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2 REVISÃO DE LITERATURA

2. DOCUMENTO DIGITAL INTERATIVO

2.4 DIPLOMÁTICA

2.4.1 A Diplomática e sua Gênese

O surgimento da diplomática está relacionado às questões de falsificação e autenticidade dos documentos medievais, no âmbito das chamadas “guerras diplomáticas”, no final do século XVII.

Em 1681, o monge beneditino Jean Mabillon lançou a obra intitulada De Re Diplomatica Libri VI, que apresentou um método de análise comparativa por meio de regras para verificar a autenticidade dos diplomas medievais.

Essa obra oficializou o nascimento da diplomática, se estruturando como disciplina autônoma até tornar-se ciência no século XX, ampliando seu objeto de estudo, os documentos medievais de caráter jurídico (diplomática clássica), para os modernos e contemporâneos dos mais variados tipos (diplomática moderna).

Delmas (2015, p. 33) define a Diplomática como “a ciência que estuda os documentos de arquivo propriamente ditos, em sua condição de documentos a partir de sua elaboração, sua forma e sua transmissão, para julgar sua autenticidade e considerar seu valor de testemunho e de informação”.

A palavra diplomática advém do grego diploo verbo que significa “eu dobro”, o qual dá origem à palavra diploma, que significa dobrado, uma vez que na Antiguidade clássica, a palavra se referia a documentos escritos em duas tábuas unidas por uma dobradiça, chamada dípticos. No Império Romano a palavra diploma significava documento emitido pela autoridade soberana e de forma solene. (RONDINELLI, 2002, p. 42).

A Igreja Católica, em 1643, ao preferir dedicar-se a uma teologia mais positivista do que especulativa, publicou, com a iniciativa dos jesuítas bollandistas da Antuérpia liderados por Jean Bolland, o primeiro tomo do Acta Santorum, com o objetivo de separar os fatos reais e as lendas da vida dos santos (TOGNOLI; GUIMARÃES, 2009, p. 26).

O segundo tomo do Acta Santorum, lançado em 1675, apresentou uma introdução elaborada pelo jesuíta Daniel Van Papenbroeck, questionando a autenticidade de um diploma

emitido pelo rei Dagoberto I, mantido sob guarda da abadia de Saint-Denis, em Paris (DURANTI, 1998, 2009a apud RONDINELLI, 2013, p. 106).

O monge beneditino Jean Mabillon, em resposta à polêmica de Papenbroeck, lançou, em 1681, a obra De Re Diplomática Libri VI criando, dessa forma, a teoria chamada Diplomática Geral, com vistas a verificar se um documento de caráter jurídico poderia ser considerado falso ou autêntico.

A obra de Mabillon consistia em um tratado dividido em seis partes, apresentando o diploma medieval como objeto de estudo, a verificação de autenticidade como objetivo e a análise comparativa como metodologia (DURANTI, 2009a apud RONDINELLI, 2013, p. 107).

Duranti (1998 apud RONDINELLI 2013, p. 107) ressalta “que o trabalho de Mabillon marcou também o nascimento da paleografia, uma vez que a obra apresentava um estudo sistemático das escritas antigas”.

No século XVIII, o método de Jean Mabillon foi aplicado por René Tassin e Charles Toustan aos atos oficiais e a todos os documentos das instituições da Idade Média (DELMAS, 2015, p. 34). Dessa forma, puderam demonstrar que a diplomática poderia ser aplicada não somente aos documentos de caráter jurídico, mas também, aos administrativos.

Segundo Duranti (2009a apud RONDINELLI, 2013, p. 108), Mabillon criou a diplomática geral que se refere à teoria, enquanto Tassin e Toustan deram origem à diplomática especial que está relacionada à aplicação dessa teoria,

A diplomática geral é um corpo de conceitos. A aplicação desses conceitos a infinitos casos individuais constitui a função da crítica diplomática, isto é, a (diplomática especial). A teoria (diplomática geral) e a crítica (diplomática especial) influenciam uma à outra. A última analisa situações específicas, usa a primeira; a primeira guia e controla e é nutrida pela última.

No século XVIII, a introdução da diplomática nas faculdades de direito contribuiu para o estabelecimento de uma relação entre os conceitos jurídicos e a criação dos documentos, enquanto que sua introdução nas faculdades de história, no século XIX, valorizou as questões relativas à preservação e ao uso dos documentos (DURANTI, 1996a apud RONDINELLI, 2013, p. 123).

Em 1770 surgiu o primeiro curso de arquivologia na Universidade de Bolonha, mas foram a École de Chartres (1841), em Paris, e o Institut für Osterreichsgeschichte, em Viena, que ofereceram as melhores contribuições com os estudos de Tessier, Bautier e Ficker e Sickel, respectivamente (TOGNOLI e GUIMARÃES, 2009, p. 27).

A Revolução Francesa teve influência no processo de estruturação da arquivologia como área do conhecimento (DURANTI, 1996a apud RONDINELLI, 2013, p. 124). O período que antecedeu a Revolução Francesa (Antigo Regime), marcado por lutas e guerras entre ordens eclesiásticas e reinos, que buscavam, por meio de diplomas, comprovar propriedades de terras e posses para obter maior influência e poder (TOGNOLI e GUIMARÃES, 2013, p. 25).

A diplomática, no final do século XIX, por ingerência da filologia clássica e da historiografia positivista, se firmou como disciplina autônoma, visto que, quando se tornou ciência auxiliar da história, refinou seus métodos de análise documental (RONDINELLI, 2013, p. 110). Ainda, nesse período, a diplomática passou a constar no conteúdo programático das escolas de arquivologia da Europa (DURANTI, 1998, p. 29 apud RONDINELLI, 2013, p. 110).

Na passagem do século XIX ao século XX, a diplomática foi tratada apenas como “auxiliar da história”, exceto quando no âmbito da arquivística foi utilizada como método para estabelecer a proveniência e a compreensão da natureza dos documentos para servir como fonte histórica (RODRIGUES, 2008, p. 132).

Na ótica de Delmas (2015, p. 34), em meados do século XX, com a explosão documental a produção diversificada de máquinas para produção de documentos causou preocupação, principalmente, com relação à questão da prova legal,

No decorrer dos anos 1960, os países mais desenvolvidos foram confrontados com o fenômeno da explosão documental, consequência do novo ímpeto da sociedade industrial, após a Segunda Guerra Mundial. Vimos a proliferação de novos documentos e de cópias produzidos desde o século XIX, por máquinas cada vez mais diversificadas, notadamente informáticas; de documentos redundantes e documentos intermediários, de uso efêmero, produzidos por meio de procedimentos administrativos cada vez mais longos. O principal problema resultante dessa evolução surgiu de maneira diferente na América do Norte e na Europa. Na América do Norte anglófona, regida pela Common Law e mais avançada no uso da informática, a questão crucial era a da prova legal (forensic).