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A Planificação como Instrumento de Trabalho

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 72-75)

Capítulo III Fundamentos que sustentam a prática pedagógica

3.2 A Planificação como Instrumento de Trabalho

A planificação é um documento elaborado pelo professor que deve servir de guia de ação nas suas intervenções. Clark e Yinger, citado por Braga (2001), referem que “no processo de planificação se misturam elementos de pensamento, juízos e tomada de decisões” (p. 34). Estes autores (2001) identificam este processo como um processo de pensamento que o docente leva a cabo antes da sua interação com o grupo ou com a turma.

A definição de planificação e o que esta deve conter varia de autor para autor. Para Marcelo, citado por Braga (2001), a planificação deve conter toda “a acção do professor relativa à escola, aos alunos, aos pais ou a outros professores, assim como a previsão da acção docente e dos seus resultados” (pp. 34-35).

Mayor Ruiz, citado por Braga (2001), afirma que “planificar é temporizar e preparar conteúdos”, é pensar na organização da sala de aula, na fixação do tipo de avaliação mais adequada, o contexto e a previsão da dinâmica e do ambiente em que o ensino decorrerá (p. 35). Este autor refere ainda que a planificação deve ser dinâmica, criativa, prospetiva, realista e objetiva.

Zabalza, citado por Braga (2001), menciona que a planificação tem como caraterísticas a socialidade, isto é, o consenso de todos os intervenientes, a publicidade, ou seja, esta deve ser pública no espaço da comunidade e a seletividade.

Segundo Bullough, citado por Braga (2001), “(…) a planificação deve ser realizada com o objectivo de manter os alunos interessados e intelectualmente despertos” e as atividades devem ser diversificadas (p. 35). Este refere ainda que o professor deve adaptar-se à flexibilidade devido às circunstâncias em constante alteração e as quais necessitam de tomadas de decisões.

Zabalza, citado por Pacheco (2001), refere que a planificação é vista como “um conjunto de conhecimentos, ideias, experiências sobre o fenómeno a organizar que actuará como apoio conceptual e de justificação do que se decide”, é “um propósito, fim ou meta a alcançar que indique a direcção a seguir” (p. 105). Este autor refere ainda que a planificação é “uma previsão relacionada com o processo a seguir que se concretizará numa estratégia de procedimento na qual se incluem os conteúdos ou tarefas a realizar, a sequência das actividades e alguma forma de avaliação ou conclusão do processo” (p. 105).

Os professores no início da sua carreira tendem a prender-se muito aos seus planos de aula, às rotinas e às regras. Contudo, segundo Pacheco (2001), a planificação consiste em ordenar aquilo que se pretende realizar, dando-se-lhe um sentido prático e orientado. A

planificação deve ser clara o objetiva, de fácil leitura e interpretação e implica também uma reflexão acerca dos objetivos e conteúdos mais adequados, assim como a forma de avaliá-los.

Segundo Clark e Yinger, citado por Pacheco (2001), os professores planificam devido às suas necessidades pessoais, principalmente devido à ansiedade e à incerteza, para definir uma orientação, para determinar os objetivos propostos para cada atividade, assim como os materiais e a distribuição do tempo. Além dos aspetos referidos anteriormente, os professores planificam porque pretendem traçar estratégias de atuação durante as atividades que depois servem como referência para a avaliação.

Na mesma linha de pensamento, Pacheco (2001) refere que a planificação tem o propósito de prever o processo de ensino e aprendizagem e situa-se numa dimensão temporal que abarca várias operações: um diagnóstico prévio da realidade, a determinação dos objetivos, a escolha dos recursos e a determinação de uma sequência e tempo de execução.

Existem diferentes tipos de planificação com várias finalidades, são elas: a planificação anual, a planificação trimestral, a planificação de unidades, a planificação semanal e a planificação diária (Pacheco, 2001). Na prática pedagógica explanada neste relatório deu-se preferência à planificação semanal que tem como objetivo especificar as atividades diárias, com as devidas adaptações do professor e dos alunos àquela semana. O professor deve basear-se na organização do ensino através da planificação de unidades ou sequências lógicas e ordenadas de atividades, sendo que estas devem ser flexíveis aos interesses, motivações e capacidades dos alunos (Pacheco, 2001).

3.2.1. Planificação cooperada/cenário de aprendizagem.

Segundo Zabalza (1994), “A escola é a unidade básica de referência para o desenvolvimento do currículo” e é o professor quem deve esboçar, adaptando o currículo àquela realidade e concretizar, através da ação prática, essas previsões do programa (p. 46).

A planificação cooperada é um modelo de planificação construtivista, que envolve a participação ativa dos alunos. Importa salientar que as planificações realizadas ao longo da prática pedagógica centraram-se nesta perspetiva construtivista visto que sempre que possível os alunos planificavam em conjunto comigo. Estas planificações são igualmente motivadoras e significativas para os alunos porque visam a aprendizagem segundo os seus interesses e necessidades. Apesar de em todas as planificações haver um espaço para a ação do aluno, estas eram apenas hipotéticas uma vez que não seria possível prever todas as suas ações. As planificações realizadas sustentaram-se no programa curricular do 2.º ano de escolaridade e

nos interesses, dificuldades, necessidades e quereres dos alunos. Importa também salientar que as planificações eram realizadas semanalmente, tendo em conta a diferenciação pedagógica e o trabalho diferenciado (ver apêndices C a G).

Segundo Matos (2013) “Pensar a aprendizagem como parte integrante das práticas sociais em que as pessoas se envolvem, implica pensar a escola como local onde se devem realizar práticas que têm inerentes aprendizagens significativas e relevantes (…).” (p. 47). Assim, os cenários de aprendizagem são de extrema importância no ensino atual e podemos defini-los como “(…) recursos que as pessoas utilizam para modificar ou transformar as suas ideias prévias acerca de alguma coisa” e são realizados com a interação entre o professor e o aluno, podendo ser alterado ao longo das sessões, de acordo com as ideias e inovações dos mesmos, uma vez que estes são também os construtores do cenário de aprendizagem. Neste contexto, o professor tem o papel de lançar o desafio e ao longo das sessões ser mediador dos mesmos (Matos, 2013, p. 50).

Na prática educativa (Matos, 2013):

(…) pensar em cenários de aprendizagem é algo que o professor faz na sua prática docente se se considerar que ao planificar a sua prática pedagógica quotidiana, o professor desenha ou antecipa, de uma forma mais ou menos consciente, diferentes tipos de situações que procurará criar e nas quais pretende envolver os alunos. Esse desenho depende de vários fatores tais como o contexto social e organizacional em que se realiza a aprendizagem, dos conhecimentos e competências que pretende que os seus alunos adquiram num dado domínio, das metodologias e das estratégias que poderá adotar no trabalho com os alunos, das motivações que deseja criar e sustentar nos alunos, dos recursos que mobiliza e que integra nas práticas e do modelo de avaliação que adota (p. 48).

No campo pedagógico, um cenário de aprendizagem pode considerar-se como uma situação hipotética de ensino-aprendizagem. Estes podem ser situações imaginadas ou vividas e são compostos por um conjunto de elementos essenciais, sendo eles o contexto ou o ambiente em que decorre a aprendizagem, o domínio de conhecimento em que este pode situar-se (disciplinas), os papéis desempenhados pelos diferentes agentes, a história ou enredo das atividades, para que serve, os objetivos, as atividades de extensão e/ou produtos, os recursos e os materiais (Matos, 2013).

Um cenário de aprendizagem deve ter um caráter inovador, um sentido transformador, prospetivo, deve ser flexível e adaptável, deve ter poder metodológico, um caráter apelativo e motivador para o público a que se destina. O docente não deve ser o único interveniente num cenário de aprendizagem, deve haver diálogo e colaboração e este deve ser construído pelos docentes e alunos (Matos, 2013).

O que se pretende nas práticas educativas são situações de planificação cooperada ou de construção conjunta de cenários de aprendizagem de modo a motivar os alunos para a aprendizagem através de conteúdos e de atividades do interesse e necessidade deles, adaptadas às suas dificuldades. Ao abordar conteúdos do seu interesse, o aluno sentir-se-á mais motivado para aprender.

As planificações cooperadas e as construções conjuntas de cenários de aprendizagem equiparam-se às planificações desenvolvidas durante o estágio no 1.º CEB, uma vez que houve atividades que foram planificadas em conjunto com os alunos, deixando que eles fossem os impulsionadores daquelas atividades. Como exemplo é possível referir os conteúdos desenvolvidos através do recurso aos materiais manipuláveis, os trabalhos de projeto que surgiram de temas de interesse das crianças, as comunicações, além do TEA realizado diariamente. Uma vez que a problemática e a questão de investigação está relacionada com os materiais manipuláveis, importa referir que estes tornaram-se num cenário de aprendizagem porque resultaram em situações de aprendizagem planificadas e sugeridas pelos alunos, com a orientação da estagiária, para uma melhor compreensão de conceitos abstratos e para a resolução de problemas.

A planificação cooperada e os cenários de aprendizagem tornaram-se “(…) uma conceção sócioconstrutivista e interativa que proporciona à criança oportunidade de aprender de forma significativa, tornando-se mais responsável e auto-regulando o seu comportamento” (Pereira & Freitas, 2014, p. 14).

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 72-75)