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8 OS PRINCÍPIOS DA BOA GOVERNANÇA E A SUA APLICAÇÃO NO

8.3 O Princípio da Estabilidade Política e Ausência de Violência/Terrorismo

Borges (2003) descreve que disputas entre os povos sempre existiram e as consequências do uso da força são sentidas pelo meio ambiente, porém, no século XX, com o desenvolvimento de instrumentos cada vez mais eficazes na tentativa de destruição do inimigo, iniciou-se uma nova fase nos conflitos armados e o poder de destruição aumentou consideravelmente, aprofundando também a efetiva ou potencial destruição dos recursos naturais.

Com esse pensamento, essa seção inicia com dois princípios elaborados na Declaração do Rio de Janeiro, em 1992:

Princípio 24: A guerra é, por definição, prejudicial ao desenvolvimento sustentável.

Os Estados irão, por conseguinte, respeitar o direito internacional aplicável à proteção do meio ambiente em tempos de conflitos armados e irão cooperar para seu desenvolvimento progressivo, quando necessário.

Princípio 25: A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são

interdependentes e indivisíveis (DECLARAÇÃO DO RIO SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1992).

Percebe-se a preocupação com movimentos bélicos e o quanto são prejudiciais ao meio ambiente e, consequentemente, à governança para o desenvolvimento sustentável. Com essa preocupação, essa seção analisa o nível de implementação dos indicadores do princípio da Estabilidade Política e Ausência de Violência/Terrorismo para avaliar a governança das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável.

Uma política pública ou programa de governo deve ser um instrumento de melhoria da qualidade de vida e, em hipótese alguma, deve ameaçar a estabilidade política ou provocar reações violentas na população. Além disso, para alcançar a governança em seu sentido mais amplo, é necessário identificar os problemas e/ou a violência nas esferas do desenvolvimento sustentável. De um modo geral, o PSMV apresenta características que o qualificam para uma boa governança neste princípio (Tabela 7).

Tabela 7 – Nível de implementação dos indicadores do Princípio da Estabilidade Política e Ausência de Violência/Terrorismo no Programa Selo Município Verde, segundo os entrevistados.

INDICADOR

NÃO PARTE EM SIM

Frequência Relativa (%) Frequência Relativa (%) Frequência Relativa (%)

I16: Conhecimento da equipe gestora com o PSMV 15,25 32,20 52,54

I17: Compromisso da equipe gestora com o PSMV 11,86 35,59 52,54

I18: PSMV promove a articulação governamental 44,07 23,73 32,20

I19: Existência de conflitos políticos ao implementar o PSMV 5,08 22,03 72,88

I20: PSMV estimula o envolvimento da população 8,47 30,51 61,02

I21: Continuidade do PSMV 10,17 33,90 55,93

I22: Execução de um planejamento estratégico voltado para o PSMV 10,17 30,51 59,32

I23: Identificação dos problemas/violência ambiental, econômico, institucional

e social 5,08 30,51 64,41

Fonte: Resultados da Pesquisa, 2014.

Com a Tabela 7, observa-se que 64,41% dos entrevistados apontaram que o PSMV implementa esse indicador (I23). Esse diagnóstico torna-se fundamental para identificar

e analisar as fortalezas, as oportunidades, os fracassos e as ameaças de uma sociedade e, a partir dessa análise, sejam elaboradas e postas em prática políticas públicas voltadas para as necessidades locais com a finalidade de amenizar problemas ambientais, econômicos e sociais causados, por exemplo, pela degradação ambiental/desertificação e pelos baixos níveis de tecnologia utilizados na exploração dos recursos naturais, consequentemente, provocando sérios novos problemas e/ou agravando os já existentes.

A referida tabela mostra, ainda, que a maioria dos entrevistados considera que os indicadores selecionados para esse princípio de governança é amplamente implementado no PSMV com exceção do indicador ―PSMV promove a articulação governamental (I18)‖,

articulação governamental, exigindo, então, investimentos nesse âmbito, pois a governança prioriza atividades holísticas para a sua prática.

Com a Tabela 7, verifica-se que, para 72,88% dos entrevistados, existem conflitos políticos ao implementar o PSMV, possivelmente, deve existir prevalência de interesses pessoais, políticos e/ou partidários e divergências políticas nas esferas estadual e municipal ao realizar as ações estratégicas para cumprir os objetivos do PSMV. Vale salientar que a não observância desse indicador pode desestabilizar um governo e aumentar a presença de violência/terrorismo, como consequência, afetar a governança. Sugere-se que, ao elaborar e por em prática uma política pública, os governos federal, estadual e municipal trabalhem em harmonia com a população na tentativa de identificar os problemas da região, estabelecer prioridades na aplicação de recursos e realizar com frequência reuniões/encontros para prestar contas do orçamento, tornando-o participativo, ou seja, fazendo com que as decisões orçamentárias municipais priorizem o debate público e a decisão popular sobre o destino de parte dos recursos investidos em obras e serviços. Com isso, provavelmente, diminuiriam os conflitos políticos.

No princípio da estabilidade política e ausência de violência/terrorismo, 61,02% dos envolvidos na pesquisa consideraram que o PSMV estimula o envolvimento da população e, assim como o primeiro princípio – Voz e Responsabilização, percebe-se que, possivelmente, ocorre a valorização da sociedade civil quanto à elaboração e implementação do PSMV. De acordo com Azevedo e Anastasia (2002), a percepção da participação popular pode conferir maior legitimidade às ações legislativas, assim sendo, pode atribuir maior centralidade à questão social e incentivar a mobilização dos cidadãos nos esforços de superação das condições adversas da vida, que penalizam contingentes significativos da população. Esse envolvimento da população também foi amplamente debatido na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), na qual a governança deve compreender e estimular a participação e controle social nas fases de discussão, deliberação e implementação das políticas públicas.

Ressalta-se que, segundo Guimarães e Fontoura (2012), durante a Conferência Rio+20, as instituições internacionais, os Estados-Nação e os atores da sociedade civil voltaram-se para o debate em torno da necessidade de encontrar respostas para os atuais desafios impostos pelas mudanças ambientais globais de forma a evitar os impactos dessas transformações, garantindo, assim, o desenvolvimento sustentável, dada a relevância que o tema requer (garantia futura dos recursos naturais existentes e perpetuação da espécie humana), Estados, atores públicos, atores privados, organismos internacionais e sociedade

civil organizada devem defender modelos de governança ambiental global de forma a contribuir em áreas onde exige maior cooperação entre os governos.

59,32% dos entrevistados acreditam que o PSMV executa um planejamento estratégico, que promove a estabilidade política e a ausência de violência/terrorismo e, como consequência, a boa governança. Segundo Rezende (2009), o planejamento estratégico é um processo dinâmico e interativo para determinação dos objetivos, estratégias e ações; é elaborado por meio de diferentes e complementares técnicas administrativas com o total envolvimento dos atores sociais, ou seja, cidadãos, gestores locais e demais interessados e, um Estado; é formalizado para articular políticas federais, estaduais e municipais, visando produzir resultados em uma localidade e gerar qualidade de vida adequada aos cidadãos; é um projeto global que considera as múltiplas temáticas de uma localidade; é uma forma participativa e contínua de pensar em uma localidade no presente e no futuro; é uma forma sistemática de gerir as mudanças e de criar um melhor futuro possível para a cidade; é um processo criativo com base em uma atuação integrada em longo prazo, que estabelece um sistema contínuo de tomada de decisão que comporta riscos, identifica cursos de ações específicas, formula indicadores de resultado e envolve os agentes sociais e econômicos locais em todo o processo.

Sabe-se que a boa governança e o alcance do desenvolvimento sustentável segundo o Banco Mundial, podem ser considerados como a prática dos seis princípios de governança, nos quais estão incorporados os indicadores que, para implantá-los, é necessário a atenção de diferentes stakeholders. Sendo assim, o planejamento estratégico pode contribuir para a realização da análise de risco e oportunidades dessas partes interessadas que, segundo Portella; Lima; Pieniz (2011), o planejamento estratégico com o uso de ferramentas e metodologias da governança pode proporcionar o crescimento e o desenvolvimento de uma localidade, favorecendo e valorizando os stakeholders, cumprindo os objetivos das políticas públicas e possibilitando o controle fundamental para nortear os processos decisórios.

Depreende-se, então, que o planejamento estratégico torna-se bastante útil para se alcançar e garantir a efetividade dos propósitos das políticas públicas e, sobretudo, da boa governança. Conforme Santos (2011), é extremamente necessário para o planejamento estratégico dispor de uma agenda bem estruturada no que diz respeito à criação de uma nova ordem política regional que, possivelmente, amenizará os conflitos políticos, que possam afetar a estabilidade política e a ausência da violência/terrorismo e, como decorrência, prejudicar a implantação da boa governança para o desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, para não gerar incertezas e críticas ao princípio da Estabilidade Política e Ausência de Violência/Terrorismo, é necessário que seja dada atenção aos problemas de viabilidade política, priorizando fatores como a legitimidade governamental, o papel dos grupos de pressão e, principalmente, objetivando promover a boa governança e a fortalecer a sociedade civil (BORGES, 2003).

Por fim, vale salientar que, de acordo com Dutra (2013), a governança é um paradigma substancial, que consiste no direito que o cidadão tem de participar das decisões políticas do Estado, porém, se ocorrer a instabilidade governamental, pode gerar práticas que enfraquecem as instituições e os valores da democracia, da ética e da justiça, consequentemente, comprometendo o desenvolvimento sustentável e o Estado de Direito da sociedade. Diante disso, ao analisar os princípios da boa governança no Programa Selo Município Verde, constatou-se que o mesmo pode promover a Estabilidade Política e Ausência de Violência/Terrorismo, porém, nos aspectos existência de conflitos políticos para implantar o Programa e promoção da articulação governamental devem obter melhoras significativas.