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Perfil das categorias católica e evangélica e diferenciação entre os

2.3 Panorama das religiões no Brasil

2.3.2 Perfil das categorias católica e evangélica e diferenciação entre os

Entre os católicos, a grande maioria é composta por católicos nominais e tradicionais. Os nominais são aqueles que geralmente procuram a igreja para a realização de sacramentos e que evetualmente assistem as missas, ou seja, frequentam esporadicamente a igreja e não participam de outras atividades religiosas. Para os nominais, que são uma parcela significativa na igreja católica, o catolicismo é meramente uma forma de identidade social. A grande maioria desta categoria se declara católica só por ter sido batizada e por pertencerem a uma família tradicionalmente católica, mas, muitas vezes, não se sentem comprometidos e nem participam da comunidade religiosa. Já os católicos tradicionais são aqueles que frequentam regularmente os serviços religosos e que algumas vezes estão envolvidos em outras atividades religiosas, mas que não estão envolvidos com movimentos de renovação carismática ou grupos de reavivamento católico (MACHADO, 1996; PIERUCCI; PRANDI, 2000).

Existe também outro tipo de fiel que vivencia o catolicismo de acordo com uma reorientação pessoal, uma forma nova de internalização da religião. Eles geralmente estão envolvidos em movimentos de reavivamento religioso como Renovação Carismática Católica (RCC). Este tipo de fiel possui um maior envolvimento com a religião e participa ativamente de missas (MACHADO, 1996; PIERUCCI; PRANDI, 2000).

Os adeptos a RCC possuem um maior comprometimento com a fé, dando maior ênfase em relação à família e hábitos pessoais, mantendo preceitos mais conservadores e restritivos em relação à sexualidade. Eles dão ênfase aos dons do Espírito Santo, ao dom da cura divina, a devoção à Virgem Maria, ao apego a eucaristia e fidelidade ao Papa (PIERUCCI; PRANDI, 2000). Dessa forma, acredita-se que os carismáticos possuam um comportamento moral mais rígido e restritivo e um maior comprometimento com a fé em relação aos católicos nominais e tradicionais. Apesar do comportamento diferenciado dos carismáticos, neste trabalho eles serão incluídos dentro da categoria católica para as análises quantitativas. A opção por não separar os carismáticos dos outros tipos de católicos é justificada pelo fato desta categoria perfazer um total de apenas 1,20% do total de católicos em 2010. Existem indícios de que a categoria da RCC esteja subestimada no censo de 2010, pois a pesquisa de Pierucci e Prandi (1996) que realizou um levantamento quantitativo sobre a Renovação Carismática no Brasil em 1990 identificou um total de 3,80%. Considerando seu processo de expansão, é difícil aceitar que a categoria não esteja subestimada em 2010. Esta subestimação dos carismáticos pode ser explicada pela limitação do censo em relação à pergunta sobre religião em 2010 que pode ter levado muitos recenseados a responderem apenas “católicos” a pergunta “qual a sua religião ou culto?”, sem especificar se pertencem a Renovação Carismática Católica.

Os protestantes tradicionais são representados pelas igrejas reformadas da Europa no século XVI. Suas tradições tendem a ser transmitidas de uma geração para a seguinte. Suas denominações principais são: Luterana, Batista, Presbiteriana, Metodista, Episcopal e Congregacional. Eles não enfatizam os dons do “Espírito Santo”, rejeitam a adoração de imagens, não acreditam em exorcismo e dão forte ênfase no ensino teológico e no trabalho social. Além disso, não se preocupam tanto com usos e costumes como vestimentas e

adornos e apresentam em média, níveis de renda e escolaridade superiores à média nacional (MARTINEZ, 2012; SILVA, 2009; PIERUCCI, PRANDI, 2000; MARIANO, 2013).

Entre os pentecostais, as principais denominações no Brasil são: Congregação Cristã do Brasil, Assembleia de Deus, Deus é Amor, Igreja Cristã Maranata, Brasil para Cristo e Igreja do Evangelho Quadrangular. Os pentecostais no Brasil são conhecidos pela presença frequente aos cultos e forte compromisso com a ideologia tradicional de família. Segundo Machado (2005), a doutrina pentecostal incentiva a autonomia feminina e estimula um comportamento nos homens de valorização e respeito às mulheres. Para eles, tanto os homens quanto as mulheres devem ser dóceis, tolerantes, carinhosos e cuidadosos. Além disso, os fiéis são incentivados a levarem uma vida ascética regida por uma moral sexual rígida (MARTINEZ, 2012; SILVA, 2009; PIERUCCI, PRANDI, 2000; MARIANO, 2013).

As formas pentecostais de adoração são centradas no recurso emocional, especialmente sobre o dom da cura (experiência com o Espírito Santo) e de falar em línguas. Eles são guiados por uma interpretação literal da Bíblia e julgamentos morais sobre as questões sociais (MARIANO, 2004; MACHADO, 2005; MARIANO, 1999).

O pentecostalismo sempre atraiu pessoas de baixa renda e instrução (MARIANO, 1999; MARIANO, 2004; MARIANO, 2013; NERI, 2011). De acordo com dados do censo demográfico brasileiro, em 2000, a média de rendimento em salários mínimos dos pentecostais era de 1,57 contra 2,70 dos protestantes tradicionais e 2,4 dos católicos. Em 2010, o rendimento dos pentecostais passou por um pequeno aumento, em média recebiam 1,94 salários mínimos (MARIANO, 2013).

Em relação à escolaridade, os pentecostais apresentavam em 2010 uma alta porcentagem de pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto, 62,60%, maior que a média nacional de 57,70%. A proporção de pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto entre dos pentecostais também era superior a dos católicos e dos protestantes tradiconais, que apresentavam em 2010 58,60% e 50,40% respectivamente.

Dessa forma, percebe-se que o pentecostalismo continua concentrado nos estratos econômicos menos favorecidos (MARIANO, 2013). Entretanto,

tem ocorrido uma mudança no perfil dos fiéis pentecostais. Seus adeptos não se restringem mais apenas ao estrato pobre da população. Tem havido uma conversão de pessoas da classe média e alta, incluindo empresários, profissionais liberais, artistas, políticos. Isto porque o pentecostalismo vem conquistando visibilidade social em toda a sociedade (MARIANO, 2004; SILVA, 2009).

Os pentecostais são a categoria evangélica mais conservadora e rígida e também as que mais valorizam os “usos e costumes”9 de santidade que orientam os fiéis na maneira de se vestir, na utilização de adornos e maquiagem e também no modelo de comportamento a ser seguido (MARIANO, 2004; MACHADO, 2005; MARIANO, 1999). As igrejas pentecostais mais conservadoras são a Deus é Amor, a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã do Brasil. Porém, a rigidez dessas igrejas está subordinada ao perfil dos líderes locais (MARIANO, 2004; MACHADO, 2005; MARIANO, 1999; MOURA, 2013).

As igrejas chamadas neopentecostais utilizam como recurso de pregação a mídia televisiva, enfatizando o exorcismo e pregando a teologia da Prosperidade. Para esse segmento religioso, os fiéis devem “tomar posse das bençãos” a que tem direito e não implorar por elas. A prosperidade para eles é um sinal de bênção divina e, em decorrência da fé, pode-se conseguir a cura de todas as enfermidades. Eles consideram que os demônios estão em toda parte e devem ser expulsos, através de rituais. Eles crêem em rituais especiais para realizar coisas especiais: quebra de maldições, determinar pela fé, desafios para prosperidade financeira, oração em montanhas de Israel, amuletos para trazer sorte, etc. O neopentecostalismo admite todos os preceitos dos pentecostais, porém diferenciam-se destes pelos costumes menos rígidos em relação ao uso de roupas, costumes, lazer e admite um comportamento mais liberal (ver quadro 1 abaixo) (MARIANO, 2004; GABATZ, 2012; GWERCMAN, 2004).

Os neopentecostais são formados por uma grande parcela de indivíduos pertencentes a classes menos favorecidas da sociedade, entretanto observa-se

9 “Usos e costumes” é uma expressão usada pelos pentecostais para se referir ao modelo de comportamento e

também um crescimento do número de conversões de indivíduos de classe média (MARIANO, 1999).

Quadro 1: Diferenciação entre a categoria dos evangélicos

Protestantes históricos Pentecostais Neopentecostais

- ênfase teológica na idéia de que a salvação é dada pela graça de Deus, onde o cristão vive uma vida nova;

- ênfase no batismo e no ensino teológico;

- não possuem orientações sobre “usos e costumes”;

- baixo investimento em mídia de massa;

- ênfase teológica na idéia de que a salvação é dada pela fé e pela manifestação dos dons do Espírito Santo; - ênfase no dom da cura;

- aderem a orientações obre “usos e costumes”;

- sectário e ascético;

- investe fortemente em mídia de massa;

- ênfase na teologia da Prosperidade, sendo que a prosperidade é sinal de fé, por isso o incentivo ao dízimo e doações;

- ênfase no dom do exorcismo; - não possuem orientações sobre “usos e costumes”; -costumes menos rígidos compormento mais liberal; - investe fortemente em mídia de massa e recursos de marketing;

Fonte: Elaboração própria a partir dos trabalhos de Freston (1993); Mariano (1999) e Pereira (2011).

Para que os cristãos tenham direito as bênçãos, eles devem cumprir fielmente o pagamento do dízimo, o que os habilita a desfrutar das promessas bíblicas. As ofertas financeiras também são importantes, elas provam o tamanho da fé do fiel. As principais igrejas neopentecostais no Brasil são: Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Nova Vida, Bíblica da Paz, Cristo Salva, Cristo Vive, Verbo da Vida, Nacional do Senhor Jesus Cristo (PIERUCCI; PRANDI, 2000; MARTINEZ, 2012; CHENUST, 1997; SILVA, 2009; MARIANO, 1999).

Assim como no catolicismo, entre os evangélicos existem também os praticantes e os nominais. Os nominais ou desigrejados (incluídos na categoria evangélica não determinada no censo de 2010) são crentes que estão desvinculados de igrejas, mas que mantém uma identidade e parte das crenças e práticas religiosas, entretanto o fazem sem vínculo institucional. Esta categoria no período compreendido entre 2000 e 2010 apresentou uma taxa de

crescimento muito superior as demais categorias evangélicas, 23,27% ao ano. Este é um indício de que as pessoas estão valorizando mais a espiritualidade do que a religião em si, mas, também refletem a limitação da pergunta do censo de 2010 sobre religião10 (MARIANO, 2013). Apesar da importância desta categoria dentro da religião evangélica, neste estudo ela será incluída nas análises, mas seus resultados não serão interpretados devido a complexidade de sua estrutura.

Existem também os “congregados” que são adeptos conhecidos nas igrejas evangélicas por frequentarem aos cultos de forma mais ou menos assídua, mas que não obedecem integralmente a todos os preceitos institucionais e por isso não podem ser batizados e participarem do ritual da Ceia do Senhor. As explicações para o surgimento dos evangélicos nominais e congregados podem estar relacionadas com o aumento do individualismo, da autonomia pessoal em relação à imposição institucional de moralidades tradicionais e costumes sectários e a percepção de custos elevados da vinculação institucional devido aos compromissos religiosos. Além da diversificação religiosa que pode contribuir para fragilizar os laços e compromissos religiosos ao adotar opções religiosas mais individualistas e subjetivas. Os evangélicos congregados serão contemplados neste estudo na parte qualitativa, pois mulheres em união consensual nas igrejas evangélicas pertencem a esta categoria na igreja.

Acredita-se que tal desvinculação institucional e autonomia em relação ao cumprimento dos preceitos religiosos possa ter acontecido entre os indivíduos que passaram por um empoderamento social e econômico, o que poderia ter diminuído neles o apelo evangelístico dessa religião e sua influência (MARIANO, 2013). Dessa forma, entende-se que o aumento da escolaridade e da renda podem, muitas vezes, levar o indivíduo a relativizar as práticas e crenças religiosas, causando uma diminuição no poder de controle das instituições sobre os fiéis empoderados.

Outra questão é a estratificação dos fiéis em diferentes categorias de compromisso religioso e ou grau de religiosidade (MARIANO, 2013). Isso porque o grau de religiosidade é fundamental para avaliar o maior ou menor compromisso religioso, sendo, muitas vezes, mais importante que a religião em

si (LONGO et. al, 2009; ADDAI, 2000). Porém, apesar da importância dessa variável nos estudos sobre religião, neste estudo não será possível analisar o grau de religiosidade nas análises quantitativas que utilizam os dados do censo, já que o banco de dados não traz a informação de frequência religiosa ou outras medidas de religiosidade.

A caraterização dos segmentos dentro do grupo evangélico faz-se fundamental por permitir a identificação de suas diferenças, que podem influenciar no comportamento de formação familiar dos fiéis, gerando padrões diferenciados dentro da própria categoria.

Apesar dos evangélicos tradicionais, dos pentecostais e dos neopentecostais possuírem um grande comprometimento com a fé e com a bíblia e todos serem contra o consumo de álcool, tabaco e drogas e ao sexo pré-conjugal e extraconjugal, acredita-se que os fiéis praticantes dentro do grupo pentecostal apresentem um comportamento moral mais rígido e restritivo (MARIANO, 2004; MACHADO, 2005; MARIANO, 1999). Isso porque esta categoria ainda mantém algumas restrições na forma de vestir e no comportamento dos fiéis, enfatizando valores associados à virgindade e restritivos à escolha do cônjuge. Eles levam uma vida regida por uma moral sexual rígida. Por isso, acredita-se que essa categoria religiosa apresente um comportamento diferenciado em relação ao resto do grupo que é menos conservador.

2.3.3 Chave conceitual explicativa para o perfil diferenciado dos