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3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A GOVERNANÇA PARA O

4.7 A Governança para o Desenvolvimento Sustentável

Desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, em 1972, o alcance da governança do desenvolvimento sustentável tem se expandido consideravelmente nos níveis local, nacional, regional e internacional, levando à criação do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, bem como a criação de uma infinidade de Acordos Ambientais Multilaterais.

Stoddart et al. (2011) revela que a governança sempre foi reconhecida como uma ferramenta fundamental para promover o desenvolvimento sustentável em todos os níveis, embora o papel e as relações das instituições globais tenham sido muito debatido desde a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável ocorrida em 2002 na cidade de Johannesburgo, África do Sul.

Bárcena et al. (2012) descrevem que a governança multilateral não foi capaz de responder ao desafio urgente de alcançar uma maior coerência entre as condições que resultam dos mecanismos e fóruns mundiais e as necessidades reais dos países da região e, a esse respeito, é preciso implementar mudanças na governança internacional para o desenvolvimento sustentável de modo que assegure coerência entre as organizações relacionadas com o desenvolvimento e com os diversos acordos internacionais, assim como entre as negociações e os compromissos assumidos nos fóruns internacionais (comerciais, climáticos, ambientais e financeiros, entre outros).

Para Monzoni et al. (2011), a Governança para o Desenvolvimento Sustentável deve inserir a perspectiva de Desenvolvimento Sustentável no coração decisório das Nações Unidas de modo que o tema, nas suas três dimensões principais (social, econômica e ambiental) seja tratado de fato como transversal nas estratégias nacionais e internacionais de desenvolvimento.

Segundo Gomides e Silva (2009), as estruturas e qualidades da governança constituem fatores determinantes da coesão ou do conflito social, do êxito ou do fracasso do desenvolvimento econômico, da preservação ou deterioração do ambiente natural, bem como

do respeito ou violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e, diante disso, a importância da governança para o desenvolvimento sustentável é reconhecida em nível internacional, fazendo parte da Declaração do Milênio das Nações Unidas e do Consenso de Monterrey.

Para o Consenso de Monterrey, uma boa governança é essencial para o desenvolvimento sustentável, pois políticas econômicas saudáveis, instituições democráticas sólidas, que respondam às necessidades das pessoas e melhoria da infraestrutura são a base para o crescimento econômico sustentado, a erradicação da pobreza e a criação de emprego. Acrescenta-se que a liberdade, a paz, a segurança, a estabilidade interna, o respeito pelos direitos humanos, incluindo o direito ao desenvolvimento, o Estado de Direito, a igualdade de gênero, as políticas orientadas para o mercado, e um compromisso global de sociedades justas e democráticas também são essenciais e se reforçam mutuamente (ONU, 2002)28.

Desse modo, para Monzoni et al. (2011), a governança diz respeito ao quadro institucional global para viabilizar a transição rumo ao Desenvolvimento Sustentável e torna- se essencial para tirar do papel um emaranhado de convenções, protocolos, declarações e compromissos pelo Desenvolvimento Sustentável negociados nas três últimas décadas e, para tanto, a governança deve compreender os seguintes ângulos:

a) Instrumentos regulatórios (convenções, tratados, protocolos, decisões de conferências internacionais e legislações nacionais);

b) Planos regionais e nacionais de execução dos acordos; c) Órgãos gestores;

d) Mecanismos de penalização para quem descumprir tratados internacionais; e) Participação e controle social nas fases de discussão, deliberação e

implementação;

f) Fundos públicos e privados para assegurar o cumprimento dos acordos; g) Transparência e acesso à informação

Stoddart et al. (2011) enumera os princípios do direito ambiental que devem conter a governança para o desenvolvimento sustentável que são importantes por considerar

28 A good governance is essential for sustainable development. Sound economic policies, solid democratic institutions responsive to the needs of the people and improved infrastructure are the basis for sustained economic growth, poverty eradication and employment creation. Freedom, peace and security, domestic stability, respect for human rights, including the right to development, and the rule of law, gender equality, market-oriented policies, and an overall commitment to just and democratic societies are also essential and mutually reinforcing (ONU, 2002:7).

os méritos de diferentes propostas para reforçar o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável. Tais princípios já foram discutidos no segundo capítulo da pesquisa.

Nesse contexto, a questão ambiental representa tradicionalmente um desafio peculiar para a gestão pública por seu caráter interdisciplinar e interinstitucional que exige uma reorganização e reestruturação dos sistemas e das práticas políticas e administrativas, além de demandar novos padrões de participação proativa, sendo visto como fundamental no avanço em relação à sustentabilidade. Em grande parte dos documentos e publicações sobre desenvolvimento sustentável, a dimensão da participação e a necessidade de aprofundamento das práticas democráticas têm ganhado destaque (FREY, 2001).

Biermann e Gupta (2011) destacam que o sistema de governança global está preocupado não só com o desempenho institucional e com a sua eficácia, mas, também, com a responsabilidade e a legitimidade da tomada de decisão em todos os níveis e que devem guiar sociedades humanas para a prevenção, mitigação e adaptação às mudanças ambientais e de transformação do sistema de governança global, que se tornou um dos principais desafios políticos do nosso tempo. Esses autores também revelam que a prestação de contas, a legitimidade e a qualidade democrática destes processos de governança é um componente vital deste desafio.

Para Furtado (2009), a governança para a sustentabilidade constitui-se em um sistema flexível e continuamente adaptável de alocação de decisões, controle, informação e distribuição de recursos e recompensas, envolvendo todos os tipos de atores, nos níveis local e global, para uso de elementos normativos no contexto do Desenvolvimento Sustentável, assim, a governança para a sustentabilidade preocupa-se, eminentemente, com prevenção e gestão de riscos de eventos de âmbito global, os quais são alvos de levantamentos globais realizados por importantes organismos que atuam internacionalmente. Percebe-se, então, a necessidade de uma boa governança para a implementação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável e que tal condição precisa ser constantemente avaliada, monitorada e fiscalizada, o que pode ocorrer por meio de indicadores de governança – objeto de estudo do próximo capítulo.

5 A GOVERNANÇA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SEUS