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CAPÍTULO IV – DIREITOS DE PERSONALIDADE COMO DIREITOS FUNDAMENTAIS

4.3 Os direitos de personalidade em diplomas internacionais

O direito da pessoa à proteção da lei contra os ataques abusivos à sua honra, à sua

reputação e à sua vida particular e familiar fora instituído, no âmbito regional americano,

pela Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (DADDH), de 1948 (art. 5º), anterior em meses à DUDH.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) estabelece que, toda pessoa

goza da proteção da lei contra: (i) „interferências arbitrárias‟ à sua vida privada, familiar, domiciliar e correspondências; e (ii) „ataques‟ à sua honra e reputação (art. 12).

Assentam, pois, os partícipes da Declaração, a competência da lei, a começar pela Lei Maior, a Constituição, para proteger direitos pessoais, como:

(i) A vida privada, a qual alcança, a família, o domicilio e a correspondência – contra “interferências arbitrárias”369

(para Leite Pinto370, direito à intimidade

367 LEITE PINTO, Ricardo. Liberdade de imprensa e vida privada. Relatório elaborado no âmbito do

Seminário de Ciência Política e Direito Constitucional, orientado pelo Prof. José Joaquim Gomes Canotilho, do Curso de Mestrado de Direito Público da Universidade Lusíadas (1992/1994). In Revista da Ordem dos Advogados, 1994, p. 73: “Se pretendermos, em resumo, determinar qual é o sentido concreto do „right of privacy‟ estadunidense, deparamos com uma dificuldade assinalável. [...]. A „privacy‟ parece estar mais próxima da ideia de apropriação. Algo que pela sua natureza só o ser humano pode dispor, e que é essencial para garantir a liberdade pessoal. Nesta perspectiva, seriámos tentado a dizer que o „privacy‟, é uma espécie de „direito de apropriação‟, sobre certos bens de conteúdo afetivo, intelectual ou religioso, a começar desde logo pelo próprio corpo”.

368

ibidem, p. 69.

369 ibidem, p. 86: “Compulsados os trabalhos preparatórios constata-se que a expressão originária, „intromissões

injustificadas‟, veio a ser substituída pela expressão que hoje se pode ler no art. 12.º. como na altura o representante da Nova Zelândia, proponente da versão que veio a ser adotada, afirmou: „arbitrariamente entende- se tudo o que é contrário aos princípios jurídicos devidamente estabelecidos‟”. Nota 119. Cfr. ALBERT

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associado a três direitos fundamentais: 1) o direito à proteção da vida privada e da sua família (esfera privada espacial371); 2) inviolabilidade do domicílio e; 3) inviolabilidade da correspondência);

(ii) A honra e reputação – de ataques.

O Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP), de 1966, repete a DUDH, afirmando que ninguém poderá ser alvo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua

vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e à sua reputação, devendo a lei proteger as pessoas de tais ingerências e

ofensas (art. 17).

A Convenção Europeia dos Direitos Humanos (CEDH), de 1950, também inscreve o direito ao respeito pela vida privada e familiar da pessoa: Artigo 8º. 1. Qualquer pessoa tem

direito ao respeito da sua vida privada e familiar, de seu domicilio e de sua correspondência.

2. Não pode haver ingerência da autoridade pública no exercício desse direito (1ª parte); entretanto, a lei pode estabelecer ingerência nesse direito para proteger, numa sociedade

democrática, a segurança nacional, a segurança pública, o bem-estar econômico do país, a defesa da ordem e a prevenção das infracções penais, a proteção da saúde e da moral, ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros (2ª parte).

Ingerência legal, destarte, para proteger, tanto os bens que estão sob a guarda do Estado quanto (ou) os bens de terceiros, sejam direitos ou liberdades. Eis que nenhum direito é absoluto.

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (“Pacto de San José da Costa Rica”), de 1969, ao apresentar um extenso rol de direitos civis e políticos, recepciona no art. 11, a proteção da honra e da dignidade.

1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicilio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação. 3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

VERDOOT. Declaration Universal de los Derechos del Hombre, cit., p. 139. Registe-se, a título de curiosidade, que este artigo da Declaração, aprovado por unanimidade na Assembleia Geral, teve como principais fontes inspiradoras, os textos apresentados pelos representantes da China e U.R.S.S.. DUDH, art. 9, proíbe a prisão, a detenção ou o exilio arbitrários; art. 15, proíbe a privação arbitrária da nacionalidade; art. 17, proíbe a privação arbitrária da propriedade.

370 LEITE PINTO, Ricardo. Liberdade de imprensa e vida privada. Relatório elaborado no âmbito do

Seminário de Ciência Política e Direito Constitucional, orientado pelo Prof. José Joaquim Gomes Canotilho, do Curso de Mestrado de Direito Público da Universidade Lusíadas (1992/1994). In Revista da Ordem dos Advogados, 1994, p. 85.

371 idem, Nota 118: Cfr. GOMES CANOTILHO E VITAL MOREIRA. Constituição da República

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A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, de 2000, titulariza como um direito de liberdade, o respeito pela vida privada e familiar (art. 7º).

Vale ressaltar, ainda, a Conferência Nórdica sobre o Direito à Intimidade realizada em Estocolmo, em maio de 1967, em que o tema foi analisado em sua plenitude372, declarando cinco ofensas ao direito à intimidade:

(1) Penetração no retraimento da solidão da pessoa, incluindo-se no caso o espreitá-la pelo seguimento, pela espionagem ou pelo chamamento constante ao telefone; (2) Gravação de conversas e tomadas de cenas fotográficas e cinematográficas das

pessoas em seu círculo privado ou em circunstâncias intimas ou penosas à sua moral;

(3) Audição de conversações privadas por interferências mecânicas de telefone, microfilmes dissimulados deliberadamente;

(4) Exploração de nome, identidade ou semelhança da pessoa sem seu consentimento, utilização de falsas declarações, revelação de fatos íntimos ou crítica da vida das pessoas; e

(5) Utilização em publicações, ou em outros meios de informação, de fotografia ou gravações obtidas sub-repticiamente nas formas precedentes.

Também o 3º Colóquio Internacional, de 1970, sobre a CEDH, relaciona a abrangência do sentido jurídico de “vida privada”, conforme aponta Leite Pinto373

:

a) Proteção contra os atentados à integridade física ou mental ou a liberdade moral e intelectual do indivíduo;

b) Proteção contra a utilização do nome, da identidade ou da imagem do indivíduo; c) Proteção contra os atentados à honra e reputação, e atos assimiláveis;

d) Proteção contra as atividades de espionagem e observação dos cidadãos;

e) Proteção contra a divulgação de informações protegidas pelo segredo profissional.

372 CUNHA JUNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional, 2009, p. 679.

373 LEITE PINTO, Ricardo. Liberdade de imprensa e vida privada. Relatório elaborado no âmbito do

Seminário de Ciência Política e Direito Constitucional, orientado pelo Prof. José Joaquim Gomes Canotilho, do Curso de Mestrado de Direito Público da Universidade Lusíadas (1992/1994). In Revista da Ordem dos Advogados, 1994, p. 87. Idem, idem, p. 88: “A relevância da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, para o direito português prende-se fundamentalmente com a oponibilidade das normas da Convenção aos particulares dos Estados membros daquela”.

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