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A CONSTITUIÇÃO E SEPARAÇÃO DOS PODERES

CAPITULO II – O PODER LEGISLATIVO

V. A CONSTITUIÇÃO E SEPARAÇÃO DOS PODERES

Cumpre nesse momento discorrer sobre a observância dos ditames constitucionais, o conteúdo normativo do princípio da separação dos poderes e a

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produção da lei em face da atual estruturação e organização do Estado brasileiro e suas implicações atuais que nos leva a algumas reflexões necessárias, além dos temas já aborados.

1. O Princípio da Separação dos Poderes

O princípio da separação dos poderes no contexto Constitucional foi tratado como clausula pétrea, cuja abolição não pode ser objeto de deliberação, mesmo em sede de emenda Constitucional - artigo 60, § 4º.

Após vinte anos de Constituição democrática, constatamos que há uma sensível relatividade da separação dos poderes, sob o ângulo doutrinário como caráter pragmático da teoria de Monstequieu, que visa estabelecer um sistema de freios e contrapesos e não um rígido esquema pretendidamente científico de divisão de poderes, como leciona Ferreira Filho.172

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Cf. Manuel Gonçalves Ferreira Filho. A separação dos poderes na ordem constitucional em vigor. Palestra proferida no Superior Tribunal Militar, Palestra em homenagem ao Prof. Jorge Miranda, 2010, p. 17

Para separação de poderes, para consulta:

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No plano da institucionalização, a separação dos poderes nunca houve de modo absoluto das três funções primordiais, pois sempre houve uma partilha confiada ao Poder Legislativo, a aprovação ou a autorização, para o Poder Executivo tomar decisões políticas capitais e isso permitiu que esse relacionamento

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se adaptasse a novos tempos em razão de fatores como a extensão do sufrágio, a democratização, os intervencionismos econômico e social, resultando mais num sistema parlamentarista e não mais em uma separação rígida como a da monarquia constitucional ou do presidencialismo.

Leciona, Ferreira Filho “que igualmente, conciliou-se com a delegação do poder de legislar para o Executivo, comum nos últimos sessenta anos, onde a separação dos poderes sobrevive no mundo contemporâneo em razão das provas que deu e dá de dificultar o abuso, protegendo a liberdade individual”.

2. A separação dos poderes, sociedade e grupos.

No mundo de hoje, o homem necessita preocupar-se com o Estado, mas também deve precaver-se contra os grupos, porque, em face deles, mais uma vez a liberdade corre perigo. Assim, é preciso limitar o Estado, mas é preciso verificar que a sociedade contemporânea não corresponde às imagens oferecidas pelos séculos XVIII e XIX, pois agora se reivindica a atuação do Poder Público para quebrar o domínio dos grupos e corporações.

Segundo Clève173“é aqui que o princípio rígido e dogmaticamente interpretado

da separação dos poderes não é funcional, mas não se pode olvidar que deve continuar como ideia racionalizadora do aparato estatal ou como técnica de organização do poder para a garantia das liberdades”.

Consequentemente, a sepração dos poderes e sua interpretação, nos leva ao raciocínio de um distanciamento de uma concepção garantística do princípio da divisão de poderes, reconduzidos o poder a uma função e uma função a um poder. Nos leva a investigar qual é o conteúdo normativo-constitucional desse princípio, enquanto princípio estruturante da organização constitucional do poder político do Estado, no momento em que o Executivo possui a capacidade institucional e constitucional atribuída para primariamente inovar o ordenamento jurídico, sem contudo se falar em rupturas ou derrogação constitucional, e por outro lado atribuir

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natureza legislativa das leis delegadas ou de natureza extra ordinem das medidas provisórias.174

3. A missão atual dos juristas

Por tal assertiva, Clève afirma que essa é a missão atual dos juristas, qual seja, adaptar esse sistema de equilíbrio de poder à realidade constitucional de nosso tempo e, dentro desse contexto, o aparelhamento do Poder Executivo para que possa responder as crescentes demandas sociais. Ressalta, todavia, que urge a necessidade de aprimorar os mecanismos de controle dessa ação a fim de torná-los mais seguros e eficazes.

4. O Poder do Estado é compartilhado

O Poder do Estado é compartilhado entre entidades que desempenham funções e atividades constitucionalmente atribuídas a cada uma, independentemente umas das outras, sem que nenhuma seja predominante. Tais prerrogativas, que competem a cada poder do Estado, são chamadas de: poder de iniciativa, que de modo geral estão distribuídas pela Constituição, e ao observar a estrutura constitucional brasileira, constata-se que os poderes exercem funções típicas e atípicas.

5. A escolha constitucional pelo Estado de Direito e pela Democracia

A Carta de 1988 adotou, em seu artigo 1º, os dois princípios. O Estado de Direito e a Democracia, porque a diferença de Estado Legal e Estado Democrático de Direito fundamenta as ações do Poder Legislativo de forma que ele seja realmente legítimo na concretização dos princípios da soberania e participação popular, além de dar garantias, no ordenamento jurídico, à dignidade da pessoa humana.

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Cf. Omar Francisco do Seixo Kadri. O Executivo Legislador: o caso brasileiro. In: Boletim da Faculdade de Direito. STVDIA IVRIDICA n. 79. Coimbra: Coimbra Editora, 2004.p. 224

Em suma, segundo Clève, a revisão do princípio da divisão de poderes levou o Poder Executivo a participar do processo de elaboração da lei, em especial através da iniciativa ou sugerindo o resultado do procedimento por meios dos vários expedientes como os acima referidos, e ainda através de autorização para produzir a lei.175