais na análise das perspectivas da espacialidade urbana. A mineração como atividade principal foi sempre atuante também em aspectos ligados à preservação dos ecossistemas locais exercendo e em alguns momentos, possuem o papel contraditório, atuando de forma ambígua na sua deterioração, ao mesmo tempo em que discursam sobre a preservação ambiental do território municipal, haja visto que, dentro de suas terras, estão áreas importantes para o ecossistema metropolitano.

A zona sul de Belo Horizonte foi por excelência o setor de domínio intra-urbano das classes altas de Belo Horizonte e, como aponta Villaça (1998 p. 200): “Desde o início da formação da cidade, as camadas de mais alta renda se expandiram na direção sul e nela se mantêm até hoje”. Estas estariam determinadas, desconsiderando as barreiras físicas, mas acompanhando o eixo nascente da acessibilidade produzida pela abertura da nova rodovia, a se expandir para além dos limites político administrativos de áreas municipais institucionalizadas. Teve-se, assim, o fenômeno chamado de conurbação (VILLAÇA, 1998), reproduzindo uma tendência que pode ser verificada, com mais ênfase, na década de 90. No entanto, o marco inicial, ou os subsídios físicos, à ruptura, se deram bem antes, com a criação da acessibilidade. Acompanhando a expansão das camadas de alta renda para a parte norte de Nova Lima, as mineradoras, como empreendedores imobiliários, tenderam a satisfazer essa necessidade, promovendo o crescimento urbano local, tão logo a atividade mineradora não fosse mais como algo rentável ou estivesse com seu potencial de extração exaurido.

As características do processo de conurbação, ou do seu início, tenderam a seguir particularidades de crescimento mais ligadas à metropolização, desviando-se crescentemente dos elos econômicos e espaciais produzidos pela mineração em Nova Lima até a década de 50.

Por isso, considerou-se a década de 50, suas mudanças em nível municipal e estadual, sincronizados com o momento histórico nacional, como marco de mudança. Esta década foi ponto de partida do qual foi feita uma análise detalhada das direções e das formas de crescimento que foram implantadas no município pelos principais agentes já citados. Essas transformações, conforme sugeriu Villaça (1998, p. 48), puderam promover

ao longo de todo tempo a “devoração da cidade e a produção de bairros”, ligados à força e ao domínio da capital metrópole de Belo Horizonte.

A localização industrial mineradora no município de Nova Lima, é fato e constituiu-se como principal norteador da organização urbana local. A primeira fase da mineração da empresa inglesa produziu as condições inversas ao assentamento caracterizado pela espontaneidade dos primeiros tempos, implantando o planejamento responsável pelo sucesso da sua nova fase produtiva.

Nesse ponto e nos degraus concordou-se com Villaça (1998, p. 140), quando esse enfatizou que “dois elementos da estrutura urbana são mais poderosos na estruturação do espaço das metrópoles: as zonas industriais e a região de concentração de camadas de alta renda”.

A cidade de Nova Lima vem concentrando ambos os elementos em seu território, em diferentes momentos do processo de urbanização. Os elementos apareceram em três momentos estando a indústria extrativa presente em todas, quer seja pela sua localização, quer seja pelo seu poder político econômico.

Na primeiro momento, pela preponderância de relações industriais de base capitalista dentro do empreendimento minerador implantado em 1834, em Morro Velho. Logo a seguir, num segundo momento, por contar com uma base territorial localizada justamente em cima de ricas jazidas de minério de ferro. Isso foi constatado em todo trabalho e representou um motivo pelo qual a Saint John Del Rey se apressou em adquirir um sem-número de propriedades na região. A terceira forma, diz respeito à sua localização junto à capital do Estado de Minas Gerais, numa região metropolitana que se inseriu dentro das perspectivas desenvolvimentistas dos governos estaduais e federais do início do século até a década de 70.

No caso de Nova Lima, trabalhou-se com a existência de dois momentos distintos de organização da expansão urbana. Partiu-se, na primeira fase, para explicar a indução da urbanização pela base econômica representada pela mineração do ouro, localizada na sede no período de 1834 a 1950. Sendo que a divisão hierárquica do trabalho nesta parte da atividade industrial induz à urbanização espacialmente diferenciada.

No entanto, a partir de 1950, o crescimento extra sede urbana representou uma modificação do processo de urbanização que, apesar de obedecer a outra lógica de ocupação, a da metrópole, trouxe em seu bojo, as mesmas características de excludência e

segregação da primeira fase. O assentamento das camadas de alta renda constituiu-se como fato extremamente novo, nos arredores do município e produziram os efeitos simbólicos observados originalmente no centro de seu espaço urbano construídos para a mina de ouro. A curiosidade da repetição residiu na tradição de as elites brasileiras estarem sempre concentradas próximas aos centros urbanos consolidados e fartos em infra-estrutura. Segundo Villaça (1998), a procura pelas periferias urbanas por parte das camadas de alta renda ainda é um fato extremamente novo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte e que ainda não se firmou como modelo de ocupação das classes mais favorecida. Assim, foi sendo facilitado, ao longo do tempo, pela possibilidade oferecida pelos veículos individuais de transporte de passageiros como já se mencionou.

No momento mais recente da história da cidade, ainda permanece prevalecente a força do seu principal agente urbano: a empresa de mineração.

Então, o ponto de ruptura partir da década de 50, com a identificação dos agentes, gradativamente foi se tornando mais complexa a urbanização, porém o que preponderou como fundamental na ordem urbana, foi a capacidade de intervenção e influência da empresa de mineração nas instâncias decisórias. Um papel não muito diferente do assumido, em momentos anteriores, da mineração do ouro, na sede urbana.

A exaustão dos recursos naturais não renováveis abriu, há pouco tempo, agora espaço para outra atividade econômica. Dessa forma, o capitalista industrial facilmente incorpora a atividade imobiliária, como substituta, uma vez que, para a acumulação, base do sistema capitalista, pouco interessa a natureza da produção, o que importa é se existe valor no que é produzido.

Na contabilidade dessa mudança de vocação, estão os lucros advindos do processo de comercialização da terra não mais somente pela exploração de seus recursos minerais. Esgotadas as riquezas do solo, um novo ciclo produtivo para esse solo pode ser iniciado determinando novas bases de desenvolvimento local e regional, principalmente, na acumulação de capital.

6 NOVA LIMA – RETROSPECTIVA DO PROCESSO RECENTE DA