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4. Realização do processo de treino

4.2. Caraterização das unidades de treino

Ao longo de toda a época desportiva foram planeadas e construídas 304 unidades de treino, tendo sido uma tarefa de muita preparação e responsabilidade. Tentámos organizar os exercícios de treino de forma a fornecer aos nadadores os meios necessários para atingir o objetivo visado em cada sessão. Olbrecht (2000) e Sweetenham & Atkinson (2003) indicam que cada uma das unidades de treino abrange três partes: i) parte preparatória (aquecimento); ii) parte principal (série fundamental, referindo-se aos objetivos do treino); iii) parte final (recuperação e trabalho adicional). Estas foram estruturadas de forma a que cada uma das suas partes fluísse para a próxima e para que cada unidade de treino desse seguimento à unidade de treino seguinte. Para planear uma sessão de treino tivemos em conta as informações do planeamento do microciclo descritas no macrociclo, tais como o objetivo, o volume, a intensidade e a duração da sessão.

De acordo com Olbrecht (2000), a parte preparatória do treino tem como objetivo: i) o relaxamento após um dia de stress (da escola e do dia-a-dia); ii) a preparação fisiológica (por exemplo, ativação cardiovascular); iii) a preparação muscular (por exemplo, induzir uma tensão para o trabalho seguinte); iv) e por fim, direcionar a concentração para a parte principal. Este momento do treino foi, essencialmente, constituído por exercícios aeróbios ligeiros no qual, normalmente, iniciávamos a unidade de treino com exercícios variados na técnica de crol ou técnica à escolha, estilos, ação dos MS e ação dos membros inferiores (MI) na técnica de crol ou de especialidade. Ainda na parte preparatória, de acordo com o objetivo da sessão, recorríamos a exercícios progressivos do aumento da frequência gestual e frequência cardíaca, através da recorrência de séries com mudanças de velocidade e aumentos progressivos da mesma. Os exercícios a que recorremos nesta parte do treino,

tal como sugerem Navarro et al. (2003), não exigiam elevado VO2 ou elevada

[La-].

Nesta fase do treino, a frequência cardíaca do nadador situava-se entre os 22 e os 24 batimentos ao longo de 10s, correspondendo a um trabalho de

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intensidade ligeira. De forma a organizar o grupo de nadadores para a série principal da sessão de treino, normalmente recorríamos ao treino técnico como meio de retorno à calma, a séries ligeiras de recuperação ativa ou à recuperação passiva. De acordo com Navarro & Rivas (2001), as proporções das partes gerais e específicas do aquecimento, assim como a intensidade e a duração dos exercícios, dependem dos tipos de sessões de treino relacionados com as séries. Desta forma, em função também das velocidades de nado pretendidas nas séries principais, os nadadores mostravam-se mais motivados com a realização de exercícios curtos de pequenas mudanças de velocidade, funcionando como meio de ativação. Apesar do aquecimento ser considerado um trabalho simples, exigiu a aplicação de regras de disciplina e concentração dos nadadores e treinadores para que o desenrolar do treino correspondesse ao objetivado na parte fundamental.

A parte fundamental da sessão de treino constituiu-se continuamente como o momento de maior concentração, exigência física, técnica e psíquica para a realização da série principal. Teve como objetivo induzir adaptações condicionais através do desenvolvimento da Ae2, PA, velocidade, TL ou PL, associando também as adaptações técnicas aquando da realização das adaptações anteriores. Maglischo (1993) afirma também que a consideração mais importante no planeamento das sessões de treino é determinar a melhor sequência de realização dos vários tipos de treino. Esta sequência deve motivar os nadadores a realizar cada repetição das várias séries do treino à intensidade efetivamente pretendida. Assim sendo, o mesmo autor refere que: i) o treino de desenvolvimento da produção e da PL deve ser realizado no início da sessão, antes que os nadadores se apresentem demasiado fatigados para nadar à velocidade pretendida; e ii) o treino de desenvolvimento da TL, da Ae2 e da Ae3 devem ser colocados no final da sessão de treino. Após a organização do treino segundo este último ponto, precedendo a realização de exercícios que requerem maiores velocidades de nado, é recomendado uma recuperação aeróbia ligeira (Ae1) de 15 a 30 min.

Finalizando a sessão de treino, seguia-se a parte final da sessão com um trabalho de recuperação ativa alternado, com exercícios de movimentos,

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preferencialmente, não repetitivos das séries principais onde, normalmente, combinávamos as técnicas de crol, costas, bruços ou estilos, com tempos de saída e trabalho assistido. De acordo com Navarro & Rivas (2001), quanto mais intensa a parte principal, mais indispensável se tornava a recuperação. A parte final foi por nós considerada uma parte do treino muito importante, uma vez que é durante este período que se inicia o processo de regeneração e recuperação que irá conduzir à supercompensação. Olbrecht (2000), acerca deste assunto afirma que um início ativo do processo de regeneração, não só acelera o processo de recuperação, mas também acelera o tempo para a supercompensação. Realizávamos, também, o treino adicional de partidas, viragens e rendições durante esta fase do treino, que, normalmente, com a aproximação de competições, aumentava a sua importância. No Quadro 9 apresentamos um exemplo de uma unidade de treino típica de PA.

Quadro 9 – Representação de uma unidade de treino típica de Potência Aeróbia (PA) Sessão da tarde Duração: 2h Período: Específico Objetivo: PA

Volume: 5800m Grupo: Fundistas

Parte Preparatória

 [500 Cr/Ct (cd.125) + 400 Cr/Br (cd. 100) + 300 Cr/Mr (cd. 75) + 200 Est], int. 10’’

 2x[(400 Cr, int. 30’’ + 4x(25 !!! Esp + 25 N)] 1ª Bra/ 2ª Pern  200 Esp (25 técn + 25 Acel)

Parte Principal

 2x200 !!! Cr, cd. 4’00 (PUL MÁX), int. 200 calma  4x100 !!! Cr, cd. 2’30 (PUL MÁX), int. 200 calma  4 x 50 !!! Cr, cd. 1’30 (PUL MÁX), int. 200 calma

Parte Final

 3x400 Alt (100 Cr + 100 Ct + 100 Br + 100 Est) c/ Barb., int. 30’’

 200 calma

Como Olbrecht (2000) alerta, fomos sujeitos a fazer adaptações nas unidades de treino durante a sua realização. Estas adaptações constituíram-se basicamente na alteração do volume de treino, causado por um prolongamento intencional dos intervalos de recuperação, por um atraso na organização dos

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grupos, pela necessidade de repensar o treino por falta de pistas disponíveis na piscina ou por sentirmos necessidade de interromper o treino devido aos nadadores não estarem a cumprir as velocidades de nado pretendidas. No entanto, procurámos salvaguardar as séries principais, realizando pequenas alterações quando necessário. Estas ocorreram, geralmente, na etapa de preparação específica e no período competitivo/taper, onde ao ver os nadadores fatigados, ou não conseguindo tecnicamente realizar as séries como gostaríamos, decidimos aumentar o tempo de partida durante as repetições, aumentar o intervalo entre séries, ou ainda, diminuir o volume, privilegiando a qualidade do treino, procurando um melhor desempenho dos nadadores, com exceção do treino de TL em que o objetivo é provocar níveis de fadiga elevados.