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2.2 A dimensão econômica do desenvolvimento sustentável

2.2.1 As novas concepções da economia: a economia ambiental, a economia ecológica e a

2.2.1.3 A Economia Verde

De acordo com Born (2011), sabe-se que os problemas ambientais ou sociais são problemas de desenvolvimento e, a solução dos mesmos passa mais por novas abordagens e arranjos políticos, institucionais e sociais do que somente pela eleição de determinadas tecnologias, aporte de recursos financeiros ou execução de programas compensatórios nas áreas sociais e ambientais como estratégias imediatas úteis para enfrentar problemas urgentes.

Para Oliveira (2008), as empresas estão cada vez mais atentas ao que dizem os

stakeholders e a interagir com a sociedade e, sendo assim, os imensos problemas sociais e a

incapacidade do Estado de resolvê-los sozinho levam ao surgimento de uma demanda por parte da sociedade para que as empresas atuem mais firmemente em projetos sociais, muitas vezes até em substituição ao Estado. Com esse pensamento, explanou-se o surgimento de uma nova agenda de desenvolvimento – a Economia Verde, que emergiu após a crise financeira internacional de 2008/200912.

11 Após o estudo sobre Economia Ambiental e Economia Ecológica, é notório destacar os conceitos de sustentabilidade fraca e sustentabilidade forte. Segundo Veiga (2010:39), o primeiro toma como ―condição necessária e suficiente a regra de que cada geração legue à seguinte o somatório de três tipos de capital que considera inteiramente intercambiáveis ou intersubstituíveis: o propriamente dito, o natural/ecológico e o humano/social. Na contramão, está a sustentabilidade forte que destaca a obrigatoriedade de que pelo menos os serviços do ―capital natural‖ sejam mantidos constantes‖. Para Andrade (2008), a Economia Neoclássica decididamente se enquadra na visão da sustentabilidade fraca, enquanto que a economia ecológica adota uma posição de precaução e de ceticismo no que se refere à capacidade de o ecossistema terrestre suportar as pressões advindas do crescimento econômico. Mikhailova (2004) acrescenta que o conceito de sustentabilidade fraca assume os custos de degradação ambiental e que podem ser compensados pelos benefícios econômicos. Os indicadores de sustentabilidade fraca são baseados em indicadores econômicos convencionais e podem ser mensurados em unidades monetárias ou em pontos. Por sua vez, a Economia Ecológica defende o conceito de sustentabilidade forte e os indicadores que caracterizam a sustentabilidade forte são mensurados em unidades físicas, porque em sua ótica, as perdas ambientais não podem ser compensadas pelos benefícios financeiros.

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Conforme Graziano Neto (2010), o ano de 2008 entrará para a história como o marco de uma crise econômica global sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial: com o estouro da bolha do mercado imobiliário nos Estados Unidos, a quebra de instituições financeiras e a crise de confiança nos mercados que se sucedeu somados à crise mundial no preço de commodities agrícolas e de combustíveis, as principais economias do planeta entraram em recessão e milhões de empregos em dezenas de países foram perdidos.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA, 2011) retrata que,

el auge reciente del concepto de economía verde se ha visto favorecido, indudablemente, por el desencanto general con relación al paradigma económico dominante, una sensación de cansancio que se desprende de las numerosas crisis y fracasos del mercado que se han producido durante la primera década del nuevo milenio, en particular la crisis financiera y económica de 2008 (PNUMA, 2011: 1). Segundo a ONU (2011), essa crise financeira e econômica mundial proporcionou uma oportunidade sem precedentes de se efetuar as transformações necessárias, dando assim mais força a uma nova abordagem para o crescimento econômico, encontrando os meios para integrar a sustentabilidade ambiental com o crescimento econômico e o bem-estar e, principalmente, desligando o crescimento econômico da exploração do ambiente, assim como das injustiças e desigualdades sociais.

Assim, a noção de Economia Verde passou a ser um dos numerosos conceitos estreitamente relacionados e que visa reforçar a convergência entre os três pilares do desenvolvimento sustentável. Assim, PNUMA (2011) define economia verde como uma economia que visa melhorar o bem-estar humano e reduzir as desigualdades em longo prazo, protegendo as gerações futuras dos riscos ambientais e das grandes situações de penúria ecológica.

Nesse contexto, segundo Graziano Neto (2010),

a Economia Verde, na prática, é uma agenda de desenvolvimento que propõe uma transformação na maneira de se encarar a relação entre crescimento econômico e desenvolvimento, indo muito além da visão tradicional do meio ambiente como um conjunto de limites para o crescimento ao encontrar nas mudanças climáticas e no escasseamento ecológico vetores para um crescimento mais sustentável.

É uma forma de trazer a sustentabilidade, tão frequente e equivocadamente tratada como ―tema de futuro‖, para um patamar de objetividade e pragmatismo que evidencia as vantagens econômicas e sociais da aliança entre inovação e melhora da qualidade ambiental (GRAZIANO NETO, 2010:12).

Para Amazonas (2012), o conceito de Economia Verde vem ocupar um papel de desaguadouro de expectativas de convergências, buscando firmar-se enquanto um espaço de consensos e entendimento comum, na busca do estabelecimento de caminhos efetivos de ação. Por outro lado, suscitou desde o nascedouro também um ceticismo e incredulidade maiores do que os experimentados pelo conceito de Desenvolvimento Sustentável. À diferença do conceito de Desenvolvimento Sustentável, o conceito de Economia Verde busca assentar-se nas experiências e tendências concretas atuais em curso construídas pelos

segmentos estratégicos de recursos renováveis e de mercados ecologicamente corretos (op

cit.).

Para Born (2011), esse debate sobre o que possa significar uma nova economia ou Economia Verde e Inclusiva (ou seja, ambientalmente íntegra e socialmente justa) não pode ser feito independentemente do debate sobre arranjos e transformações políticas e culturais que estruturam a forma como os seres humanos, em suas comunidades e nações, se governam e se relacionam entre si e com o meio ambiente em que vivem. São termos, entre outros, com interpretações diversas e que exigem uma perspectiva mais ampla do contexto presente, do passado recente e dos desafios em um futuro mais justo e saudável. Percebe-se que, o debate sobre sustentabilidade e economia verde requer abordagens sistêmicas e cenários de curto, médio e longo prazos.

A Organização das Nações Unidas ONU (2011) descreve que os governos, as organizações regionais e internacionais e as instituições de ajuda ao desenvolvimento têm um papel preponderante a desempenhar no lançamento e acompanhamento do processo, através de políticas claras, pois, para construir uma economia verde e reduzir a pobreza – de modo a cumprir os objetivos do desenvolvimento sustentável – será necessário investir amplamente na capacitação de todos os intervenientes pertinentes (instituições governamentais, setor privado e capital humano), modernizar e fortalecer as instituições e proporcionar uma ajuda financeira direcionada. Portanto, é importante compreender o papel dos governos e dos outros atores (empresas do setor formal e informal, sindicatos, sociedade civil, universidades, organismos de investigação etc.) que compõem as economias nacionais e regionais.

Nessas circunstâncias, a economia verde, segundo Graziano Neto (2011), possui os seguintes objetivos:

a) Crescimento econômico: estabelecimento de cadeias produtivas de alto valor agregado; Crescimento do Valor de Transformação Industrial médio do Estado; Ampliação da renovabilidade da matriz energética; Geração de divisas; Eficiência no transporte logístico e de passageiros; Instrumentos tributários verdes; Financiamento de soluções de mitigação de mudanças climáticas; Instrumentos econômicos de pagamento por serviços ambientais; Inclusão de critérios ambientais na mensuração do desempenho econômico; Consolidação de mercados como o Ecoturismo e o turismo regional;

b) Empregos e renda: criação de empregos verdes nos diversos níveis de qualificação; Estabelecimento de setores intensivos em uso de mão de obra

com baixo índice de emissão por emprego gerado; Expansão da fronteira de possibilidades do mercado de trabalho na direção de novas profissões e especialidades; Aumento da renda média da população economicamente ativa; c) Pesquisa e inovação tecnológica: fortalecimento do Sistema de Parques

Tecnológicos; Estímulos à pesquisa e ao desenvolvimento públicos e privados; Aprimoramento da institucionalidade por trás da cooperação universidade x setor privado; Monitoramento da oferta e da demanda por tecnologias mais limpas; Estímulos ao estabelecimento de cooperações técnicas internacionais; d) Qualidade ambiental: adaptação e mitigação das mudanças climáticas;

Recomposição de capital natural; Uso eficiente de recursos naturais minerais e hídricos, entre outros; Melhora da conectividade da paisagem; Difusão de tecnologias e soluções mais limpas; Planejamento do acesso aos recursos naturais finitos; Indicadores de sustentabilidade.

Observa-se, com esse novo modelo de economia, que as empresas com seus

stakeholders deverão adaptar-se às novas estratégicas e táticas para o fortalecimento da

economia verde. Além disso, constata-se que o debate sobre sustentabilidade, economia verde e governança requer abordagens sistêmicas e cenários de curto, médio e longo prazos, para o enfrentamento dos desafios da civilização humana em sua interação com o planeta (BORN, 2011).

Porém, em comum acordo com Amazonas (2012),

a Economia Verde, em parte, é um recuo em relação ao Desenvolvimento Sustentável. Não necessariamente retrocesso. É seguramente um recorte do Desenvolvimento Sustentável. E, enquanto recorte, o reduz. Uma redução pode apequenar e esvaziar. Mas pode também focalizar. A focalização pode ser positiva, se ao produzir tal delimitação conseguir ensejar eficazmente políticas e ações concretas. Pode, porém, produzir resultados tão isolados que pouco sentido e pouca mudança podem vir a trazer frente à realidade mais ampla e relevante. Pode trazer mudanças cumulativas gradativas que posteriormente irão produzir mudanças estruturais de fundo. Mas pode também trazer mudanças que nada mudem (AMAZONAS, 2012:33).

Buss et al. (2012) retratam que o cenário atual global consiste, no geral, de governanças voltadas quase exclusivamente à potenciação de forças produtivas, com forte acúmulo de poder político dos empreendedores e promotores da política econômica, associadas às políticas ambientais, em geral, insustentáveis e políticas sociais redistributivas, de cunho assistencial e compensatório no campo do desenvolvimento social e, nesse contexto, ocorrem pressões para as desregulações social e ambiental, diretamente associadas aos vetores

de forte impacto negativo sobre o meio ambiente, tais como o agronegócio baseado na monocultura em grandes espaços de terra, os grandes empreendimentos para geração de energia e polos empresariais, e tantos outros, sempre maquiados como economia verde.

Segundo Abramovay (2012),

as sociedades contemporâneas conseguiram estabelecer mecanismos capazes de promover o crescimento econômico e, em certa medida de obter vitórias importantes contra a pobreza e que foram capazes de levar adiante esses objetivos ampliando a ecoeficiência e reduzindo o uso de materiais e de energia por unidade de valor oferecida no mercado. A governança necessária ao desenvolvimento sustentável é a que submete a dinâmica da economia ao preenchimento das reais necessidades da sociedade, no respeito aos limites ecossistêmicos. É ela que vai transformar o crescimento econômico em um meio para que as finalidades do desenvolvimento – a expansão permanente das liberdades substantivas dos seres humanos – sejam atingidas. E isso exige bem mais que energias renováveis, melhor uso dos materiais e aproveitamento sustentável da biodiversidade: bem mais que economia verde. Exige que a sociedade seja protagonista central na definição do próprio sentido da atividade econômica que, embora incipientes, são importantes para emergir as novas relações entre economia e ética e entre sociedade e natureza (ABRAMOVAY, 2012:197).

Buss et al. (2012) consideram que o discurso prevalecente nos organismos internacionais é de que a economia verde seja a estratégia central do componente econômico da governança para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza. Contudo, além do próprio conceito de economia verde ser questionado, tal discurso não especifica a estrutura da governança da economia mundial para que de fato se alcance o desenvolvimento sustentável mantido o atual modelo econômico.

Constata-se que inúmeros são os debates sobre o desenvolvimento sustentável e, para melhor entendê-lo, nesse momento da pesquisa, torna-se necessário fazer uma explanação sobre a dimensão ambiental e social para, em seguida, expor a dimensão referente ao direito ambiental na tentativa de esclarecer a relação entre a economia e a base legal ao meio ambiente.