• Nenhum resultado encontrado

2.2.1 Definição, Origem e Processo Histórico.

Para tornarem-se professores de engenharia, os professores que são o foco deste trabalho precisaram, antes, tornar-se engenheiros. A formação para serem engenheiros é fundamental para as suas atuações como professores de engenharia. Sendo assim, para uma melhor compreensão destes professores, faz-se necessário algum conhecimento sobre a área de formação e atuação profissional dos mesmos.

A clássica definição de engenharia como “A arte de organizar e dirigir o trabalho do homem, e de utilizar os materiais e energias da natureza em benefício da coletividade”, foi

61

PIMENTA E ANASTASIOU, 2005. 62 Ibid.

apresentada pelo engenheiro inglês Thomas Tredgod, no ano de 1828, com a elaboração dos estatutos da Associação dos Engenheiros Civis Ingleses.63

Desde a Antigüidade magníficas construções têm sido realizadas e, para isso, muita gente se ocupou do que hoje é tarefa dos engenheiros. Os construtores antigos contavam com muitas regras práticas e empíricas, contudo, sem nenhuma base teórica. As grandes obras da Antigüidade são fruto do empirismo e da intuição. Daí, o excessivo superdimensionamento das construções antigas: o construtor, na impossibilidade de calcular, se garantia exagerando nas dimensões das peças. A engenharia como entendemos hoje, ou seja, a engenharia científica, só teve início com a descoberta de que tudo o que se fazia em bases empíricas e intuitivas era regido por leis físicas e matemáticas. Leonardo da Vinci e Galileu Galilei (séculos XV e XVII), são considerados como os precursores da engenharia. Leonardo da Vinci fez a primeira aplicação da matemática à engenharia estrutural. Galileu publicou, em 1638, o livro As Duas Novas Ciências, sendo este o primeiro livro no campo da resistência dos materiais.

A engenharia foi se estruturando com o desenvolvimento das ciências matemáticas, mas somente no século XVIII chegou-se a um conjunto sistemático de doutrinas, que constituíram a primeira base teórica da engenharia.64. A lei de Hooke, princípio básico da resistência dos materiais, é de 1660; o cálculo infinitesimal, ferramenta fundamental para a engenharia, foi descoberto por Isaac Newton e Leibniz, em 1674. Em 1729, foi publicada a primeira edição do livro La Science des Ingénieurs, do engenheiro militar francês Gen. Belidor, que foi o primeiro livro em que se sistematizou o que havia até então na ciência do engenheiro. Entre meados do século XVIII e início do século XIX ainda foram publicados os trabalhos de Bernouilli, Euler e Navier, sobre a hidrodinâmica e a teoria das estruturas, e o de Girard, especificamente sobre a resistência dos materiais.65

A engenharia moderna nasceu dentro dos exércitos. Com a descoberta da pólvora, surgiu a necessidade de se construir obras sólidas e econômicas, assim como estradas, pontes e portos para fins militares, o que levou ao surgimento dos oficiais-engenheiros, e à criação de corpos especializados de engenharia nos exércitos. Pelos padrões de hoje, a maioria deles não eram engenheiros, uma vez que nessa época não havia o ensino sistemático da engenharia, mas como eram os únicos que tinham algum conhecimento sobre a arte de construir, realizavam não só fortificações, como qualquer tipo de obra.

63 TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da engenharia no Brasil: (Séculos XVI a XIX). Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1984. 2v.

64

TIMOSHENKO apud TELLES, 1984. 65 TELLES, 1984.

O nascimento da engenharia moderna, ou da engenharia propriamente dita, coincidiu com (ou foi conseqüência de), dois grandes acontecimentos do século XVIII: a revolução industrial e o movimento filosófico e cultural denominado de iluminismo. A revolução industrial levou ao desenvolvimento tecnológico e ao avanço das pesquisas na área das ciências físicas e matemáticas, visando as suas aplicações na prática, o que implicou no desenvolvimento da engenharia. O movimento do iluminismo, conseqüência do Renascimento e das idéias de Descartes, valorizou a observação da natureza, a experimentação, o estudo das ciências físicas e naturais e suas aplicações, tendendo a terminar com o desprezo e a situação de inferioridade a que eram relegadas as chamadas artes mecânicas, desde a Idade Média.66

Até o século XVII o material usado nas construções era fundamentalmente a pedra e, a partir do final daquele século, o aparecimento e desenvolvimento da indústria siderúrgica levou à utilização do ferro como material de construção, o que revolucionou a arte de construir.

O termo engenheiro já era usado desde o século XVII, com o significado de quem é capaz de fazer fortificações e engenhos bélicos. Confundia-se a função do engenheiro com a do arquiteto e a do construtor. Não havia, em geral, distinção entre o responsável pelo aspecto mecânico-estrutural da obra, que seria o engenheiro, e o responsável pela concepção artístico- arquitetônica, que seria o arquiteto. Ainda hoje, apesar de estas atribuições estarem bem definidas nos estatutos dos conselhos profissionais, pessoas de outras áreas costumam não ter um entendimento claro sobre isto.

O século XIX foi muito importante na história da engenharia, pois foi nessa época que ela se sistematizou em bases científicas, foi quando iniciou-se o seu ensino e, a partir daí a engenharia causou grandes transformações na economia e na sociedade.

2.2.2 A Origem da Engenharia Brasileira

Para uma melhor compreensão do ensino de engenharia no Brasil, entendo ser necessário resgatar as origens da engenharia que aqui foi introduzida, através de uma síntese da sua história. Como observa Telles67, a história da engenharia de qualquer nação confunde- se, na sua maior parte, com a própria história do seu desenvolvimento. Este breve relato aborda a história da introdução da engenharia no Brasil, compreendendo o período do século XVI ao século XIX.

66

TELLES, 1984. 67 Ibid.

Tanto em Portugal, como no Brasil, até princípios do século XIX, a palavra engenheiro designava propriamente os engenheiros militares. A engenharia entrou no Brasil através dos oficiais-engenheiros e dos mestres de risco, termo derivado das antigas corporações medievais. Os oficiais-engenheiros eram encarregados prioritariamente das obras relacionadas com defesa, principalmente no litoral e nas fronteiras, e com a expansão territorial, sendo também responsáveis pelo ensino, visando a formação de engenheiros no Brasil. No entanto, ainda foram encarregados de construções civis e religiosas, estradas e serviços públicos. Os mestres de risco foram os construtores da edificação civil e religiosa e são considerados os antecessores dos nossos arquitetos. Foram os responsáveis pela maioria das construções até o século XIX; eram artífices legalmente licenciados para projetar e construir, cujos conhecimentos haviam sido adquiridos diretamente de outro mestre, como aprendizes, e cuja capacidade profissional tinha de ser comprovada por exames minuciosamente descritos no Regimento dos Oficiais Mecânicos, compilado em 1572, que regulamentou as Corporações de Ofícios em Portugal e suas colônias. Essa legislação vigorou no Brasil até o ano de 1824, quando foi revogada pela Constituição do Império, que extinguiu as antigas Corporações de Ofício, de origem medieval.68

No período colonial, os primeiros engenheiros brasileiros foram formados na Europa, os últimos já foram formados no Brasil.

Vinham de Portugal para o Brasil, apesar de poucos, os melhores engenheiros, como verificamos pelo que consta na Carta-Régia de 1694: “Para os reparos e fortificações e o que mais for necessário, vai muito bom engenheiro...e que também nos fará falta, mas, para partes tão distantes vão sempre os engenheiros mais capazes, porque se errarem não tem quem os emende.”69 Isto explica a qualidade e até mesmo a suntuosidade de algumas obras dessa época, que perduram até os dias de hoje despertando grande admiração pela beleza e solidez.

Durante a época colonial, Portugal teve poucos recursos e poucos engenheiros e, o Brasil, menos ainda. Por conseguinte, atividades típicas dos engenheiros foram executadas até por religiosos, como pela denominada Missão dos Padres Matemáticos, que executaram muitos trabalhos geográficos e cartográficos, no ano de 1730. A primeira lei para regulamentar a atividade do engenheiro no Brasil é de 1828, no tempo de D. Pedro I.70

Devido à carência de engenheiros, a fiscalização das obras deixava a desejar e, com isso, muitos erros de construção eram cometidos. Outro problema era que, em conseqüência

68 SANTOS apud TELLES, 1984. 69

CARTA-RÉGIA apud TELLES, 1984, p. 7. 70 TELLES, 1984.

da falta de continuidade administrativa, pois cada governo tinha seus próprios interesses, havia número excessivo de fortificações mal planejadas ou deixadas inacabadas.71 Com relação a este problema, nos dias de hoje, mais de um século depois, a situação é a mesma..

No Brasil colonial, o desenvolvimento tecnológico e, por conseguinte, da engenharia, foi atrasado devido à proibição da instalação de indústrias e à economia baseada na escravidão, que tornava o trabalho uma atividade desprezível e desestimulava qualquer inovação técnica, devido à mão-de-obra gratuita. No entanto, alguns fatos, como a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, no ano de 1808, contribuíram para o desenvolvimento da engenharia neste país.

No período colonial alguns autores brasileiros produziram literatura técnica de engenharia, como o beneditino Frei Bernardo de São Bento, que publicou o Tratado de Arquitetura e o paulista Mathias Ayres Ramos da Silva Eça, que em 1770 publicou o livro Problema de Arquitetura Civil.72

No documento QUANDO ENGENHEIROS TORNAM-SE PROFESSORES (páginas 37-41)