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A indústria química nasceu no século XIX. A produção, industrialização e difusão de produtos e soluções de base bioquímica fundamentaram o nascimento da biotecnologia moderna. Em 1828, Jean Jacques Virey usa o temos biotechnie antropologique em sua obra

Hygiène philosophique ou de la santé dans le regime physique, moral et politique de la civilisation moderne. Mais tarde, já no final do século XIX, o termo biotechinie passa a ser

usado pela indústria de fermentação (SALOMON, 1992, p. 85; DEBRU, 2003, p. 172 - 173). O aumento das disciplinas científicas como microbiologia, bacteriologia, química fisiológica e bioquímica delinearam as bases de aplicação da nova terminologia. Em 1901, cientistas alemães utilizaram o termo biontotechnique para designar a modificação e o uso tecnológico de seres vivos. Em 1917, foi criado em Chicago, EUA, o Bureau of

Biotechnology, que nos anos seguintes se espalhou pela Alemanha e Itália. Ainda na

primeira metade do século XX, o termo foi estendido aos domínios da medicina, higiene e eugenismo (DEBRU, 2003, p. 174 - 176).

Por esta época, a formação científica dos quadros técnicos é acompanhada de uma grande e rápida difusão dos novos conhecimentos que aliam a biologia a técnicas de engenharia, definindo um novo horizonte de carreiras profissionais no seio das empresas e no serviço dos Estados. Essa aliança inédita entre biólogos e engenheiros - que levou Lewis Mumford a formular, em 1934, a ideia de uma era biotécnica - rendeu às organizações industriais uma tecnologia de inspiração biológica capaz de modificar a própria natureza (SALOMON, 1992, p. 84 - 85; DEBRU, 2003, p. 176 - 177).

Entre as duas guerras, importantes reformas na formação dos engenheiros, num contexto de progresso da biologia, deram mais vigor às especulações sobre melhoramentos da condição humana. Desta forma, em 1944, a universidade da Califórnia fundou outra escola de engenharia com orientação na interação homem-máquina, que formou o coração da biotecnologia no pós-guerra (DEBRU, 2003, p. 177 - 178).

Entre os anos 1930 e 1940, os biólogos Jonh Burton Haldane, Julian Huxley, Joseph Needham e Lancelot Hogben discutiram abertamente as perspectivas oferecidas pela engenharia biológica à sociedade, à demografia e à organização do trabalho. Em 1936, Julian Huxley escreveu que a biotecnologia seria, a longo prazo, mais importante que a engenharia mecânica e química. A seus olhos a biotecnologia deveria ser mais harmônica com as necessidades humanas que as indústrias clássicas de transformação da matéria em energia. Por esta época, Lancelot Hogben afirmou que a biotecnologia seria uma resposta

verde aos problemas engendrados pelo sistema tecnológico em curso (DEBRU, 2003, p. 173 - 176).

Em 1942, a Suécia constituiu uma seção de biotecnologia no interior da Academia de Ciências de Engenharia como resposta às necessidades médicas emergentes e da indústria agroalimentar. Neste período, a indústria farmacêutica evoluiu com a descoberta da penicilina (1928) e o interesse público de novas técnicas fez suscitar o interesse de grandes firmas farmacêuticas como a Merck, a Pfizer, a Lederle etc. (DEBRU, 2003, p. 179).

Após a segunda guerra mundial, a biotecnologia passa a ser vista como uma tecnologia verde em oposição às técnicas de destruição em massa provenientes da física. Com a descoberta da técnica do DNA recombinante49, em 1957, a engenharia molecular traz à tona uma ideia de seres vivos vistos como máquinas bioquímicas, extremamente sofisticadas onde o “combustível” são as moléculas de DNA, um dispositivo que permite sua reprodução. A técnica de recombinação genética oferece a possibilidade de se extrair e isolar um gene particular do patrimônio genético de um animal ou vegetal e transplantá-lo em uma bactéria (DEBRU, 2003, p. 181; BLANC, 1986, p. 36 - 59).

Nos anos 1970, vários avanços como as primeiras manipulações genéticas de micróbios (1973) e o primeiro bebê de proveta (1978), marcaram a era biotecnológica e conduziram à possibilidade de ocorrer uma verdadeira manipulação da biologia humana numa escala sem precedentes, suscitando a necessidade de uma discussão mais profunda sobre os riscos da nova tecnologia e a necessidade de se estabelecer mecanismos de controle públicos (BLANC, 1986, p. 16; DEBRU, 2003, p. 204).

Em 1974, após a primeira manipulação genética in vitro, os pesquisadores estimaram os riscos potenciais de sua descoberta e decidiram realizar uma conferência para debater uma possível moratória às pesquisas. Em 1975, a Conferência de Asilomar, organizada pelo Pacific Grove (Califórnia), reuniu 40 pesquisadores da área de genética e biotecnologia, de 17 países, para elaborar os processos de controle de suas experimentações no domínio do DNA recombinante (RIFKIN, 2000, p. 15; GALLAIS, RICROCH, 2006, p. 189; FUKUYAMA, 2002, p. 288).

Os debates da Conferência de Asilomar marcam a polarização da discussão. A maior parte dos participantes estava ansiosa para prosseguir suas pesquisas e se opunha a qualquer regulamentação de sua investigação. Por outro lado, um grupo de cientistas

49 DNA recombinante (rDNA) é uma sequência de DNA artificial que resulta da combinação de diferentes sequências de DNAs.

proclamou que era conveniente suspender as experiências de recombinação in vitro a fim de se aprofundar os estudos sobre seus perigos potenciais. Este grupo, formado por cientistas como Erwin Chargaf, Robert Sinsheimer, George Wald e James Shapiro, fundaram a Coalition for responsible Genetic Reserche. Eles alertavam para três fatores (RIFKIN, 2000, p. 15; BLANC, 1986, p. 60 - 62):

(i) as experiências para a criação eventual de micróbios patogênicos colocam em risco a saúde dos trabalhadores da área da pesquisa científica e as populações vizinhas aos institutos de pesquisa;

(ii) as bactérias modificadas geneticamente podem escapar involuntariamente para a natureza e perturbar o equilíbrio ecológico e fazer eclodir novas doenças;

(iii) a arrogância dos cientistas ao forçar os genes de origens diversas a coexistirem por meio de recombinação genética sugerem sua intenção de “brincar de deus”

Mesmo com essas críticas e apesar da sugestão de uma interdição provisória a este tipo de pesquisa, até que se tivesse maior conhecimento dos riscos relacionados, o resultado final da Conferência considerou que era possível realizar experimentos em condições controladas, sem necessidade de uma moratória. Os cientistas propuseram, como produto final da Conferência, um programa de biossegurança que estabelecia “categorias genéricas de diferentes graus de risco” e estabeleceram normas de precaução laboratoriais para proporcionar a contenção de riscos potenciais (RIFKIN, 2000, p. 15).

A Conferência de Asilomar é considerada um marco histórico, pois foi onde se discutiu, pela primeira vez, a necessidade de processos de biossegurança relacionados às pesquisas. Na década de 1970, o foco de atenção da biossegurança voltava-se para a saúde do trabalhador frente aos riscos biológicos nos laboratórios. A partir da década de 1990 a definição de biossegurança sofreu mudanças significativas. Em seminário realizado no Instituto Pasteur em Paris (INSERM, 1991), observou-se a inclusão de temas como ética em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante, em programas de biossegurança (COSTA, COSTA, 2002).

Observa-se que a noção de biossegurança torna-se permeada por valores morais relacionados à proteção ambiental e intergeracional. Sua base conceitual apoia-se em concepções interdisciplinares e compreende um processo de aquisição de conteúdos e habilidades, com o objetivo de preservação da saúde do Homem, das plantas, dos animais e do meio ambiente (COSTA, COSTA, 2002).

Com os resultados da Conferência de Asilomar sobre biossegurança, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) instituiu o Recombinant DNA Advisory

Committee (RDAC), comitê consultivo sobre os avanços da biotecnologia. Em 1976, o NIH

publicou instruções para os pesquisadores que exigiam, entre outras as coisas, o confinamento estrito de material que contenha OGMs em laboratórios. Porém, com o desenvolvimento acelerado das pesquisas, o NIH começa a agir com moderação em relação ao confinamento dos novos organismos em laboratório, permitindo o surgimento da indústria de biotecnologia agrícola atual (FUKUYAMA, 2002, p. 288).

Nos dois anos seguintes, a Asilomar (1975/1977) o debate público sobre as biotecnologias se ampliaram nos Estados Unidos. Muitos artigos foram publicados contra as manipulações genéticas e foram realizados vários debates para tratar do problema. Por outro lado, os cientistas, os administradores e as indústrias afirmavam que as medidas de segurança do NIH (regras editadas em 1976) eram muito restritivas e entravavam a pesquisa com OGMs. Entre os representantes favoráveis à maior flexibilidade das pesquisas, figuravam cientistas como James Watson e Stanley Cohen, articuladores do rápido avanço das pesquisas em genética molecular e de investigações sobre as recombinações genéticas (BLANC, 1986, p. 58).

Em 1983, o NIH autorizou a primeira experiência de campo de um OGM, denominado ice-minus microbe, elaborado para diminuir os efeitos do frio sobre plantas como tomates e batatas. Nos anos seguintes, apesar da existência de um processo do NIH contra as decisões da Agência de Proteção Ambiental e às regras de notificação pública, vários produtos geneticamente modificados foram desenvolvidos nos Estados Unidos (FUKUYAMA, 2002, p. 288).

Ainda em 1983, houve a obtenção das primeiras plantas transgênicas de maneira independente por quatro grupos: Universidade de Washington, em St. Louis, Universidade de Wisconsin, Sociedade Monsanto, em St. Louis e a Rijksuniversiteit, na Bélgica. Em 1985, ocorreu a produção da primeira planta transgênica, um tabaco em cujo genoma foi introduzido um gene resistente ao herbicida glufosinato de amônio. Esse gene retirado de uma bactéria do gênero Salmonella permitiu ao tabaco sobreviver à aplicação do herbicida. Esse método foi utilizado também pela empresa Monsanto para modificar flores como petúnias e legumes como tomates e é, ainda hoje, a tecnologia mais difundida no mercado (GALLAIS, RICROCH, 2006).

Em 1986, ocorreram os primeiros testes de campo do tabaco resistente ao antibiótico nos Estados Unidos e, na França, foi instituída a Comissão de Engenharia

Biomolecular, sob tutela do ministério da agricultura. Em 1988, foram produzidas plantas transgênicas de diversas espécies: soja, beterraba, arroz, colza, girassol e as primeiras plantas farmacêuticas. Em 1987, houve a primeira produção industrial de variedades transgênicas (GALLAIS, RICROCH, 2006, p. 1 - 2).

Na década seguinte, iniciaram-se as comercializações de alimentos geneticamente modificados. Em 1994, uma variedade de tomate e, em 1995, as primeiras variedades de soja transgênicas, resistentes à herbicida e o algodão resistente a insetos. Por essa época, a Europa desenvolvia muitas pesquisas sobre transgênese e o debate situava-se na ordem técnica e científica sem fortes interrogações por parte da sociedade e da comunidade política. O debate público iniciou-se em 1997 quando a Comunidade Europeia autorizou a importação e a cultura do milho geneticamente modificado da Novartis. O presidente da Comissão de Engenharia Biomolecular que concluiu pela ausência de risco foi, por essa decisão, demitido.

Em novembro de 1997, o governo francês autorizou a produção de transgênicos, mas no ano seguinte, devido à reação dos ambientalistas, uma moratória foi decidida para a colza e a beterraba, apesar de a cultura de milho ser autorizada. A partir desta data e da controvérsia criada pelos políticos, a questão dos OGMs tornou-se polêmica. As plantas transgênicas tornaram-se objeto de debates frequentes e polêmicos em toda a Europa, com tomada de posições políticas contraditórias. A intervenção aos transgênicos ocorreu, sobretudo, porque os consumidores não perceberam nenhuma vantagem direta (preço e qualidade do produto) e nem benefícios para a agricultura e para o meio ambiente. Ao contrário, manifestaram inquietações para a saúde, decorrente de crises sanitárias como a do sangue contaminado e da Vaca Louca. Nesta lógica, prevaleceu na região a regra da precaução (GALLAIS, RICROCH, 2006, p. 1 - 2).

O desenvolvimento de plantas transgênicas foi interrompido na França a partir de 1988 e o mesmo ocorreu em outros países da Europa, menos na Espanha que cultiva milho geneticamente modificado. Esse é um debate muito atual no Continente Europeu, campo de embate constante entre forças políticas e econômicas.

De modo inverso, durante a década de 1990, Estados Unidos, Canadá e Argentina expandiram a cultura de quatro espécies de OGMs: soja, milho, algodão e colza com, essencialmente, dois tipos de modificação genética: resistência a insetos e tolerância a herbicidas (GALLAIS, RICROCH, 2006, p. 1).

Também na década de 1990, países com a Índia, Afeganistão, Paquistão, Turquia e México começam a cultivar variedades de trigo e arroz de alto rendimento fornecidas por

centros de pesquisa agrícolas. Inicioua-se nos países da Ásia e América Latina um aumento considerável de produção e muitos desses países tornaram-se exportadores de alimentos. Porém, apesar do aumento na produção de alimentos, a introdução da transgenia agrícola não foi capaz de sanar o problema da fome nos países em desenvolvimento (BLANC, 1986, p. 253).

O lema das indústrias de biotecnologia, no qual os alimentos transgênicos seriam a solução para o combate à fome no mundo, passa a ser contestado e prevalece a visão de que o problema da fome não está relacionado ao aumento de produção agrícola, mas sim à justiça social (BLANC, 1986, p. 255).

Em 2002, a área total cultivada no mundo com plantas transgênicas era de cerca de 58,7 milhões de hectares; em 2003, há um aumento de 15%; 20%, em 2004 e 11%, em 2005 (90 milhões de hectares). As plantas transgênicas eram produzidas, em 2005, por cerca de 8,5 milhões de agricultores, em 21 países (GALLAIS, RICROCH, 2006, p. 9). O gráfico 6 traz a expansão da área destinada ao cultivo de transgênicos:

Gráfico 6: Expansão da área destinada com biotecnologia 1996 - 2009

Fonte: Estatística. Conselho de Informação sobre Biotecnologia - CIB, 2009

Em 2010, a área plantada com alimentos transgênicos chegou a 148 milhões de hectares em todo o mundo. Cerca de 50% da população mundial consome produtos derivados de plantas transgênicas (GALLAIS, RICROCH, 2006, p. 24). O quadro 13 a seguir ilustra a situação atual das lavouras transgênicas no mundo:

Quadro 13: Área global com lavouras de biotecnologia em 2010, por país (milhões ha)

País Área (milhes ha) Eventos biotecnológicos

1 EUA 66,8 milho, soja, algodão, canola, beterraba, alfafa, papaia, abóbora

2 Brasil 25,4 soja, milho, algodão 3 Argentina 22,9 soja, milho, algodão

4 Índia 9,4 algodão

5 Canadá 8,8 soja, milho, canola, beterraba

6 China 3,5 algodão, papaia, choupo, tomate, pimentão

7 Paraguai 2,6 soja

8 Paquistão 2,4 algodão

9 África do Sul 2,2 milho, soja, algodão

10 Uruguai 1,1 soja, milho

11 Bolívia 0,9 soja

12 Austrália 0,7 algodão, canola

13 Filipinas 0,5 milho

14 Mianmar 0,3 algodão

15 Burkina Faso 0,3 algodão

17 Espanha 0,1 milho

18 México 0,1 algodão

Outros 0,1

Total 148,0

Fonte: Clive James, 2010; ISAAA, 2010

Cerca de 99% dos OGMs cultivados na atualidade são do tipo capaz de produzir um inseticida ou tolerar aplicações de herbicidas. Nos dois casos, o benefício inicial é atenuado em poucos anos, devido aos processos de adaptação dos organismos-alvo (ervas daninhas e insetos). Os insetos parasitas sofrem mutações capazes de resistir ao inseticida e as ervas daninhas se tornam resistentes por seleção natural ao herbicida (TESTARD, CHUPEAU, 2007, p. 26).

Das plantas geneticamente modificadas cultivadas, 18% são plantas do tipo BT, capazes de repelir insetos nocivos; 63% são plantas do tipo Roundup-Ready ou Liberty-

Link, capazes de absorver herbicidas sem morrer; 19% são plantas que produzem as duas

propriedades. As plantas com apenas uma característica são chamadas de OGM de primeira geração. As que têm as duas propriedades são os OGMs de segunda geração (produção de inseticida e tolerância a um herbicida), ou de terceira geração (produção de dois inseticidas e tolerância a um herbicida, ou vice-versa). Entre as outras plantas transgênicas existentes hoje no mundo estão as plantas resistentes aos vírus e aos fungos (1%). O futuro próximo da biotecnologia agrícola promete plantas adaptadas a ambientes hostis (stress hídrico) e plantas com valor nutritivo modificado (ex: arroz dourado: capaz de fabricar betacaroteno para a síntese de vitamina A) (VÉLOT, 2009, p. 93).

Na área farmacêutica, cerca de um medicamento em cada seis é fruto da engenharia genética, e essa proporção cresce constantemente. Para as empresas farmacêuticas, o interesse nessa tecnologia é múltiplo: fidelidade (condições ambientais artificiais);

seguridade (espaços fechados); facilidade de extração da proteína, a partir de uma colônia de células. Medicamentos como insulina, vacinas, hormônios de crescimento etc. são, hoje, derivados de processos biotecnológicos (TESTARD, CHUPEAU, 2007, p. 21).

Observa-se, portanto, que, na atualidade, as biotecnologias se encontram no centro de numerosas aplicações, atividades e produtos, agindo a serviço das indústrias da saúde e do diagnóstico médico, na área agroalimentar, no controle de produtos, em tecnologias para o meio ambiente e na produção de energia. As pesquisas vêm se acelerando e, segundo Quillfeldt (2006), a distância entre conhecimento científico e sua aplicação tecnológica diminuiu muito nos últimos anos. Essa passagem que, na década de 1950, levava cerca de dez a quinze anos, hoje leva meses.

O desenvolvimento da biotecnologia encontra-se, na atualidade, em convergência com outros campos de alta especialização tecnológica, como a nanotecnologia, a tecnologia da informação e as ciências cognitivas, que resultam em novas possibilidades tecnológicas com impactos potencialmente revolucionários.

Em 2001, numa conferência promovida pela National Science Foundation - USA (NSF) e pelo United States Department of Commerce, com o apoio do Nanoscale Science

Engineering and Technology Subcommittee (NSET), realizada em Washington, foi

desenvolvida a terminologia “paradigma NBIC”. Ela faz referência à convergência das quatro novas frentes de inovação tecnológica: nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da

informação e cognotecnologia. (QUILLFELDT, 2006). Essas tecnologias convergentes

caracterizam-se pela construção de objetos tecnonaturais, ou seja, intercessão entre organismo e máquina (HARAWAY, 2000).

A convergência entre a biotecnologia e a nanotecnologia permite a interação entre os organismos vivos e os dispositivos desenhados pelo ser humano. Os efeitos dessa interação se manifestam tanto em nível macroscópico (indivíduos, sensores, sistemas de informação) como na escala nanométrica (material genético, nanotubos) (CAVALHEIRO, 2007). As nanobiotecnologias têm como concepção servirem-se das propriedades de auto- organização, autorreplicação e autocomplexificação dos seres vivos, para colocá-los à serviço da humanidade, ou seja, fabricar nanomáquinas capazes de trabalhar para os seres humanos (DUPUY, 2008).

A bioinformática reúne os códigos biológico e computacional por meio de suas múltiplas ramificações, aplicadas tanto na análise de sequências genômicas, quanto no estudo das estruturas proteômicas e resultam no gerenciamento, montagem e finalização de genomas completos e na integração de bancos de dados aplicáveis ao estudo do genoma

(ALMEIDA, 2005). A bioinformática visa interpretar as informações estatísticas do genoma e de sua dinâmica com objetivo de reconstituir o genoma a partir de milhões de fragmentos e sequência disponíveis nos bancos de dados (HACHE, 2005, p. 28).

Segundo Quillfeldt (2006), o que foi defendido pelos cientistas e tecnólogos presentes na conferência realizada em Washington (2001) é que se deve promover a convergência dessas tecnologias pelo bem do futuro da economia. Ele afirma que as ações de unificação entre as tecnologias são frutos da preocupação que os Estados Unidos têm para com a sua economia. O país é detentor de grande parte dos estudos e patentes destes setores, que representam a promessa de altos lucros para século XXI.

As tecnologias convergentes representam, entre outros, perspectivas terapêuticas extraordinárias, porém trazem em sua concepção questões éticas relacionadas aos limites do ser humano de substituir a natureza e a vida e assim se tornarem engenheiros da evolução (DUPUY, 2008).

Dentre as questões éticas relacionadas ao uso dos produtos e engenhos tecnológicos, frutos da nova Convergência Tecnológica, Cavalheiro (2007) destaca várias preocupações de ordem moral, tais como: as relações entre o humano e a natureza, entre o corpo e a mente; o impacto do livre-arbítrio de cientistas e empresários sobre os conceitos de responsabilidade moral e legal; a delegação dessas mesmas responsabilidades a artefatos tecnológicos; o inter-relacionamento entre entidades vivas e não vivas; a manipulação do código genético e suas consequências, entre outras.

Desta forma, ressalta-se a importância de uma tecnociência reflexiva e da necessidade de controle social e político no uso e na aplicação desses novos conhecimentos. Neste sentido, a sociedade busca estruturar um novo campo de atividade política com o intuito de regular o avanço recente da ciência e da tecnologia.