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Enquanto a Revolução Francesa pode ser considerada como evento inaugural dos direitos humanos, o século XX – embora seja considerado como o “século perdido” –, parafraseando Bobbio67, assistiu à afirmação da “Era dos Direitos Humanos”.

A edição de normas de Direito Internacional de Direitos Humanos deve-se às novas formas de organização da sociedade internacional após a Segunda Grande Guerra, uma vez que, no plano internacional, vigoravam apenas normas esparsas, como as da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1919, desempenhando, até hoje, importante papel na proteção de direitos trabalhistas.

Após a Guerra, em 1945, representantes dos Governos das Nações Unidas68 (cinquenta e um Estados membros da Liga das Nações), reunidos numa convenção multilateral, em São Francisco, instituíram a Organização das Nações Unidas – ONU69, como entidade máxima da discussão do direito internacional e fórum de relações e entendimentos supranacionais70.

Os abusos praticados pelos regimes totalitários71 suscitaram um debate contra o formalismo legal, ou formalismo do estado de direito72, retomando-se a ideia da existência de um Direito acima do direito positivo, para lhe impor limites e orientar o seu conteúdo. Direito assim, de caráter “suprapositivo” ou “supralegal”73

, que se posiciona acima da própria Constituição.

Como destaca Rezek, citado por Moraes74, “até a fundação das Nações Unidas, em 1945, não era seguro afirmar que houvesse, em direito internacional público, preocupação consciente e organizada sobre o tema dos direitos humanos”.

Como a barbárie nazista desmoralizou o sistema nacionalista dos direitos humanos no

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BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos, 2004

68 Adesões: Brasil, 24.10.1945. Itália, 14.12.1955. Espanha, 14.12.1955. Alemanha, 18.12.1973 (RFA,

03.10.1990).

Fonte www.pt.wikipedia.org/wiki/Estados_membros_das_Nações_Unidas#C. Acesso em 14/07/2013.

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A ONU é considerada a mais importante organização em operação a nível internacional, constando entre seus membros a maioria dos Estados que formam a Comunidade Internacional.

70 Fonte www.pt.wikipedia.org/wiki/CartadasNações-Unidas, acesso em 15.05.2013.

71 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios Fundamentais do Direito Constitucional: o estado da

questão no início do século XXI, em face do direito comparado e, particularmente, do direito positivo brasileiro, 2012, p. 115: “Tais abusos eram „legais‟, na medida em que autorizados ou comandados pela lei formal, ou ato com força de lei, editada pelo poder para tanto competente. Abusos estes que tais leis formais contestavam”.

72 ibidem, p. 116. “O formalismo contentava-se com a observância da lei pela Administração e pelo Judiciário,

mas a lei poderia ter qualquer conteúdo, mesmo aberrante dos valores de justiça, liberdade, equidade etc”.

73 ibidem, p. 115, nota nº 255: “Direito supralegal é a terminologia preferida pelos portugueses”.

74 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público, 8. ed., Saraiva, 1996, p. 223, apud MORAES, Alexandre de.

Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, 11. ed., 2017, p. 17.

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Continente Europeu, a internacionalização dos direitos humanos gerou uma positivação diante das normas e tribunais instituídos, aos quais os Estados membros se comprometem a respeitar, resultando em impactos no seio dessas sociedades, diante de seu caráter universal e transnacional.

Mas os Diplomas Internacionais firmados após a Segunda Grande Guerra utilizam as mais variadas denominações para o termo “direitos humanos”: na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, 1948 – direitos do homem e direitos essenciais do homem; na Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948 – direitos do homem, direitos

fundamentais do homem e direitos e liberdades fundamentais do homem; na Convenção

Europeia de Direitos do Homem e Liberdades Fundamentais, de 1950 – direitos do homem e

liberdades fundamentais; na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, de 2000 – direitos fundamentais.

Neste trabalho faz-se a opção por “direitos humanos” para aqueles direitos reconhecidos no âmbito dos Diplomas Internacionais e “direitos fundamentais” para aqueles reconhecidos ou outorgados e protegidos pelo direito constitucional interno de cada Estado75, cuja conotação, entende-se mais adequada ao Estado de Direito Democrático, no que foi recepcionado pela Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), de 198876.

Pretende-se neste tópico, verificar a recepção literal, nos Diplomas selecionados, de um lado, a) de direitos humanos fundamentais sobre a liberdade de informação, enquanto

liberdade de imprensa; e de outro b) a correlação deste direito com o dever de respeito a

outros direitos, como “limitador” do seu exercício: 1) no âmbito internacional universal – da Organização das Nações Unidas (ONU) – a Declaração Universal dos Direitos Humanos77 (DUDH) (1948) e o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP)78-79 (1966); 2) no âmbito regional americano – da Organização dos Estados Americanos (OEA) –

75 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, 2007, p. 35 e 38: “Na esteira de Pedro C.

Villalon parece correto afirmar que os direitos fundamentais nascem e acabam com as Constituições, resultando de tal sorte, da confluência entre os direitos naturais do homem, tais como reconhecidos e elaborados pela doutrina jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, e da própria ideia de Constituição”.

76 Embora a CRFB utilize: “direitos humanos” (art. 4º, II e art 7º do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias); “direitos e garantias fundamentais”, (Título II e art. 5º, § 1º); “direitos e liberdades fundamentais” (art. 5º, XLI); “direitos e liberdades constitucionais” (art. 5º, LXXI); “direitos fundamentais da pessoa humana” (art. 17); “direitos da pessoa humana” (art. 34, VII, b); “direitos e garantias individuais” (art. 60, § 4º).

77 Adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de

dezembro de 1948 e assinada pelo Brasil em 10 de dezembro de 1948. FERRIGOLO, Noemi Mendes Siqueira. Liberdade de Expressão. Direito na sociedade da informação. Mídia, globalização e regulação, 2005, p. 319.

www.portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern, acesso em 20.05.2013.

78www.portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/pacto_dir_politicos.htm, acesso em 27.08.2013. 79

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a Convenção Americana de Direitos Humanos80-81-82 (“Pacto de San José da Costa Rica”) (1969); e 3) no sistema regional europeu, a Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH) (1950) e a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia83 (2000). Ainda, por sua relevância, como Declaração de princípios sobre liberdade de expressão, a Declaração de Chapultepec (1994).

1.6.1 A Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) (1948)

A Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) é considerada marco inaugural dos direitos fundamentais84 – por conduzir à implementação e aceitação jurídica de um sistema de princípios fundamentais da conduta humana e, sobretudo, à partilha e ao reconhecimento de alguns valores por toda a humanidade, isto é, de modo universal85.

Assim, mesmo contendo direitos que terão de ser expressamente reconhecidos nos

80 Ratificada pelo Brasil, através do Decreto 678, de 06 de novembro de 1992, tendo reconhecido a competência

jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 03 de dezembro de 1998, pelo Decreto Legislativo nº 89/98.

81 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, 2015, p. 262: “O Governo brasileiro, ao depositar

a Carta de Adesão à Convenção Americana, fez a declaração interpretativa de que „os arts. 43 e 48, alínea d, não incluem o direito automático de visitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, as quais dependerão da anuência expressa do Estado‟. Assim, caso a Comissão queira fazer visitas ao território brasileiro, deve obter a anuência prévia do nosso Governo”.

82www.planalto.gov.br/cccivil_03/decreto/1990_1994/anexo/and678-92.pdf, acesso em 14.07.2013. 83

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 2003, p. 524: “Não obstante os progressos do estatuto da cidadania europeia, verifica-se que os órgãos da União estão desvinculados de um verdadeiro catálogo de direitos. A remissão para a Convenção Europeia dos Direitos do Homem e para as constituições nacionais e tratados internacionais pode ser uma remissão quase em branco quando se trata de direitos que só a nível da União podem adquirir eficácia óptima (direito de asilo, direito do ambiente, direitos dos consumidores”.

84 SCALISI. Antonino. Il valore della persona nel sistema e i nuovi diritti della personalità, 1990, p. 53:

“Questo documento esprime una prospettiva di tutela della personalità dell‟uomo nuova rispetto al più recente passato e rappresenta – come é riconossciuto da più parti – una vera pietra miliare sul cammino del progresso morale del genere umano ma ancor prima il risultato maturo di un processo millenario della civiltà umana e sopratutto la traduzione di ideali culturali che sono alla base anche della nostra Costituzione. A nostro avviso, perciò, la Dichiarazione universale dei diritti dell‟uomo anorchè non abbia valore di legge riveste un ruolo centrale nell‟interpretazione dello stesso art. 2 cost.”.

85 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios Fundamentais do Direito Constitucional: o estado da

questão no início do século XXI, em face do direito comparado e, particularmente, do direito positivo brasileiro, 2012, p. 97: “Com efeito, não a subscreveram a URSS e Estados então sob governo comunista, nem a Arábia Saudita”. Cfr. DIMOULIS, Dimitri e MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais, 2007, p. 40. Apud SOARES, Ricardo Mauricio Freire. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, 2010, p. 133: “Os direitos fundamentais no âmbito internacional, recebem o nome de direitos humanos, indicando o conjunto de direitos e faculdades que garantem a dignidade da pessoa humana e se beneficiam de garantias internacionais institucionalizadas. Essa internacionalização vai além de relacionamento binário Estado- Indivíduo, que é a concepção tradicional dos direitos fundamentais, trazendo nova concepção de tutela da dignidade do ser humano: ampliação dos titulares dos direitos; possibilidade de responsabilizar o Estado de forma externa; politização da matéria em razão da necessidade de realizar contínuos compromissos entre os Estados e os atores internacionais”.

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ordenamentos jurídicos estatais86 e internacionais – já que instrumentalizada por resolução87 –

, sua importância reside no fato de afirmar o homem em sua dimensão universal e que, individualmente considerado, detém direitos que devem ser internacionalmente reconhecidos88.

1.6.1.1 Liberdade de informação derivada da liberdade de opinião e expressão

Preambularmente, a DUDH proclama a liberdade de palavra, juntamente com a liberdade de crença, como uma das mais altas aspirações do homem. “Liberdade de palavra” (opinião e expressão) que se concretiza, tanto no direito de não ser molestado por falar, como no direito de comunicar desbordado em sua característica de buscar a informação (procurar), ser informado (receber a informação) e de divulgar por qualquer meio de expressão, independentemente de fronteiras, tanto as informações quanto as ideias.

Assim dispõe o artigo 19. Liberdade de opinião e expressão

Art. 19. Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e expressão, o que implica o direito de não ser molestado por suas opiniões e o de procurar, de receber e de divulgar, sem consideração de fronteiras, as informações e as ideias por quaisquer meios de expressão.

Considerando, como salientado, ser o fim precípuo da Declaração, o reconhecimento de direitos fundamentais à pessoa humana, a liberdade de expressão é afirmada em sua dupla faceta. Se de um lado, assegura-se ao homem (pessoa humana) o direito à exteriorização da opinião, de outro, a liberdade de imprensa, tendo em vista a garantia de procurar, receber e divulgar, informações e ideias, por qualquer “meio de expressão”.

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A Constituição da República Portuguesa, de 1976, estabelece no artigo 16. 2: “Os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais devem ser interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem”. Para MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Constituição. Tomo II, 2010, p. 39, esta é uma norma de recepção formal e acrescenta: “Traduzindo-se, como se traduz, a Declaração Universal em Princípios gerais de Direito internacional, eles aplicar-se-iam sempre, enquanto tais, na ordem interna por virtude da cláusula de recepção do Direito internacional geral ou comum do art. 8ª, nº 1, da Constituição e da cláusula aberta de direitos fundamentais do art. 16º, nº 1”.

87 REZEK, Francisco, op. cit, p. 224, apud MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria

geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, 11. ed., 2017, p. 18: “por mais de uma vez, ante gestões externas fundadas no zelo pelos direitos humanos, certos países reagiram lembrando a natureza não convencional da Declaração”. Idem, op. cit., loc. cit.: “Flávia Piovesan critica esse posicionamento, concluindo que, apesar da inexistência de força jurídica obrigatória e vinculante, a Declaração „vem atestar o reconhecimento universal de direitos humanos fundamentais, consagrando um código comum a ser seguido por todos os Estados‟. (Direitos humanos e o direito constitucional internacional, Max Limonad, 1996, p. 176“.

88 CARVALHO RAMOS, André de. Curso de Direitos Humanos, 2015, p. 47: “Em virtude de ser a DUDH

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Como diz Leite Pinto89, “a Declaração reúne no mesmo artigo duas liberdades fundamentais, autonomizando claramente ambas, embora pressupondo que a liberdade de pensamento e expressão é também o fundamento da liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias”.

1.6.1.2 Deveres para com a comunidade

A relatividade dos direitos humanos fundamentais se prefigura quando a DUDH, no art. 29, disciplina os deveres da pessoa humana, na ordem jurídica em que se integra:

Art. 29. Deveres para com a comunidade

1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade é possível

2. No exercício de seus deveres e no gozo de suas liberdades, toda pessoa está sujeita apenas às limitações estabelecidas pela lei, exclusivamente com o fito de assegurar o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades alheios e a fim de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar geral em uma sociedade democrática.

3. Estes direitos e liberdades não poderão em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e aos princípios das Nações Unidas.

Como diziam os mais velhos, “o respeito ao direito do outro é divino”. Por isso, o enunciado – ao declarar que cada membro da comunidade em que se insere, pode desenvolver livremente a sua personalidade (fruto da obtenção dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade (art. 22)) –, ressalta que tal desenvolvimento só ocorre na medida em que cada um destes membros tenha presente os deveres que porta para com o outro, individualmente, e para com a comunidade, integralmente considerada.

Liberdade individualizada, insiste-se, cujo gozo ou agir só se configura adequado, em relação com os outros, se observado: (i) o espírito de fraternidade, como quer o art. 1º da DUDH; e (ii) o preceito de que todos são iguais perante a lei e têm direito, sem distinção, a igual proteção da lei (art. 7º). Agir adequado, assim, cujo vetor é o exercício do dever de não ferir, não violar, não lesar o direito do outro, conforme estatuído pelo ordenamento jurídico. O descumprimento ou inobservância do dever jurídico resulta na punição legalmente prevista.

Portanto, nos termos da DUDH, a limitação legal das liberdades pelo estabelecimento de deveres, só pode ocorrer com as finalidades de: (i) assegurar o reconhecimento e o respeito

89 LEITE PINTO, Ricardo. Liberdade de Imprensa e Vida Privada. Relatório elaborado no âmbito do

Seminário de Ciência Política e Direito Constitucional, orientado pelo Prof. José Joaquim Gomes Canotilho, do Curso de Mestrado de Direito Público da Universidade Lusíada (1992/1994). In www.oa.pt

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dos direitos e liberdades alheios; e (ii) satisfazer, numa sociedade democrática, exigências definidas, como: a) a moral; b) a ordem pública; e c) o bem-estar geral.

Evidencia-se, deste modo que, como a liberdade individual não pode servir de salvaguarda de práticas ilícitas, impõem-se os deveres que se transmutam, legalmente, em imputação de responsabilidade, criminal, civil ou administrativa pela violação de outro direito, quer individualizado, v.g. (toda pessoa tem direito à proteção da lei contra

interferências arbitrárias em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua

correspondência, ou ataques à sua honra e reputação (art. 12)), quer da sociedade organizada. Corroborando tal raciocínio prescreve o art. 30: “Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a um Estado, um grupo ou um indivíduo, de um direito qualquer de exercer uma atividade ou de realizar um ato que vise à destruição dos direitos e liberdades aqui determinados”.

1.6.2 O Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP) (1966)

Por ter sido a DUDH instrumentalizada por resolução, os países membros da ONU decidiram firmar um Tratado, com força vinculativa, o Pacto Internacional sobre os Direitos civis e Políticos (PIDCP), uma vez que, os Estados Partes se comprometem a respeitar e garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos nele reconhecidos (art. 2º).

Nos mesmos moldes da DUDH, porém de forma mais esclarecedora, o Pacto inscreve a liberdade de informação, enquanto liberdade de imprensa, imbricada à liberdade de expressão, pois, nos termos do art. 19:

Liberdade de opinião e de expressão. 1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões; 2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro meio de sua escolha.

Liberdades que, por implicarem deveres e responsabilidades especiais, podem ser “restringidas”, por disposição legal, destinadas a:

I) Evitar a violação a direitos alheios e garantir segurança nacional, ordem pública, saúde ou a moral pública (art. 19. 3. O exercício do direito previsto no

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especiais. Consequentemente poderá estar sujeito a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para: a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral públicas); e

II) Vedar a incitação à guerra e ódio, discriminação, hostilidade ou violência (art. 20.

1. Será proibida por lei qualquer propaganda em favor da guerra; 2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à violência).

Destaca-se que o PIDCP, em 1966, já reconhecia o “ódio” como uma questão global. O PIDCP, amplia as disposições do art. 30, da DUDH, ao vedar a interpretação

restritiva dos direitos humanos fundamentais nele dispostos, numa dupla perspectiva:

a) inadmite interpretação tendente a restringir os direitos elencados; e

b) inaplicabilidade de legislação do Estado Parte que preveja regras menos favoráveis às prescritas pelo Pacto, conforme art. 5.1, in verbis:

Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada no sentido de reconhecer a um Estado, grupo ou indivíduo, qualquer direito de dedicar-se a quaisquer atividades ou praticar quaisquer atos que tenham por objetivo destruir os direitos ou liberdades reconhecidos no presente Pacto ou impor-lhe limitações mais amplas do que aquelas nele previstas. 2. Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado Parte do presente Pacto em virtude de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente Pacto não os reconheça em menor grau).

Observa-se, deste modo, que o Pacto é mais abrangente que a DUDH, pois, além de remeter à lei nacional o poder de limitar (aqui designado “restrição”), o direito de informação, com vistas a estabelecer deveres e responsabilidades especiais, para assegurar direitos de personalidade e proteger o Estado e a comunidade contra o exercício arbitrário deste direito, também, reconhecendo o ódio como uma questão global, atribui à lei nacional o poder de

proibir, tanto a propaganda em favor da guerra, quanto a apologia ao ódio provocador de

hostilidade, violência e discriminação90.

90 No país que sedia a ONU e que inscreve em um Tratado Internacional a rejeição à apologia ao „ódio‟

provocador de hostilidade, violência e discriminação, seu atual Presidente divulga, em sua conta no twitter, vídeo em que, numa montagem, simula, ele mesmo „brigando‟ em um ringue de luta, com um homem com o rosto encoberto pelo logotipo da emissora CNN. “A „brincadeira‟ é mais uma evidencia da guerra declarada do presidente contra as posições da imprensa americana”. Veja.com. Disponível em

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1.6.3 Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) (1969)

Pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), adotada no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), os signatários da Convenção convieram como deveres dos Estados-Partes: Obrigação de respeitar os direitos e

liberdades reconhecidos e garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa (todo ser

humano) sujeita à sua jurisdição (art. 1º).

A liberdade de imprensa está enunciada no mesmo contexto dos Diplomas já referidos.

Assim, assenta o artigo 13, in verbis:

Liberdade de pensamento e de expressão. 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha.

No que se refere à limitação destes direitos, enquanto o PIDCP afirma que o exercício da liberdade de opinião e de expressão implica deveres e responsabilidades especiais, a Convenção Americana é mais objetiva, pois, ao obstar a censura prévia às liberdades de