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Da falta de clareza no texto constitucional o que se traduz em repartição das

CAPITULO I – A CARTA CIDADÃ

V. ELABORAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A IMPORTÂNCIA DO

4. Da falta de clareza no texto constitucional o que se traduz em repartição das

No que diz respeito à repartição das matérias, conforme o campo normativo de cada competência legislativa, genericamente há dois tipos de competência: exclusiva e privativa, a primeira depende de que não haja a menor possibilidade de delegação, caso ocorra, será competência privativa.

A grande dificuldade resulta que a Constituição confunde os termos, exigindo do intérprete uma análise sistemática. Aqui, seguem alguns exemplos: o decreto relaciona-se com o chefe do executivo, é ele quem o faz; então, é competência

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Cf. Gilberto Bercovici., 2004 Op. Cit. p. 71. 84

Cf. S.Guerra e G. Merçon Direito constitucional aplicado à função legislativa. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2002. p. 262.

exclusiva; delegar função como o caso da lei delegada (artigo 68 CF) é competência privativa do Congresso Nacional.

Quanto às competências legislativas, elas podem ser: comum e concorrente. A comum é aquela que se refere a todas as pessoas políticas simultaneamente, por exemplo: em relação a serviços essenciais, como a educação, caberão à União as normas gerais e, aos entes federados, as normas específicas. Assim, o artigo 23 da CF, em caput, determina à União, aos estados e ao Distrito Federal; no inciso XII “estabelecer e implantar política de educação para segurança no trânsito”, conclui-se após análise que as normas gerais de trânsito, como já nos referimos, competem à União; e caberão ao município, por se tratar de interesse local.

A competência concorrente pode se dar de duas formas: a complementar e a suplementar. A complementar ocorre quando se somam às atuações de duas pessoas jurídicas, a União será sempre uma e a outra aquela a quem a Constituição ofereceu competência.

A suplementar é exceção à regra. Decorre da inércia da União, que não faz as normas gerais ensejando para outra unidade federativa a sua implantação para resolver um determinado interesse através de elaboração da norma interna. Como exemplo, tem-se o artigo 30 inciso II da CF, que estabelece esse tipo de atribuição para os municípios. Um último tipo de competência é a residual, que deve ser definida pelo critério de exclusão, e é tema básico de direito tributário, uma vez que cabe à União a competência para legislar sobre a criação de novos tributos, desde que não seja objeto de mesmo fato gerador de tributo já existente.

Fica então, num quadro geral esquematizado, a distribuição das competências, da maneira a seguir. Na União, o Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, composto por duas Casas Legislativas – bicameralismo: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Quanto ao elenco de bens pertencentes à União, estão no rol do artigo 20 da Constituição, uma vez, estando sob seu domínio, cabe a ela legislar sobre eles. Já no artigo 21, estão previstas atividades em que pode legislar.

No que concerne o modo federativo haverá competência comum para legislar de forma concorrente sobre outras atividades constantes no artigo 23 da CF, “de tal sorte que as leis que fizer neste sentido hão de prevalecer sobre os demais entes

que, à evidência, quando dispuserem a respeito, fa-lo-ão à luz das suas peculiaridades”85

. Alertamos que tal premissa deve ser observada considerando-se o parágrafo único do artigo 23 CF que exige lei complementar para fixar normas de cooperação entre os entes federados, tendo em vista o equilíbrio, o desenvolvimento e o bem-estar no âmbito nacional.

Por fim, iniciado o processo numa Casa, já que é bicameral, à outra caberá a função de revisar, em outras palavras, se iniciado o processo na Câmara dos Deputados, deverá ter continuidade no Senado, e vice-versa.

Nos estados-membros, o Legislativo é unicameral, sendo exercido pelas Assembleia Legislativas, e vai ser no artigo 25 da Constituição Federal que se encontra a matéria descrita de uma forma generalizada, ou seja, são suas competências aquelas que não lhe são vedadas de algum modo no texto constitucional. Com efeito, somente uma análise quanto às competências que são atribuídas privativamente aos outros entes, é que então se chegará a um ponto de partida.

Decorre do critério de interesse as vedações implícitas, por exemplo, do artigo 21, inciso VII da CF., que determina que à União cabe emitir moeda, ou do artigo 30, inciso I, da CF., que estabelece que cabe aos municípios legislar sobre assuntos de interesse local, sendo um modo de identificar que não são competências dos Estados-membros. Em raros momentos a Constituição confere competência ao Estado, não especificamente para legislar, mas cujo exercício acaba resultando nisso, a saber: artigo 25, §§ 2º e 3º, no artigo 26, incisos I, II, III e IV, no artigo 27, §§ 2º e 3º - já contidos na competência de organização, assegurada no artigo 25, caput.86

A questão que diz respeito às competências dos estados não vão estar explícitas, principalmente quando se tratar de competência comum. Outras vezes, a Constituição irá conferir competência privativa à União, por exemplo, artigo 22 e parágrafo único, mas poderá autorizar o legislador estadual a dispor sobre questões específicas dessas matérias através de uma delegação via lei complementar do

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Cf. Andyara Sproesser. Direito parlamentar: processo legislativo. Op. cit., 69. 86

legislador federal para o legislador estadual. Mas este caso não se enquadra em nenhuma das espécies de competência legislativa que foram mencionadas, pois em tal hipótese o legislador estadual atuará em conformidade e estritamente dentro dos parâmetros autorizados para elaborar a lei federal, ou seja, a norma decorrente.

A delegação caracteriza uma forma especial de competência concorrente e se assemelha aos previstos no artigo 24, §1º, 2º, 3º e 4º da Constituição. A competência suplementar expressamente prevista, como no § 2º do artigo 24 da CF, assim como a delegação, também se caracteriza como uma forma especial de competência concorrente e se assemelha à delegação, aqui devendo ser adotado. No caso presente, “como se vê, são todos assuntos limitados, estreitos, em que a legislação estadual se cingirá sem dúvida, praticamente à máquina administrativa ao seu pessoal, aos seus bens e aos seus percursos fiscais e financeiros.”87

Também no município, o sistema será unicameral, sendo exercidas pelas Câmaras municipais. As competências estão basicamente elencadas nos artigos 29 e 30 da CF, em que há, expressamente, um rol de matérias sobre as quais cabe ao município legislar, no qual está descrita a organização administrativa dos poderes legislativo, executivo e municipal, além dos entes da administração indireta e funcional.

No que tange ainda ao artigo 23 da CF, também há a previsão da competência do município legislar a respeito dos bens do seu domínio, em outras palavras, que se não for do município e da União, será dos estados, devendo para tanto fazer exame levando em consideração o interesse de cada ente.

No Distrito Federal, por sua especificidade, além de ser o sistema unicameral, o Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa, o que decorre do fato de que tal ente caracteriza-se com competência reservada tanto aos Estados quanto aos Municípios.

Completando todo o raciocínio exposto, deve-se mencionar que disposição constitucional expressa (artigo 32, §1o), diante desse quadro é a seguinte: “a sua situação não interfere no deslinde da competência dos demais entes federados, (...)

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ao contrário, para saber da competência dele é que se faz preciso saber, antes, da competência dos Estados e Municípios”88

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