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Exercícios do treino de partidas, viragens, percurso subaquático, chegadas

4. Realização do processo de treino

4.3. Exercícios do treino

4.3.3. Exercícios do treino de partidas, viragens, percurso subaquático, chegadas

Atualmente, o desempenho em NPD é avaliado pela soma do tempo despendido nas fases de saída/partida, viragem e nado propriamente dito. A contribuição de cada fase durante a competição depende da técnica de nado e da distância do evento (de Jesus & de Jesus, 2011). As partidas, viragens, o

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percurso subaquático, as chegadas e as rendições podem fazer a diferença no desempenho competitivo dos nadadores (Silva et al., 2006). Em quase todos os exercícios de treino, estas componentes são exercitadas, no entanto, a qualidade desta prática constitui grande importância (Sweetenham & Atkinson, 2003). Segundo estes autores, cada série de treino deve começar com uma saída da parede de intensidade semelhante à competição, sendo que o contrário, ou seja, a realização da saída lenta, só reforça a técnica medíocre. O mesmo acontece para a execução das viragens, em que estes autores referem que cada viragem deve ser executada sempre de forma correta independentemente da velocidade de nado de cada série de treino. Similarmente, os nadadores devem realizar cada chegada corretamente ao longo de toda a sessão de treino.

Já o treino das rendições é outra habilidade técnica que, por vezes, é negligenciado pelos treinadores. Sweetenham & Atkinson (2003) defendem que o treino das rendições deve ser planeado pelo menos todas as semanas para que os nadadores tenham oportunidade de praticar e melhorar esta habilidade. Ao longo de toda a época desportiva procurámos ser rigorosos com este trabalho e verificámos uma grande evolução em todos os nadadores. Apenas o treino das rendições não foi enquadrado de forma sistemática ao longo de todos os períodos dos três macrociclos, mas sim apenas durante os períodos

competitivos/taper’s, uma vez que consideramos ser mais importante

desenvolver estas habilidades em nadadores mais velhos, para não corrermos o risco nestas idades de incitar uma falsa rendição.

Inicialmente, a grande maioria dos nadadores realizava a partida grab start para as técnicas de crol, bruços e mariposa, e os restantes realizavam a partida track start. Constatado este facto, sentimos necessidade de ensinar as duas partidas mais utilizadas a todos os nadadores, de modo a que pudessem optar pela sua realização, tirando vantagem de uma saída com menor tempo de permanência no bloco. A grande diferença entre estes dois tipos de partidas está na posição preparatória de saída, na track start os nadadores colocam apenas um pé na parte da frente do bloco e outro na parte de trás, na grab start os dois pés são colocados no bordo dianteiro do bloco. A superioridade de uma

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partida sobre a outra não é cientificamente provada, o que se sabe é que a

track start permite um menor tempo de permanência no bloco e, pelo menor

angulo de entrada na água, constitui uma vantagem em piscinas pouco profundas, em contrapartida, a grab start possibilita ao nadador uma maior velocidade de saída do bloco (Holthe & McLean, 2001; Issurin & Verbitsky, 2003; Sweetenham & Atkinson, 2003; Takeda & Namura, 2006).

Aparentemente, de uma forma intuitiva os nadadores têm optado pela track

start. O importante é dar a conhecer e ensinar esta técnica aos nadadores

jovens para que possam escolher racionalmente o que mais se adequa a eles (Breed & Young, 2003; Takeda & Namura, 2006). A única dificuldade que encontramos na nossa piscina para a realização desta partida é o facto do bloco ser de aço inox, no qual as arestas onde os nadadores faziam os agarre das mãos estavam pouco limadas, a sua superfície ser revestida por uma tinta com areia e não ser inclinado. Assim, sempre que os nadadores subiam para os blocos quando estes estavam molhados, algum deles escorregava ou acabava com os dedos feridos. Para colmatar este problema, sempre que treinávamos nas Piscinas da Póvoa de Varzim, alterávamos o treino e incluíamos os exercícios de partidas, para aproveitar o bloco disponível.

A partida de costas foi sempre realizada dentro de água segundo três variantes de colocação dos pés: i) paralelos e completamente submersos, ii) paralelos e totalmente à superfície da água (de Jesus et al., 2010) e iii) paralelos e semi- submersos. Foi visível nos nossos nadadores a grande dificuldade em arquear as costas durante a fase da partida em que os pés deixam a parede e os MS se estendem para trás e ao lado da cabeça na partida de costas, por isso, persistimos no treino desta partida ao longo de toda a época desportiva. Encontrámos ainda dificuldades no treino desta partida, uma vez que a parede lateral da Piscina da Srª da Hora é bastante lisa e escorregadia. Ainda assim, sempre que possível realizávamos os exercícios de partida na Piscina da Póvoa de Varzim. Os exercícios foram divididos em dois tipos: i) salto e deslize (aproximadamente 10 a 15m) e; ii) salto, deslize seguido de um sprint de 25m de costas.

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A partida e a saída (primeiros 15m da competição) apresentam uma grande contribuição para o sucesso do rendimento competitivo, principalmente nas provas de curta duração relativamente a provas de distâncias mais longas (Cossor et al. 2010). Investigadores desta área têm verificado que o incremento no desempenho da técnica de saída em nadadores de alto nível pode reduzir o tempo total de prova em pelo menos 0.10 s (Blanksby et al., 2002; Maglischo, 2003). Este aumento pode representar a diferença temporal entre o primeiro e o terceiro classificado numa prova de curta duração, como os 50 e 100 m

(Breed & McElroy, 2000; Breed & Young, 2003). De acordo com Vilas-Boas &

Fernandes (2003), a comunidade técnica parece reconhecer a relevância da saída/partida, considerando-a como uma parte do programa de treino. No entanto, normalmente é dada mais ênfase ao volume, à intensidade e à técnica de nado, o que restringe o aperfeiçoamento das saídas/partidas ao longo de todo o período de preparação, e/ou como uma parte integrante dos treinos de curta duração e alta intensidade (Maglischo, 2003; Vilas-Boas & Fernandes, 2003). Já em 1985 Guimarães & Hay demonstraram que 95% da variância no tempo de partida e de saída (primeiros 15m do nado) estavam estritamente relacionados com o percurso subaquático. Portanto, é necessário que os nadadores maximizem a velocidade da saída e que a mantenham pelo maior tempo possível (Burkett et al., 2010).

Posto isto, demos elevada importância ao treino do percurso subaquático durante a realização de exercícios de partidas, viragens e chegadas nas técnicas de costas, crol e mariposa, uma vez que são os estilos mais utilizados nos percursos subaquáticos em competição. De acordo com Sweetenham & Atkinson (2003), a realização deste percurso no nado tem como objetivo proporcionar vantagem ao nadador pelo aumento da velocidade após o contacto com a parede, diminuir a distância real de nado, reduzindo o percurso do nado propriamente dito, tornando-se mais eficiente, uma vez que o arrasto é menor em maior profundidade do que à superfície.

O treino do percurso subaquático foi realizado de forma sistemática ao longo de toda a época desportiva. Este deslocamento é caracterizado por movimentos subaquáticos ondulatórios verticais do corpo, que simulam um

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movimento de onda progressivo, onde o nadador deverá dissociar a ação do tronco e MS relativamente à ação da anca e MI. Esta progressão inicia-se na anca e vai até o tornozelo (Gavilán et al., 2006). Os movimentos da parte superior do tronco não fazem parte do percurso subaquático, sendo o tronco e os MS utilizados para estabilizar a posição horizontal e hidrodinâmica. Com este treino, pretendíamos aumentar a velocidade vertical do movimento ondulatório da anca para os tornozelos, uma vez que parece estar relacionada com maximização da velocidade horizontal do centro de massa e deste movimento (Gavilán et al., 2006). Um dos objetivos principais deste treino sistematizado prendeu-se com a automatização deste movimento pelos nossos nadadores, correspondendo a grandes evoluções do desempenho desportivo. Já no final da época, todos os nadadores realizavam de 2 a 4 ações dos MI subaquáticas após a viragem, saindo entre os 5 e os 10m e 4 a 6 ações dos MI na partida nas técnicas de crol, costas e mariposa, saindo entre os 10 e os 15m.

Na realização dos exercícios, normalmente, exigíamos a saída da parede entre os 5 e os 10m, conforme o objetivo, mas em situação de prova e/ou séries principais, procurámos encontrar para cada nadador o número ótimo de ações dos MI que não diminuísse o seu rendimento. Os exercícios do percurso subaquático resumiram-se na realização da saída subaquática partindo do impulso da parede sem movimento prévio ou após viragem e a distância de nado percorrida variava dos 10 aos 25m.

SegundoSweetenham & Atkinson (2003), as viragens podem fazer a diferença

entre um bom e um mau nadador. Os nadadores, por vezes, aprendem a executar as viragens de forma correta, no entanto, tendem a ganhar maus hábitos de execução. Para melhorar a efetividade das viragens, o treinador deve insistir na sua correta realização ao longo de todo o treino, principalmente durante as séries de treino de grande intensidade, na qual os nadadores se apresentam num estado de grande stress e fadiga. Caso isto aconteça durante o treino, os nadadores que cumprirem estas demandas, conseguem executar viragens corretas e fortes em condições competitivas.

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Durante o treino, muitas viragens foram realizadas e, frequentemente em “carrossel”, onde o nadador se deslocava do lado direito da pista em aproximação a parede, executava o rolamento no meio da pista e realizava a saída e reinício do nado em direção ao lado oposto. Ao longo dos macrociclos, fomos tentando eliminar este mau hábito induzido pelas condições de treino nos anos anteriores (muitos nadadores por pista), principalmente nas séries principais e nos exercícios específicos das viragens, no entanto, em algumas provas vimos os nossos nadadores, principalmente os costistas, a realizarem a viragem em carrossel. Os exercícios de viragens foram divididos em três tipos: i) aproximação em aceleração, viragem e nado subaquático máximo até aos 15m; ii) aproximação em aceleração, viragem, nado subaquático e reinício do nado e; iii) saída em velocidade máxima da parede (5m), viragem sem parede, aproximação à parede em máxima velocidade, viragem na parede seguida de saída subaquática máxima (até aos 15m) com reinício de nado.

Acerca do treino de chegadas, Sweetenham & Atkinson (2003) afirmam que todas as chegadas à parede durante o treino devem corresponder às chegadas realizadas em competição, independentemente da intensidade do treino. Quanto menor for a intensidade do exercício, maior a aplicação de habilidade e controle do corpo na chegada. Esta é considerada pelos autores uma habilidade que os nadadores devem dominar, sabendo que, nem sempre o nadador que lidera toda a competição durante o nado é aquele que ganha caso execute uma chegada fraca. Da mesma forma que o treino de viragens, o treino de chegadas deve ser desenvolvido em situações de stress e fadiga, durante e após as séries de alta intensidade do treino.

Corroborando a ideia anterior, Maglischo (2003) refere que, para além das provas perdidas na chegada, outras também foram perdidas, porque um número extra de ações dos MS foi realizado antes do nadador chegar à parede. Assim, as técnicas de chegada devem ser treinadas para que os nadadores possam efetivamente acelerar ao terminar a prova com o menor deslize possível e sem realizar nenhuma ação dos MS adicional. De um modo geral, os exercícios por nós elaborados pretendiam que os nadadores realizassem as últimas ações dos MS antes de chegar à parede em aceleração

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de forma mais eficiente, tocassem a parede com as pontas dos dedos e com os MS em extensão, acelerassem a pernada na aproximação e que, no momento do contacto, todo o corpo do nadador estivesse em extensão máxima para a frente para alcançar o mais rapidamente possível a parede. Nestes exercícios os nadadores partiam em aceleração para a parede e atingiam a velocidade máxima aproximadamente 5 a 10m antes, tentando repetidamente chegar o mais rápido e corretamente possível.

Nas estafetas, as regras permitem ao segundo, terceiro e quarto nadador iniciar a sua partida antes do companheiro de equipa ter terminado o seu percurso. No entanto, o seu pé deve permanecer em contacto com o bloco até que o seu colega toque na parede. Uma boa rendição pode ser um fator decisivo em provas de alto rendimento e por isso deve ser frequentemente treinada (Sweetenham & Atkinson, 2003). No entanto, como já referimos anteriormente, uma vez que se tratam de nadadores jovens, apenas incidimos no treino de rendições durante o período competitivo/taper. As nossas principais preocupações prenderam-se com o facto de os nadadores partirem nas rendições em posição de grab start com as duas mãos presas no bloco e demorarem muito tempo para sair, daí que insistimos na partida tradicional, com os MS em movimento circular para trás e para a frente, aproveitando o impulso adicional. Esta partida consegue proporcionar maior antecipação do salto, maior velocidade no ar e na entrada dentro de água. O exercício de rendições consistiu na aproximação do nadador à parede na máxima velocidade de nado para o colega seguinte partir corretamente, antecipando a sua chegada, com a ordem das estafetas previamente definidas. No Quadro 13, estão apresentados de forma resumida alguns exemplos do treino complementar de partidas, viragens, percurso subaquático, chegadas e rendições aplicados no nosso grupo de treino.

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Quadro 13 – Exemplo de exercícios do treino de partidas, viragens, percurso subaquático, chegadas e rendições

Tipo de treino Exercícios

Partidas - 4 x 25 Esp (15 !!! c salto + 10 calma), cd. 1’30 - 4 x 25 !!! Esp c salto, cd. 2’00

Viragens

- 4 x 15 !!! Viragens

- 4 x 60 Esp (5 !!! + viragem + 5 !!! p/ a parede + viragem + 5!!! Sub + 40 calma + 5 !!! chegada à parede), cd. 1’30

Percurso subaquático - 8 x 25 Sub pern Cr/ Ct/ Mr, cd. 30’’

- 400 à escolha com Sub máximo após cd viragem

Chegadas - 8 x 75 Cr (50 drill + 25 acel máx na chegada), cd. 1’20

- 4 x 50 Esp (15 !!! na saída + 20 calma + 15 !!! chegada), cd. 1’15 Rendições - 4 x 15 !!! Rendições estafetas

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5. Construção, aplicação e análise das séries específicas para