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CAPÍTULO V – A LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA FRENTE À PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA AMEAÇA A DIREITO

5.2 A dimensão social da informação jornalistica

A dimensão social da informação, e stricto sensu da informação jornalística, é dada pela Constituição mesma, ao prescrever que a liberdade de informação não pode ser restringida, embaraçada e censurada, pelo legislador ordinário ou licenciada por decisão administrativa (aqui denominadas por garantias objetivas), bem como, que o direito de acesso à informação sobre atos do Poder Público – em virtude do interesse público de que se revestem e pelo princípio da transparência – é, em regra, amplo e geral, sendo o sigilo a exceção (já que ressalvadas, na esfera administrativa aqueles atos cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado480, e na esfera judiciária, aqueles atos que exigirem o interesse social e a defesa da intimidade da parte, sendo que estes últimos não podem ser sigilosos se se revestirem de interesse público) (direito de acesso aqui denominado garantia subjetiva).

Também se constata a dimensão social da informação, quando a Constituição estabelece que as emissoras de rádio e televisão, enquanto concessionárias de serviço público, assim como, os meios de comunicação social eletrônica (internet, TV a cabo), independentemente da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, devem atentar, na

produção e programação de suas atividades, preferencialmente, a finalidades educativas,

artísticas, culturais e informativas, bem como, ao respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família (art. 221, I e IV).

A ideia da dimensão social da informação é ainda revelada pela Lei nº 12.527/11481, antes referida, ao firmar o conceito de informação, que merece ser repetido: “dados processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato” (art. 4º, I) (sem grifo no

480 Recorda-se: Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos: Art. 19: “[...] 3. [...]; b) proteger a segurança

nacional, a ordem, a saúde ou a moral públicas”. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica): art. 13. “[...]; b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas”.

481 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm, acesso em

170 original).

Como o Direito é linguagem, considera-se importante realçar aqui, o significado482 do verbo informar: 1. Dar informações a; 2. Instruir, ensinar. E como verbo reflexivo: informar-

se: 1. Procurar ou receber informações; 2. Investigar.

Tem-se, assim, normativamente, a sintaxe do verbo informar, que como verbo de ação (dar informação a) exige a figura de um agente (quem informa: a mídia), de um receptor (a quem se informa: à sociedade) e do objeto (a informação/dados).

Mas o verbo informar também significa instruir, ensinar, por isso, nos termos da Lei, a informação é processada para produzir e transmitir conhecimento. Conhecimento que, de acordo com a Constituição, pode ser transmitido sob a forma artística, cultural, educativa e

informativa.

Esta normatização do direito de informar (dar informações, instruir, ensinar) retroalimentado pelo direito de se informar (procurar ou receber informações, investigar), sobretudo sobre atos dos entes e ações dos agentes públicos e mesmo sobre aquelas ações relativas às pessoas privadas, sobre as quais sobreleva o interesse público, demonstra a importância que tal simbiose reflete no corpo social, enquanto receptor da informação e, portanto, titular do direito de ser informado (direito de saber, de ser instruído), verdadeiro motor do direito de informar.

Identificados o emissor e o receptor da informação, faz-se necessário, para melhor compreensão, desenvolver o conceito jurídico de informação dado pela lei.

Pelo que foi dito, verifica-se que os meios de comunicação, mesmo como prestadores de serviço, ao processar dados para divulgação, elabora um produto. Por certo, um produto imaterial, por criação legal. E como produto imaterial, portando dados (fatos/acontecimentos) que transmitem conhecimento, para ser posto em circulação no mercado das ideias (vale repetir, como defendido por Stuart Mill) onde é o seu locus, deve estar contido em um suporte veiculador.

Coroa-se a dimensão social da informação em virtude de sua finalidade constitucional que é a transmissão de conhecimento. Assim sendo, dentro do objetivo deste trabalho, faz-se mister analisar o objeto da informação jornalística, em seu aspecto de conhecimento

informativo.

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171 5.3 Objeto da informação jornalística: a notícia

Ao se estudar o “direito de resposta” verificou-se que a Lei nº 13.188/2015, que dispõe sobre o direito de resposta ou de retificação do ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação (art. 1º), estabelece:

[...] considera-se matéria qualquer reportagem, nota ou notícia divulgada por veículo de comunicação social, independentemente do meio ou da plataforma de distribuição, publicação ou transmissão que utilize, cujo conteúdo atente, ainda que por equívoco de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem da pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação (art. 2º, § 1º).

Assim, nos termos da Lei, se tem: (i) Veículo da comunicação social (é o agente titular do direito de informar, que), (ii) independentemente do meio ou plataforma utilizado (internet, rádio, TV – a cabo ou digital –, jornal impresso, revistas, etc), (iii) divulga (distribui, publica ou transmite), (iv) matéria (reportagem, nota ou notícia). Se o conteúdo da matéria divulgada ofender direitos pessoais que a lei enumera, desencadeia-se para o lesado o direito de resposta ou de retificação, ainda que a informação tenha sido equivocada.

Embora a Lei sobre o direito de resposta se refira ao termo matéria para indicar a forma como a informação pode ser divulgada (por reportagem, nota ou notícia), equipara os termos informação e matéria: “Na delimitação do agravo deverá ser considerado o contexto da informação ou matéria que gerou a ofensa” (art. 4º, § 4º).

Por fim, a referida Lei concatena o conceito de informação dado pela Lei 12.527/11 (Acesso à informação), ao estabelecer que: “Não será admitida a divulgação, publicação ou transmissão de resposta ou retificação que não tenha relação com as informações contidas na matéria a que pretende responder [...]” (art. 8º).

Entrelaçando dispositivos das duas leis confirma-se o pressuposto de que o objeto da

informação é o conteúdo (dados sobre determinado assunto) da matéria (reportagem, nota ou

notícia) divulgada (distribuída, publicada ou transmitida) pela mídia (por qualquer meio, plataforma, suporte ou formato) para o conhecimento público.

Portanto, se pode afirmar, mais uma vez, que informação não se confunde com conhecimento. Como se verá a seguir, sendo o objetivo do emissor “dar a conhecer algum assunto a alguém”, o alcance e o processamento da informação pela sociedade é que se transforma em conhecimento.

Restringido, ao que aqui importa, a denominação de matéria apenas ao de notícia, necessário se faz estabelecer o seu conceito.

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Semanticamente “notícia” é sinônimo de novidade483. Assim, “notícia é o relato sobre

um acontecimento atual e de interesse público, difundido pelos meios de comunicação social”.

Segundo a Wikipedia484: “A notícia é um formato de divulgação de um acontecimento por meios jornalísticos. É a matéria-prima do jornalismo, normalmente reconhecida com algum dado ou evento socialmente relevante que merece publicação numa mídia”. E acrescenta: “Nem todo texto jornalístico é noticioso, mas toda notícia é potencialmente objeto de apuração jornalística”.

A seu turno, o Decreto nº 83.284, de 13 de março de 1979, que dispõe sobre o exercício da profissão de jornalista, estabelece: Art. 2º. A profissão de jornalista compreende, privativamente, o exercício habitual e remunerado de qualquer das seguintes atividades: I – [...]; VII – coleta de notícias ou informações e seu preparo para divulgação [...].

E classifica as funções desempenhadas pelos jornalistas empregados: art. 11º. I – [...]; II – Noticiarista: aquele que tem o encargo de redigir matérias de caráter informativo, desprovidas de apreciação e comentários, preparando-as ou redigindo-as para divulgação; III – Repórter: aquele que cumpre a determinação de colher notícias ou informações, preparando ou redigindo matéria para divulgação; V – Rádio Repórter: aquele a quem cabe a difusão oral de acontecimento ou entrevista pelo rádio ou pela televisão, no instante ou no local em que ocorram, assim como o comentário ou crônica pelos mesmos veículos [...].

Da interpretação conjunta dos normativos selecionados, e tal como definido pela Wikepedia, pode-se dizer, em princípio, que notícia é a comunicação informativa, realizada por emissários da profissão jornalística, sobre acontecimentos de natureza pública ou privada, os quais se revestem de interesse público ou do público. Acontecimento, assim, é o fato que a mídia485 entenda merecer publicação por ser socialmente relevante.

483

Dicionário ilustrado da língua portuguesa, 2011, p. 541.

484https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Notícia, acesso em 18/06/2015.

485 FARIAS, Edilsom. Liberdade de Expressão e Comunicação – Teoria e Proteção Constitucional, 2004, p.

147: “[...] o modus operandi dos comunicadores na seleção das notícias (os gatekeepers), baseada em critérios por eles estabelecidos, é uma demonstração inequívoca do protagonismo dos produtores das notícias.

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