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É notório que um dos resultados mais perceptíveis das conferências internacionais na última década foi a incorporação da sustentabilidade nos debates sobre desenvolvimento. Logo, a partir dessas conferências, segundo Rattner (1999), governos, universidades, agências multilaterais e empresas de consultoria técnica introduziram, em escala e extensão crescentes, considerações e propostas que refletem a preocupação com o ―esverdeamento‖ de projetos de desenvolvimento e a ―democratização‖ dos processos de tomada de decisão.

Para Littig e GrieBler (2005), os conceitos de sustentabilidade do relatório de Brundtland exigem a integração das áreas ecológica, econômica, social e – algo que muitas vezes é ignorado – aspectos institucionais do desenvolvimento social. Por conseguinte, a operacionalização do desenvolvimento sustentável significou que os pilares individuais devem estar relacionados entre si e colocados em termos mais concretos. Lélé (1991) destaca que, salvo a confusão em termos, percepções e conceitos, as políticas que estão sendo sugeridas pela corrente principal do desenvolvimento sustentável não podem e não se conformam com a ideia básica do desenvolvimento ecologicamente correto e socialmente justo e, além disso, tais políticas são muitas vezes falhas e podem refletir preferências pessoais, organizacionais e políticas.

Para Mendes (2009), o modelo de desenvolvimento sustentável está baseado na concepção da parceria e da colaboração efetiva entre os setores: público, privado, voluntário e comunitário e, neste contexto, exige-se um mínimo de consenso e de solidariedade entre os membros da sociedade que devem transcender aos interesses particulares e que só podem ser produzidos em um processo dialógico e interativo de troca de argumentos e posições, tornando-se, portanto, imprescindível que os governos adequem atitudes e estratégias em prol do bem comum, pois, esta perseguição do desenvolvimento sustentável dentro de uma perspectiva democrática exige um Estado ativo e facilitador.

Rattner (1999) retrata que, as sociedades civis estão se organizando e oferecendo resistência crescente, não apenas à poluição ambiental e à degradação dos recursos naturais, mas também aos abusos de poder político e econômico. Para Frey (2001), o debate público

sobre a sustentabilidade tem impulsionado a criação de novos arranjos institucionais, novos regimes ambientais de negociação e fóruns de debate, investimentos significativos na ciência e pesquisa ambiental, assim como a consolidação de um movimento ambientalista transnacional e, além disso, as discussões sobre sustentabilidade têm mostrado que o sistema político, tanto no nível internacional, quanto no nacional e local, é incapaz ou insuficientemente preparado para traduzir e transformar as crescentes demandas de cunho ambientalista em políticas públicas capazes de promover um modelo alternativo de desenvolvimento.

Segundo Mendes (2009), a sustentabilidade política deve apresentar a contribuição não somente da comunidade local, mas é preciso mobilizar a sociedade como um todo, englobando o governo, as instituições e o empresariado e abrangendo, principalmente, o que muitos autores chamam de sustentabilidade institucional para o desenvolvimento sustentável. Mas, vale salientar que, no que tange à reflexão teórico-conceitual, boa parte das teorias que visam a sustentabilidade do desenvolvimento carecem de investigações que aprofundem a dimensão político-democrática que certamente representa um dos mais importantes fatores limitadores da implementação de estratégias de desenvolvimento sustentável (FREY, 2001).

A questão principal que surge é como criar instituições democráticas capazes de induzir um processo de desenvolvimento socialmente equitativo e ecologicamente sustentável e ao mesmo tempo manter o controle e definir os limites políticos que estabelecem relações de mercado desiguais e desestabilizantes (RATTNER, 1999).

Segundo Oliveira e Martins (2009), a sustentabilidade institucional corresponde à existência, em um país, região, estado ou município, do arcabouço referente às políticas públicas de meio ambiente, para fazer face ao planejamento, estratégias e ações específicas para a gestão que garanta a qualidade ambiental no território respectivo.

Nesse contexto, para UNEP (2012), o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável deve ter uma variedade de funções em nível local, nacional, regional e global, entre os quais podem ser observados:

a) A concretização de políticas de planejamento integrado para o desenvolvimento social, ambiental e econômico sustentável e maximização das sinergias entre os seus objetivos e processos;

b) O desenho de caminhos e estabelecimento de acordos para apoiar a implementação através do qual abordam os objetivos e metas para se alcançar a sustentabilidade institucional do desenvolvimento sustentável; c) A avaliação do cumprimento das metas e objetivos, através do

acompanhamento dos processos de avaliação, implementação e elaboração de relatórios e prestação de contas sobre os compromissos;

d) A realização do monitoramento de entidades operacionais estabelecidas para apoiar todas estas características;

e) O acompanhamento de acordos institucionais e garantir que sejam cumpridos a fim de melhorar o bem-estar humano, alcançar a igualdade, mesmo ao longo de gerações e garantir a sustentabilidade ambiental e a prática do desenvolvimento participativo (UNEP, 2012).

Verifica-se que, a questão da sustentabilidade permite aos atores no poder que imponham suas visões e interesses aos movimentos sociais, às ONGs e mesmo às políticas e diretrizes governamentais. Assim, segundo Rattner (1999), a sustentabilidade não pode ser derivada apenas de um melhor equilíbrio e harmonia com o meio ambiente natural, já que suas raízes estão localizadas em um relacionamento interno à sociedade, de natureza econômica e politicamente equilibrada e equitativa. Esse mesmo autor revela que, se a ênfase predominante for colocada na produtividade, concorrência e consumo individual, então, as dimensões sociais e culturais de identidade pessoal, responsabilidade e solidariedade serão negligenciadas, resultando em efeitos dramáticos para a coesão e continuidade da organização social, consequentemente, as atividades econômicas são governadas por mecanismos impessoais – o mercado e o Estado, baseados na evidência da história contemporânea, deve-se presumir que ambos falharam em produzir um equilíbrio aceitável entre eficiência econômica e justiça social.

Diante desse cenário e conforme Jacobi (2005), cabe ressaltar que a proliferação de posições sobre a sustentabilidade é um sintoma positivo de dinamismo, já que os debates atuais eram impensáveis há alguns anos e isto mostra que as mudanças são possíveis, e que a questão da sustentabilidade tem muitas leituras, algumas contraditórias e outras convergentes, apesar de apropriadas de forma diferenciada pelos grupos e pessoas que atuam numa perspectiva de propor uma sustentabilidade articulada às novas realidades materiais e novas posições epistemológicas.

Por fim, essa releitura conceitual do desenvolvimento sustentável e de suas dimensões servirá de apoio para a atual pesquisa quando estiver abordando a fundamentação teórica sobre governança para o desenvolvimento sustentável, pois, conforme UNEP (2012:5), ―un sistema internacional de gobernanza incluye, en primer lugar, las instituciones y los mecanismos responsables del proceso completo, integrando todos los aspectos del desarrollo sostenible. Al mismo tiempo, también incluye las instituciones que se especializan em las áreas clave‖.

3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A GOVERNANÇA PARA O DESENVOLVIMENTO