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A Construção da Identidade Docente: Educador e Professor

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 36-39)

Parte I – Enquadramento Teórico

1.2. A Construção da Identidade Docente: Educador e Professor

O êxito ou o fracasso do sistema educativo depende, em grande parte, da qualidade dos seus professores. O professor é um elemento fundamental no processo educativo e a sua formação contribui para o sucesso do mesmo e, por isso, tal como refere Nóvoa, citado por

Braga (2001), “Não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores” (p. 15).

A docência é uma atividade intelectual, técnica, moral e relacional. É uma profissão de serviço, uma ação de ensino e uma ação de cuidados. Esta tem no seu dia a dia dimensões técnicas, artesanais, intelectuais e artísticas (Formosinho, citado por Vasconcelos, 2009).

O docente deve estar dotado de competências que lhe permita identificar e resolver problemas complexos, navegar entre problemas contraditórios e enfrentar conflitos internos e subjetivos (Perrenoud, citado por Vasconcelos, 2009). Este deve ser dotado de uma inteligência pedagógica, de uma capacidade reflexiva e autorreguladora (Alarcão & Roldão, 2008). Assim, considera-se que a formação contínua é crucial para os professores para “a interiorização de novas atitudes e formas de estar no exercício da docência” (Magalhães, 2007, p. 77).

A formação de professores constitui um processo que implica uma reflexão contínua sobre “ a natureza, os objectivos e as lógicas que presidem à sua concepção, organização e operacionalização” (Moraes, Pacheco & Evangelista, 2003, p. 127). Esta formação faz também com que o professor reflita sobre o que é ser professor e quais as competências para desempenhar essa função, de acordo com as mudanças que ocorrem atualmente, adquirindo novos saberes para responder de forma adequada ao processo de ensino-aprendizagem (Couvaneiro & Reis, 2007).

É de realçar também a importância da preparação e da formação destes professores nas escolas, sendo que esta formação tem de ser discutida, redefinida e reenquadrada de acordo com as transformações verificadas na sociedade. Esta deve estimular uma perspetiva crítica e reflexiva, desenvolvendo nos professores o pensamento autónomo, facilitando as dinâmicas de autoformação participada (Nóvoa, 1995). Além disso, a formação de professores contribui também para um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo, com vista à criação de uma identidade que além de pessoal é também profissional. A troca e partilha de ideias e saberes contribuem para uma formação mútua e o diálogo entre os docentes é fundamental para consolidar saberes provenientes da prática profissional (Nóvoa, 1995).

O desenvolvimento profissional representa um processo de formação contínua uma vez que tem a finalidade de melhorar a prática dia após dia, visto que o docente adquire mais formação sobre o processo educativo e domina novas estratégias e metodologias didáticas, fazendo com que este cresça a nível pessoal e profissional (Sousa, 2012).

O saber profissional dos docentes deve desenvolver nas crianças e nos alunos a dimensão cognitiva, linguística, afetiva, psicomotora, relacional, comunicacional e ética, sendo que os docentes devem ter a função de mediadores entre os aprendentes, os saberes e a sociedade (Alarcão & Roldão, 2008).

A identidade pessoal é um sistema de múltiplas identidades e que encontra a riqueza na organização dinâmica dessa diversidade. É a perceção que o indivíduo tem da sua individualidade que inclui noções de consciência de si. A identidade profissional é uma construção que engloba as experiências vividas, as opções tomadas e as práticas desenvolvidas. Importa referir que ambas as identidades constroem-se em interação e que o elemento central é a pessoa. Devido às constantes mudanças no sistema educativo é necessário que a identidade dos docentes esteja em constante modificação e adaptação, de forma a adaptá-la a cada situação e a cada realidade. Este é um percurso cheio de lutas e de conflitos, de hesitações e de recuos (Nóvoa, 1995).

A identidade profissional dos docentes começa a desenvolver-se e a construir-se desde a formação inicial dos mesmos, durante a prática pedagógica e o contacto com a realidade. Esta é entendida por Sachs, citado por Moraes, Pacheco e Evangelista (2003) como “o modo como as pessoas entendem a sua experiência individual, como agem e se identificam no seio de determinados grupos” (p. 145). O docente constrói a sua identidade também de acordo com a estrutura do currículo. Contudo, a identidade profissional não pode ser vista como um dado adquirido, mas sim como fruto de uma construção social ao longo do tempo, que leva ao questionamento constante do próprio conceito de profissão (Sousa, 2012).

A construção da identidade docente é um processo longo e complexo que implica mudanças e inovações. A base para esta construção consiste na capacidade de analisar e de refletir. Para tal, o docente deve ter também uma atitude de investigador na sua prática. Nesta linha de pensamento Perrenoud e Elliott, citados por Nóvoa (1995), referem que é útil conjugar uma formação de tipo cíclico, isto é, “baseada na articulação entre a prática e a reflexão sobre a prática” e do tipo investigativo, confrontando os professores com “a produção de saberes pertinentes” (p. 28). Este processo requer que o professor exerça a docência com autonomia, evidenciando uma relação íntima entre o eu do professor, ou seja, aquilo que ele é e o eu profissional, isto é, aquilo que ele ensina (Nóvoa, citado por Lapo, 2010). Estes dois “eus” constroem-se em interação conforme já foi referido anteriormente. O docente deve também ter noção dos seus pontos fortes e fracos, dedicando-se a fazer mais e melhor, empenhando-se no seu crescimento profissional, sendo que o envolvimento pessoal do docente ao longo da sua profissão é fundamental na construção da profissionalidade.

Contudo, é importante referir que o envolvimento pessoal do docente não deve ser individualista. Este é um processo socioconstrutivista uma vez que há uma atitude de partilha de experiências e de saberes com outros agentes (Alarcão & Roldão, 2008).

O docente deve ser um indivíduo com o desejo de marcar a diferença e o mesmo deve continuar a aprender e deve realizar uma reflexão sobre a sua prática, ou seja, este deve observar o que faz e refletir continuamente sobre isso (Lapo, 2010). É importante realçar que “a formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal”, daí a relação existente entre o eu pessoal e o eu profissional (Nóvoa, 1995, p. 25).

Sintetizando a ideia do que é a construção da identidade docente, seja ela do educador ou do professor, importa referir que “A identidade não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de lutas e de conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão”. A construção desta identidade é um processo que necessita de tempo para “refazer identidades, para acomodar inovações, para assimilar mudanças” (Nóvoa, 1992, p. 16). Assim, a forma como cada docente ensina está diretamente relacionada com aquilo que ele é enquanto pessoa quando exerce o ensino, sendo impossível separar o eu profissional do eu pessoal.

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 36-39)