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5 TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E CRESCIMENTO URBANO

5.3 O processo de ocupação e desenvolvimento da urbanização no município de

5.3.1 Agentes públicos

 Poder público municipal local - O poder público local foi, no decorrer de séculos, subserviente à atividade principal e ao poder econômico representado pelas empresas mineradoras que atuaram politicamente junto aos setores públicos de forma a pactuar com eles, das estratégias para crescimento da atividade mineradora e nunca da atividade urbana, salvo quando esta, no caso da mineração de ouro, pudesse diretamente auxiliar a atividade produtiva, como que ocorreu no caso de construção de vilas operárias, na década de 30.

Nos últimos tempos, no entanto, observou-se um esboço de reação por parte das autoridades locais quando o tema foi desenvolvimento urbano. No caso, deve-se levar em conta o momento de declínio por que passou a atividade mineradora, nos últimos tempos, fazendo com que essa perspectiva tire a administração pública local da aparente inércia no planejamento do desenvolvimento do futuro do município. Dentro disso, identificou-se três momentos na atuação dos agentes públicos que foram assim definidos:

 Momento de atitude passiva - Observou-se uma inércia dos agentes públicos diante do processo de surgimento de áreas de urbanização externas à sede, diferentes das

conhecidas até aquele momento e que eram distritos mineradores ou áreas de suporte a atividade de mineração tais como Rio de Peixe, Honório Bicalho, Santa Rita e Galo. Destacou-se nesse trabalho que, a despeito da abertura do eixo rodoviário representado pela BR 3, na década de 50, o poder público local não se apropriou da região, com políticas de desenvolvimento. Isso pôde ser identificado pela ausência de políticas públicas efetivas para a área, que facilitassem a acessibilidade por transporte coletivo ou que se apropriassem do território enquanto parte integrante da cidade.

A partir da década de 50, a BR 3 (040) representou um elo de ligação entre áreas que poderiam ser facilmente potencializadoras da expansão da metrópole. Porém, a rodovia em si, não se apresentou como um elemento estruturador para a ocupação urbana de suas áreas lindeiras, haja vista que o deslocamento ainda se apresentou dificultado pela falta de acessibilidade por veículo individual pela dificuldade de consumo deste bem ou pelo transporte coletivo de massa que só começou a ser desenvolvido, no território, a partir da década de 70. A concentração de propriedade fundiária foi outro elemento a dificultar a ocupação dessas áreas. Para o poder público local aparentemente tudo conspirava para que a sede fosse o único local onde a gestão territorial se fazia necessária naquele momento.

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 Momento de transição - A relação entre o crescimento urbano e as políticas públicas locais passam a ser parcialmente considerada a partir da década de 80. Nesse momento, a atuação de agentes públicos metropolitanos, surgidos na década anterior, é fundamental para que o poder público local incorpore, timidamente, algumas medidas de planejamento, que vem se preparar para o futuro. Muito embora a maioria delas seja posta no papel, só seriam colocadas em prática a partir da década de 90, na eminência do término da atividade minerária do ouro na sede e o local para onde se convergiam as atenções do poder público e as principais políticas para o desenvolvimento urbano.  Momento de atitude ativa - A presença dos agentes públicos tornou-se mais firme no

início da década de 90 com a tendência de transformar o IPTU e o ITU, presentes nos Códigos Tributários Municipais, aprovados na década anterior, em fonte de receita, na

156Para esses locais externos à sede administrativa, apenas na década de 90, os agentes públicos começam a se manifestar com a criação de uma sub-regional da prefeitura, que determinaria um efetivo processo de governo nessa área do município, a partir dessa década. Essa atitude municipal pode ser justificada pelo fato de que o poder público local sempre priorizou, em seu discurso político, a cidade-sede, e sua atividade econômica e estaria agora se preparando para despender todos os seus recursos na solução dos problemas derivados do declínio desta atividade.

percepção da eminência da perda de receita com a mineração e no aumento contínuo de demandas geradas com gastos sociais na sede e fora dela, nos principais núcleos urbanos existentes. A aprovação da Constituição de 1988 obrigou o município a aprovar sua Lei Orgânica Municipal, forçando a entrada do planejamento urbano, presente na lei federal nos artigos 182 e 183, regulamentadas posteriormente, como pauta de discussão do poder legislativo e executivo locais.

A aprovação do loteamento Vila da Serra, limítrofe a Belo Horizonte na região do bairro Belvedere, em Belo Horizonte próxima ao BH Shopping e a polêmica iniciada por ela, quanto aos processos de verticalização que passavam a acontecer nas áreas de expansão urbanas, fora dos limites da sede. Estas áreas, até aquele momento, não eram incorporadas na agenda do poder público local e acenderam um debate que alguns setores da cidade incorporaram, entre eles, os movimentos de preservação do meio ambiente que apontaram o caráter impactante desse novo parcelamento. A preocupação maior naquele momento foi quanto aos impactos que o loteamento traria do ponto de vista ambiental (vazão de águas, esgotamento etc.). Numa discussão secundária, mas não menos importante, foram pouco explorados os efeitos da urbanização da zona de fronteira entre Belo Horizonte e Nova Lima em si, ou o seu caráter eminentemente metropolitano. Abriu- se aí a primeira perspectiva de construção de um Plano Diretor Municipal de Desenvolvimento Urbano em Nova Lima, plano esse que, até o momento, passou por duas modificações, diversas polêmicas, variadas exposições públicas, sem ter sido aprovado.

As políticas de incorporação e apropriação territorial pelo município, das áreas isoladas da sede, tomam corpo na adoção do conceito de que essas áreas não são somente áreas de expansão metropolitana e sim parte da cidade. Conseqüentemente, seriam áreas de expansão urbana municipais. A incorporação dessas áreas, como área de propriedade da cidade, se deram pela mudança de enfoque nas políticas públicas locais, que estendessem, aos poucos, sua gestão, os serviços e suas preocupações com políticas públicas a partir desta última etapa de desenvolvimento urbano.

Faz-se mister o poder público assuma de todo, sua função de regulador urbano uma vez que existem 28.000157 lotes vagos no município, lançados desde a década de 50, o que

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Segundo um levantamento da Anglo Gold (2002), existem 24.753 lotes vagos no município. A contagem da Anglo Gold considera lotes aprovados pela Prefeitura e registrados em cartório. No total, o estudo considera que existem em Nova Lima, 42.716 lotes sendo que 9.388 não contam com infra-estrutura urbana e apresentam altas declividades, inviabilizando sua utilização e que o município tem 15.365 lotes potencialmente negociáveis. Esse estudo não incorpora os lotes gerados pelo plano diretor das propriedades da Anglo Gold, que deverá ficar pronto ainda este ano,

reforçaria a hipótese que justificaria da estagnação urbana e provocaria o fomento do interesse pelo desenvolvimento de uma diretriz para construção de políticas públicas regulatórias da atividade terciária de suporte a existência de áreas com potencial residencial, mais precisamente um subcentro regional de comércio e prestação de serviços que voltasse a atenção dos possíveis consumidores urbanos de Belo Horizonte e os atraísse para as áreas parceladas do município de Nova Lima. Isso, no âmbito das suposições construídas neste trabalho, completaria as condições de acessibilidade necessárias para a ocupação extensiva (MONTE-MÓR, 1994) dos lotes vagos de Nova Lima.

Este movimento de estruturação do espaço da residência pelo terciário começa a se configurar em finais da década de 70 e parece estar no auge, hoje.