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2. Caracterização das condições de estágio

2.5. A estagiária

A estagiária apresenta-se no LSC como treinadora responsável pelo trabalho desenvolvido com o escalão de juvenis e como treinadora adjunta do escalão de juniores e seniores. O objetivo da estagiária no clube prende-se: i) com a aquisição de novos conhecimentos e experiências de treino num clube com nadadores de dimensão competitiva de topo nacional e internacional; e ii) com a necessidade de atualização de conhecimentos científicos do treino nestes escalões, mas principalmente, com a necessidade de mudança de hábitos antigos procurando maximizar o rendimento desportivo e os resultados dos nadadores.

A referida época desportiva corresponde ao primeiro ano da estagiária como treinadora no LSC, embora ao longo dos anos já tenha passado por alguns clubes (Serviços Sociais e Culturais dos Trabalhadores do Município de Ovar, Futebol Clube do Porto, Clube Paineiras do Morumbi e OvarSincro) e adquirido experiência prática do treino e da difícil tarefa de ser treinador. A especialidade da estagiária é a natação sincronizada, apresentando já um percurso como nadadora desta modalidade por um período de 15 anos, assim como treinadora durante 3 épocas desportivas. No entanto, desde o período do seu ingresso na FADEUP que tem estudado o treino e praticado a função de treinadora de NPD, sentindo-se bastante à vontade nesta área. O início da prática das funções da estagiária no clube foi rápido e progressivo, passando por um período de conhecimento e adaptação à equipa técnica, bem como aos nadadores.

Ao longo da presente época desportiva, a estagiária foi estabelecendo uma ótima relação interpessoal com todos os nadadores, sendo considerada um ponto de apoio para muitos. Enquanto treinadora, procurava saber como decorria a vida académica dos seus nadadores, quais as suas dificuldades escolares e nos treinos, quais os seus problemas extra piscina e para além da

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escola, quais as suas preferências relativamente à realização de exercícios e em quais é que eles se sentiam melhor consoante um determinado objetivo. Desta forma, a estagiária procurou manter os nadadores próximos de si conhecendo-os enquanto pessoas e enquanto nadadores, mantendo uma relação de amizade e respeito mútuo. Assim, os níveis de motivação e satisfação no treino também aumentaram ao longo da época, visto os nadadores sentirem que não representavam simplesmente um corpo cujo único objetivo é o rendimento.

Para a construção do processo de treino foi tida como base a literatura e a troca de informação/conhecimento entre a estagiária, o orientador, Prof. Dr. Ricardo Fernandes, e o treinador da equipa de Absolutos e supervisor de estágio, Domingos Pinto. Não foram reproduzidos modelos preexistentes, procurando criar um estilo pessoal de treino adaptado às condições existentes e às características dos nadadores com quem trabalhamos, constituindo-se num trabalho com base científica. Para auxiliar na preparação do desempenho da função de treinadora principal, a estagiária procurou suporte teórico na literatura acerca do que é ser treinador e qual o percurso a seguir para se alcançar o sucesso profissional.

O treinador é um dos fatores associados ao rendimento desportivo. É a sua atitude, os seus conhecimentos e a sua conduta de ética que irão influenciar em grande escala os resultados desportivos dos seus nadadores. Segundo Raposo (2006), a atitude do treinador é o elemento de ligação entre o jovem e a prática desportiva, e determina a direção e o modo como o jovem irá encarar a sua participação ao longo das atividades desportivas. Ao trabalhar com jovens e ao orientar a sua prática, o treinador assume a responsabilidade de contribuir para o seu desenvolvimento e não para, através deles, alcançar objetivos de promoções pessoais (Lima, 1990). Ainda segundo Raposo (2006) treinar jovens obriga a saber-se o que se passa com um corpo em crescimento, que a partir de determinada idade pode limitar o progresso desportivo, com maior evidência nas raparigas, ou encontrar um caminho aberto para as grandes alegrias desportivas.

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Para que a sua atuação tenha sucesso, é da responsabilidade do treinador: i) contribuir para o desenvolvimento global dos nadadores como pessoas; ii) proporcionar aos nadadores exigências positivas contribuindo para o desenvolvimento do gosto e do hábito de prática regular da atividade desportiva; iii) criar oportunidade para o desenvolvimento de capacidades e aprendizagens de habilidades que valorizem os praticantes (Bloom et al., 1998).

É importante concentrar grande parte do treino no desenvolvimento equilibrado das diferentes capacidades motoras, da técnica, da tática, bem como das capacidades psicológicas (Figura 1). Importa saber alternar treino e repouso, saber introduzir e desenvolver o treino técnico e o tático, explicando que fadiga e recuperação são fatores reais e necessários na preparação do nadador e que é da responsabilidade do nadador procurar recuperar do melhor modo, fora dos locais de treino, de forma a apresentar-se nas melhores condições para cumprir com sucesso os próximos treinos (Raposo, 2006). Ainda, enquanto líder, o treinador deve ser um modelo a seguir, enquanto treinador, a sua função visa o desenvolvimento dos praticantes. Este deve ser capaz de definir objetivos de preparação (físicos, técnicos, táticos e psicológicos), de competição (de rendimento/classificação), profissionais (valores, estilos de vida) e organizacionais (em relação ao clube, à equipa, à equipa técnica) (Abraham et al., 2006). Nadador Qualidade do treino Personalidade e conhecimentos Competência Psicológica Tática Técnica Física Preparação Talento Treinador

Figura 1 - Organigrama referente aos fatores influenciadores da qualidade do treino (adaptado de Pyke, 1991)

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Em relação às competições, a forma como o treinador as encara determina o modo como os próprios nadadores a enfrentam expressando-se no rendimento desportivo dos mesmos. Posto isto, é importante que sejam definidos objetivos de competição para que os jovens percebam que a vitória não é tudo, mas é determinante para o seu próprio progresso ao aprenderem que o mais importante é trabalharem honestamente para consegui-la (Martens, 1990). Na área específica da NPD, para que o treinador consiga cumprir este conjunto de tarefas, deve possuir um profundo conhecimento da natação, dos nadadores que orienta, dos fatores que afetam o rendimento e daqueles que poderão afetar a sua eficiência (Raposo, 2006).

Navarro et al. (2003) consideram que o treinador que possui adequadas qualidades humanas, tais como gostar de estar com jovens, reconhecer uma pessoa em cada nadador, gostar de ajudar, dar confiança, saber o que está a fazer e se expressar claramente, consegue obter melhores resultados. Daqui retiramos dois aspetos que podem ser determinantes: a personalidade e a capacidade de comunicação do treinador. Ainda Navarro et al. (2003), referem a existência de três tipos de estilo de treinador: i) o treinador autoritário (toma todas as decisões e controla todas as situações sem dar espaço a iniciativas individuais); ii) o treinador manipulável (admite todas as sugestões, é inseguro na tomada de decisão); iii) o treinador cooperante (partilha com os nadadores algumas decisões e discute os objetivos). O treinador cooperante pode favorecer a criação de um ambiente positivo que privilegia a aprendizagem e a aquisição de confiança por partes dos nadadores.

Foi neste sentido que tentamos adotar este estilo, mas devido ao nosso grupo de nadadores ser muito jovem, numa fase inicial, por vezes recorremos ao estilo de treinador autoritário, com vista à obtenção de um ambiente de treino positivo e disciplinado. Tal como a personalidade do treinador é importante, o modo como as atividades são apresentadas e a comunicação é estabelecida é determinante para o sucesso da aprendizagem. Assim, a apresentação da informação deve ser precisa, clara, ter qualidade e ser coadjuvada com um modelo visual ou demonstração.

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2.6. A equipa de nadadores juvenis e seus objetivos desportivos