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O Ensino de Engenharia no Brasil

No documento QUANDO ENGENHEIROS TORNAM-SE PROFESSORES (páginas 45-48)

2.3 O ENSINO DE ENGENHARIA

2.3.2 O Ensino de Engenharia no Brasil

A engenharia brasileira provém de Portugal. No século XVI, na Escola de Santo Antão, em Lisboa, havia a Aula da Esfera, onde se ensinava matemáticas aplicadas às fortificações e à navegação. Esse curso pode ser considerado o antecedente mais remoto do ensino da engenharia em Portugal, e, por conseguinte, no Brasil. No ano de 1647, um ex- aluno da Escola de Santo Antão organizou em Lisboa uma Aula de Fortificação e

90 BAZZO, 1998, p. 107. 91

Ibid. 92 Ibid., p. 96.

Arquitetura, e que em 1799 foi transformada em Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho. Esta academia serviu de modelo para as congêneres no Brasil.93

A primeira experiência no âmbito do ensino de engenharia no Brasil, da qual se tem notícia, é a contratação do holandês Miguel Timermans (engenheiro de fogo), entre os anos de 1648 e 1650, para ensinar aos nativos a arte de construir.94

Em 1694 o capitão engenheiro Gregório Gomes Henriques veio para o Brasil para ensinar aos condestáveis e artilheiros do Rio de Janeiro. Este capitão teve problemas, foi preso, e passou a dar aulas na prisão.

Em 1699 foi criada uma Aula de Fortificação no Rio de Janeiro e, em 1710, uma Aula de Fortificação e Artilharia em Salvador. Esses foram os primeiros cursos regulares de engenharia do Brasil. Na aula do Rio de Janeiro era ensinada a arte de desenhar e construir fortificações, devendo haver nela três discípulos de partido, que deveriam ser pessoas com capacidade para poderem aprender, e tendo no mínimo dezoito anos de idade.95 Telles observa que, sobre os demais alunos, nada foi dito, e indaga: “será que não se julgava necessário terem também esses outros capacidade de aprender?”96 Como essa Aula não tinha sede própria, provavelmente as lições eram ministradas nas fortificações da cidade. Os alunos recebiam cinqüenta réis diários e o mais famoso engenheiro-militar português que atuou no Brasil- Colônia ensinou nessa Aula até a sua morte. Como nessa época todo o ensino era praticado pelas ordens religiosas, essas Aulas foram as primeiras instituições de ensino leigas do Brasil. No ano de 1792, a aula do Rio de Janeiro foi ampliada e transformada em Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. Esta academia já tinha sede própria e não era uma simples aula como os cursos anteriores, mas um verdadeiro instituto de ensino superior. Eram aceitos alunos civis, denominados de particulares. 97

Embora o ensino de engenharia tenha sido introduzido no Brasil pelos portugueses, a sua fundamentação teórica remonta ao ensino técnico francês. Bazzo98 afirma que o ensino de engenharia brasileiro tem suas bases firmadas sob as orientações positivistas do francês Augusto Comte. Segundo Telles,99 todos os livros adotados na Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho eram de autores franceses e, provavelmente, os melhores da época.

93 TELLES, 1984. 94

TELLES apud BAZZO & PEREIRA, 2006. 95 TELLES, 1984. 96 Ibid., p. 66. 97 Ibid. 98 BAZZO, 1998. 99 Ibid.

A primeira escola propriamente de engenharia do Brasil foi a Academia Real Militar, criada no ano de 1810 pelo então Príncipe Regente e futuro Rei D. João VI, que substituiu a Real Academia de Artilharia, Fortificações e Desenho, fundada em 1792. Por isso, o ano de 1810 é considerado o marco do início do ensino da engenharia no Brasil. Em 1823, esta academia, já com a denominação de Academia Militar da Corte, acatou o decreto que permitia a matrícula de alunos civis. Esta academia foi passando por transformações e no ano de 1858 passou a denominar-se Escola Central e ficou destinada ao ensino das Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, bem como das doutrinas específicas da Engenharia Civil, ficando o ensino militar para outras escolas militares da época. É considerada a precursora da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, que foi criada em 1874.100

Com relação às transformações pelas quais passou a Academia Real Militar, Bazzo101 comenta que já naquela época as mudanças eram paliativas e ornamentais: nomes de escolas, tipos de engenharia, e ainda acusa cópias de modelos externos que não condiziam com a realidade brasileira. Fatos que lembram algumas reestruturações curriculares que ocorrem nos dias de hoje.

Ainda no século XIX foram criadas outras escolas de engenharia no Brasil, como a Escola de Minas de Ouro Preto (1876); a Politécnica de São Paulo (1893); a Politécnica do Mackenzie College e a Escola de Engenharia do Recife (1896); a Politécnica da Bahia e a Escola de Engenharia de Porto Alegre (1897).102 Portanto, no século XIX somente não havia escola de engenharia nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil. Até o ano de 1946 já havia quinze instituições de ensino de engenharia no Brasil. Hoje, são centenas.

Contudo, Bazzo coloca que devido ao atraso do desenvolvimento da engenharia no Brasil pelas questões que já foram apontadas, e com o desejo de recuperar o tempo perdido, instalou-se aqui “um ensino adestrador, que culminou com uma escola eminentemente prática, desvinculada de análises críticas substanciais sobre as reais necessidades da nação.”103 No seu entendimento, isto perdura até os dias de hoje.

Este breve relato dá uma idéia de que, o que se apresenta hoje no ensino de engenharia, tanto no Brasil, como nos outros países, tem suas origens em acontecimentos muito remotos e, por isso, está enraizado e solidificado a ponto de não ser possível melhorar com soluções superficiais e paliativas. Qualquer política ou projeto visando mudanças deve levar em consideração o processo histórico pelo qual passou.

100 BAZZO & PEREIRA, 2006. 101 BAZZO, 1998.

102

BAZO & PEREIRA, 2006. 103 BAZZO, 1998, p. 85.

No documento QUANDO ENGENHEIROS TORNAM-SE PROFESSORES (páginas 45-48)