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Da assessoria existente e sua estrutura

CAPITULO II – O PODER LEGISLATIVO

II. O PODER LEGISLATIVO NA CARTA DE 1988

8. Da assessoria existente e sua estrutura

A estrutura posta hoje no Congresso está caminhando para contrapor a assessoria existente do Executivo, mas ainda estamos longe de possuir semelhante a dos Estados Unidos.155

Portanto, deve ficar claro que a argumentação quanto à falta de especialização do corpo de assessoramento desses órgãos não pode mais ser aceita. Os avanços nesse sentido já podem ser constatados.156

Assim, conclui Bittencourt, que o argumento de falta de capacidade técnica de qualquer uma das Casas Legislativas deve ser descartado, pois hoje em dia, não há mais base para tal afirmativa. Cita estudo relativo à perspectiva comparativa técnico- institucional no Legislativo brasileiro, sendo este apontado na literatura como exceção, entre os países em desenvolvimento.157

Nesse sentido, o Relatório de Integridade da Administração, elaborado pela OCDE, em 27/10/2011, elogia os avanços do Legislativo brasileiro na elaboração de

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As Comissóes no Congresso Americano. Há pouco tempo me foi indagado o porquê que as nossas comissões não teriam um papel similar as do Congresso dos Estados Unidos. Em primeiro lugar, lá as comissões, desde a sua origem, deu-se com uma autonomia técnica, produzindo consultoria. Surge então as comissões permanentes para atuar com tópicos recorrentes ou legislação e afeta todo o Parlamento, compartilhando sua atribuição legislativa, redatora, revisora e supervisionadora das leis, recomendando medidas que dificilmente geram ação contrária por parte dos parlamentares. Para tanto, possuem um aparato complexo, totalizando 250 comissões e subcomissões, com uma equipe de assessoria por volta de 2.200 funcionários na Câmara e 1.200 no Senado, que desempenham papel fundamental na negociação com legisladores, lobistas, servidores públicos, além da relevantíssima função de montar estratégias políticas, podendo, para tanto, viajar para o exterior com intuito de conduzir investigações em outros ramos em países diversos, no sentido de aperfeiçoar e auxiliar as decisões políticas, suas possíveis alterações ou mesmo criação de leis resultantes de tais estudos. Fora todos esses aparatos, contam ainda com três agências legislativas que operam sob rígidas normas de impessoabilidade e imparciabilidade com a função de dar informações, suportes, análises e pesquisas de projetos. A maior e significativa diferença entre as comissões está na natureza autorizativa ou fiscal, uma vez que a grande maioria pertence à primeira categoria e estão incumbidas de delinear as políticas públicas, bem como fiscalizar as agências executivas com intuito primordial de acompanhar e certificar a condução e execução das políticas por elas responsáveis; a segunda exerce o papel de fiscalização dos gastos, inclusive das campanhas políticas e cumprimento das ações governamentais. As comissões estão presentes nos Parlamentos dos mais diversos países e em cada um há peculiaridades diversas.

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Cf. Fernando Moutinho Ramalho. Bittencourt. Relações Executivo-Legislativo no Presidencialismo de Coalizão: um quadro de referência para estudos de orçamento e controle. Textos para Discussão n. 112, Núcleo de Estudos e Pesquisas do Senado, abril. Federal. Brasília: Senado, 2012.

Pode ser referida a Resolução da Câmara dos Deputados n. 48 de 1993 que dispõe sobre a assessoria legislativa.

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projetos de consolidações juntamente com a ressalva do fortalecimento do ambiente institucional para a reforma regulatória. Trata-se de um marco a ser lembrado, pois foi a primeira vez que o Brasil foi alvo de avaliação dessa instituição.

Primeiro, na estrutura fixa das Casas, esse assessoramento se dá por funcionários efetivos que ingressaram por concursos – cabe dizer que, por meio de rigorosos processos de seleção – além do assessoramento de cada gabinete, inclusive nas lideranças partidárias, onde encontramos os cargos em comissão. Em entrevistas realizadas com a finalidade de apurar o funcionamento dos trabalhos no Legislativo, veio à tona a questão do quadro escasso de técnicos, apesar da excelência dos existentes, para a demanda necessária.

O Senado criou uma Universidade do Legislativo,158

na Câmara dos Deputados, foi constituído o Cefor, Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados com criação de núcleos de pesquisas que possuem uma vasta produção científica. Devem ser mencionados igualmente o Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos do Senado Federal (Cedesen) e o Instituto Legislativo Brasileiro (ILB). O assessoramento legislativo tem previsão em Resoluções da Câmara e do Senado159

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A Revista de Informação Legislativa é referência para os doutrinadores. O sistema da Interlegis, criado pelo Senado, visa integrar o maior número possível de entes legislativos do país160

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A Resolução nº 1 de 2001 do Senado Federal criou no âmbito deste a Universidade do Legislativo Brasileiro.

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A Resolução da Câmara dos Deputados nº 48/93 dispõe sobre a assessoria legislativa e a Resolução nº 73/1994 do Senado Federal dispõe sobre a Consultoria Legislativa, a Advocacia do Senado e a Consultoria de Orçamentos. A Resolução n. 28 de 1998 dispõe sobre a reorganização do Plano de Carreira dos servidores da Câmara dos Deputados. Para assessoramento legislativo, Consultem-se: Fernando Moutinho Ramalho. Bittencourt. O controle e a construção de capacidade técnica institucional no parlamento – elementos para um marco conceitual. Textos para Discussão n. 57, março, Brasília, Senado Federal: 2009.

Atyr de Azevedo Lucci. O assessoramento legislativo. Revista de Informação Legislativa, julho a setembro Brasília, Senado Federal, 1971, pp. 159-172..

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Por meio da Resolução do Senado Federal n. 12 de 1999, o Brasil contratou operação de crédito externo junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento para financiamento parcial do Programa Interlegis – Rede de Integração Legislativa, executado pelo Centro de Informática e Processamento

O avançado sistema de indexação da legislação, elaborado pelas bibliotecas do Senado e Câmara dos Deputados, possui um sistema padrão.

As Escolas dos Legislativos e dos Tribunais de Contas, em sua produção de seminários, cursos, aulas e pesquisas, atribuem um novo papel ao Poder Legislativo, ou seja, o de educador, e também visando à conscientização política para um efetivo exercício de democracia.

As editoras do Senado e da Câmara dos Deputados têm desenvolvido papel substancial na formação tanto de servidores como na preservação da história do parlamento brasileiro, produzindo excelentes obras apreços irrisórios à disposição para todos os cidadãos interessados.

A informatização, através de portal, disponibiliza o máximo de informações possível para que haja uma transparência em todas as atividades desenvolvidas no âmbito das Casas Legislativas, por fim, se algum cidadão se interessar por algum assunto é só se cadastrar e enviar email para ter o acompanhamento de tudo o que se refere ao objeto do seu interesse.

Recentemente, permaneceram, por meses, os projetos de consolidações das leis trabalhistas á disposição de qualquer pessoa para sugestões.

Além de todo exposto, há á disposição o acervo histórico, informações sobre os integrantes e sua atuação, podendo ser acompanhado os seus trabalhos, a estrutura interna e externa, mas, infelizmente, como já alertamos, todo esse esforço institucional passa à margem da sociedade, dos doutrinadores e teóricos de diversas ciências que influenciam na opinião sobre o Legislativo.

Assim, diante do exposto, não há como compactuar com afirmações de que no Brasil o despreparo técnico do Legislativo não consegue dar conta das tarefas, como as competências que haviam sido outorgadas pelo texto constitucional de 1946, que foi objeto de inúmeras críticas, servindo de pretextos, entre outros, para o golpe de 64 e a instauração do autoritarismo burocrático que perdurou até 1988, e ousamos dizer até os nossos dias.161

de Dados do Senado Federal – Prodasem, que tem previsão na Resolução n. 57 de 1976 e n. 12 de 1981, ambas do Senado Federal.

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Parece retórica essa afirmação, mas diante dos assuntos mais complexos que o Legislativo tem que se manifestar, não há como cada vez mais especializar as estruturas das comissões. Por outro lado, com uma previsão orçamentária própria esses órgãos colegiados poderiam realizar um número bem mais substantivo de audiências públicas.162

O papel do Estado desempenhado, no qual o Legislativo se encontra, dá destaque aos órgãos colegiados por traduzir em espaços democráticos. Não privilegia nem o trâmite de urgência que amesquinha o debate necessário na apreciação de proposituras legislativas e acrescenta mecanismos de toda sorte para a efetiva participação cidadã.