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CAPÍTULO 7 AS ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS LÍDERES DA INDÚSTRIA DE CARNES BRASILEIRA

10 Segundo GORT, citado por RAMANUJAM & VARADAJAN (1989), dois produtos são direcionados a mercados diferentes se a elasticidade-cruzada da demanda são fracas, o que indicaria uma ocorrência de

7.3.3. A Diversificação de Atividades na Perdigão

A Perdigão inicia suas atividades produtivas com o abate e industrialização de suínos em 1940. Neste mesmo ano, incorporou um curtume. Ainda na década de 40, a empresa instala um moinho de trigo. A entrada na avicultura dá-se no ano de 1958. Na segunda metade da década de 70, iniciou a atividade de extração e refino de óleo de soja e a produção de maçã. Em 1988, ocorre a entrada no ramo de telecomunicações (3 rádios e uma TV) e a produção de adubos orgânicos. Em 1989, começa a fabricação de ervilha e milho em conserva. Em 1990, a empresa começa a produzir creme vegetal. Outras atividades desenvolvidas pela Perdigão durante a sua evolução foram o abate e industrialização de bovinos e a hotelaria.

A evolução da Perdigão apresenta semelhanças com a da Sadia, pois ambas iniciaram suas atividades com o abate e industrialização de suínos. Posteriormente, com uma diferença de poucos anos, passaram a atuar na avicultura. Na década de 70, ambas

entraram no ramo de esmagamento e processamento de soja. Outra atividade comum é o abate e industrialização de bovinos. A entrada da Perdigão nestas atividades foi norteada pela busca de sinergia com as atividades antigas e pelas perspectivas em termos de rentabilidade das mesmas. Desta forma, a inserção na avicultura pode ser explicada pela perspectiva de rentabilidade que a atividade oferecia e por poder ser realizada em moldes semelhantes aos praticados na suinocultura, isto é, mediante a prestação de assistência técnica aos produtores rurais encarregados da engorda das aves. Além disto, os produtos poderiam ser distribuídos através dos canais de distribuição já utilizados pela empresa. Portanto, foi uma diversificação do tipo "horizontal", segundo a classificação de ANSOFF (1977), por ter sido baseada em uma tecnologia conexa e ter sido utilizada a mesma rede de distribuição para os novos produtos.

A diversificação para o ramo de esmagamento e processamento de soja foi baseada na grande sinergia existente entre esta atividade e aquelas da indústria de carnes, visto que do esmagamento da soja surge o farelo de soja que é um importante insumo para a produção de ração animal. A principal preocupação da empresa foi garantir a disponibilidade de farelo de soja de qualidade, que é fundamental na obtenção de ração com o nível de qualidade requerido para assegurar elevada produtividade dos produtores integrados. Com o passar do tempo, a empresa intensificou a sua participação na cadeia da soja, ampliando a produção de derivados e vendendo os mesmos nos mercados externo e interno. A produção de óleo de soja e de creme vegetal, apesar de representar uma expansão na linha de produtos derivados de soja, significa uma diversificação de atividades pelo fato de serem produtos vendidos em mercados diferentes.

Portanto, as produções de farelo e óleo degomado de soja,e posteriormente de óleo refinado e de creme vegetal podem ser classificadas na tipologia de WRIGLEY & RUMELT apud DESREUMAUX (1993), como diversificações em cadeia, pelo fato de as novas atividades estarem relacionadas à inicial no plano tecnológico, sem que o conjunto baseie-se sobre uma única competência. Apesar de a produção de creme vegetal e de óleo refinado representarem uma agregação de valor ao óleo degomado e

significarem um deslocamento da empresa na cadeia da soja, baseando- nos na tipologia de ANSOFF (1977), não classificamos estas diversificações como sendo do tipo "integração vertical", pois esta acontece quando os novos produtos são destinados às necessidades próprias da empresa, o que não é o caso para o creme vegetal e o óleo refinado que são produtos destinados ao consumidor final. Desta forma, tais atividades podem ser classificadas como sendo diversificações concêntricas por atenderem a novos clientes, utilizar uma tecnologia conexa às outras utilizadas na empresa e um sistema de distribuição similar ao que era explorado na época.

A inserção na bovinocultura respondeu à necessidade de matéria-prima para a produção de produtos industrializados, e configurou-se não somente com o abate dos animais, mas também com a criação animal, apesar de que a maior parte das necessidades de gado vinha sendo satisfeita através da compra no mercado. Uma tentativa da empresa de ampliar a sua participação neste ramo deu-se com a compra da fábrica de enlatados da Swift no ano de 1989, que permitiu à empresa, a comercialização de enlatados de carne industrializada (feijoada, dobradinha e salsicha). Teria sido uma diversificação do tipo "horizontal" na classificação de ANSOFF (1977), por resultar em produtos novos, elaborados com tecnologia conexa, direcionados para clientela similar à antiga.

Uma das primeiras atividades da Perdigão foi o processamento de couros e peles, criada em 1940, a qual apresentava grande sinergia com o abate de suínos na época e, mais tarde com o abate de bovinos, visto que estas atividades forneciam a matéria-prima principal para o curtume da empresa (o couro).

A produção de maçã foi agregada ao portfólio de negócios da empresa na segunda metade da década de 70. A sinergia com os outros negócios do grupo davam-se no campo comercial, visto que parcela da produção seria vendida através de canais de distribuição já utilizados, isto é, o comerciantes de alimentos, o que nos permite classificar esta diversificação como sendo do tipo "concêntrica" segundo ANSOFF (1977), ou "relacionada" na acepção de WRIGLEY & RUMELT apud DESREUMAUX (1993).

A produção de adubos orgânicos começou em 1988, e foi efetivada com a criação de uma empresa conjunta tendo como sócio a Associação dos Avicultores do Meio-Oeste. Nesta parceria, a Perdigão entrou com os equipamentos e a Associação com os dejetos de aves. Esta atividade apresentava uma sinergia indireta, pelo fato de que nos avários dos produtores integrados, após a partida do lote de frangos, havia a disponibilidade do material orgânico, que poderia ser transformado em receita a partir da sua transformação em adubo, representando, portanto uma fonte de receita adicional para os avicultores. Os lucros eram divididos entre a empresa e a Associação.

A diversificação para a produção de vegetais em conserva (milho, pimenta do reino, ervilha, palmito) ocorrida em 1990, apresentava sinergias com as atividades tradicionais da empresa. No caso do milho, este produto é o principal insumo da ração animal, podendo,portanto ser comprado em grande quantidade. Alguns daqueles produtos iam ser vendidos com a marca Perdigão (ervilha reidratada, milho verde e pimenta do reino), marca que detinha uma forte imagem no mercado. Além disto, os produtos iam ser distribuídos através das redes de distribuição existentes, proporcionando vantagens comerciais à empresa.

A entrada na indústria das telecomunicações destoa totalmente das outras diversificações realizadas pela Perdigão, pelo fato de a mesma apresentar baixíssimo nível de sinergia com as outras atividades, que se mostraria presente na possibilidade de anunciar os produtos da empresa na emissora de televisão e nas rádios com baixos custos. Porém, tal vantagem só ocorreria em Santa Catarina, espaço geográfico de atuação das emissoras, enquanto que os mercados dos produtos da empresa tem uma abrangência muito maior. Sendo assim, ocorreu uma diversificação do tipo "conglomerai”, a qual se caracteriza pela presença na nova atividade de clientela, tecnologia e produtos novos, sem ligação com as atividades atuais da empresa.

As inserções da Perdigão na produção de maçã e no ramo de telecomunicações, quando analisadas com base na posição competitiva da empresa e maturidade da atividade original, podem ser vistas como o aproveitamento de oportunidades vislumbradas pela empresa no que se refere à rentabilidade, já que a empresa detinha

uma boa posição nas indústrias em que atuava, as quais ainda ofereciam boas perspetivas de crescimento.

7.3.4. A Diversificação de Atividades na Chapecó

A Chapecó inicia suas atividades na suinocultura em 1952, vindo a entrar na avicultura em 1974. Estas duas atividades sempre tiveram elevada participação na geração da receita da empresa. Outras atividades que a empresa veio a desempenhar na sua evolução tiveram o papel de dar suporte à suinocultura e à avicultura. Estas atividades foram as seguintes: construção civil (1976), processamento de dados (segunda metade da década de 80), reflorestamento (1990), criação de empresa de taxi aéreo (1986), corretagem de seguros (1978).

A inserção da Chapecó na indústria avícola aconteceu em um momento em que a empresa detinha uma boa posição na indústria suinícola, a qual continuava a oferecer boas possibilidades de desenvolvimento, apesar da falta de matéria-prima ocorrida no período de 1972 a 1974. Tal fato conduziu a um elevado grau de ociosidade nas plantas, trazendo como consequência uma redução na rentabilidade da empresa. Ao mesmo tempo, a avicultura oferecia perspectivas bastante favoráveis, o que era comprovado pela expansão da produção no país. Em 1970, a produção brasileira de carne de frango foi de 217 mil toneladas, vindo a atingir 401 mil toneladas quatro anos depois. Portanto, a variabilidade da rentabilidade da atividade de abate e industrialização de suínos foi um dos fatores que teria conduzido a Chapecó à diversificação de atividades, com o intuito de utilizar recursos que apresentavam elevado grau de ociosidade e reduzir a oscilação dos lucros.

Outro fator que facilitou a entrada da Chapecó na avicultura foi a existência de sinergia entre a mesma e a atividade anterior. Segundo declaração de dirigentes da empresa, as sinergias obtidas com esta diversificação no decorrer do tempo foram dos seguintes tipos:

a) sinergia de administração, proveniente da possibilidade de utilização dos procedimentos gerenciais utilizados na suinocultura na avicultura;

b) sinergia de investimento, resultante do uso conjunto da planta, de estoque de matérias-primas comuns, da transferência de pesquisa e desenvolvimento de um produto a outro, de base tecnológica semelhante. Deve ser ressaltado que o início dos abates de aves aconteceu em uma planta de abate de suínos que apresentava alto nível de ociosidade que mais tarde viria a se tomar especializada para o abate de frangos. Ambas as atividades utilizavam matérias-primas ou insumos comuns tais como ração, medicamentos, vitaminas, assistência veterinária, que são direcionados aos produtores integrados. As duas atividades possuem bases tecnológicas semelhantes, pois em ambas tem-se a ocorrência do abate de animais, que apresenta algumas etapas e equipamentos similares, além das semelhanças quanto a forma de abastecimento da matéria-prima, visto que o sistema de integração com produtores rurais poderia ser adotado na avicultura. Um fato que veio a ampliar a sinergia existentes entre a avicultura e a suinocultura foi a possibilidade de útilizar carne de frango na composição de diversos produtos derivados de carne suína ou bovina, a partir do surgimento do processo da desossa mecânica.11

c) sinergia comercial, decorrente da utilização, por partes de ambas as atividades, de canais de distribuição, quadros de administração de vendas ou instalações de armazenamento comuns. Os produtos de ambas as atividades podiam ser distribuídos através de açougues, mercearias, supermercados, feiras, podiam ainda utilizar os mesmos meios de transporte e de instalações de armazenamento (câmaras frigoríficas) e podiam ser comercializados pela mesma equipe de vendas;

A diversificação para a avicultura pode ser classificada como sendo do tipo "horizontal" na concepção de ANSOFF (1977), pelo fato de ter sido em direção a um negócio que apresentava tecnologia conexa, clientela similar em relação à atividade antiga, e utilizar a mesma rede para vender os novos produtos. Na tipologia de CALORI

11 Este procedimento está relacionado ao surgimento de equipamentos que permitem a retirada da came