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CAPÍTULO 7 AS ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS LÍDERES DA INDÚSTRIA DE CARNES BRASILEIRA

10 Segundo GORT, citado por RAMANUJAM & VARADAJAN (1989), dois produtos são direcionados a mercados diferentes se a elasticidade-cruzada da demanda são fracas, o que indicaria uma ocorrência de

7.3.2. A Diversificação de Atividades na Sadia

A Sadia inicia as suas atividades no ano de 1944, com a produção de farinha de trigo e de derivados de carne suína. No ano de 1961, ocorre o início da produção industrial de frangos. Em 1973, começa o abate de perús. O abate de bovinos inicia-se no final da década de 60, porém a grande arrancada no setor acontece com a implantação de um abatedouro na região centro-oeste do país em 1976. Nesta década, dá-se ainda a entrada na cadeia produtiva da soja, com a produção de farelo e óleo bruto. No ano de 1986, começa a produção de óleo de cozinha. Na década de 90, a diversificação de atividades da empresas continuou com o lançamento de massas, de hidrogenados (margarina e creme vegetal). Portanto, pode-se afirmar que a Sadia participa dos seguintes segmentos industriais: abate e industrialização de carne suína, avícola e bovina, esmagamento e processamento de soja, produção de derivados de trigo.

A entrada da Sadia na avicultura foi posterior à uma experiência do fundador da empresa, Atílio Fontana, que no início da década de 50, havia montado uma granja- experimental no oeste catarinense . A ida de um funcionário da Sadia para conhecer a avicultura nos Estados Unidos, foi fundamental para a decisão da empresa de assumir aquela atividade nos moldes como a mesma era praticada naquele país, isto é, baseada na integração com avicultores. Para este funcionário, as pequenas propriedades

agrícolas de Concórdia reuniam condições para a implantação daquele sistema de integração. A expectativa era de que no país, a avicultura repetisse o sucesso observado nos Estados Unidos, Europa e Japão, a partir do pós-guerra, onde se dava a produção de linhagens com alta produtividade (SORJ & alli, 1982).

Esta diversificação da Sadia pode ser entendida como o aproveitamento de uma oportunidade vislumbrada no seu ambiente, pois a nova atividade prometia uma boa rentabilidade. Portanto, as motivações que conduziram a empresa a adentrar na avicultura foram as seguintes:

1) a empresa era muito dependente da suinocultura no que se refere à geração de seu faturamento e a avicultura era uma atividade que apresentava expectativas bastante favoráveis quanto à sua evolução. Além disso, podiam ser utilizadas na avicultura matérias-primas disponíveis (soja e milho).

2) existiam na região do oeste de Santa Catarina as condições necessárias para a criação de aves de forma integrada à empresa, as quais seriam: uma grande quantidade de pequenas propriedades utilizadoras do trabalho da família, experiência na engorda de animais.

3) vantagens comerciais podiam ser exploradas, baseadas na imagem da marca, de uma clientela já estabelecida e de redes de distribuição existentes. Os produtos provenientes da nova atividade poderiam ser comercializados com a mesma marca dos antigos, que era uma marca que detinha grande prestígio perante os consumidores, em decorrência de elevados gastos com publicidade associados a reconhecida qualidade dos produtos elaborados naquela época. Os novos produtos, por apresentarem algumas características que os aproximavam daqueles já produzidos, poderiam ser direcionados aos clientes da empresa. Entre essas características, podemos citar o fato de serem produtos alimentares fornecedores de proteína que viriam a ampliar o leque de opções oferecido pela empresa aos seus clientes. Com relação à distribuição do produto, o sistema logístico existente poderia ser utilizado na nova atividade, por ser uma atividade cujo produto requeria a armazenagem e o transporte a frio, assim como os produtos da

atividade original. Além disso, os mesmos canais de distribuição poderiam ser utilizados, isto é supermercados, açougues, armazéns.

Na tipologia proposta por ANSOFF (1977), a entrada da Sadia na avicultura, pode ser classificada como sendo uma diversificação horizontal por envolver uma tecnologia conexa e por utilizar a mesma rede de distribuição para os novos produtos. Segundo a tipologia de DETRIE & RAMANANTSOA (1986), a qual é baseada na posição competitiva e na maturidade da atividade original, teria ocorrido uma diversificação de investimento, pelo fato de a Sadia deter uma boa posição na indústria e a entrada na avicultura seria explicada pela disponibilidade de recursos que podiam obter uma boa rentabilidade a longo prazo na nova atividade. A atividade anterior, a suinocultura, na época requeria a realização de investimentos, pois apresentava-se em uma fase de crescimento, comportamento este atestado pelo consumo aparente dos produtos derivados de carne suína no país. Segundo dados apresentados em ALTMANN (1979), em 1960 o consumo percapta era de 6,75 kg, tendo atingido 7,36 kg no ano de 1965.

Na tipologia criada por CALORI & HARVATOPOULOS apud VERY (1991), fundamentada no nível de atratividade da atividade atual ou na possibilidade de explorar recursos disponíveis, a entrada na avicultura teria sido uma diversificação do tipo "Extensão" por permitir a utilização de recursos possuídos pela Sadia para obter uma posição concorrencial nas novas atividades. Esta diversificação apresenta ainda elementos que nos permitem classificá-la também como do tipo "desenvolvimento" pelo fato de que a atividade antiga ainda oferecia possibilidades de desenvolvimento, mas a nova apresentava perspectivas de alta rentabilidade.

A diversificação para o segmento de bovinos atendeu o objetivo da empresa de atuar nos três principais segmentos de produção de proteína animal. A entrada da Sadia neste setor foi com o intuito de suprir a necessidade de matéria-prima para a sua atividade industrial, bem como para comercializar no mercado interno e externo, carne processada e "in natura". A carne bovina é utilizada, junto com outros tipos de carne, na composição de vários produtos, tais como salsicha, salame, linguiça (RODRIGUES,

1976). Uma oportunidade surgida no ambiente que fez com que a implantação mais efetiva no setor fosse perseguida veio com os estímulos às exportações concedidos pelo governo brasileiro na década de 70 (WILKINSON, 1993). Nas vendas para o mercado interno, para os produtos industrializados de carne bovina, foram aproveitadas as vantagens comerciais, decorrentes da imagem de marca, uma clientela já estabelecida e redes de distribuição existentes.

De acordo com as tipologias de diversificação, a entrada da Sadia no abate e industrialização de carne bovina pode ser classificada como sendo uma diversificação horizontal, por envolver tecnologia conexa, se realizar em indústria onde a empresa atuava (indústria de carnes) e ocorrer a utilização da mesma rede de distribuição para vender os novos produtos. Na tipologia de DETRIE & RAMANANTSOA (1986) ter-se- ia uma diversificação de investimento, pelo fato de a empresa desfrutar de um ótimo posicionamento nos segmentos industriais em que atuava e a diversificação prometer satisfatória lucratividade. Na classificação de CALORI & HARVATOPOULOS apud VERY (1991) , estaríamos diante de uma diversificação-desenvolvimento por ter ocorrido a entrada em uma atividade que, na época, era promissora, mesmo que a avicultura estivesse oferecendo elevadas perspectivas de desenvolvimento.

A diversificação para a cadeia da soja foi uma decorrência da constatação da necessidade de melhoria da qualidade do farelo de soja utilizado pela empresa para a fabricação da ração que era destinada aos animais. Para satisfazer àquela necessidade, foram implantadas unidades produtivas visando atuar no esmagamento e processamento de soja, o que na década de 70, incluiu a produção do farelo e de óleo degomado de soja. Nas décadas seguintes ocorreu agregação de valor ao óleo degomado bruto, através da produção de óleo refinado e de derivados, como margarinas e hidrogenados.

A entrada da Sadia na cadeia da soja pode ser entendida, na classificação de ANSOFF (1977), como sendo de dois tipos, devido aos desdobramentos verificados no comportamento estratégico da empresa nas duas últimas décadas. A motivação inicial, como foi dito acima, consistiu na busca de melhoria da qualidade de um insumo fundamental para a produção de ração, significando, portanto, uma diversificação do

tipo integração vertical, pelo fato de que o destinatário da nova produção ser uma outra atividade da empresa. Os outros produtos derivados de soja (óleo refinado e hidrogenados) que surgiram mais tarde, foram destinados a novos clientes e utilizam sistema de distribuição similar ao explorado, visto que utilizam amplamente, os mesmos tipos de distribuidores (supermercados, armazéns ), ainda que difiram o meio de transporte (não utilizam veículos frigorificados). Na tipologia de WRIGLEY & RUMELT apud DESREUMAUX (1993), ter-se-ia uma diversificação em cadeia, pois a partir da atividade inicial, novas atividades relacionadas à inicial no plano tecnológico vão surgindo, sem que o conjunto se baseie sobre uma única competência.

Na classificação de DETRIE & RAMANANTSOA (1986), a diversificação para a cadeia da soja seria do tipo "de suporte", por ter conduzido a um reforço das atividades iniciais e repousar na exitência de sinergia entre as atividades antiga e as novas.