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A Doutrina Civilista e os elementos da Obrigação: Da Patrimonialidade e da Transitoriedade

3. ASPECTOS GERAIS DO VÍNCULO JURIDICO OBRIGACIONAL

3.4. A Doutrina Civilista e os elementos da Obrigação: Da Patrimonialidade e da Transitoriedade

A doutrina civilista é quase unânime em ensinar que os elementos indispensáveis à obrigação em sentido técnico são a patrimonialidade e a transitoriedade. E esta posição talvez decorra das lições de Washington de Barros Monteiro63, que, como vimos, define

obrigação como: “a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através do seu patrimônio”.

Observa-se que, segundo a doutrina do autor civilista, o caráter obrigacional como patrimonial e transitório é ressaltado:

“A obrigação cujo conteúdo não seja economicamente apreciável refoge ao domínio dos direitos patrimoniais. A prestação há sempre de ser susceptível de

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aferição monetária: ou ela tem fundo econômico, pecuniário, ou não é obrigação, no sentido técnico e legal64.”

Washington de Barros Monteiro65, quanto ao caráter transitório da obrigação,

destaca que

“não há obrigações perpétuas. Como tudo quanto no mundo existe, elas nascem, vivem e morrem. (...) Não pode, pois, ocorrer a perpetuidade da obrigação. Ainda que ela indicasse sobre atos contínuos, prolongados e reiterados, cuja persistência fosse indeterminada, como na locação de serviços, sempre haveria um limite à sua duração (...)”

Caio Mário da Silva Pereira, sem destacar a transitoriedade do caráter obrigacional66, trata da noção geral de obrigação e ensina que

“obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra uma prestação economicamente apreciável. (...) Nela estão os seus elementos subjetivos, o credor e o devedor, o sujeito ativo e sujeito passivo, a pessoa que pode exigir e a que deve cumprir a prestação. Nela está caracterizado o requisito objetivo, a prestação, que a nosso ver há de ser dotada de patrimonialidade”.

E, quanto aos elementos essenciais da obrigação, ensina o autor civilista que “a obrigação decompõe-se em três elementos: sujeito, objeto e vínculo jurídico”. E, o autor destaca que o objeto da obrigação tem caráter patrimonial, e assim explica:

“Via de regra e na grande maioria dos casos, a prestação apresenta-se francamente revestida de cunho pecuniário, seja por conter em si mesma um dado valor, seja por estipularem as partes pena convencional para o caso de descumprimento. (...) Em prol da patrimonialidade da prestação, atemo-nos a duas ordens de argumento. O primeiro é que, ainda no caso de se não fixar um valor para o objeto, a lei o admite implícito, tanto que converte em equivalente pecuniário aquele a que o devedor culposamente falta, ainda que não tenham as partes cogitado do seu caráter econômico originário, e isto tanto nas obrigações de dar (Código Civil, art. 870; Anteprojeto de Código de Obrigações, art. 94) como nas de fazer (art. 879; Anteprojeto de Código de Obrigações, art. 107), demonstrando que a patrimonialidade do objeto é ínsita em todas” 67. (itálico do

autor).

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Washington de Barros Monteiro. Op. cit., p. 8-10.

65 Washington de Barros Monteiro. Op. cit., p. 8-10.

66 Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, Vol. II, 17 ed., Revista Forense, 1999, p. 5. 67 Caio Mário da Silva Pereira. Op. cit., p. 16.

64 Portanto, para a corrente civilista, a obrigação é uma relação economicamente apreciável e transitória de direito, que se consubstancia em um dever de dar, fazer ou não fazer alguma coisa, em proveito de alguém.

Procuraremos verificar no curso do presente trabalho se estes elementos possuem aplicação às chamadas obrigações tributárias e se são adotados pela doutrina tributária, em especial, no que tange às chamadas obrigações tributárias acessórias.

3.5. Síntese Conclusiva

Neste capítulo, demonstramos a definição de obrigação e dever em uma linguagem simples, a partir da definição atribuída pelo dicionário de língua portuguesa, e concluímos que, embora os termos sejam próximos, no campo do direito possuem significados diversos. No contexto jurídico, obrigação representa vínculo de caráter relacional imposto, enquanto dever é estado de sujeição ao vínculo imposto.

Demonstramos também, no âmbito jurídico, o conceito de obrigação jurídica e dever jurídico e afirmamos que obrigação significa relação jurídica ou vínculo jurídico que liga dois sujeitos a um determinado objeto. E dever jurídico é a sujeição ao vínculo relacional.

Destacamos a importância da distinção dos institutos, a partir do conteúdo de normatividade atribuída pelo direito positivo. Assim, o dever jurídico é uma categoria formal, porque, para que obtenha status obrigacional, é necessária previsão normativa como sendo de cumprimento obrigatório e cuja inobservância acarreta a aplicação de uma sanção ou penalidade. Por isso, afirmamos que teremos alguns deveres que podem ser obrigacionais e outros não obrigacionais (conduta permitida ou facultada de cumprir), de acordo com a construção normativa do texto do direito positivo.

65 Assim, consignamos o conceito de obrigação adotado pela doutrina civilista e o de obrigação tributária adotado pela tributarista e também pudemos demonstrar nosso entendimento quanto ao conceito de obrigação tributária, isto é, trata-se de relação jurídica em que, de um lado, temos o credor que detém o direito subjetivo de exigir o cumprimento da obrigação do devedor; e este sujeito devedor, por sua vez, tem o dever jurídico de entregar a coisa ou realizar a prestação imposta, sob pena de ser-lhe aplicada uma sanção.

Ao final, discorremos a respeito do posicionamento da doutrina civilista em relação aos elementos tidos como indispensáveis à obrigação em sentido técnico: a patrimonialidade e a transitoriedade.

Firmados até aqui alguns conceitos e para obter uma coerência metodológica, no próximo capítulo trataremos, inicialmente, da espécie de obrigação tributária principal, sem a pretensão de esgotar o tema, já que as discussões pontuais sobre nosso tema central – as obrigações tributárias acessórias – serão abordadas em consonância com a obrigação tributária principal.

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CAPITULO IV