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3 A INFRA-ESTRUTURA INDUSTRIAL (184-1950)

3.1 A racionalização dos processos produtivos – A planta metalúrgica

HOLLOWOOD (1955) descreveu que os primeiros trabalhos da mineração foram árduos, e se constituíram uns esforços contínuos para vencer a precariedade do local sendo sanada pelo esforço dos homens envolvidos na implantação do processo produtivo, que desempenharam funções que objetivavam estruturar melhor as rotinas relacionadas à melhoria da produtividade à mineração.

Em 1835, um ano depois do início das atividades de mineração do ouro em Morro Velho, uma análise nos refugos das minas comprovou para a Saint John Del Rey, o potencial real e duradouro da mineração local.

Uma análise dos refugos levada a efeito atendendo os interesses da companhia, por um especialista austríacos, veio provar que cada tonelada continha nada menos do que uma onça e meio de ouro puro. O resultado desse inquérito fez com que capital fosse levantado, a usina da redução, aperfeiçoada, novos auxiliares ingleses, contratados, sendo recrutada uma turma suplementar de trabalhadores, composta de 253 escravos, entre homens mulheres e crianças (HOLLOWWOD, 1955: 31).

A constatação de que era realmente produtiva implicou em investimentos freqüentes que contribuíram modernização dos meios de produção, para a compra de escravos para o

trabalho braçal84, quando estes ainda eram utilizados e para a contratação de mão-de-obra especializada, geralmente imigrante, para execução de tarefas tecnicamente mais qualificadas ou de supervisão geral da produção. Demorou certo tempo pra organizar processos. No entanto,

Nas palavras de HOLLOWOOD:

A eficiência técnica da mina foi logo se aperfeiçoando e, à medida que as lavras se aprofundavam em direção ao filão, ficou bem claro que o otimismo dos pioneiros era muito bem fundado. Não havia deterioração na qualidade do minério, quando ele se estendia para leste, num duro ângulo de quarenta e cinco graus, e nem diminuição na quantidade dele (HOLLOWOOD, 1955: 34).

Segundo o mesmo autor, a exploração mineral feita em Morro Velho acompanhou os mais recentes conhecimentos do desenvolvimento científico ocorridos na Europa no século XIX, o que proporcionou à empresa, a possibilidade de aplicar métodos confiáveis para verificação da capacidade produtiva da mina recém adquirida. Afinal a ciência moderna, do século XIX, respaldava esses investimentos, por definir por critérios de amostragem, dados absolutamente concisos.

È importante afirmar que, para ter acesso aos métodos científicos era possível, pelo vulto dos investimentos que a Saint John pode, individualmente, aplicar na pesquisa que embasava o planejamento da produção. Métodos inacessíveis por serem onerosos ao pequeno explorador, ou a qualquer outro artesão disposto a se envolver na mineração do ouro de forma séria, segura e economicamente eficiente como no caso da Saint John. A ausência de capital acumulado para despesas desta natureza, assim como a impossibilidade de domínio do conhecimento ou o acesso às técnicas modernas pelos pequenos artesãos ou pequenos exploradores, como foi dito, trouxeram subsídios ao fracasso ou decadência dos empreendimentos artesanais no primeiro quartel do século XIX.

As melhorias das instalações da mina se deram pela alteração do processo ou da técnica de apuro do material minerado. O processo artesanal dentro da mina adquirida foi sendo abolido pela introdução de maquinaria no auxílio aos trabalhos de extração do minério e nas mudanças da organização produtiva tendendo um local onde a linha industrial de beneficiamento de minério e o investimento em pesquisas era o ponto forte da produtividade.

84 Em um primeiro momento, durante o processo de implantação da indústria extrativa em Nova Lima, a mão- de-obra escrava foi usada intensamente. Segundo LIBBY (1984), a utilização dessa mão-de-obra parecia incompatível com o trabalho industrial capitalista. No entanto, fazendo uso do treinamento sistemático de seus escravos a Saint John conseguiu transformá-los em trabalhadores industriais em Morro Velho.

Equipamentos, especificamente maquinarias tecnologicamente mais avançadas produziram alteração imediata nas etapas produtivas e como ressalta Grossi (1981, p. 40), e pela força de sua economia, “coube à Inglaterra a supremacia industrial até a segunda década do século XX”.

Com o tempo, os aprimoramentos da extração foram feitos para garantir à mineração uma contínua atividade, evitando qualquer interrupção indesejável no seu fluxo produtivo. Para manutenção do bom fluxo produtivo, havia necessidade de melhoria contínua dos equipamentos das minas utilizados no bombeamento, na ventilação das galerias, na adequação da planta e na locação do realço85. Na parte de apuro ou redução do minério extraído, com vistas à otimização técnica do processo metalúrgico do ouro, as melhorias na organização do trabalho provocaram alterações no lay out físico das instalações. Em correspondência às reformas das instalações, foi aumentada a eficiência dos meios de obtenção de energia, já que nos processos mecânicos, as fontes seguras de energia era parte da estratégia para aumento da produtividade.

Enfim, a linha de produção bem organizada, uma recepção adequada, o armazenamento correto dos insumos e a circulação planejada da mercadoria produzida, com fins à distribuição foram algumas das melhorias que constituíram base do projeto de modernização inserido continuamente, pelos ingleses, na mina de Morro Velho.

Com o tempo, a modernização da produção em Morro Velho atingia o seguinte desenho em suas etapas da exploração e redução do ouro:

Figura 9 – Fluxograma de processo industrial do ouro. Fonte – FERRAND, 1977.

Estima-se que cada uma dessas etapas empregava um número significativo de pessoas como mão-de-obra e que essas manipulam ferramentas ou maquinas, dentro de procedimentos planejados e inseridos dentro de um ciclo de racionalidade produtiva, própria do empreendimento capitalista.

Além desses fatores, a preocupação da administração local em acompanhar as descobertas da ciência européia fez a mineradora aumentar sua produção do ouro mantendo-a em processo de constante atualização. Esse dinamismo produziu resultados positivos que, segundo Costa (1955), fez com que Morro Velho fosse considerado o empreendimento de maior renda industrial de Minas Gerais em 189586.

86 A empresa acumulou rendimentos entre 1842 e 1867 de 25% aa., o que representou um retorno de 8 vezes o capital investido. COSTA apud Gross, p. 38)

Sucederam a essas ações, consideradas marcos divisores no processo de lavra de Morro Velho, as intervenções feitas por seu diretor superintendente, George Chalmers que mais problemas teve, na trajetória da mina, em finais do século XIX, após o pior desastre da empresa (1886) 87, quando houve cogitação sobre o seu fechamento. A despeito dos cinqüenta anos de exploração bem-sucedida, um desabamento de uma das galerias em 1857, seguido de um incêndio de proporções gigantescas no madeiro em 186788, já havia abalado a confiança dos investidores, nas continuidades dos trabalhos. Um desabamento de grandes proporções, ocorrido na entrada da Mina, fez com que se pensasse em fechá-la definitivamente.

Avesso a essa decisão, o racionalismo científico de seu novo superintendente, o inglês Chalmers, durante o período de sua gestão (1886-1924) validou, frente aos acionistas, a fé na técnica e a confiança viabilidade econômica da reabertura da mina em 1888, considerando que a mineração já havia operado o “milagre” da adoção de técnicas que permitiam avançar cada vez mais, dentro do subsolo. Este era um dos principais problemas que amedrontavam quem tinha resistência em investir mais uma vez em Morro Velho.

É angustiante ver a exploração de tão magnífico filão ser encarada como uma aventura temerária, devido a sua profundidade. Não há razão para que ele não se converta numa mina tão boa quanto a que foi explorada durante os últimos cinqüenta anos. Em minha opinião, o que desanima as pessoas de aproveitarem esse filão é a sua profundidade; [...] A profundidade aumenta os obstáculos, mas, quando há energia e maquinismos suficientes para enfrentá-los o fato não tem importância (HOLLOWOOD, 1955, p. 54).

A hipótese de fechamento em contraposição às expectativas de lavras, foi descartada pela obstinação racional do mesmo diretor e pela constatação científica de que, com investimento e com obras de engenharia, a reabertura era perfeitamente viável. Para isso, uma outra tecnologia de explotação foi introduzida em Morro Velho. Mais uma vez, junto com introdução de novas técnicas, novas maquinarias, novos processo de trabalho antenados com as mais novas técnicas do primeiro mundo e novos investimentos, houve também a ampliação de obras de engenharia já implantadas no negócio. Finalmente, em 1889,

novos regos foram construídos, bombas, compressores e outros equipamentos tiveram que ser revisados, renovados e transferidos para outros lugares, a aparelhagem para olaria foi reunida e posta para funcionar (HOLLOWOOD, 1955, p. 62).

87 A mineração passou por dois grandes desastres. Em 1867, foi o incêndio do madeiramento da mina. Em 1886, outro grave acidente foi causado pelo desabamento da galeria principal. Neste desastre, a direção do filão foi perdida. A solução foi a perfuração de dois poços gêmeos que localizaram de novo o veio.

88 A partir de 1886, a dinamite foi utilizada para explosão de rochas mais resistentes a introdução desta invenção operou o milagre da reabertura da mina com a perfuração de dois poços.

Na infra-estrutura que foi criada para funcionamento da mina, a partir de 1889, foram adotadas soluções que possibilitaram ajustar o ritmo dos trabalhos, já considerando que os processo de produção não mais utilizariam mão de obra escrava. Por conseguinte, modernizaram, por conseqüência, a estrutura urbana da vila onde a mineração estava inserida, porque o uso de mão de obra livre fazia com que a mina necessitasse de espaços de residências contínuas e no seu entorno de forma a forçar uma fixação do mineiro que trabalharia em suas instalações: estava efetivamente criada a vila mineradora. Esta modernização alterou consideravelmente o tecido urbano introduzindo alterações espaciais que vocacionaram o antigo povoado minerador a ser a nova cidade industrial da Saint John Del Rey Mining Company.

3.2 A acessibilidade como elemento da infra-estrutura industrial de Morro Velho