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As crianças e adolescentes como vítimas de graves violações aos direitos humanos e violência fatal

(IM)POSSIBILIDADE DA AÇÃO

7. INFRAÇÃO – O ATO NA (IM)POSSIBILIDADE DA AÇÃO

8.2. As crianças e adolescentes como vítimas de graves violações aos direitos humanos e violência fatal

Entre os anos de 1980 e 2003, ocorreram graves violações de direitos humanos contra crianças e adolescentes no Brasil. Foram 5.718 vítimas. A maior parte foi vítima de execução sumária (53%), ação com um total de 3.033 crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos no País. 43% foram vítimas de violência policial e 4% de linchamento. Supõe-se que em mais de 50% das graves violações dos direitos humanos contra crianças e adolescentes houve envolvimento policial. A grande maioria das vítimas era do sexo masculino em todos os tipos de violação analisados pela pesquisa. (PERES, CARDIA, SANTOS. 2006. p.175)

Pela pesquisa citada, quando consideradas as Instituições de Segurança, as delegacias constituem um ambiente privilegiado para a ocorrência de graves violações dos direitos humanos. Em segundo lugar, estão as Fundações para o Bem-estar do Menor (Febem) e os presídios/penitenciárias. (PERES, CARDIA, SANTOS. 2006. p.181)

68,5% dos casos de violência policial ocorreram nas delegacias, seguidos pelas Febem(s) e presídios/penitenciárias. Já os linchamentos em locais fechados tiveram 88% dos casos em delegacias, estando em segundo e terceiro lugares o carro de polícia e Fóruns. (PERES, CARDIA, SANTOS. 2006. p.182)

Pelos depoimentos dos quatro jovens entrevistados foi possível perceber seus direitos sendo desrespeitados por policiais nas ruas e dentro de delegacias, Febem(s) ou Fórum. (Vide capítulo “Os jovens entrevistados – o recorte da violência em suas vidas”)

Em relação aos homicídios contra a população em geral, ou contra adolescentes e jovens, o Brasil não apresenta melhores condições das que foram apresentadas para as graves violações dos direitos humanos contra os jovens.

Segundo o Mapa da Violência 2006, em comparações internacionais com 84 países, o Brasil ocupava a 4ª posição no ranking dos homicídios para a população em geral, com uma taxa de 27 para cada cem mil habitantes. Na faixa etária dos 15 aos 24 anos, o Brasil ocupava a 3ª colocação com uma taxa de 51,7 homicídios para cada cem mil jovens. (WAISELFISZ. 2006. p.65)

A taxa global de mortalidade da população brasileira caiu de 633 em cem mil habitantes em 1980 para 572 em 2004. Já a taxa de mortalidade juvenil manteve-se praticamente inalterada ao longo do período e até teve um leve aumento, passando de 128 em 1980 para 130 em 2004.

Os motivos das mortes juvenis tiveram alterações aos longos dos anos. Há cinco décadas eram as epidemias e doenças infecciosas as principais causas das mortes nessa faixa etária. Em 2004 a maioria das mortes juvenis foi proporcionada por acidentes de trânsito e homicídios. (WAISELFISZ. 2006. p.21) No estado de São Paulo, no ano de 2004, 77% dos jovens morreram por causas externas, desses 43,9% sofreram homicídio e 17,3% morreram por acidentes com transportes. (WAISELFISZ. 2006. p.23)

A população jovem é a mais atingida no Brasil. Dos 15 aos 24 anos os homicídios atingem sua maior expressividade, principalmente na faixa etária dos 20 aos 24 anos de idade, com taxas em torno de 65 homicídios por 100 mil jovens. (WAISELFISZ. 2006. p.53)

A taxa de homicídios entre os jovens passou de 30,0 (em 100 mil jovens) em 1980 para 51,7 no ano 2004. Já a taxa de homicídios no restante da

população (não jovem) permaneceu praticamente inalterada, passou de 21,3 em 100 mil para 20,8 no mesmo período.( WAISELFISZ. 2006. p. 73)

No Brasil os homicídios vitimam principalmente a população masculina. No ano de 2004, 92,1% das mortes foram de homens. Entre os jovens a desvantagem masculina é ainda maior, pois apenas 6,3% das mortes juvenis foram do sexo feminino. (WAISELFISZ. 2006. p.61)

A raça negra é a mais vitimizada, tanto para a população em geral como para a população jovem. A taxa de homicídio da população negra é bem superior à da população branca. Se na população branca a taxa em 2004 foi de 18,3 homicídios em 100 mil brancos, na população negra foi de 31,7 em 100 mil negros. Isso significa que a população negra teve 73,1% de vítimas de homicídio a mais do que a população branca. Entre os jovens o problema agrava-se ainda mais: os índices de vitimização elevam-se para 85,3%. Isto é, a taxa de homicídios dos jovens negros é 85,3% superior à taxa dos jovens brancos. (WAISELFISZ. 2006. p.58-59)

Esses dados são assustadores e revelam que a população jovem brasileira vive em situação de risco. As elevadas taxas de violência a que os jovens, principalmente do sexo masculino e negro estão expostos mostra o descaso dos sucessivos governos brasileiros e autoridades responsáveis por elaborar e efetivar políticas públicas, que beneficiem os jovens residentes em bairros pobres ou nas periferias das grandes cidades, com baixa escolaridade e pouca qualificação profissional.

O estudo revela um ponto que pode ser considerado positivo: o número de homicídios sofreu um crescimento regular até o ano de 2003, com aumentos em torno de 5,1% ao ano. Já em 2004, a tendência histórica reverteu-se de forma significativa. O número de homicídios caiu 5,2% em relação a 2003, fato que pode ser atribuído às políticas de desarmamento desenvolvidas naquele ano. (WAISELFISZ. 2006. p.25) Essa queda no número de homicídios foi mais acentuada para a população jovem. Entre 2003

e 2004 houve uma queda de 5,7% no número de homicídios juvenis. Fator também atribuído a política de desarmamento21. (WAISELFISZ. 2006. p.29).

As mortes provocadas por causas externas não são as únicas conseqüências da violência. Essa ocorre de inúmeras formas que não necessariamente levam a pessoa ao óbito. A vivência com situações violentas pode promover o recrudescimento e o desânimo frente às dificuldades da vida, o envolvimento no mundo do crime, a reprodução da violência sentida durante uma existência individual ou às humilhações sofridas por um grupo social ao longo da história.

Concordamos com o autor quando esse afirma que: “[...] nesse campo estamos sempre atuando diante das conseqüências geradas por uma grande diversidade de fatores individuais, grupais, culturais, sociais, econômicos e políticos que se conjugam na explicação de cada situação concreta, fatores que, de forma isolada, não são fáceis de enfrentar ou de solucionar.” (WAISELFISZ. 2006. p.159)

8.3. Todos são vítimas: Os adolescentes vitimados pela violência