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O Docente Enquanto Profissional Observador e Reflexivo

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 39-42)

Parte I – Enquadramento Teórico

1.3. O Docente Enquanto Profissional Observador e Reflexivo

Uma das competências a desenvolver pelo docente deve ser um perfil observador. A observação é uma prática essencial do professor e do educador. Segundo as OCEPE, “a observação constitui, deste modo, a base do planeamento e da avaliação, servindo de suporte à intencionalidade do processo educativo” (ME, 1997, p. 25).

Além de observador, o docente deve ser reflexivo, demonstrando ser um indivíduo que reflete acerca daquilo que faz e ser aberto à mudança. São várias as caraterísticas que esboçam um docente reflexivo, que analisa o seu ensino e que é crítico consigo mesmo. O bom docente também reflete, não se limita apenas a receitas (Alarcão & Tavares, 2003).

A prática docente crítica implica um pensamento certo e uma relação entre o fazer e o pensar sobre o fazer. É pensando criticamente e refletindo através da prática de hoje que o docente poderá melhorar a prática de amanhã (Freire, 2011).

O ser humano tem a capacidade inata de refletir, compreendendo o que acontece à sua volta. No caso do docente, esta capacidade fá-lo questionar e refletir acerca da realidade em

que a sua prática está inserida. Na área da educação, a reflexão surge como uma ação que leva à reestruturação da prática educativa de forma a torná-la melhor, de acordo com o desenvolvimento das crianças e dos alunos (Marques, Oliveira, Santos, Pinho, Neves & Pinheiro, s.d.).

Figura 1 – O ciclo da reflexão-ação.

Nota: Adaptado de Nunes, citado por Marques, Oliveira, Santos, Pinho, Neves & Pinheiro, s.d., O educador

como prático reflexivo. Porto: Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, pp. 129-142.

No seguimento destas ideias, e como podemos observar na figura 1, o ciclo da reflexão-ação diz respeito a um ciclo em que há a teoria e a prática, depois há uma reflexão sobre a ação, de forma a reformular a prática. Posteriormente, parte-se novamente para a prática, refletindo novamente sobre a ação (Nunes, citado por Marques, Oliveira, Santos, Pinho, Neves & Pinheiro, s.d.).

Schon, citado por Nóvoa (1995), realça a ideia da reflexão-na-ação que é o que pensamos sobre o que fazemos ao mesmo tempo que atuamos. A reflexão sobre a ação é uma componente essencial do processo de aprendizagem permanente, tal como é o de formação de professores.

Os docentes que são reflexivos desempenham papéis importantes “na definição das orientações das reformas educativas e na produção de conhecimento sobre o ensino” devido a um trabalho reflexivo na e sobre a ação (Zeichner, 1993, p. 9). Este conceito surge da prática dos bons docentes, visto que na perspetiva deles a melhoria do ensino deve iniciar-se na reflexão da prática.

Na sequência destas ideias Clark e Peterson, citado por Braga (2001), referem que contemplam “o professor como um sujeito reflexivo, racional, que gera rotinas, toma decisões, emite juízos e tem crenças, pelo que os seus pensamentos guiam e orientam a sua conduta, fazendo dele alguém que constantemente constrói, elabora e comprova as suas teorias” (p. 25).

O docente além de reflexivo deve ser motivador, deve estimular nos alunos o gosto e o interesse pelo saber. A sua formação e desenvolvimento pessoal têm de ampliar o leque de respostas e ao mesmo tempo realizar uma apropriação de novos cenários. O docente deve ser criativo, ter espírito de risco e capacidade de iniciativa e de autoaprendizagem. Assim, estas competências devem ser estimuladas pela escola, expandindo-os para novas fronteiras (Couvaneiro & Reis, 2007).

O docente para ser reflexivo terá também de ser observador conforme já foi referido, visto que sem observação não há reflexão. A observação poderá ajudar o professor a reconhecer e a identificar fenómenos, apreender relações sequenciais e causais, ser sensível às reações dos alunos, pôr problemas e verificar soluções, recolher objetivamente a informação, organizá-la e interpretá-la, situar-se criticamente face aos modelos existentes e realizar a síntese entre a teoria e a prática. Através da observação das atividades desencadeadas, o docente poderá avaliar se as estratégias escolhidas foram as adequadas ou não (Estrela, 1994). Dewey realça a ideia de que a reflexão não se pratica apenas depois da ação. A reflexão pratica-se antes, durante e depois da ação (Zeichner, 1993). Esta não deve ocorrer apenas no professor mas sim entre professores, isto é, os professores devem refletir conjuntamente sobre as suas práticas, dando ideias e sugestões, tornando as práticas mais significativas.

No modelo de formação de professores enquanto docentes reflexivos, a prática adquire o papel central de todo o currículo, assumindo-se como um lugar de aprendizagem e conhecimento do pensamento prático do professor (Nóvoa, 1995). Assim sendo, Dewey valoriza a independência do docente, a iniciativa e a inventividade e refere que a atitude antidemocrática de limitar as suas ações à escola e à sala de aula tem uma grande repercussão na forma como conduz o trabalho com as crianças (Pinazza, 2007).

Nesta perspetiva surge a escola reflexiva que é “uma escola inteligente, autónoma e responsável que decide o que deve fazer nas situações específicas da sua existência e regista o seu pensamento no projecto educativo que vai pensando para si e experienciando” (Alarcão & Tavares, 2003, p. 133). A emergência de uma escola reflexiva é também fundamental porque a observação reflexiva e o diálogo permanente com as situações reais e com os outros docentes possibilitam a compreensão da ação. O saber profissional não deve ser isolado mas sim partilhado, exigindo o trabalho em equipa. Através do pensamento coletivo, coerente e partilhado é possível introduzir uma mudança através da ação centrada no diálogo, na reflexão e na avaliação contínua, crítica e construtiva (Alarcão & Tavares, 2003). Uma escola que assume uma atitude reflexiva é uma escola que cria condições de desenvolvimento e

aprendizagem para os membros que a constituem (professores, funcionários e alunos). Esta escola atua e avalia os seus processos e resultados, tendo como objetivos a formação de novos cidadãos (Alarcão & Tavares, 2003).

Como forma de sintetizar este tópico é importante referir que os professores devem procurar praticar uma prática reflexiva, sendo reflexivos antes, durante e após a ação e esta prática deve ser reflexiva tanto para dentro (para a prática) como para fora, isto é, para as condições sociais nas quais se situa esta prática (Zeichner, 1993).

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 39-42)