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CAPÍTULO IV O EIXO DA “PRÁTICA DOCENTE”: O PROFESSOR E O

5.2 Análise da concepção de Currículo

5.2.1 A dificuldade

Analisamos também, neste Capítulo, o quadro sobre as dificuldades que os professores apontam diante da implementação curricular. No Quadro 13, organizamos as dificuldades que os professores questionados enfrentavam naquele momento. Os problemas, por um lado, se organizavam pela logística equivocada dos materiais que subsidiavam o

currículo, como os cadernos de professores e, até aquele momento, a falta de um caderno que atendesse aos alunos, e por outro, os problemas se referiam, também, à distribuição dos conteúdos nos documentos e à quantidade de aulas previstas (tempo) para formalizar os temas na sala de aula e, ainda, do material que não contemplava a defasagem de conteúdo entre os alunos.

Quadro 13 - As dificuldades destacadas pelos professores diante da implementação

curricular.

Dificuldades Incidência Citação dos professores

Falta de materiais 24%

Falta de material para o aluno e o tempo sugerido para o desenvolvimento das sugestões de aprendizagem. (P2) A principal dificuldade que observo é a falta de material para ser trabalhado com o aluno. (P3)

A dificuldade é: o aluno não tem um caderno contendo os exercícios propostos na Proposta Curricular. (P4)

Conteúdo x tempo previsto 43%

Encontramos algumas dificuldades no tempo previsto para desenvolver muitos conteúdos. (P6) Dificuldades: Falta de apoio familiar; salas numerosas, conteúdo muito extenso, inadequado do número de aulas. (P7) Cumprir os conteúdos propostos no tempo determinado; e a contextualização de alguns temas; por exemplo: os conteúdos da 7ª série. (P8)

Materiais que não contemplavam a defasagem dos alunos.

33%

As dificuldades são relacionadas aos conteúdos, que vêm com defasagem nas séries anteriores. (P5)

A proposta tem uma ideia de que os alunos possuem pré-requisitos, como isso não acontece, dificulta o andamento das aulas, pois todo o conteúdo tem de ser revisto desde o inicio, e além da defasagem os alunos não possuem o hábito de estudar em casa. (P13)

As principais dificuldades são estas: os alunos não trazem bagagem dos anos anteriores, estamos em uma escola que quando os estudantes fizeram o Ensino Fundamental, a escola estava começando e passando por dificuldades. (P17)

Quanto à falta de materiais, especificamente, os professores destacaram a falta do Caderno do Aluno, reivindicação contemplada pela SEESP após consulta à Rede de Ensino. No entanto, até o ano de 2012, a logística de distribuição causa certo desconforto aos professores.

E2: Eu não tive dificuldades em trabalhar o caderno, o que foi

difícil foi a questão da logística, prazo, você estava terminando o bimestre e não chegava o outro, você fica meio perdido.

Fica clara aqui a expectativa do professor na busca de um guia orientador. Embora o Caderno do Professor já destacasse o programa bimestral e quantidade de horas previstas, havia, ainda, o interesse no material do aluno. Em outro ponto, está a relação entre a quantidade de conteúdos dispostos no currículo e o tempo previsto para execução das atividades evidenciado nos questionamentos que fizemos aos professores. Essa relação conteúdo versus tempo tornou-se ao longo da implementação um dos elementos de

dificuldade. Isso é destacado nas entrevistas e atribuímos esse fato à dificuldade do rompimento do ensino linear da Matemática.

E1: Para um aluno que está na 5ª série, para ele não vai ter tanto choque. Agora, imagina para um aluno que está acostumado com o livro didático? E3: A maior dificuldade é fazer o aluno entender a proposta do caderno. Os alunos não estão acostumados a trabalhar com as situações de aprendizagens, o problema gerador para adquirir os conhecimentos. E4: Primeiro que minha formação não visou ao currículo em espiral. Era um currículo linear do começo ao fim aprofundado. Desta forma mexe um pouco com a forma de trabalhar.

E10: Para a elaboração desse currículo, requer [do professor] primeiramente uma elaboração de estudo, pesquisa de qual a melhor maneira e, só depois ser aplicado.

Por último, a questão da defasagem de aprendizagem dos alunos, ainda é elemento de desconforto entre os professores. Esse talvez seja o elemento-chave na dificuldade de compreender o que significa o ensino por competências e que destacaremos no próximo item. Dessa forma, os professores marcam os seguintes discursos,

E5: A classe não é homogênea; a classe é totalmente heterogênea. São diversos grupos. Você tem quarenta alunos e destes, oito são de inclusão. E14: Por termos salas heterogêneas, os alunos apresentam muitas defasagens dos conteúdos necessários em anos anteriores, não consigo avançar como deveria, por ter que retornar tais conteúdos.

E15: Nossos alunos chegam no 6º ano com muitas dificuldades, essas dificuldades criam uma defasagem que é transmitida de ano para ano, devido a isso enfrentamos dificuldades em aplicar e avançar como gostaríamos.

Entendemos que nessa análise fica explícita a falta da formação dos professores para atuarem respaldados por um currículo, como este que estamos focando, que apresenta características próprias, com relação ao tempo e ao conteúdo tratado na sala de aula, e como isso deveria ser discutido diante das dificuldades relacionadas ao processo de ensino- aprendizagem. Cremos que partes dessas dificuldades elencadas tenham ocorrido pela falta do envolvimento dos professores durante o processo de elaboração curricular. Também não foram levadas em conta a complexidade trazida pelo grande número de escolas (mais de

5.000) e de alunos (mais de 5 milhões) da Rede Estadual de São Paulo e a formação dos professores.

O currículo é central para a escola. Os eixos que o constituem subsidiam espaços, tempos e a formação dos professores; dessa forma, a inclusão dos docentes na elaboração desses documentos pressupõe, sobretudo, estabelecer um elo entre o que é produzido na sala de aula e o fomentado pelos elaboradores desses currículos. A prescrição dos documentos curriculares implicará mudança na sala de aula somente se articulada à formação dos professores e ao seu reconhecimento, identificando-se com os escritos e a realidade. Por fim, um currículo que se organiza com base nos saberes disciplinares tradicionais não mais responde aos enfrentamentos atuais da sociedade e do trabalho. A proposta alternativa recai sobre o eixo das competências, elemento ressignificado ao lado das teorias tradicionais, porém de forte penetração nos currículos global e local.