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Os Afetos, as Interações e a Socialização

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 85-87)

Capítulo III Fundamentos que sustentam a prática pedagógica

3.10. Os Afetos, as Interações e a Socialização

A educação da afetividade é uma das tarefas educativas que aparecem com menos frequência na EPE e no desenvolvimento curricular. Esta surge como uma dimensão humana educável. A dimensão socioafetiva refere-se à “capacidade para estabelecer um vínculo afectivo com o outro” e supõe que a criança exprima sentimentos, afetos e emoções (Santos, 1997, p. 282). A educação afetiva é um processo que se vai construindo e que irá alcançar-se com processos de descentralização, de cooperação, de autoconhecimento, encadeados e interdependentes uns dos outros (Santos, 1997).

Os afetos, as emoções e os sentimentos são algo que estão relacionados. O afeto pode ser definido como “(…) qualquer disposição geral ou reacção de ordem sensível que nos liga ou afasta dos outros e das coisas”, as emoções dizem respeito a “(…) uma reacção de tonalidade afectiva mais intensa e breve” e o sentimento designa “(…) uma disposição mais estável ou uma disposição em relação a coisas de ordem moral ou intelectual” (Estrela, 2010, p. 36).

Os resultados de algumas investigações demonstram a importância dos diálogos e das interações entre os adultos e as crianças e entre duas ou mais crianças. É através destas interações, que os docentes transmitem às crianças e aos alunos formas de pensar e de aprender. Estes ao pensarem em conjunto estão a partilhar significados das suas experiências. Estas interações entre o docente e a criança ou o aluno são determinantes para que ocorra “uma aprendizagem sustentada e profunda” (Folque, 2012, p. 89).

Assim, a linguagem surge como o meio através do qual as crianças constroem a sua identidade enquanto aprendentes ao articular a dimensão cognitiva com a relação social e afetiva com o mundo (Folque, 2012). Desta forma, o educador surge como a chave para a promoção de um desenvolvimento afetivo correto e cabe a ele criar um clima propício ao desenvolvimento da afetividade para todas as crianças. A sua própria afetividade, equilíbrio e maturidade pessoal torna-se fundamental visto que serve de modelo para a criança e o clima educativo que se gera torna-se fundamental para o desenvolvimento da socialização da mesma (Santos, 1997).

Nas interações adulto-criança, a criança tem tendência para aceitar o ponto de vista do adulto sem o questionar o que a leva, posteriormente, a ter dificuldades em questionar, discutir ou pôr em causa aquilo que lhe é dito e em empenhar-se na construção de significados ou em pesquisa intelectual. Contudo, importa referir que há interações “em que a criança tira proveito da orientação de um par mais experiente ou de um adulto, desde que

estejam ambos envolvidos e partilhem o objectivo da aprendizagem a realizar” (Folque, 2012, p. 90).

As interações entre pares desempenham um papel importante na aprendizagem das crianças, sendo que os colegas surgem como parceiros que estão envolvidos na aprendizagem e nas atividades conjuntas. Assim, as crianças imitam-se umas às outras e ensinam uns aos outros e cooperativamente empenham-se em dar sentido ao mundo que os rodeia, através do debate, da negociação e da partilha de raciocínio (DeVries & Azmitia, citado por Folque, 2012). Isto significa que as crianças aprendem muito mais através das interações e das atividades conjuntas do que sozinhas.

Ao longo da prática pedagógica em ambas as valências foi desenvolvido o trabalho entre pares e o trabalho cooperativo porque são fundamentais nos processos de aprendizagem e de interiorização de conhecimento por todas as crianças e alunos. No entanto, importa referir que não basta envolver as crianças e os alunos em atividades conjuntas para que as interações entre pares tenham valor. É necessário haver um confronto entre as ideias de ambos e entre os diversos pontos de vista (Folque, 2012).

Além das interações entre pares existe também na EPE as interações de grande grupo que ocorrem, geralmente, durante o tempo em que estão “na roda”, durante o tempo de partilha também “na roda” ou nas “reuniões de grande grupo”. Estas situações que ocorrem em grande grupo são consideradas essenciais no MEM e constituem uma parte significativa da rotina diária do grupo. O tempo de círculo tem uma grande importância na EPE porque é durante este momento que as crianças têm a oportunidade de participar no discurso da sala e as conceções das crianças são construídas através de um processo participativo entre todos (Folque, 2012).

A socialização desenvolve-se em contacto com o outro. Assim, “a descoberta de si próprio alcança-se, fundamentalmente, no encontro com os outros, o que vai permitir desenvolver a tempo a própria vida afectiva e o respeito para com os sentimentos alheios” (Santos, 1997, p. 285). Este processo realiza-se pela inserção da criança no próprio contexto social e por isso a construção da sua própria identidade, o conhecimento e as relações com o outro está relacionada com a dimensão afetiva e com a evolução social. Grande parte das relações sociais a criança constrói no seio da família, nas brincadeiras com os outros e também na escola. Através destes hábitos e destas atitudes de relação de respeito e de cooperação, a criança é capaz de situar-se e de imaginar-se na perspetiva do outro. Ela aprende também maneiras de comportar-se e de relacionar-se com o outro (aceitar, ganhar, perder, ceder, devolver, solicitar, etc.). Através desta consciencialização, a criança “toma

consciência do valor e da necessidade do esforço colectivo para a consecução de empreendimentos comuns” (Santos, 1997, p. 347).

Para Brickman e Taylor (1996), a socialização resulta de cinco elementos-base: a confiança, a autonomia, a iniciativa, a empatia e a autoestima. A confiança diz respeito ao apoio e ao encorajamento necessários para realizar a ação que a criança sabe que vai receber dos outros. A autonomia “é a capacidade de independência e de exploração” que leva a criança a colocar questões do tipo “O que será que está atrás da porta?” (p. 16). Apesar de a criança precisar dos pais e dos educadores/professores, esta tem também autonomia para fazer as suas escolhas e de realizar coisas por si própria. A iniciativa “é a capacidade que a criança tem de começar uma tarefa e de levá-la até ao fim”, atuando perante uma situação segundo aquilo que acha correto (p. 16). A empatia “é a capacidade que permite à criança compreender os sentimentos dos outros por os poder relacionar com sentimentos que ela própria já experimentou” (p. 17). Contudo, importa realçar que em idade pré-escolar ainda está muito presente o egocentrismo. Por último, a autoestima diz respeito à confiança que a criança tem na sua própria capacidade de dar o seu contributo positivo nas variadas situações. Esta desenvolve-se quando os quatro elementos-base referidos anteriormente estão enraizados.

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 85-87)