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O recrutamento e as entrevistas: a experiência no campo

3.2 Efeitos diretos

4.2.4 O recrutamento e as entrevistas: a experiência no campo

O recrutamento das entrevistadas se deu de tal forma que se teve uma amostra não representativa e não probabilística, como ocorre na maioria dos estudos qualitativos. A seleção destas não foi aleatória, porque as entrevistadas foram selecionadas a partir de indicações de pessoas próximas e conhecidas da autora, pastores, líderes religiosos e pessoas envolvidas no contexto religioso. A partir destas primeiras indicações, iniciou-se a criação de uma rede de possíveis entrevistadas a partir da técnica conhecida como “snowball”, onde as entrevistadas iam indicando outras mulheres dentro do perfil definido neste estudo.

Nas linhas seguintes, documenta-se em detalhe a experiência da autora com o trabalho de campo, bem como os problemas vivenciados que tiveram impacto importante na pesquisa.

A pesquisa de campo foi realizada entre maio e julho de 2014, período em que aconteceram as visitas, recrutamento, entrevistas e acompanhamento de cultos/missas e atividades de jovens (estudo bíblico, escola dominical, grupo de jovens). Fez-se necessário retornar ao campo em janeiro de 2015 para recrutar mulheres em união consensual, já que todas as indicações anteriores e entrevistas não contemplaram este tipo de união, apenas a união formal.

Inicialmente, foram feitas visitas a seis igrejas na cidade de Viçosa, três católicas (sendo duas tradicionais e uma carismática) e três evangélicas pentecostais (uma Batista renovada, uma Assembleia de Deus e uma Maranata) para explicação do estudo e obtenção do consentimento dos padres e pastores para início do trabalho. Após o aceite dos líderes religiosos, a autora começou a frequentar as atividades das igrejas selecionadas, como missas e cultos e outras atividades religiosas, bem como o processo de socialização e conhecimento de membros para divulgação do trabalho, obtenção de indicações de mulheres dentro do perfil do estudo e conversas informais sobre questões religiosas. Entre as igrejas católicas, foram selecionadas duas igrejas localizadas em bairros não centrais da cidade e uma com enfoque carismático (a única da cidade). As igrejas tradicionais possuem maior porte e atendem em torno de 1.800 a 2.000 fiéis. A igreja carismática é menor e é direcionada à população estudantil da universidade e atende em torno de 400 fiéis.

Entre as igrejas evangélicas pentecostais foram selecionadas três, uma Maranata, uma Batista renovada e uma Assembleia de Deus. As igrejas evangélicas escolhidas possuem pequeno porte e atendem em média entre 100 a 150 membros, além de aproximadamente 30 a 50 congregados e em torno de 10 a 15 visitantes cada.

Nas igrejas católicas tradicionais, o recrutamento de entrevistadas partiu de duas conhecidas da autora envolvidas em preparação de noivos para o casamento. Estas passaram indicações de mulheres que haviam feito o curso de noivos com elas e que atendiam ao perfil. Todas as indicações iniciais eram de mulheres em união formal. Foi solicitado também indicações de mulheres em união consensual, entretanto foi relatado que todas já haviam feito o curso de noivo e se casado formalmente. Então foi solicitado as entrevistadas que me indicassem mulheres dentro do perfil, mas em união consensual.

O recrutamento de mulheres católicas carismáticas se iniciou a partir de uma informante conhecida da autora e que participava do grupo de oração. A informante passou todos os contatos de união formal e consensual.

O processo na igreja Maranata também se iniciou com uma informante conhecida da autora que indicou algumas mulheres, inclusive uma em união consensual. Estas mulheres passaram outros contatos. Foi pedido aos contatos que indicassem mais mulheres em união consensual, entretanto, elas

relataram que na igreja não haviam outros casos de união consensual porque este não era um comportamento adequado e incentivado pela igreja. Por isso mesmo, não existiam membros vivendo em união consensual, apenas congregados ou visitantes. Entretanto, no período da coleta de dados, houve um caso.

Na igreja Batista renovada, a informante inicial foi a pastora que passou alguns contatos de mulheres. Estas passaram outras indicações. Nenhum dos contatos indicou alguma mulher em união consensual justificando que não haviam mulheres na igreja que viviam em união consensual porque aquelas que se encontravam nesta situação regularizaram a união para se tornarem membros. Segundo o relato destas, a união consensual não é um tipo de união aceito para a membresia. A autora teve grande dificuldade de encontrar mulheres dentro deste perfil na igreja. Só foi possível recrutar uma mulher em união consensual após a autora ligar para todas as conhecidas que pertenciam a religião evangélica e que frequentavam alguma igreja batista na cidade. Uma destas pessoas indicou uma mulher em união consensual que havia começado a pouco tempo a visitar a igreja selecionada.

O mesmo processo se deu na igreja Assembleia de Deus, onde o informante inicial foi uma indicação do pastor. A partir do contato com esta mulher surgiram as outras indicações. Todos as pessoas indicadas disseram que não haviam mulheres em união consensual na igreja por ser um comportamento não adequado para membros. Segundo os informantes não haviam nem congregados e nem visitantes na época da coleta que estivesse em união consensual. Entretanto, uma das entrevistadas conseguiu identificar uma mulher congregada da igreja dentro do perfil de união consensual. Ao ser convidada para participar da pesquisa, ela se mostrou um pouco constrangida e indecisa. Por fim, após toda a explicação da pesquisa e garantia do anonimato, ela concordou em participar.

O recrutamento dos padres e pastores foi feito mediante aceite dos mesmos para o convite da participação no estudo. Todas as pessoas que aceitaram participar do estudo foram entrevistadas no local e horário determinado por cada participante logo após formalizarem o aceite por meio do preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido solicitado pelo Comitê de Ética (Apêndice 2).

Inicialmente fez-se um teste piloto com uma fiel e outro com um padre para verificar se os roteiros atendiam aos objetivos da pesquisa. Como foi observada a adequação dos mesmos, incluiu-se os pilotos nas análises.

A princípio optou-se por criar 2 cenários de escolaridade para as participantes, dividindo o grupo de mulheres em baixa (sem instrução ou ensino fundamental incompleto) e alta escolaridade (escolaridade igual ou superior a ensino médio completo e superior incompleto). Entretanto, devido à dificuldade em recrutar mulheres de 20 a 29 anos com baixa escolaridade em uma cidade com perfil universitário, não foi possível manter a proposta inicial de separação de 2 cenários, apesar de sua importância.

Outra questão importante para este estudo seria criar perfis por frequência religiosa, mas a restrição de tempo foi um limitador. A autora já havia investido grande parte do tempo destinado a coleta de campo para recrutar mulheres em união consensual, sem contar com as dificuldades de disponibilidade das entrevistadas, localização das residências e imprevistos com as entrevistadas que não compareciam ao encontro. Entretanto, a autora reconhece a importância dos perfis por frequência, visto que a forma de recrutamento em algumas igrejas evangélicas em que os pastores iniciaram a indicação podem ter levado ao recrutamento de entrevistadas mais envolvidas no contexto religioso.