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Douglas a (des)confiança e a violência sentida

O RECORTE DA VIOLÊNCIA AO LONGO DE SUAS VIDAS

5. OS JOVENS ENTREVISTADOS – O RECORTE DA VIOLÊNCIA AO LONGO DE SUAS VIDAS

5.3. Douglas a (des)confiança e a violência sentida

A ausência sentida – a falta do pai; a necessidade de trabalho da mãe para sobrevivência financeira da família

...daí o que acontece... várias dificuldades em casa, problemas com a família, como que eu fui assim criado pela minha mãe, meu pai eu conhecia, só que ele morava longe e eu ia visitar ele de vez em quando, chegou um tempo que eu não visitava mais ele... [...] Quando eu não via mais eu tinha uns... quando eu nunca mais vi ele eu tinha uns 9 anos de idade. Daí o que acontece... eu comecei a vim pro Mutirão, estudei no Mutirão tudo, que foi uma ótima coisa, só que, como você não é criado pelos pais, você sempre tem uma festividade na escola, dia dos pais... como eu fazia teatro é... até aqui no Mutirão, na escola, isso aí, sempre tinha aqueles brinquedinhos, aqueles bagulhos pra dar pros pais, tudo, eu pegava e não tinha pra quem dar, via as crianças abraçando tudo ali e você ficava assim mal... que você ficava sentido, porque você não tinha ninguém ali pra você está comemorando junto, a única pessoa era a minha mãe, minha mãe trabalhava muito como funcionária pública...

O fracasso da escola

Porque eu era... vamos se dizer assim, eu era a criança problemática, né? Chegava as molecadas, falava coisa pra mim e eu batia neles... é... eu era ignorante, era traste ruim como que dizem os baianos, então o que acontece, daí batia, quebrava vidro da escola é... pichava... é... tinha época de gang também, de pichação, daí o que acontece? Sempre arrumei encrenca dentro de escola e não prestava muita atenção na aula, queria mais namorar, não prestava atenção, fugia de casa às 11h da manh... da noite pra ir pro salão na sexta-feira com 11 anos de idade e assim foi indo, minha vida sempre foi nessa, nesse... nesse seguido, né? Daí o que acontece? Eu ia pra escola, tudo, mas não prestava atenção, daí teve umas... é... umas psicólogas que... esses negócio de escola, daí fez um... psicologia, um negócio comigo, uma consulta comigo, daí falou pra minha mãe que eu precisava de mais atenção, que eu tinha que ficar em sala particular... [Tipo especial, como assim?] Isso, sala especial...

A necessidade de trabalho precoce

...daí eu comecei adolescente tudo, comecei a trabalhar tudo, daí eu ganhei uma oportunidade de serviço, já conhecia as pessoas da malandragem, já conhecia as pessoas certas, as pessoas erradas, daí eu falei “mãe, arrumei um serviço como entregador de pizza”...

A marginalidade presente na periferia espreita a formação do adolescente pobre

... daí ela pensou, ela e meu irmão mais velho pensou que eu ia catar a moto pra ficar zoando, aprontando por aí pela rua, daí ela falou “não vou te dar!”, que não sei que, daí eu acabei discutindo com minha mãe, com meu

irmão, também não quero mais nada de ninguém, não quero saber, “já que vocês não vão me ajudar então eu vou me ajudar do meu jeito, vocês não podem me arrumar o dinheiro, então eu arrumo do meu jeito”. Aí eu comecei a roubar, conhecia já amigos meus que roubavam, comecei a roubar, né? Ia no supermercado, tudo...

[...]

então o que acontece, você pede uma ajuda pra uma pessoa pra você não entrar e às vezes por conseqüências da vida, você acaba entrando nessa, nessa vida, não... uma coisa, vamos se dizer, te obriga, você olha ali, você, você procura arrumar um serviço, uma coisa, mas você não consegue, por causa que... hoje em dia, se você tiver idade demais você não arruma mais serviço e se você tem a idade, pede a experiência, como você? Você acaba de fazer um curso disso, mas como que você vai ter um ano de experiência e carteira assinada, sendo que ninguém te dá uma oportunidade, então o que acontece, daí você olha ali, você vê um cara ali que tava roubando, vendendo droga e sempre com dinheiro, sempre com ... [...] O tempo todo, ainda vejo porque ainda conheço, hoje eles no lugar dele e eu no meu lugar, cumprimento, tudo...

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Daí depois disso que nós fomos confundidos com esses rapaz do PCC, esses ladrão aí, daí o que acontece? Que nós mudamos totalmente a nossa mente: “Agora nós vamos roubar mesmo de mão armada e se vier alguém nós vamos mandar bala pra cima”. A vida acaba criando você desse jeito, a rua, entendeu? Às vezes, um adolescente, o que ele quer, ele quer um pouco de atenção, se você que nem... nessa época, tudo, eu vendi drogas também na rua, tinha biqueira que (...) mesmo tendo meu próprio ponto, então o que acontece, é... às vezes chega um adolescente que você... chega ali ele está com problema dentro de casa e às vezes o que ele recebe mais um carinho, um conforto é do cara que tá na biqueira, que está ali na droga, então o que acontece, chega ali “não, o que foi, senta, vamos conversar, não, mas isso é coisa que acontece...” sempre está colocando a pessoa pra frente e vai puxando mais a juventude pro lado dele.

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que eu acho que até os seus 16 anos, 17 anos tem muito adolescente que ainda não sabe o que faz, tem influência, influenciado por outros, pelos amigos, tipo, vai lá, nós dois, nós consegue, nós tamo sem dinheiro pra ir pra festa, pro baile, vamos lá catar não sei que ali que é fácil, né?

A violência do silêncio - a falta de diálogo na família e na escola Falta conversa entre os pais, hoje em dia tem mais pessoas é... assim... que não é da família, pessoas assim que dão uma explicação pra nós, que nós precisava ouvir do que, dos nossos pais, das nossas mães, que mulher você recebe mais é... da tua... conversam mais com a mãe, né?

[...]

Tem que ter muito diálogo... hoje em dia também os professores... hoje em dia, que falta mais o diálogo, carinho do professor, (...) Tem que ter mais carinho, amizade, você vê que aquela criança está tendo problema dentro de casa, né? Que você percebe, então você tentar adquirir aquela criança pra você, ela sempre está ali, não, se sentir querida, pelo menos por alguém, daí é isso...

Ah... não tinha... não tinha mais um... como ela falava, “não faz isso”, eu chegava e falava “vou aqui no supermercado, né?” encontrava com uns amigos meus nesse supermercado e eu ficava 3, 4 dias sem aparecer dentro de casa... eu andava todo de preto, de coturno, calça rasgada, ia pra cemitério, voltava, maquiagem na cara, batom preto, esses negócio tudo e voltava depois de 4 dias... Quando eu falava “ah, vou ficar uns 15, 20 dias” eu ficava uns 6, 7 meses sem aparecer em casa, eu sempre sumia, desaparecia sempre, daí comecei a freqüentar, a fazer delito, 155 e assim foi indo... foi crescendo... e chega uma hora que a juventude fala é o seguinte “chega, quero alguma coisa que ou me dá dinheiro mesmo ou... né?” Alguma coisa assim...

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As brigas de gang

Que... eu curtia rock também... a qual eu comecei a usar droga depois que eu comecei curtir rock, que eu curtia som gótico, ia pra cemitério, dormia dentro de cemitério, com gangs, né? Que era os góticos, tinha punk do lado, skinhead... batia, dava facada, esses negócios tudo...

Os acordos possíveis, a violência da corrupção

... aliás ele é semi- aberto pra quem tem dinheiro porque você tem que sair pra fora, você sai pra fora de manhã... [...] Que nem, eu falo que é pra quem tem dinheiro, por quê? Porque tem muitos esquemas lá dentro que muitos compra a carta de emprego, daí sai pra fora, volta a roubar, paga os R$300,00, daí desses R$300,00 fica acho que 75% pra casa, 20% pra tá... é... conta liberdade, né? E o resto você pega R$220,00 no final do mês...

[...]

daí já acharam nós pelas roupas, pelas bicicletas e nós fomos preso de novo, fomos eu e eles, assinamos 157 e 288 que é formação de quadrilha, com 4, com 5. Daí um foi embora porque os polícia conhecia ele e liberou ele por causa que ele trabalhava num negócio... num bar, numa lanchonete em S., que o dono de lá era policial também e daí como eles conhecia, soltaram ele. [...] Não pagou nada, quer dizer falaram “quando nós for lá vocês vão liberar umas feijoadas pra nós”. “Não, pode ir que está na minha conta!” Aí soltou ele.

[...]

[Como o celular entra?] Ah, entra pelas mulheres e também, como agora que

tem por causa do raio x que tá tendo agora, ele não mostra, mas ele apita se passar, então o que acontece, não entra mais, entra agora pelos próprios funcionários mesmo. [Eles querem o que em troca?] Dinheiro, tá na faixa de

3 a 4 mil reais pra poder você estar com um celular bom lá dentro. É, informação também, mas isso é mais do pessoal que é da faxina, naonde que tem mais acesso aos funcionário.

[...]

[Tem acordo entre esse pessoal do Comando e os juízes?] Ah tem, tem, tem...

o juiz hoje em dia... é... se você tiver dinheiro mesmo, você sai da cadeia... se você não tiver...

[...]

Você que já teve processo na justiça, você está vindo da escola ou de qualquer outro lugar, se o policial ele te para, se ele for com a sua cara ele só puxa o seu documento vê que você não tem nada, que você está limpo, que você está chegando de algum lugar, do serviço, eles vão e te solta,

agora se eles não vão com a sua cara, eles mesmos jogam drogas no seu bolso, eles mesmo te prende por coisa que não tem nada a ver... isso... que nem tem muitos hoje em dia, policiais andam com drogas, passam em biqueira, né? Que chamam de biqueira, chega lá apreende as drogas, não prende os caras porque usam... tem vez que tem, você vê policial que está mons... monstruado, né? Que tá doidão, entendeu? Conheço amigo meu, policial também que fala “nossa, tem vez que os caras aqui, que eu tô lá, levam lá pra... pra C., nós corta os caras na bala, aí falam bem assim mesmo!” Que nem, isso eu escutei no próprio radinho, um amigo meu que tem os conhecimento com os polícia, né? Não é ladrão nem nada, aí eu escuto o pessoal falando pra ele no radinho “ó mano, você fica no gelo, não anda ali pelos F. da T. entre a rua 9, o barzinho da rua 9 e a rua 10, nenhuma lojinha, fala pra fechar tudo, porque se nós tromba alguém na rua nós vamos assassinar”! Então é assim, hoje em dia, polícia também que fala... vem ficar com o pessoal, que nem aqui já aconteceu na rua, que eu conheço, com droga, fala “ó, pra nós te soltar nós quer 10 mil, 5 mil, 7 mil”, teve a vez do meu primo que não tinha nada a ver com crime nenhum... é... pra ele sair da rua que quando mataram um policial, atiraram num policial, aí prenderam ele, falou que se ele não pagasse 7 mil que eles iam jogar esse crime nas costas dele... e teve que pagar, né? A situação é... sujeita, eles pedia, tem que pagar e que eles às vezes você paga, cê pensa que está firmão e eles tão aí cada vez querendo mais, isso... a corrupção é muito grande, uma corrupção muito grande...

A violência do assalto contra uma vítima violentada pelo álcool ...daí eu andando de bicicleta, eu mais meu primo, mais 2 amigos nossos, aliás, 3... daí... 2 amigos nosso viu um rapaz alcoolizado na rua, daí falaram “vamos tomar ele”, daí os moleques foram, tomaram ele, tudo, daí nós indo embora, paramos no H. aqui na C., daí fomos atua... atualizado, preso de novo...

A violência do sistema: polícia, cadeia, fórum, Febem

... precisava de dinheiro que eu queria fazer a minha festa de aniversário, queria ajuntar que a gente estava com problema com polícia também, que tinha confundido eu e o meu primo com outra pessoa, não, queria matar nós mesmo, por causa que tinha um “irmão”, um irmão do PCC, que chama, é... que chamava o mesmo apelido que meu primo, daí o que acontece, eles vem atrás de nós, que queria matar nós que pensava que era eles. Aí nós teve que sair fugido daqui... aí quando nós voltamos, nós falamos “não, não quero mais saber, rezamos, pedimos tanto pra Deus pra não entrar nessa vida, não adiantou, agora nós vamos entrar de cabeça, daí começamos a roubar, compramos arma, roubamos, compramos arma, fazendo festa toda semana, e assim foi indo...

[...]

Você fica uma noite lá aguardando o caminhão pra vir buscar os presos, né? Daí lá, nossa! É horrível, lá o chão é todo molhado, chão de concreto, cimento puro, todo molhado, o lugar não entra ar nenhum, cada rato que o rabo dele é quase do tamanho do meu braço... horrível, horrível, horrível, horrível, precária mesmo, tanto que, nós mesmo que estava ali, nós estamos pagando pelo que fez, não merece nenhum privilégio, mas ali a

conseqüência é terrível, até o rato chegava a arrastar até o saco de lixo, de tão grande, de força que tinha.

[...]

Ah, pra castigar... só pra castigar. Daí saia de lá nós ia lá pra... como que é o nome? Pra... pro Hospital das Clínicas fazer perícia, mas que não adianta nada... [Vocês apanharam lá?] Não, eu apanhei no dia que eu fui preso, na

delegacia, eu mais um amigo meu, tomamos umas bicas dos polícias... [...] Ah, eu acho errado, né? Porque ali nós já estamos, já estamos algemados, já não estamos mais armados, daí vai querer agredir, porque aí eu já acho que é abuso de autoridade, não é verdade? Agora se nós estivesse armado e eles também ou numa fuga e eles atirassem, aí ia ser uma defesa deles, tudo... Não criticando nem um lado nem o outro, que os dois lados são errados...

[...]

Os polícia lá dentro do fórum, bate... é porque sempre tem isso... nós tem... é como o fórum é uma coisa demorada, que você vai de manhã cedo, cê sai de manhã cedo umas oito horas da manhã, daí você vai e fica na inclusão do CDP, daí vem o Bonde, daí você vem lá, daí chega o Choque, daí você tem que tirar sua roupa todinha, bater no chão, abaixar três vezes, mostrar a língua, sobe pro Bonde, lá dentro fica maior demora, daí tem que fazer tudo de novo, daí você sobe lá dentro fica na cela até ter a sua hora de julgamento, daí bom, você já está cansado, morrendo de fome, que a única coisa que eles dão é dois pão com queijo e um suquinho, daí você quer ir embora logo, daí começa a gritar “olha o Bonde, solta nós, manda nós embora”, daí o que acontece, daí sempre tem algum bravo, policial bravo vem e joga spray de pimenta em nós, leva a gente pra uma outra cela, bate em nós...

[...]

Isso... dentro da cadeia... é... policial, Agente Penitenciário que agride nós, é... fala palavra até pras nossas visitas, cantam nossas visitas. Nossa... muito...

[...]

Que nem esse meu parceiro que foi preso a primeira vez, ele foi pra Febem, ele era menor, então eu conversei com ele e... tem muitas coisas ali que... você está assistindo, eles coloca a televisão lá pra você assistir, que é 1 hora, 2 horas de televisão, só que você tem que ficar lá sentado em posição, com as pernas juntas, cruzado, né? E de cabeça baixa, você não pode nem vê a televisão, se você vê você apanha é... o que acontece? Você ali tem coisas que é cortado, tipo tem... é vício, né, fazer o quê? Tem jovens que fumam, lá você pode pegar uma, um maço de cigarros pra dividir pra todo mundo e tem que durar até o próximo, até o outro dia, que acontece, um cigarro pra cada um e quem fuma, eu fumo mesmo, quem vai falar que consegue ficar um dia... você fica desesperado, atordoado, então com agressão com tudo, então nisso mesmo que eles vão quebrar, vão quebrar a cadeia, vão grudar os funcionários...

O sistema desrespeita os prazos dos processos

Dessa vez não, que da primeira vez eu fui da 39 direto pra Colônia, por causa que como eu recebi o semi-aberto direto, eles não podem manter você preso no fechado ou em qualquer cadeia, porque se acontece alguma coisa, cai nas costas do diretor, mas tem muitas pessoas dentro do CDP também que foi condenado na Colônia e está ainda... 3, 4, 6 meses ainda lá dentro

que não poderia estar, então lá o que acontece? Você só tem o benefício se você... é... é lento. Se você tem um advogado que você paga pra ele pra estar recorrendo, funciona, mas não é tão rápido que se você estivesse no Fundão.

A violência sentida na humilhação

... sobre a roupa também, que a roupa nossa que nós usava era como se fosse uma roupa de... de lixeiro, né? Que é o coletinho laranja, a calça laranja, né? E fora que você vai pro fórum vestido com essa roupa também, sem tênis, de chinelo, aquela humilhação do fórum, e jogam spray de pimenta na nossa cara...

[...]

Isso, porque daí o pessoal do Choque nem entra dentro dos barracos, só entra só os próprios funcionários, só entra só pra escolta. Daí o que acontece, daí bagunça, joga nossas coisas tudo no chão, vira o barraco de tudo, depois nós temos que levar tudo de volta.

[...]

É... tinha viado morando conosco, travesti, né? Que eles moram separados, numa cama separada, não pode, que é ordem da cadeia, você não pode..., não dos policiais, dos agentes, dos próprios presos mesmo. Você não pode manter relação com... relação homossexual dentro da cadeia, daí o que acontece, eles guardavam o nosso celular, guardava dentro deles, é... eles guardavam drogas... Isso, e recebiam também por isso.

Os castigos físicos - a violência da tortura

Dentro do Fórum é isso, porque aí é lá embaixo, lá embaixo é só polícia, ninguém ouve nada, é tudo no meio deles, a única coisa que vê é nós, spray de pimenta na cara que... tossindo sangue, cuspindo sangue pelo nariz, porque sufoca, a gente vai tossir aquilo queima, é horrível. Fora que também te manda tirar nossa roupa, joga spray de pimenta e aquilo onde cata queima.

[...]

Castigo é uma celinha, uma sala pequena, que só tem uma cama só, mais ou menos é uns 2 metros por 1 metro. Daí tem o banheiro, tem uma caminha, uma cama aqui e o chapão de ferro. Você só vê a muralha, mais nada, e até a comida que você recebe, você recebe pela uma frestinha que tem na chapa. Daí fiquei 8 dias lá, só saí mais cedo por causa da anistia do dia das mães.

[...]

A comida chegava... a gente ia pagar a alimentação é... 5 horas da tarde o almoço, o café, o almoço e o café, nós já estava roxo de fome porque já tinha chegado o Choque, já tinha arrastado tudo nosso, alimentação estragado que eles pisa é... depende, também depende da situação, né? Pisam, chutam, estragam nossas coisas, então o que acontece, nós já estava varado de fome, tinha vezes que era meia noite e estava chegando a janta, às vezes chegava, como nós foi pro castigo eu cansei de ver, porque você tem acesso à primeira portaria, aonde que fica que chega o carro da alimentação, a firma contratada que coloca ali no carrinho e depois vai embora e ali a comida ficava por várias horas... é... ficava ali na Radial debaixo do sol, às vezes chegava até meia morna e quando você ia pegar ela

estava quente de tanto sol que já tinha ficado. E assim ia... no castigo, demoravam pra servir a alimentação...

A rebelião – a violência dos e contra os funcionários e policiais Ficamos na nossa, daí no domingo que nós fomos tomar a cadeia, daí o Belém 1 virou e logo em seguida virou o Belém 2, só que nisso os Agentes já estavam preparados, já estavam armados, atiraram pra cima dos meninos que estavam no corredor e os Muralhas também, aí atiraram pra dentro das celas a qual teve três mortes lá dentro, teve um que estava na capa, morreu com um tiro de fuzil, né? Morreu ele e mais um outro com uma bala só, é... pessoas machucadas, foram mais de 18 pessoas machucadas, é... e... sem contar a agressão dos funcionários também, né? A qual que revoltaram mais os presos lá dentro, que teve pessoas, amigos nossos que estavam vivo e eles estavam ali futucando com ferro, enfiando ferro “morre agora seu P... seu Pececinho de merda” enfiando os ferros nos nossos amigos, nossos companheiros e nós vendo tudo...

[...]

...eu vi coisa que foi terrível... é os Faxina com pano na cara, com faca que nós mesmos teve... que nós mesmo amolamos pra poder grudar os funcionários é... Muralha atirando de (...) de fuzil pra cima de nós, amigos nosso perdeu metade de mão, perdeu dedo, tomou tiro, é... ficou por lá na