• Nenhum resultado encontrado

Síntese dos principais resultados qualitativos e principais problemas

De forma geral, apenas a análise dos dados quantitativos sobre formação familiar e religião podem causar distorções e interpretações errôneas já que os estudos envolvendo esta variável permitem apenas associações e não determinação de relação causal, além de problemas metodológicos.

Dessa forma, o estudo qualitativo fez-se fundamental por promover o aprofundamento da temática, além de permitir a confirmação da influência da religião sobre a formação familiar de mulheres, além permitir análises sobre questões importantes de conversão e mecanismos de influência religiosa.

Em seguida será realizada uma síntese dos principais resultados qualitativos relacionados às variáveis abordadas no marco conceitual desta tese: chance de estar unido, tipo de união e escolha do cônjuge. Por meio dos resultados desta seção é possível identificar que, apesar das religiões evangélica pentecostal e católica apresentarem os mesmos preceitos religiosos em relação às questões de formação familiar com as mesmas orientações sobre namoro (manter a virgindade), importância do casamento formal e escolha do marido da mesma religião, os pentecostais neste estudo parecem influenciar mais o comportamento e prática das mulheres entrevistadas evangélicas. A síntese dos achados se encontra abaixo:

- Momento da união e chance de estar unido:

Tanto os evangélicos quanto os católicos relataram que idealmente, os jovens não devem começar a namorar muito cedo e sim após os 17 anos ou quando já estiverem na universidade segundo os pastores pentecostais. Entre os evangélicos, existe uma percepção negativa com relação a namoros longos que pode ser explicada pela dificuldade em manter a abstinência sexual em

relacionamentos de muito tempo e também pela questão da maturidade. Entre os católicos, a justificativa mais usada foi a maturidade para os relacionamento, entretanto, não houve menção em relação à castidade. Em relação ao tempo de namoro, identificou-se uma visão mais restritiva entre os evangélicos em relação a namoros longos quando comparados aos católicos.

Em relação à virgindade, identificou-se uma visão mais conservadora por parte das evangélicas e católicas carismáticas. Entre as evangélicas, identificou-se um menor tempo de namoro o que pode estar relacionado a uma estratégia para evitar envolvimentos sexuais antes da formalização da união. Além disso, as falas indicam que as evangélicas parecem se unir mais cedo que as católicas, o que corrobora os achados quantitativos deste estudo. Apesar da igreja católica também valorizar a virgindade, as entrevistadas mostraram uma visão mais liberal em relação à questão, o que pode levá-las a se unir mais tarde que as evangélicas devido à vivência da sexualidade nos namoros, relatadas nas entrevistas. Esta questão pode estar relacionada ao fato dos padres entrevistados evitarem falar sobre a questão com os fiéis e também pela falta de cobrança ou supervisão pelo cumprimento dos preceitos. Outro aspecto importante considera nos resultados deste estudo pode ser a baixa adesão religiosa das entrevistadas, que pode e star relacionado ao processo de recrutamento.

- Tipo de união:

O tipo de união considerado ideal para os evangélicos e católicos foi o formal. Entretanto, as igrejas pentecostais parecem mais eficazes em influenciar seus fiéis a não optarem pela união consensual ou em promover a formalização das uniões após a conversão das mulheres para que estas possam compor a membresia. Este dado reforça os resultados quantitativos deste estudo ao evidenciar que as evangélicas valorizam mais e priorizam a união formal.

Uma alternativa adotada em alguns casos estudados de mulheres em união consensual que não querem ou não conseguem formalizar a união por não concordância do companheiro foi um certo distanciamento das atividades religiosas por se sentirem constrangidas. Acredita-se que a forte presença dos mecanismos de ordem moral e coação presentes nas igrejas pentecostais

influenciem a obediência aos preceitos pelos fiéis. Nas igrejas católicas, parece haver um distanciamento entre os preceitos religiosos e a prática dos fiéis.

- Escolha do cônjuge:

Os relatos dos católicos e evangélicos revelaram uma percepção positiva em relação a endogamia conjugal. Para ambos, um casal ter a mesma religião facilita a boa convivência, além de permitir a mesma visão sobre questões do relacionamento e na criação dos filhos. Entretanto, as evangélicas e carismáticas parecem ter uma visão ainda mais conservadora, relatando ser importante também que o casal frequente a mesma igreja e participe das mesmas atividades. Estes dados corroboram os achados quantitativos desta tese ao evidenciar que as evangélicas valorizam mais e priorizam se unir com parceiros da mesma religião.

Entretanto, é importante lembrar que os resultados qualitativos também podem ser influenciados por problemas metodológicos, gerando conclusões errôneas com relação a formação familiar e religião. Os problemas metodológicos relacionados a este estudo foram discutidos no capítulo 4 desta tese.

7. Conclusões

A partir do século XX, muitas mudanças sociais, culturais e demográficas têm influenciado o padrão de formação familiar no Brasil, aumentando a proporção de uniões consensuais. Já a idade a primeira união permanece em estabilidade e relativa precocidade no país.

Muitos estudos tem evidenciado a importância da religião na formação familiar dos fiéis. Por isso esta tese buscou investigar a associação das religiões católica e evangélica na formação familiar de mulheres brasileiras entre 20 a 29 anos, de modo a identificar como o comportamento demográfico das pessoas em relação à chance de estar em união, ao tipo de união e a escolha do cônjuge é influenciado pelas doutrinas e ensinamentos religiosos no Brasil.

O trabalho foi desenvolvido a partir de dois conjuntos de objetivos. O primeiro buscou analisar associação entre religião e padrão de formação familiar utilizando dados representativos do censo de 2010 para mulheres brasileiras de 20 a 29 anos. O segundo propôs investigar se a religião influenciou de alguma forma o padrão de formação familiar e quais os principais mecanismos de influência da religião por meio de dados oriundos de entrevistas em profundidade realizadas na cidade de Viçosa (MG) com mulheres unidas entre 20 a 29 anos das religiões católica e evangélica pentecostal, além de pastores e padres.

Os resultados descritivos mostraram que entre as evangélicas existe uma maior proporção de mulheres entre 20 a 29 anos unidas formalmente quando comparado às católicas. Os dados também indicam que as pentecostais se unem mais precocemente e que elas apresentam as maiores proporções de mulheres negras e com baixa escolaridade, indicando um menor nível socioeconômico quando comparadas às católicas. Este resultado de vulnerabilidade social encontrado para as pentecostais neste estudo também foi reportado por Mariano (2013) e Pierucci e Prandi (2000).

A análise da idade média à primeira união (SMAM) por categoria religiosa mostrou que as evangélicas, especialmente as pentecostais se unem em média mais precocemente que as católicas.

A menor idade à primeira união encontrada para as fiéis evangélicas, especialmente as pentecostais, poderia ser explicada pelo caráter minoritário da religião, que propicia que as pentecostais respeitem e obedeçam mais os preceitos religiosos porque os integrantes tendem a se vigiar e controlar mutuamente. Além disso, seu caráter de seita promove um modelo comportamental e uma moralidade sexual mais rígida que nas igrejas e denominações, o que pode gerar um maior monitoramento do namoro e comprometimento dos fiéis com os preceitos religiosos (MARIANO, 2013; TROELTSCH, 1987; FRESTON, 1993). Dessa forma, as jovens pentecostais seriam mais orientadas sobre questões de namoro segundo os ensinamentos bíblicos e também mais supervisionadas para se abster sexualmente até o casamento, o que pode reduzir o tempo de namoro como estratégia para manter a virgindade, levando-as a se unirem mais precocimente. Outra questão que pode influenciar a baixa idade à união é a alta adesão religiosa destas mulheres aos preceitos.

Entretanto, as evangélicas também apresentam as maiores proporções de divorciadas e separadas nas idades mais jovens quando comparadas às católicas. Este dado pode indicar que a união em idades mais precoces e imaturas para atenderem aos preceitos religiosos de abstinência sexual no namoro pode levar muitas evangélicas a se arrependerem da união, resultando em separações. Outra possível explicação para as maiores proporções de separações entre as evangélicas pode estar relacionada a uma conversão após a união em que a mulher não consegue a adesão do marido a religião evangélica, levando a uma interrupção da união por diferenças conjugais motivadas por diferenças nos valores. Por fim, a limitação dos dados transversais que não trazem a história marital também pode explicar a maior proporção de separações entre as evangélicas. Isso porque muitas evangélicas podem ter se separado e permanecido sozinhas, sendo contabilizadas no censo de 2010 como separadas e desquitadas (status conjugal na data do censo). Em contrapartida, muitas católicas podem ter se separado e se recasado, sendo contabilizadas como unidas em 2010, situação que pode ter subestimado a proporção de separadas entres as católicas.