O Método Delphi

Para Oliveira; Costa; Wille (2008), a interatividade permitida pelo método Delphi foge de uma conjuntura hierárquica, pois formata as respostas e, em seguida, faz com que elas sejam partilhadas de uma maneira para adequar as respostas, pois tende a excluir aquelas consideradas excêntricas ou que estejam fora do contexto solicitado e, como consequência, há um aprendizado recíproco entre os especialistas que tem a preservação da identidade dos respondentes e, dessa maneira, faz com que a interatividade aconteça com maior espontaneidade.

Segundo Bugarim (2012), o método Delphi é uma técnica interativa e de previsão qualitativa, no qual especialistas opinam anonimamente, por meio de questionários sobre determinado tema que possuem conhecimento. Esse processo é realizado a fim de se obter um consenso dos participantes sobre determinada área de estudo, considerando que o julgamento de um grupo de pessoas especializadas, principalmente, quando estão de acordo, é melhor que a opinião de um só indivíduo.

Para Munaretto; Corrêa; Cunha (2013), a quantidade de especialistas envolvidos em um grupo Delphi tem efeito direto no potencial de ideias a serem consideradas na geração e na quantidade de informações com que o pesquisador pretende trabalhar, todavia, não existe um consenso na academia sobre a quantidade ideal de participantes em um grupo Delphi, porque essa quantidade depende do escopo e contexto da pesquisa e de fatores extrínsecos ao pesquisador, como, por exemplo, a disponibilidade de especialistas para participar.

O uso do método Delphi é recomendado quando (LISTONE e TUROFF, 1975

a) Não há técnica analítica que permita estruturar adequadamente o problema;

b) O problema a ser analisado é excessivamente amplo ou complexo de modo que dificulta a uniformização dos especialistas a respeito do tema envolvido;

c) Devido à complexidade do problema, o número de pessoas envolvidas é grande para permitir formas diretas de interação;

d) Há restrições de tempo e recursos para uso de métodos mais estruturados; e) Há desacordos políticos ou ideológicos entre os envolvidos, de modo que

impede um processo de comunicação eficiente;

f) Há heterogeneidade entre os envolvidos de sorte que não se consegue evitar dominação por parte de alguns grupos sobre os demais.

Assim, o método Delphi pode ser aplicado, objetivando a definição de metas para uma determinada ação, para a identificação de variáveis-chave de um problema multivariável complexo, para previsões de acontecimentos futuros e para formulação de estratégias ou linhas de ação (SIMIONI et al., 2007).

De acordo com Wright e Giovenazzo (2000); Cândido et al. (2007); Kayo e Securatto (2007); Oliveira; Costa; Wille (2008); Munaretto; Corrêa; Cunha (2013), as concordâncias de opiniões dos especialistas sobre um assunto ocorrem sobre quatro pilares fundamentais, que são:

a) O anonimato dos participantes da pesquisa;

b) A consulta aos especialistas para a coleta de dados;

c) A aplicação de rodadas interativas e com feedback, de forma que os participantes possam rever suas opiniões e refletir sobre elas;

d) A busca por consenso, oriunda da avaliação do ponto de vista levantado pelo grupo

Segundo Santos; Vidotto; Giublin (2005), esse método tem como principal característica a busca progressiva de consenso em área do conhecimento ainda não consolidada ou, ainda, em pesquisas em que o tema é complexo e, além disso, sua realização ocorre mediante sucessivos questionamentos ao grupo de especialistas, cujas respostas são cumulativamente analisadas com respeito à obtenção ou não de consenso. Para Grisi e Brito

(2003), essa técnica reúne ideias de especialistas, evitando a influência prévia das ideias de uns sobre os outros e também o constrangimento de eventuais mudanças futuras de opinião, buscando-se, assim, garantir o anonimato dos respondentes.

Cândido et al. (2007) descrevem que a grande vantagem deste método é permitir que pessoas que não se conhecem desenvolvam um projeto comum. Na prática, um estudo Delphi consiste na realização de uma série de questionários, correspondendo cada um a uma rodada; em cada rodada, o especialista responderá às questões formuladas, conforme orientação contida no próprio documento. O Quadro 6 apresenta as principais vantagens e desvantagens do método Delphi conforme suas características.

Quadro 6 – Características do Método Delphi, suas vantagens e desvantagens.

Característica Vantagens Desvantagens

Anonimato

Igualdade de expressão de ideias. O anonimato faz com que a interatividade aconteça com maior espontaneidade e que assuntos críticos ou polêmicos possam ser melhor discutidos e apresentados pelos participantes.

Ao responder um questionário sozinho, o respondente pode não se lembrar de tudo que pensa sobre o assunto ou pode não se ater a pontos sobre os quais ainda não refletiu.

Feedback

Redução de ruídos. Evita desvios no objetivo do estudo. Fixação no grupo das metas propostas. Possibilidade de revisão de opiniões pelos participantes.

Pode determinar o sucesso ou o insucesso do método. Risco de excluir da análise pontos de discordância.

Flexibilidade

No decorrer das discussões, os participantes recebem opiniões, comentários e argumentações dos outros especialistas, podendo, assim, rever suas posições diante do assunto pesquisado. As barreiras comunicacionais são superadas.

Dependendo de como serão apresentados os resultados e

feedbacks, é possível que se criem

consensos, forçados ou artificiais, em que os respondentes podem aceitar de forma passiva a opinião de outros especialistas e passar a defendê-las.

Uso de especialistas

São formados conceitos, julgamentos, apreciações e opiniões confiáveis a respeito do assunto.

Possibilidade de obter consenso de forma demasiado rápida.

Consenso Sinergia de opinião entre os especialistas. Identificação do motivo de divergência de opinião.

Risco de criar um consenso artificial.

Interatividade

A interatividade foge de uma conjuntura hierárquica, pois formata as respostas e, em seguida, faz com que elas sejam partilhadas. Adequação das respostas, pois tende a excluir excentricidades que estejam fora do contexto solicitado. Aprendizado recíproco entre os respondentes.

Rodadas interativas realizadas em rede são apontadas como

desvantagens por críticos ao método. Apesar de tornar o processo mais rápido e menos oneroso, o sincronismo possibilitado pela internet, contraria o beneficio de obter respostas mais elaboradas.

Sim

Não

Na presente pesquisa, utilizou-se o Método Policy Delphi (Delphi de Políticas), que é um instrumento de apoio à tomada de decisões e definição de políticas e não para prospecção de futuro, fim mais comumente adotado em pesquisas acadêmicas, sendo identificado apenas como Método Delphi (GRISI; BRITTO, 2003).

De acordo com Wright e Giovinazzo (2000:55),

mais recentemente, o conceito tradicional do Delphi, em geral aplicado a tendências e eventos futuros, tem sido ampliado para incorporar a busca de idéias e estratégias para a proposição de políticas organizacionais mais gerais. Esta nova forma de Delphi não se caracteriza tão claramente como um instrumento de previsão, mas sim como uma técnica de apoio à decisão e à definição de políticas, e passou a ser conhecida como o Policy Delphi (Delphi de Políticas).

A Figura 8 retrata, na forma geral e esquemática, as etapas da pesquisa.

Figura 8 - Sequência do método Delphi aplicado à pesquisa.

Fonte: Santos; Vidotto; Giublin (2005).

No momento da aplicação dos questionários (Apêndice A), os especialistas atribuíram notas de 1 a 5 aos princípios e aos indicadores, conforme o seguinte critério:

Definição do problema Determinação do Conhecimento necessário dos

Participantes do processo Seleção dos participantes Preparação dos Questionários Distribuição do Questionário

Consenso foi obtido?

Produção das Informações necessárias E tabulação de respostas

Preparação do próximo questionário

Compilação das respostas e Apresentação dos resultados

1 – sem importância 2 – pouco importante 3 – importante 4 – muito importante

5 – extremamente importante

Os critérios acima serviram para identificar a opinião dos especialistas sobre quais indicadores de governança deveriam compor o sistema para avaliação dos princípios de governança nas políticas públicas e qual a sua importância relativa. Salienta-se que, ao final de cada princípio, foi disponibilizado um espaço para o especialista acrescentar outros indicadores que não foram considerados na elaboração da matriz, mas que seriam importantes de acordo com sua opinião.