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2.2 Breve histórico do catolicismo e das categorias evangélicas no

2.2.2 Evangélicos

A Reforma protestante ocorreu em 1517 quando o teólogo Martinho Lutero rompeu com a Igreja Católica com a justificativa de que ela distorcia a Palavra Bíblica e praticava abusos. Lutero contestou os dogmas da Igreja Católica como venda de indulgências, culto a imagens e o celibato. Para ele, o homem não podia alcançar a salvação por meio de ações, compra de benções, caridade e mediação (LEITE, 2008). Lutero acreditava que o cristão era livre e não dependia de nenhuma mediação, referindo-se diretamente a Deus pela fé, instrumento de sua salvação. Para ele, a salvação era individual e a vida religiosa deveria ser pautada exclusivamente pela Bíblia (MENDONÇA, 2005; CAMURÇA, 1996).

As primeiras tentativas de implantação do protestantismo no Brasil ocorreram no século XVI, quando o Brasil foi invadido por imigrantes franceses e holandeses, muitos deles protestantes. Entretanto, a invasão provocou uma forte reação por parte dos católicos brasileiros que buscavam deter e até suprimir o protestantismo, impulsionados pela Contra-Reforma6. Somente a

partir do início do século XIX o protestantismo se insere e estabelece no Brasil por meio da imigração decorrente da abertura dos portos brasileiros ao comércio inglês (1810) e do incentivo à imigração européia anos mais tarde (MATTOS, 2011; MENDONÇA; VELASQUES FILHO, 1990).

A inserção dos protestantes se deu de duas formas no Brasil, uma por meio do fluxo migratório e outra por meio da vinda de missionários que buscavam a conversão dos brasileiros (PAEGLE, 2005).

O protestantismo de imigração se insere de forma gradativa no Brasil a partir de 1810 por meio da chegada dos ingleses. Posteriormente surgem também imigrantes alemães, suecos e americanos. Estes imigrantes foram,

em muitos casos, vítimas do preconceito por serem estrangeiros e não católicos (MENDONÇA; VELASQUES FILHO, 1990; MENDONÇA, 1984).

A inserção dos protestantes no Brasil também se deu por meio da vinda de missionários que buscavam a conversão brasileira (PAEGLE, 2005). As primeiras organizações missionárias no Brasil surgiram em 1810, entretanto, o protestantismo de missão se estabelece permanentemente em 1855 com a vinda de missionários escoceses e ganha impulso a partir de 1870 com a proliferação das missões norte-americanas de metodistas, presbiterianos e batistas por meio das "sociedades bíblicas". Elas visavam à difusão da Bíblia e a organização das "escolas dominicais" para o estudo do Evangelho que eram patrocinados por funcionários do governo dos EUA no Brasil. Foi por meio das escolas e do seu processo pedagógico que conseguiram atingir uma elite nativa (DREHER, 1984; MENDONÇA; VELASQUES FILHO, 1990).

Dessa forma, o termo Protestante é utilizado para designar as igrejas que se originaram da Reforma Protestante, ou seja, os protestantes de imigração e de missão, também chamados de tradicionais (CAMURÇA, 1996). Já a denominação evangélica é usada para universalizar todas as denominações, englobando tanto as igrejas históricas quanto as pentecostais e neopentecostais (CAMURÇA, 1996), assim adotada neste estudo.

O protestantismo sofreu divisões internas, originando diversas denominações evangélicas, resultado de diferentes formas de interpretação bíblica. Parte destas cisões resultou da aceitação dos dons do Espírito Santo por pessoas de dentro do protestantismo tradicional, gerando o início do pentecostalismo (SILVA, 2009). Do ponto de vista teológico, o pentecostalismo teve sua origem no movimento de “santidade” e de perfeição cristã. Seu surgimento se deu na escola bíblica de Topeka, EUA, onde o pastor Charles Pahram defendeu a idéia de que o dom de falar em línguas era um sinal de santidade que vinha junto com o batismo do Espírito Santo. O pastor encontrou adeptos como seu seguidor o W. J. Seymour que começou a fazer reuniões na cidade. No dia 06 de abril de 1906, em uma destas reuniões, um menino de 8 anos começou a falar em línguas, seguido de outros fiéis. Dessa forma, iniciou- se formalmente o movimento pentecostal nos EUA (MENDONÇA; VELASQUES FILHO, 1990).

O fenômeno do pentecostalismo no Brasil surge posteriormente e pode ser compreendido em três momentos ou ondas de implantação das igrejas (FRESTON, 1993). A primeira onda, denominada de pentecostalismo clássico, ocorre na década de 1910 e abrange a implantação das igrejas Congregação Cristã (surgida inicialmente em São Paulo, 1910) e Assembleia de Deus (surgida em Belém, 1911). Inicialmente, os fiéis pertencentes a estas igrejas eram, na sua grande maioria, pobres, pouco escolarizados e discriminados pelos protestantes históricos e perseguidos pela igreja Católica. O pentecostalismo enfatizava o dom das línguas7, a crença na volta iminente de Cristo e na salvação pelo comportamento radical sectário e ascético (FRESTON, 1993; MARIANO, 1999).

Por volta de 1950 surge o deuteropentecostalismo na cidade de São Paulo trazido por missionários. A implantação das igrejas Evangelho Quadrangular (surgida em São Paulo em 1953), Brasil para Cristo (São Paulo, 1955), Deus é Amor (São Paulo, 1962) e Casa da Benção (Belo Horizonte, 1964), provocou a fragmentação denominacional do pentecostalismo brasileiro. As igrejas pertencentes a esse momento focavam na cura Divina e utilizavam o rádio como meio de difusão religiosa, que permanece até hoje. Com mensagens sedutoras e métodos inovadores, as igrejas pertencentes a esse movimento atraíram milhares de fiéis dos estratos mais pobre da população e passou a ter maior visibilidade (MARIANO, 1999).

Já a partir de 1970 surge a terceira onda, o neopentecostalismo, com a implantação das igrejas Nova Vida (Rio de Janeiro, 1960), Universal do Reino de Deus (Rio de Janeiro, 1977), Internacional da Graça de Deus (Rio de Janeiro, 1980), Cristo Vive (Rio de Janeiro, 1986), Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Goiás, 1976), Comunidade da Graça (São Paulo, 1979), Renascer em Cristo (São Paulo, 1986), Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo (São Paulo, 1994). Os neopentecostais participam ativamente da vida política partidária, tem função terapêutica baseada na cura Divina, na prosperidade e nos rituais de exorcismo. Estimulam a expressão emocional, utilizam meios de comunicação de massa e se estruturam empresarialmente, com adoção de

7 O dom de falar em línguas estranhas é uma habilidade concedida pelo Espírito Santo para louvar a Deus em línguas

técnicas de marketing (MARIANO, 1999; ORO, 1992 apud MARIANO, 1999; BITTENCOURT, 1991 apud MARIANO, 1999).

Além das três ondas mencionadas acima, algumas igrejas evangélicas de missão passaram por divisões internas a partir de 1962, momento em que surgem as igrejas renovadas. Elas procederam das denominações históricas ou tradicionais, conservando traços administrativos e teológicos das igrejas mães. Entretanto, essas denominações se formaram porque muitos pastores e líderes abraçaram a renovação espiritual e desligaram-se de suas igrejas de origem, formando às igrejas renovadas. Elas basearam-se na doutrina do batismo com o Espírito Santo como sendo uma bênção para o crente e na aceitação dos dons espirituais (SOUZA, 2013). Dessa forma, elas se tornaram semelhantes às igrejas pentecostais como forma de conter a perda de seus fiéis e, ao mesmo tempo, competir de forma mais eficiente no mercado religioso (CHENUST, 2003).