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1 PLURALISMO POLÍTICO, REPUBLICANISMO E MAXIMALISMO

1.2 MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE DEMOCRACIA

1.2.1 A Democracia Competitiva, Procedimental e Minimalista: o embate entre a

A definição de democracia é enxergada sob duas óticas: a primeira designada como "minimalista", na qual seus fundamentos encontram amparo nas teorias de Joseph Schumpeter que entendem a democracia como resultante de um compromisso mútuo entre elites políticas, por meio do voto e eleições competitivas dentro de uma sociedade com interesses plurais. Já a

segunda ótica, conhecida como "maximalista", estabelece que os regimes democráticos não podem ser restritos a métodos de escolhas eleitorais7, como resultado da ação de instrumentos institucionais especificamente políticos.

Certamente, um ideal otimista e progressista da evolução dos homens permeou os pensamentos de John Stuart Mill, Karl Marx e outros teóricos do século XIX, direcionados pela razão, ciência e filosofia. Todos militando em prol da auto-regulamentação e da ampliação da capacidade de participação dos indivíduos na vida pública e social do Estado. Por outro lado, no final do século XIX e começo do século XX surgiu o pensamento pessimista do futuro, fruto de visões negativas da vida e do desenvolvimento e avanço civilizatório e tecnológico e, também, de ações políticas, mesmo àquelas com boas intenções. Neste contexto, Max Weber (1864-1920) e Joseph Schumpeter (1883-1946) defenderam ideias convergentes sobre a vida política: estrita participação democrática e necessária evolução coletiva, fragilizada por forças sociais, através do elitismo competitivo e da visão tecnocrata. Para eles, deveria existir a escolha por parte dos indivíduos da tomada de decisões e a devida restrição de seus atos (Ibidem, p. 131).

Nessa ordem, emerge o modelo de democracia minimalista, competitiva e procedimental, definida por Schumpeter e oriunda do pensamento de Weber, sob os ditames da institucionalização do Estado, definido como racional-burocrático, inserido na evolução do sistema capitalista de produção. Sublinhe-se que para a coexistência democrática seria necessário o mínimo de comodidade material e de eficiência da máquina estatal, bem como uma participação social qualificada no processo da administração e processo político de qualidade.

Joseph Schumpeter, crítico da “teoria clássica”8, unia o sistema político ao mercado econômico, como aspecto negativo no anseio do bem comum entre a população, obstando uma boa escolha de liderança políticas em razão da influência deletéria do poder econômico. Dessa forma, para ele, os indivíduos, inseridos nesse contexto democrático, possuem uma restrição quanto à sua possibilidade de participação política, representado pelo voto nos pleitos eleitorais e de se envolverem em instituições políticas, tais como os Partidos Políticos. Decerto, a democracia se faz através da forma de escolha dos dirigentes políticos. Como afirmou Schumpeter (1961, p.329): “[...] essa ação justifica-se pelo fato de que a democracia parece implicar um método reconhecido, através do qual se desenrola a luta competitiva, e que o

7 Pois estas podem ser fraudadas.

8 A Teoria Clássica estava centrada no fundamento de que o povo detém uma opinião final e racional sobre

método eleitoral é praticamente o único exequível, qualquer que seja o tamanho da comunidade”.

Enquanto Weber refutava a participação popular na direção da vida política através de sua conjuntura afetiva, passional, apresentando a forte relevância do Parlamento como um “[...] corretivo racional dos impulsos emocionais das massas”, Schumpeter, por sua vez, apontava os cidadãos como particularizados e orientados por seus anseios individuais.

Nessa direção, Schumpeter, na década de 1940, por meio da obra “Capitalismo, Socialismo e Democracia”, referenciou a democracia como um método, um procedimento no qual ocorre a escolha dos dirigentes políticos. À vista disso, a democracia é definida sob o aspecto procedimental, posto que é entendida como um conjunto de regras para a escolha de certos líderes que decidem politicamente e garantem ou não o bem comum da população que os escolheu, vez que o método democrático é um conjunto institucional para a tomada de decisões políticas, no qual o indivíduo detém o poder de decidir através um embate competitivo por votos do eleitor (SCHUMPETER, 1961, p. 328). Posto isto, percebe-se que a democracia se consubstancia como um procedimento minimalista, com insignificante ou nenhum valor de caráter substantivo, correspondendo a um arranjo para concretizar as decisões coletivas mediante o voto popular.

Decerto, a definição de democracia minimalista, elaborada por ele, em crítica a teoria clássica, é um modelo essencialmente empírico, que busca a estabilidade do sistema político, levantando uma reflexão acerca dos conceitos de bem comum e a partir da política como direitos, elementos essenciais para o exame da política contemporânea.

Em contrapartida, existem ideais compreendidos como "maximalistas" nos quais estabelecem que os regimes democráticos não podem ser resumidos apenas a formas de escolhas eleitorais, como resultado da ação de métodos institucionais estritamente políticos. Os militantes do ideal maximalista corroboram a ideia de que a representação política significa representar interesses, nos quais os eleitos deveriam não apenas decidir em conformidade com os anseios de seus eleitores, mas as instituições representativas deveriam retratar a sociedade. A democratização dos meios de representação, nesta perspectiva, significa a ampliação da esfera pública sobre o Estado e a criação de uma cidadania ativa.

Nesta acepção, necessário se faz expor os fundamentos existenciais de Habermas acerca do tema. Para ele

[...] não é realista a idéia segundo a qual todo comportamento social é concebido como agir estratégico, podendo ser explicado como o resultado de um cálculo egocêntrico de possíveis vantagens. A força sociológica desse modelo é visivelmente limitada: mesmo que haja o risco de um comportamento egoísta, o nível de sua presença efetiva varia muito. Grande parte da literatura relativa à escolha social e à escolha pública, que presume ser o comportamento universalmente oportunista, parece ter perdido o contato com um mundo real, onde se pode encontrar muita honestidade e senso de dever. Se as pessoas adotassem sempre um comportamento oportunista e o conseguissem impor, a civilização tal qual nós a conhecemos não existiria (HABERMAS, 1997, p. 66)

Significa dizer que o autor se posiciona no sentido de que qualquer decisão humana, inclusive a política envolve sensibilidade, razão e paixão existentes numa sociedade. Entretanto, a escolha racional vai além, preocupando-se com questões mais reais entre as relações individuais.

No pensar de Schumpeter, a democracia deveria ser utilizada como forma de escolher os governantes ante um sistema competitivo com eleições abertas. Contudo, esta escolha seria individual, uma escolha racional de cada indivíduo, que influiria fortemente no estudo do impacto da democracia política na sociedade. Logo, o panorama formalista, minimalista e procedimental de democracia trazida por Schumpeter influenciou e influencia a doutrina especializada, permanecendo ainda as características eleitoral e representativa como elementos essenciais dos indivíduos que buscam definir sistemas ou regimes democráticos.