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Capítulo 3 – A DISTÂNCIA NECESSÁRIA A PESQUISA

3. A DISTÂNCIA NECESSÁRIA A PESQUISA

Qual a metodologia de trabalho investigativo mais pertinente possível para capturar um objeto em movimento, em construção, um objeto “vivo” que produz novos e complexos acontecimentos no mundo das relações que o transmutam? Como capturar um objeto que se constrói recíproca e ininterruptamente porque articulado, imbricado com todos os aspectos da vida social? Quais os procedimentos para circunscrever este objeto que revela a si e àquilo que está para além de sua circunscrição, que reverbera? (TRASSI. 2006. p. 19)

A questão dos adolescentes que cometem atos infracionais não pode ser entendida como um fenômeno simples.

Para não reduzir um fenômeno tão complexo, o seu estudo exige o encontro de várias áreas do conhecimento como sociologia, história, psicologia, pedagogia, direito etc. A visão microscópica é necessária – o indivíduo, sua história pessoal. Mas também uma visão mais ampliada do fenômeno – as condições sociais, o encontro do individual com o social.

A biografia e os dados estatísticos são complementares para a análise da questão proposta por essa pesquisa.

[...] o caso particular, o detalhe de uma biografia não detectado em uma pesquisa estatística, acaba por demonstrar aspectos das práticas e formas de relação social que podem conduzir à apreensão das transformações do fenômeno. Os dados estatísticos, ao mesmo tempo, auxiliam na contextualização do fenômeno na sociedade. (TRASSI. 2006. pp. 19-20)

Pela leitura do texto The Paradigm Dialog, de E. G. Guba (1990) e as discussões realizadas na disciplina de pós-graduação intitulada “Pesquisa Científica em Psicologia Social: Abordagens, Métodos e Técnicas”, acredito que essa pesquisa insere-se, prioritariamente, dentro do paradigma da Teoria Crítica.

Para Guba (1990), a ciência produzida a partir desse paradigma é uma ação política, tem como fundamento a idéia de uma sociedade emancipada, o desvendamento e desvelamento dos sujeitos e a conseqüente transformação social.

Estudar sobre adolescentes que cometem ato infracional foi uma escolha que se deu a partir de uma prática comprometida com a emancipação desses jovens. Desde a escolha do meu objeto, a própria pesquisa e a divulgação de seus resultados – todo esse processo – foi uma ação política.

O diálogo com os jovens que aceitaram participar da pesquisa foi estabelecido de acordo com o pressuposto da emancipação do sujeito: esclarecimento sobre o objetivo da pesquisa, diálogo sobre a importância da sua visão dos fatos, discussão sobre a escolha em participar ou não da pesquisa, a leitura posterior do texto obtido a partir da transcrição da fala que foi enviada aos jovens para que eles modificassem o que achassem necessário.

A pesquisa carregou a intenção de trabalhar para a identificação, desvelamento dos sujeitos e transformação dessa sociedade que produz esse fenômeno – adolescentes que cometem atos infracionais. O resultado pretendeu mostrar a importância do esclarecimento dos adolescentes, dos psicólogos e demais profissionais que desenvolvem atividades com esse público.

Segundo Guba (1990), a Teoria Crítica deve questionar e explicitar os seus próprios fundamentos – conceitual e metodologicamente. Nesta pesquisa foi importante explicitar os conceitos de adolescência, violência, fetichismo da mercadoria, possibilidade de constituição do humano em cada um e o papel da mídia nessa sociedade. O autor afirma que a Teoria Crítica partilha, ontologicamente, de um realismo crítico, ou seja, deve ocorrer um questionamento de verdades externas ao sujeito – no caso da minha pesquisa, o fato de muitas pessoas afirmarem que a prática infracional é um fenômeno individual, praticado por indivíduos autônomos.

Também foi importante questionar e esclarecer a relação que se estabelece entre o pesquisador e o adolescente que cometeu ato infracional. A relação de pesquisa é assimétrica e deve ser sempre discutida.

Da escolha do objeto e dos sujeitos, da teoria envolvida na discussão até a metodologia para obtenção dos resultados, há presença de valores do

pesquisador. Levar em consideração e trabalhar com esses valores é um outro pressuposto do paradigma da Teoria Crítica.

Para se fazer isso devem ser explicitados os modos de pensar, entender e questionar o mundo à nossa volta - o texto The Paradigm Dialog (GUBA. 1990) define essa epistemologia como subjetivista. A metodologia é dialógica e transformadora; a ação, conseqüentemente, deve buscar a autonomia e a emancipação dos sujeitos e a transformação da sociedade.

Acredito que, no caso da minha pesquisa, a metodologia também é hermenêutica e dialética, pois as construções individuais foram extraídas e refinadas a partir da análise dos textos obtidos na transcrição das entrevistas. As idéias contidas nessas falas foram analisadas e discutidas dialeticamente com a teoria e com as demais fontes de evidência coletadas.

Enfim, o cuidado de explicitar a teoria usada na análise, a escolha do objeto de pesquisa, dos sujeitos envolvidos e da discussão dos resultados são fundamentos importantes para uma pesquisa que se pretende esclarecedora e transformadora de uma certa realidade. Esse foi o pressuposto fundamental da pesquisa que desenvolvi.

Como foi indicado no capítulo anterior, a pesquisa pretendeu analisar o ato infracional: quem são, como vivem e o que pensam os adolescentes autores de atos infracionais? O que o ato infracional de adolescentes está mostrando? Como os jovens conseguiram sair da vida criminal?

A partir dessas questões e pelo fato do ato infracional de adolescentes ser um fenômeno multideterminado, em que várias circunstâncias convergem, de maneira dialética e não linear, para o seu engendramento, foi possível definir o método de pesquisa como sendo o de Estudo de Caso.

Yin (2001. p.19) propõe a seguinte definição para esse método: “[...] os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real.” Portanto, a metodologia de pesquisa

escolhida auxiliou na compreensão de um fenômeno social complexo como o ato infracional de adolescentes.

Os estudos de caso promovem uma pesquisa que pode ser generalizável para proposições teóricas e não para populações ou universos. Assim, o meu objetivo, ao escolher essa metodologia, foi de expandir e generalizar teorias e não enumerar freqüências. As teorias que comumente tentam analisar o ato infracional de adolescentes partem de pressupostos unicamente individuais ou sociais. Essa pesquisa pretendeu pensar o fenômeno no entrecruzamento do individual com o social.

Apontando a necessidade de que a investigação de um estudo de caso exige a coleta de dados por meio de várias fontes (YIN. 2001. p.107 e seguintes) e que essas devam convergir para que ocorra um encadeamento das evidências, foram utilizadas quatro fontes de evidências: análise documental, registros em arquivos, entrevistas, observação direta.

A análise documental foi um importante resgate sobre a história das leis que lidam com a infância e juventude no Brasil, além de uma análise sobre a mídia brasileira e latino-americana quando o assunto envolvia crianças e adolescentes.

A análise histórica sobre o tema foi fundamental para o entendimento da constituição do fenômeno na atualidade. Nesse levantamento, a apresentação das leis que tratam sobre a questão, especificamente a passagem do Código de Menores para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema Nacional Socioeducativo (SINASE), tornou-se necessário.

A leitura crítica dessas leis demonstrou como a sociedade brasileira entende esse fenômeno, como lida atualmente e como lidou no passado. Entender o processo histórico de constituição do “problema” auxilia no desvendamento das forças que o engendram e constituem.

Os documentos puderam auxiliar na compreensão do fenômeno, corroborando informações coletadas pelas entrevistas com os jovens, indicando alguns pontos a serem analisados e aprofundando o

Outros documentos importantes foram os relatórios produzidos pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância - ANDI.

A ANDI produz relatórios que analisam o comportamento da mídia brasileira e latino-americana quando o assunto é a infância e a juventude. Para tanto, cerca de 50 jornais impressos são acompanhados diariamente. As inserções sobre crianças e adolescentes são catalogadas, separadas por assunto e analisadas segundo critérios construídos para esse fim.

Conhecer como a imprensa lida com a questão da infância e adolescência brasileira, como expõe as determinações legais sobre o tema (análise do ECA), como as políticas públicas sobre infância e adolescência são consideradas na compreensão do fenômeno, por que algumas propostas de mudança da legislação estão em curso no Congresso Nacional auxilia o entendimento de como a sociedade – trabalhadores da área ou não - lida com essa questão.

Registros em arquivos: foram analisadas estatísticas sobre o perfil dos

adolescentes que cometeram atos infracionais e cumpriram medida socioeducativa na Febem – SP e estatísticas sobre as violências cometidas e sofridas por adolescentes e jovens.

Essas informações ajudaram a conhecer o perfil do adolescente que cometeu um ato infracional e cumpriu medida socioeducativa na Febem de São Paulo: idade, sexo, escolaridade, trabalho, moradia, informações sobre sua família. Auxiliaram também a jogar luz sobre o fato de que a violência cometida por adolescentes segue o mesmo padrão da violência cometida por adultos, além de mostrar que os adolescentes são vítimas de violência, tanto quando são alvo, como quando são autores de um ato violento.

Entrevistas com jovens que cometeram atos infracionais na

adolescência.

No início da pesquisa a proposta era coletar informações através de três tipos de entrevistas: entrevistas individuais com jovens que tivessem cometido

infrações; entrevistas com seus familiares; uma entrevista coletiva com os adolescentes que participaram da pesquisa.

Após a realização de entrevistas individuais com quatro diferentes jovens, o material agrupado já era grande e suficiente para promover a discussão proposta por essa dissertação, fato que fez com que a idéia original fosse alterada.

Assim, com os jovens, o método de coleta de dados denominado História Oral demonstrou ser apropriado. De acordo com Freitas (2002. p.15) esse método “[...] possibilita reflexões sobre o registro dos fatos na voz dos próprios protagonistas.” Os relatos orais captam informações originais do sujeito que jamais seriam conquistadas de outra forma.

Para se realizar entrevistas é fundamental que o pesquisador tenha um conhecimento prévio sobre o assunto em questão. Minha experiência profissional anterior contribuiu e facilitou no desenrolar das entrevistas e na sua posterior análise.

Cada um dos quatro jovens forneceu um único depoimento. Os encontros duraram, no geral, pouco mais de uma hora cada um.

O principal assunto da entrevista – o fato de eles terem cometido ato infracional - foi escolha do pesquisador e as questões específicas foram sendo colocadas durante os depoimentos a partir das falas dos jovens, caso eles próprios não abordassem o tema espontaneamente.

Nas entrevistas, o interessante foi o jovem discorrer sobre sua vida: sua família, idade, onde morava, como era freqüentar a escola, quais suas experiências de trabalho e geração de renda, o que fazia para se divertir, o que leva um adolescente a cometer um ato infracional e o que leva a deixar de praticar infrações e, conforme o caso, como se deu o cumprimento de uma medida socioeducativa.

Os encontros com os jovens tiveram início com uma explicação sobre a pesquisa e o motivo pelo qual eu gostaria que eles participassem, além de um

pedido de permissão para que a conversa fosse gravada. O convite para participar da entrevista já havia sido feito por telefone.

Todos os depoimentos começaram com um pedido do pesquisador para que o jovem contasse sobre sua vida: qual sua idade; onde tinha nascido; informações familiares; informações sobre escolaridade e trabalho etc.

Assim, todos começaram um relato livre sobre sua história de vida, desde sua infância até chegar ao momento atual. Sempre que possível, a interferência do pesquisador ocorreu apenas para clarear informações. O período em que cometeram atos infracionais e o cumprimento da medida socioeducativa foi relatado livremente, sem o uso de perguntas fechadas.

A relação que esse jovem estabeleceu entre a sua história de vida e a experiência de ter cometido um ato infracional proporcionou a fonte para discussão do cruzamento do social com o individual e promoveu, no diálogo com a teoria, o entendimento do engendramento desse fenômeno.

A importância do material colhido a partir dos depoimentos orais não se dá pela “verdade” ou “falsidade” das informações, mas sim pela forma como aquele indivíduo vivenciou experiências que, apesar de únicas, são sempre coletivas. Queiroz (1988. p. 21) afirma que “[...] O crédito a respeito do que é narrado será testado, não pela credibilidade do narrador, mas sim pelo cotejo de seu relato com dados oriundos de outras fontes, que mostrará sua convergência ou não.”

As experiências falam de um tempo histórico, de uma determinada classe social, a partir de um espaço geográfico na cidade, de comportamentos e valores, de ideologias que perpassam a forma de vida e a cultura do grupo ao qual pertence o depoente.

Observação direta durante os anos de trabalho com adolescentes

pobres e/ou que cometeram atos infracionais.

A observação direta em períodos anteriores à pesquisa formal serviu para o resgate de alguns eventos que proporcionaram informações coletadas diretamente sobre o fenômeno em estudo.

O trabalho com os adolescentes que cometeram atos infracionais - em sala de aula; nas ruas do centro da capital ou nos bairros periféricos da cidade (local de moradia de uma grande parcela dos adolescentes que cometem atos infracionais); em unidades da Febem para o cumprimento das medidas socioeducativas de internação ou semiliberdade; em espaços públicos para o acompanhamento de atividades culturais de interesse dos jovens etc. - contribuiu para conhecer muitos jovens, alguns familiares desses adolescentes, sua forma de pensar e agir. Essas impressões pessoais foram utilizadas com cuidado e sempre que possível, com registro minucioso do evento citado.

“Qualquer atuação que se queira responsável e consistente deve ser acompanhada por um grau considerável de conhecimento a respeito do contexto em que se insere, de modo que atuação profissional e pesquisa nunca devem ser separadas.” (ROMAN. 2007. p. 89)

Para a discussão deste trabalho optei por inserir trechos das falas dos jovens entrevistados. A transcrição da fala do sujeito permite que o leitor entre em contato com as idéias oferecidas pelo próprio entrevistado, permite que o leitor possa conhecer o outro, mesmo que a escolha dos trechos usados seja feita pelo pesquisador.

Quando o pesquisador faz uso do texto transcrito, ele utiliza os relatos a partir de sua forma de pensar e organizar a fala do outro. As partes selecionadas foram escolhidas de acordo com o interesse desta pesquisa; por isso, para que o leitor tenha contato com o material inteiro, sem recortes ou organizações do pesquisador, a transcrição literal consta dos anexos desta dissertação.

As entrevistas e as transcrições foram feitas pela própria pesquisadora, o que já garantiu uma aproximação com as falas dos jovens. O material escrito foi lido e relido diversas vezes. Diversas “escutas” foram necessárias.

Em uma primeira leitura houve uma aproximação do conteúdo e num segundo momento houve separação dos temas presentes em cada uma das entrevistas. Uma terceira leitura foi importante para marcar trechos que

chamaram a atenção nas falas. Na quarta leitura foi realizada uma construção de categorias. A partir de novas leituras deu-se o processo de análise das entrevistas. Essas foram desorganizadas e separadas em dois tópicos principais, que denominei “violências” e “resgate”.

As histórias dos jovens não foram contadas, evidentemente, seguindo uma seqüência linear ou temporal dos acontecimentos. Os assuntos foram separados de maneira a facilitar a análise do pesquisador, sempre respeitando o ponto de vista do entrevistado.

Os depoimentos dos jovens foram muito importantes e a análise do material, entrecruzada com a teoria, enriqueceu esta pesquisa. A análise significa “[...] decompor um texto, fragmentá-lo em seus elementos fundamentais, isto é, separar claramente os diversos componentes, recortá-los, a fim de utilizar somente o que é compatível com a síntese que se busca.” (QUEIROZ. 1988. p.19)

Entrevistador e depoente possuem responsabilidades um com o outro. Esse não deve ser um encontro efêmero, dotado de interesses subentendidos. Os objetivos da pesquisa foram explicitados e debatidos com o entrevistado. Suas razões e disponibilidade para participar da pesquisa também precisaram ser discutidas e clareadas.

O fato de eu trabalhar com esse público há anos permitiu uma aproximação entre entrevistador e depoente; porém, a distância social que nos separa foi levada em consideração. Os dois entraram para essa relação como sujeitos conscientes, inclusive da posição de ambos na pesquisa.

A relação da entrevista é uma relação social e as relações historicamente construídas entre ambos foram consideradas. Não se pode omitir as diferenças ou fingir que elas não existem.

Deve-se “[...] perceber e controlar no campo, na própria condução da entrevista, os efeitos da estrutura social na qual ela se realiza [....]. Principalmente esforçando-se para [...] controlar os efeitos da própria pesquisa

e começar a interrogação já dominando os efeitos inevitáveis das perguntas.” (BOURDIEU. 1999. p. 694)

Às vezes o entrevistado pode dizer aquilo que ele acha que o pesquisador quer ouvir. Para minimizar essa possibilidade, procurei entrevistar jovens que já me conhecessem. Dessa forma, o estabelecimento do vínculo de confiança necessário para que a entrevista ocorresse livremente se estabeleceria com mais facilidade.

Para a escolha dos jovens entrevistados algumas questões foram ponderadas a fim de facilitar o desenvolvimento da conversa:

• Encontrar jovens que eu já conhecesse e que tivessem cometido infrações na adolescência;

• No momento da entrevista os jovens deveriam ter mais de 18 anos e já terem cumprido sua medida socioeducativa, sem nenhum vínculo com a Febem. Dessa forma eles estariam mais afastados da experiência, podendo retomá-la através da memória;

• Eles, necessariamente, deveriam querer participar da pesquisa. Na tentativa de encontrar esses jovens, procurei a Associação Novolhar, instituição onde eu havia trabalhado de 2000 a 2002 e que poderia me auxiliar a encontrar alguns jovens com o perfil acima. O coordenador do Novolhar passou-me os contatos de Alex, Lucas e Breno.

Liguei para Alex convidando-o para a entrevista. Relembramos os tempos em que ele foi aluno do Novolhar e expliquei que o coordenador havia me passado o seu contato. Relatei também qual era a pesquisa e o meu interesse em ouvi-lo, incentivando-o a contar sua vida e experiência infracional. Marcamos de nos encontrar no seu local de trabalho. Com sua permissão a entrevista foi gravada, transcrita e posteriormente enviada a ele por e-mail para que fizesse qualquer sugestão ou alteração em sua fala.

O caminho até Lucas foi semelhante ao descrito para encontrar Alex, com a diferença de que a entrevista foi realizada nas dependências do

Novolhar. Lucas também permitiu que sua entrevista fosse gravada e posteriormente transcrita e enviada por e-mail para que ele efetuasse sugestões ou modificações em sua fala.

Para contatar Breno liguei para seu celular diversas vezes. Em todas elas atendeu a secretária eletrônica; então, resolvi deixar recado me identificando e deixando telefones de contato para que ele retornasse a ligação. Enviei, além disso, um e-mail explicando a pesquisa e apresentando o meu interesse em conversar com ele.

Sem retorno, entrei novamente em contato com o Novolhar para verificar se o número do telefone estava correto, pois a secretária eletrônica do celular não tinha identificação. Tive a sorte de Breno estar no Novolhar no momento da minha ligação. Falamos ao telefone, expliquei a pesquisa e o meu interesse em conversarmos. Ele não se lembrou de mim e não quis marcar nenhum compromisso. Ficou de entrar em contato quando nossa conversa fosse possível.

No dia seguinte ele me ligou e agendamos para nos encontrarmos no Novolhar. Logo que nos vimos percebemos, eu e ele, que não nos conhecíamos. Ele tinha freqüentado o Novolhar anos antes de eu trabalhar na instituição.

Convidando-o para a entrevista, expliquei a pesquisa de mestrado, quem eu era, o que fazia, qual o meu percurso profissional e propus sua participação, apesar do fato de não nos conhecermos. Breno consentiu e nos dirigimos para a sala onde se guardam os equipamentos de gravação da Produtora Novolhar. A escolha dessa sala deveu-se ao fato de que não seríamos incomodados, pois é uma sala pouco utilizada. Ela estava toda arrumada e limpa, só precisamos buscar cadeiras. Breno incomodou-se um pouco com os cabos que estavam pendurados e organizados em um painel, mas mesmo assim aceitou estar naquela sala, desde que as janelas fossem abertas, o que ocorreu.

Breno permitiu que a entrevista fosse gravada e transcrita. Posteriormente foi enviada por e-mail para sugestões ou modificações que achasse necessárias.

A entrevista com Breno foi a mais difícil. Ele parecia muito desconfiado, sendo evasivo nas respostas. Em alguns momentos cheguei a perguntar se ele realmente queria continuar a entrevista, pois não era necessário se não quisesse. Acredito que essa dificuldade no estabelecimento