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CAPÍTULO I METODOLOGIA DA PESQUISA

1.2 Coleta de dados

Inicialmente, o problema da pesquisa, em virtude da sua complexidade e de seu caráter eminentemente qualitativo, requisitou o contato com os professores (Grupo A) mediante o questionário, a pesquisa documental e as entrevistas com os professores (Grupo B), que nos requereu um estudo profundo, porém, flexível, e permitiu pesquisar múltiplos elementos e fatores que nela intervieram.

Já identificamos nossa motivação na introdução dessa pesquisa. Trazemos a percepção daquilo que pesquisamos e, evidentemente, temos opiniões, concepções, significados e crenças sobre o currículo, a competência e a prática docente dos professores relativa às suas atividades e às coisas que os cercam.

Assim sendo, em um primeiro momento, buscamos por meio de questionários, identificar – diante do movimento que se produzia, entre os anos de 2006 e 2008, ante a mudança curricular – os argumentos pautados, sobretudo, na expectativa e anseios desses professores, e seus significados referentes aos temas currículo, competência e prática docente. Essas unidades surgiram de algumas reflexões sobre: (a) o currículo e sua própria produção, o objeto de estudo, o saber que se instituía; (b) a Matemática como elemento comum aos professores investigados; (c) a competência, pela sua forte inserção no currículo, eixo norteador, unidade instituída, de poder, e (d) a prática docente, os sujeitos que articulam ou promovem resistência nas relações com o currículo e a competência, com o saber e o poder.

As questões iniciais que apresentamos aos professores foram:

 Quais as expectativas, anseios e avanços que você espera desta proposta curricular no ensino da Matemática?

 Para você, o que é ensinar para desenvolver competências e habilidades em Matemática?

 Qual a relação entre os conteúdos, objetos matemáticos e o desenvolvimento de competências?

 Quais as principais dificuldades na implementação da Proposta Curricular de Matemática? E facilidades?

 Como você desenvolve as situações de aprendizagens de seu ‘Caderno do Professor’ durante suas aulas?

 Em que modificou sua prática diante da Proposta Curricular de Matemática em relação aos anos anteriores?

Como já dito, enviamos os questionários (Ver Anexo A) para as 26 (vinte e seis) unidades escolares jurisdicionadas pela Diretoria de Ensino da Região de Sertãozinho, unidade da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, onde atuamos como PCNP de Matemática. Obtivemos dessas escolas a devolução de 44 (quarenta e quatro) questionários, referentes aos sujeitos iniciais dessa pesquisa.

No momento da aplicação dos questionários, os professores de Matemática atuavam nos ensinos Fundamental e/ou Médio da rede pública do Estado de São Paulo, em particular, na Diretoria de Ensino da Região de Sertãozinho, em exercício, nos regimes efetivo ou contratado.

O instrumento foi aplicado no início do ano letivo de 2008 e coincidiu com as orientações iniciais da Coordenadoria de Estudo e Normas Pedagógicas da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (CENP/SEESP) para a implantação da Proposta Curricular ora elaborada e, também, da inserção do Caderno do Professor como guia curricular, organizando, entre outros, o tempo e os conteúdos na forma de situações de aprendizagens (SA) na sala de aula.

Foi a partir desses questionários que pudemos dimensionar – resguardado o esforço que empreendemos quanto ao distanciamento entre pesquisador e formador dos sujeitos marcados pelos questionários – e direcionar nossos estudos sobre algumas unidades de significados encontradas nessa interseção. Estas unidades que identificamos como eixos principais e já apresentados como Currículo, Competência e Prática Docente são as que analisaremos com mais profundidade.

Em seguida, desenvolvemos um estudo exploratório, revisão bibliográfica, percorrendo o caminho ora no campo da Educação, ora no campo da Educação Matemática, entre teses, dissertações, anais e periódicos, assim como, as aproximações ao campo, posto que pretendemos não apenas identificar os elementos teóricos que compuseram as impressões dos professores sobre o currículo, a competência e a prática docente, mas também compreender minimamente algumas de suas relações, como suas práticas pedagógicas, especialmente aquelas que intervêm ou são resultados das experiências vividas por esses professores durante a mudança e a implementação de um novo currículo, acerca da problemática que permitia levantar elementos significativos para este estudo.

Nosso último instrumento envolveu a realização de entrevistas semiestruturadas7. Foram entrevistados 15 professores em suas unidades de origens – locus de trabalho, em

7 Para Triviños (1987) apud Manzini (2004), a entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos dariam frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes. O foco

meio às HTPC. Essas entrevistas foram gravadas na forma de áudio e posteriormente transcritas e agrupadas segundo as questões. A esse grupo complementar ao anterior denominamos Grupo B.

As entrevistas foram construídas para o aprofundamento das unidades e identificação da ‘inércia’ e/ou avanços percebidos pelas mudanças. Para Lüdke e André (1986, p. 33) “a entrevista representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados [...]; ela desempenha importante papel não apenas nas atividades cientificas como em muitas outras atividades humanas”.

Situado então nesse contexto, entrevistamos os professores que atuam nos ensinos Fundamental e Médio da rede pública do Estado de São Paulo. E, cercado pelas imagens do mundo com as quais nos defrontamos, optamos por investigar um tema, em nosso caso, o discurso dos professores de Matemática que atuam nessa modalidade de ensino, suas práticas, facilidades e dificuldades e suas relações com as unidades significativas obtidas em torno do currículo, competências e prática docente.

Essas entrevistas aconteceram, de forma amostral, em 4 (quatro) unidades escolares, dentre elas as que possuíam em sua estrutura física/administrativa os anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e/ou o Ensino Médio (1º ao 3º ano), pertencentes à rede pública estadual de São Paulo, no segundo semestre de 2011.

Também optamos pela não divulgação das características que pudessem identificar o professor ou suas instituições escolares. No entanto, divulgamos as transcrições desses áudios e os apresentamos no Anexo C.

Para a seleção das amostras utilizamos uma planilha eletrônica disponibilizada pela Coordenadoria Geral da Educação Básica (Cgeb), onde elaboramos uma ordenação das unidades escolares organizadas pelas diretorias de ensino localizadas no Município de São

principal seria colocado pelo investigador-entrevistador. A entrevista semiestruturada “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).

Paulo e sua Região Metropolitana e também, pelas diretorias de ensino com sede no interior do Estado de São Paulo, contemplando, aproximadamente, cinco mil unidades escolares constantes no quadro da Secretaria de Estado da Educação. Como elemento desencadeador, utilizamos uma tabela geradora de números aleatórios e, dando prosseguimento a essa sequência, adicionamos nessa interação a próxima unidade escolar.

Apresentamos o procedimento abaixo:

1. calculamos o intervalo para sorteio dos elementos (I=5000/4=1250);

2. sorteamos o início disponível em uma tabela geradora de números aleatórios (IC=288);

3. definimos os números que compuseram a amostra sorteada, pelas somas sucessivas operadas pela expressão [IC+(n-1).I].

Ao estabelecermos o instrumento de entrevista para os sujeitos do Grupo B, nos valemos da construção do sistema de categorias para análise das concepções de professores elaboradas por Porlán et al. (1997). Essas construções abordam, fundamentalmente, além dos dados profissionais, o tempo no exercício docente dentro e fora da rede estadual, a forma de contratação8 e nível de atuação, elementos que constituem os níveis de fundamentos explícitos sobre o currículo de Matemática e sua compreensão didático-curricular (prática docente) bem como sobre a ação.

Quadro 1 - Categorias e Questionamentos – Entrevista.

8 Pela atual Resolução SE nº 77/2010, com alterações dadas pelas Resoluções SE – 02/2011 e SE – 08/2011, além do professor efetivado pelo concurso público, temos outras formas de contratação como P para estável e N, F, L e O para designar outras faixas funcionais.

Categorias de Análise Questionamento

Dados profissionais

1) Há quanto tempo você é professor(a)? E na Rede Estadual? É efetivo ou contratado?

2) Em que nível de ensino (Fundamental, Médio ou ambos) você leciona?

Fonte: Autor

Dessa forma, as entrevistas foram elaboradas tendo como evidência os eixos principais já destacados e organizados nos questionamentos.

Salientamos que a tese da nossa pesquisa está no contexto do currículo de Matemática, implantado no ano de 2008, pela Secretaria de Estado da Educação. Assim, questionamos: quais são as concepções atribuídas aos professores sobre o currículo pautado pelas competências e estabelecido na relação de sua prática docente?

Descritivo Secretaria de Estado da Educação:

1) Você conhece o “novo” currículo de Matemática vigente na Secretaria de Estado da Educação (SEE)? 2) Você teve alguma orientação, da Secretaria da Educação, da Diretoria de Ensino, da oficina pedagógica ou dos professores coordenadores para implementação deste currículo?

3) Você poderia descrever como foi esta orientação? (HTPC, Orientações Técnicas, Videoconferências)

Prática docente

1) Como você avalia a aplicação deste currículo na sala de aula?

2) De que forma você articula o currículo e os cadernos do professor e do aluno em sua sala de aula?

3) Para entender um pouco mais da sua prática, como você elabora seus planos de aulas?

4) Que tipo de dificuldades você enfrenta na prática ao desenvolver este currículo na sala de aula?

5) O atual currículo para o ensino da Matemática disponível na SEE atende sua realidade, professor?

Normativo

1) Uma das tônicas deste currículo é a aprendizagem por competências, como isto é feito na sua sala de aula? 2) Além deste currículo de Matemática você conheceu algum outro currículo seja da própria Secretaria de Estado da Educação ou de outras secretarias de Educação? Você poderia descrever as características deste currículo e definir suas semelhanças ou diferenças?

Após destacarmos os instrumentos que utilizamos para coleta de dados em nossa pesquisa, que serviram de base para a análise dos elementos sujeitos a ela, tecemos uma rede de significados produzidos pelos professores, sob o aporte da pesquisa qualitativa.