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4. Realização do processo de treino

4.3. Exercícios do treino

4.3.1. Exercícios do treino técnico

Para a organização do treino técnico, decidimos agrupa-lo segundo quatro tipos de exercícios: i) para ensinar e corrigir a técnica de nado (drills); ii) para proporcionar uma maior sensibilidade na água (scullings); iii) para “automatizar” o padrão técnico (nadar bem sem pensar na técnica); iv) para controlar a respiração.

Os drills e os scullings foram normalmente realizados no início da sessão de treino, no final do aquecimento ou após a série principal, com distâncias curtas, intervalos curtos (10s) a médios (30s), proporcionando recuperação entre as repetições e possibilitando tempo suficiente para instrução dos treinadores. Em treinos aeróbios ligeiros (Ae1) foram realizados como intercalados com séries principais, contribuindo também para a manutenção do volume de treino. Para a escolha dos exercícios mais adequados, recorremos a vários drills e scullings descritos na literatura (Wilke & Madsen, 1990; Souza, 2000; Maglischo, 2003; Navarro et al., 2003; Sweetenham e Atkinson, 2003; Salo e Riewald, 2008), assegurando que os exercícios utilizados alcancem efetivamente os objetivos propostos, tal como referem Navarro & Rivas (2001).

Para automatizar o padrão técnico, fomos progressivamente recorrendo a volumes e distâncias maiores, intervalos mais curtos e séries de maior intensidade, tornando gradualmente a técnica correta no ritmo pretendido de treino. Fomos também associando o treino da técnica com drills e scullings ao treino de velocidade com pequenas acelerações. Estes exercícios foram realizados previamente ou posteriormente à série principal.

O treino técnico do controlo da respiração também foi realizado durante o aquecimento ou após a parte fundamental. Nestes exercícios, pedimos ao nadador para respirar apenas de “x em x” ações dos MS, normalmente, privilegiando a respiração bilateral. Este tipo de treino tem como objetivo tornar a técnica de nado mais eficiente, podendo resultar num efeito favorável na posição do corpo na água assim como sobre a técnica de uma forma geral. De acordo com Olbrecht (2000), uma posição estável da cabeça durante o nado reduz mudanças desnecessárias da posição do corpo que influenciam na direção de nado, promovendo uma maior sensibilidade e correta execução da

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ação dos MS. Os nossos nadadores apresentam muitas dificuldades na execução correta da técnica de crol, realizando, muitas das vezes, catch-up e sobreposição da ação dos MS, característico de nadadores jovens e mais velhos de nível desportivo mais elevado (Fernandes, 2001; Silva et al., 2010). Após a identificação dos principais erros técnicos de cada nadador, verificámos que grande parte destes advém da compensação de uma má coordenação e realização da respiração durante o nado de crol. Podemos considerar que a respiração é um movimento que interfere na posição hidrodinâmica ou na ação propulsiva do nadador, uma vez que a cabeça sai da sua posição normal para a realização da inspiração. Posto isto, quanto maior o tempo de duração da respiração, mais poderá afetar a posição hidrodinâmica e a propulsão (Cardeli et al., 2000). De acordo com Pedersen & Kjendlie (2006), os nadadores de elite apresentam tendência para respirar num menor espaço de tempo, comparado com nadadores de nível mais baixo e nadadores mais jovens, sendo que quanto melhor a coordenação da respiração, melhor o nível técnico dos nadadores e, consequentemente melhor poderá ser o seu desempenho. Estes autores referem ainda que todos os nadadores podem melhorar o controlo da respiração e a sua técnica, devendo esta ser uma preocupação dos treinadores.

De forma sintetizada, apresentamos no Quadro 11 alguns exercícios que elaborámos para o trabalho técnico e alguns dos drills e scullings que utilizámos. Sendo a estagiária uma nadadora e treinadora proveniente da Natação Sincronizada, aplicámos algumas das remadas tradicionais da modalidade ao treino da técnica, definindo pelo menos um sculling para cada técnica de nado. Os scullings adaptados pela estagiária estão claramente descritos no Quadro 10 referindo também a sua aplicabilidade. Para uma melhor compreensão destes scullings, a estagiária apresenta vídeos de execução dos mesmos anexos a este Relatório de Estágio em suporte digital (DVD) (cf. Anexo VII).

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Quadro 10 – Apresentação, descrição e aplicabilidade dos scullings introduzidos no treino técnico

Sculling Aplicabilidade Descrição

Sculling 1 (Ação Ascendente) Técnica de crol, se ação do MS for alternada; Técnica de mariposa, se ação dos MS for simultânea;

Em decúbito ventral, com os MS semi-fletidos e ao nível da anca, palmas das mãos voltadas para a coxa – realizar movimentos de ação lateral exterior (outsweep) e ascendente seguindo-se uma ação lateral interior (insweep); O movimento dos MI é opcional. Podem estar em extensão e imóveis (com auxílio de material flutuante), ou podem realizar ações ascendentes e descendentes, como na técnica formal.

Sculling 2 (Ação Lateral Exterior - Outsweep + Downsweep) Técnica de bruços na ação dos MS

Em decúbito ventral, com os MS estendidos no plano antero-posterior, palmas das mãos voltadas para fora e com ângulo perpendicular ao fundo piscina – realizar movimentos de ação lateral exterior (outsweep e downsweep) seguido de recuperação; O movimento dos MI é opcional. Podem estar em extensão e imóveis (com auxílio de material flutuante), ou podem realizar acções ascendentes e descendentes, como na técnica formal de crol.

Sculling 3 (2ª ação Descendente - 2º Downsweep) Técnica de costas na ação dos MS. A ação dos MS pode ser alternada

para aumentar a rotação longitudinal

Em decúbito dorsal, com os MS estendidos lateralmente na linha do corpo, palmas das mãos voltadas para cima – realizar flexão dos MS abaixo do plano transversal do corpo e realizar uma ação descendente terminando o movimento com a mão a maior profundidade do que as coxas; O movimento dos MI é opcional. Podem estar em extensão e imóveis (com auxílio de material flutuante), ou podem realizar ações ascendentes e descendentes, como na técnica formal.

Sculling 4 (“Contra Torpedo”) Técnica de costas na fase de entrada dos MS na água

Em decúbito dorsal, com os MS semi-fletidos com as palmas da mãos viradas para cima, realizar uma ação de extensão dos MS e voltar as mãos para fora, realizar um outsweep, recuperando em insweep sob forma de 8; O movimento dos MI é opcional. Podem estar em extensão e imóveis (com auxílio de material flutuante), ou podem realizar ações ascendentes e descendentes, como na técnica formal.

Sculling 5 (Ação Lateral Exterior – Outsweep) Técnica de mariposa na ação dos MS e colocação correta dos segmentos

Em decúbito ventral, com o corpo descrevendo um ângulo obtuso, com os MS semi-fletidos no prolongamento dos ombros, com os cotovelos orientados para cima e as palmas das mãos voltadas para fora – realizar uma ação lateral exterior (outsweep) seguida de movimentos da ação lateral interior (insweep); O movimento dos MI é opcional. Podem estar em extensão e imóveis (com auxílio de material flutuante), ou podem realizar ações ascendentes e descendentes, como na técnica formal de crol.

O treino técnico foi realizado de forma sistemática, seguindo o princípio de que o rendimento dos nadadores depende, em grande parte, das suas habilidades técnicas (Holmér, 1974; Soares et al., 1998; Barbosa et al., 2008), incidindo

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sobre diferentes aspetos, de acordo com o objetivo da unidade de treino e de acordo com a fase da época desportiva em que nos encontrávamos.

Quadro 11 – Exemplo de exercícios do treino técnico utilizados ao longo de toda a época desportiva

Exercício Drill / Sculling

200 Sculling Esp Scullings na especialidade e à escolha de cada nadador.

200 Técn crol (50 drill + 50 N)

Drills:

- Crol Surfing;

- Realização da ação dos MS com elevação máxima do cotovelo na fase de recuperação e toque do dedo polegar na axila;

- Realização da ação dos MS apenas da fase subaquática com recuperação dos MS subaquaticamente;

- Realização da ação dos MS com aplicação de força máxima na fase ascendente subaquática.

300 Técnica Drills, Scullings e técnicas de nado à escolha de cada nadador.

8 X 50 drills, cd. 1’00 (4 X Ct + 4 X Br)

Drills costas:

- Realização da ação dos MI com rotação longitudinal do tronco com três ações ascendentes e descendentes para o lado esquerdo e para o lado direito. A cabeça permanece a na mesma posição rodando os ombros, o tronco e os MI;

- Realização da ação dos MS com paragem fase de entrada do MS na água durante 3seg, realizando a ação completa. O mesmo acontece com o outro MS;

- Realização da ação dupla e simultânea da ação dos MS para o aumento da força aplicada na ação dos MS.

Drills bruços:

- Realização de duas ações dos MI e uma ação completa dos MS;

- Em decúbito ventral, com os MS estendidos ao longo do corpo, realização da ação dos MI com toque dos calcanhares nas mãos na ação lateral exterior;

- Realização apenas da ação dos MS finalizando com extensão e deslize máximo do corpo.

4 X 50 técn Mr, cd. 1’00 (25 drill + 25 sculling)

Scullings 1 e 5; Drills:

- Realização da ação dos MI com ação dos MS alternada (um MS de cada vez) e com respiração frontal;

- Realização da ação e da recuperação dos MS subaquática com ação dos MI; - Coordenação da ação dos MI com a fase subaquática da ação dos MS e com a respiração frontal.

4 X 50 Esp, cd. 1’00 (25 técn + 25 acel)

Drills e/ou scullings à escolha do nadador na técnica de especialidade com acelerações

para aumentar o ritmo do nado após a correção técnica. 4 X 200 Cr, cd. 3’00

(técnica longa)

Série com particularidade no aumento da amplitude da ação dos MS da técnica de crol – diminuição da frequência gestual e aumento da distância de ciclo.

3 X 300 Cr, int. 20’’

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Após a introdução e aplicação de novos exercícios técnicos, foi notória a evolução técnica dos nadadores ao longo da época. Verificámos esta evolução nas recolhas de imagens aéreas e subaquáticas realizadas na fase de transição do segundo macrociclo da época.