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2.1 Variáveis do padrão de formação familiar e religião

2.1.3 A escolha do cônjuge

A escolha do cônjuge é um processo importante para entender a configuração das uniões. Algumas características individuais são extremamente importantes para a escolha do parceiro, um dos processos que dá início a uma nova família. Estas características se relacionam com idade, região de moradia, nível de educação, raça, ocupação, renda e religião. Por isso mesmo, o processo de encontrar um par não é aleatório, mas parte de análises sobre as características das pessoas consideradas ‘elegíveis’ (QUEIROZ, 2001).

Neste estudo, a teoria econômica de Becker (1973) que explica o processo de seleção e escolha do cônjuge pelo enfoque de custo-benefício será utilizada para fundamentar esta subseção. Para o autor, a busca por um cônjuge no mercado matrimonial objetiva a maximização de ganhos em relação às características individuais do mesmo, ou seja, as pessoas buscam encontrar a melhor opção de cônjuge disponível no mercado matrimonial. Este cônjuge deve atender as demandas ou características de critérios de seleção. Quando estas características são substituíveis, então há chance da seleção de indivíduos de grupos diferentes (exogamia), mas se as características são complementares ou similares, então há uma tendência de união entre semelhantes (endogamia). Estas características segundo Becker (1981) se relacionam à educação, idade, raça, religião, lugar de origem, peso e aspecto físico, questões psicológicas e financeiras.

Ao escolher o cônjuge, em geral, os homens tendem a priorizar a atração física enquanto as mulheres enfatizam mais características como a intimidade, o compromisso, segurança e boa perspectiva financeira (PINES, 1997; BUSS et al., 2001).

De acordo com López-Ruiz, Spijker e Esteve (2013), a escolaridade é um fator importante na escolha do parceiro, isso porque as pessoas mais escolarizadas tendem a procurar um par com escolaridade igual ao superior a sua, restringindo o número de pares elegíveis.

As características mencionadas acima são informações valiosas no processo de escolha do parceiro, pois o nível educacional, as diferenças de idade e a crença podem trazer implicações relevantes para a convivência de um casal e duração da união (LONGO, 2011). Dessa forma, espera-se que o casamento ocorra de forma a reduzir as diferenças entre as pessoas, gerando um processo endogâmico que leva as pessoas a se unirem com outras de características similares (QUEIROZ, 2001; LONGO, 2011).

Aspectos como os valores transmitidos pelas famílias de origem e a busca por similaridade ou por complementaridade são destacados como importantes motivações para a escolha do cônjuge (SILVA; MENEZES; LOPES, 2010).

A religião também é um fator relevante na procura por um cônjuge, principalmente entre os fiéis praticantes da religião evangélica (MAHONEY, 2010; SIGALOW; BERGEY; SHAIN, 2012). A endogamia sociocultural e religiosa parece facilitar o sucesso conjugal. Isso porque parceiros com características semelhantes (status social, valores, normas, crenças) poderiam se ajustar mais facilmente. Dessa forma, o companheirismo conjugal seria reforçado pela endogamia religiosa que promoveria uma maior convivência entre o casal ao gerar a proximidade destes. A endogamia religiosa também permitiria ao casal nortear a vida conjugal e familiar pelas doutrinas religosas, permitindo maior concordância em questões envolvendo a educação e criação dos filhos, a alocação de tempo e dinheiro, a socialização, o desenvolvimento de redes profissionais e de negócios, e até mesmo a escolha do local de residência, o que reduziria fatores de conflito. Além disso, a concordância religosa promoveria a tolerância mútua e diminuiria focos de tensão (LEHER; CHISWICK, 1993). Ao contrário, a exogamia aumentaria as chances de discórdia, infelicidade (ORTEGA; WHITT; WILLIANS, 1988), conflitos e divergências sobre trabalho doméstico e finanças (CURTIS; ELLISON, 2002).

A proporção de indivíduos em exogamia religiosa tem aumentado nos Estados Unidos. Em 1960, 40,0% dos casais estavam em uniões exogâmicas.

Já em 2000, esta proporção aumentou para 55,0%. Essa situação pode indicar uma maior tolerância à diversidade religiosa crescente e menor conservadorismo.

De acordo com o trabalho de Alford et al (2011) realizado com casais no Estados Unidos para descobrir quais fatores mais influenciam a escolha do cônjuge, a concordância religiosa e política foram as características mais relevantes na escolha de um parceiro.

Os estudos apresentados neste trabalho para o Brasil referem-se a religião evangélica. O estudo qualitativo de Garcia e Maciel (2013) com 20 jovens entre 18 e 25 anos, membros de comunidades evangélicas históricas (Igreja Presbiteriana) e neopentecostais (Igreja Universal do Reino de Deus) da cidade de Vitória no estado do Espírito Santo (Brasil) está de acordo com o estudo de Alford et al (2011) ao concluir que todos os participantes acreditam que a escolha do cônjuge deve levar em consideração a religião do mesmo. Todos os participantes consideraram importante namorar ou buscar um(a) namorado(a) em sua própria Igreja ou denominação, pois, assim, o casal teria a mesma “visão” religiosa, e partilharia dos mesmos ensinamentos e da mesma fé. De acordo com Burdick (1993), na religião evangélica os fiéis são instruídos a se casar com outros crentes conforme orientação bíblica. Além disso, casamentos entre pessoas com a mesma religião (ou evangélica ou católica) podem apresentar relações de gênero menos desiguais, diminuindo conflitos entre o casal (MACHADO, 1996). Uma possível explicação seria o fato do casal ter os mesmos valores religiosos sobre família, levando o homem a também ter um comportamento centrado na família, com maior comprometimento com a esposa e respeito por suas opiniões, além de levá-lo a uma maior permanência em casa e dedicação com o cuidado e educação dos filhos. Essa situação poderia gerar uma reconfiguração da subjetividade masculina, criando a possibilidade de arranjos familiares mais igualitários (MACHADO, 2005).

Dessa forma, muitos casais evangélicos podem escolher se casar com um (a) parceiro (a) da mesma religião como estratégia de minimizar possíveis conflitos decorrentes de escolhas como a castidade antes do casamento e como forma de cumprir as determinações da religião (WIMBERLEY, 1989).

Dessa forma, existem indícios de que o processo de escolha do cônjuge é muitas vezes influenciado pela religião evangélica que parece priorizar mais a endogamia religiosa.

Na próxima subseção discorre-se sobre a história do catolicismo e da religião evangélica.

2.2 Breve histórico do catolicismo e das categorias evangélicas no Brasil