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1.2 A EXPANSÃO DO LITORAL PLANIFICAÇÃO, SENTIDO E RITMO

Na segunda metade do século XVIII, intensificou-se o povoamento da faixa litoral costeira, com a crescente comunidade piscatória a instalar-se nos terrenos de areia que ladeavam a enseada; é a zona, por excelência, onde o crescimento urbano adquire características próprias. Descrita a Póvoa como uma vila de carácter piscatório, com

uma população formada por um vastíssimo grupo de pescadores46, as suas actividades

tradicionais relacionavam-se com o mar (pesca, salga, apanha do sargaço e construção naval). Percebe-se que a definição urbanística do novo bairro do litoral se sujeitou de forma vincadamente notória às condições naturais e às práticas da comunidade piscatória, necessitada de ruas rectilíneas, por onde pudessem os pescadores circular, carregando os mastros de suas embarcações e de casas com amplos quintais para recolher os aprestos da sua actividade e, se possível, alcançar através destes, de forma quase imediata, o areal e o mar.

Sendo o espaço "um dos maiores dons com que a natureza dotou os homens e que, por isso, eles têm o dever, na ordem moral, de organizar com harmonia, não esquecendo que, mesmo na ordem prática, ele não pode ser delapidado, até porque o

46 Numa acta camarária de 1767 encontra-se a justificação para a urbanização do litoral, assente em razões

de crescimento populacional e económico, funcionalidade e comodidade trazidas peia proximidade do mar: "(...) esta Villa tinha hido em hum grande aumento na pescaria de sorte que já se compunha do melhor de sette centos fogos (...) não havia onde comodamente se pudecem idificar cazas para acomodação do povo (...) recorrerão as ditas areyas adonde he muito conveniente terem as ditas caza para com mais brevidade acudirem às suas embarcasoins da pesca por lhe ficarem contíguas a costa do mar (...)" - in OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando - Casas de pescadores da Póvoa de Varzim, Porto, Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 1957, p. 37, nota 17.

espaço que ao homem é dado organizar tem os seus limites físicos" , verificou-se aqui, com a criação de um padrão morfológico rectilíneo, o respeito pelos princípios da funcionalidade e harmonia.

Foi possível, porque definido de raiz pelos poderes camarários, conceber um esboço de urbanização paralela e perpendicular à costa, a que os aforamentos deram corpo, motivando a ocupação de um espaço periférico em relação ao núcleo primitivo e ao eixo de desenvolvimento nascente-poente. O extraordinário crescimento urbano48 da zona litoral obedeceu a uma planificação ortogonal, cuja morfologia mostra bem um intencionalismo e a existência de loteamento prévio dos terrenos de areia pertencentes ao Município, seguido do processo de aforamento49. O Senado, motivado pela pressão urbanística, assumiu uma política vincadamente social ao efectuar, a preços acessíveis50, o emprazamento dos lotes, para que a população aí construísse as suas casas. Os aforamentos permitiram de forma mais orientada e disciplinada pôr em prática os princípios que, segundo F. Chueca Goitia, presidem ao crescimento urbano no mundo ocidental, "a partir da rua previamente traçada, com ou sem plano, as casas foram ocupando o seu lugar e conformando-se com a lei distributiva"51, sendo que, antes de se proceder aos aforamentos dos terrenos, as ruas tinham já existência confirmada.

47 TÁVORA, Fernando - Da Organização do Espaço, Porto, 1962, p. 27, cit. por PEREIRA, João Maria dos Reis

- Antigos valores urbanísticos de Vila do Conde, in "Vila do Conde. Boi. Cult, da Câmara Municipal de Vila do Conde", n.° 5, Vila do Conde, 1964, p. 53.

48 Cf. ARAÚJO, Agostinho - Ob. cit., quadro II.

49 OLIVEIRA, Francisco Veiga de; GALHANO, Fernando - Ob. cit., pp. 10-11 e 37, nota 17. BARBOSA, Jorge - Toponímia da Póvoa de Varzim, in Bol. Cult. "Póvoa de Varzim", vol. VII, n.° 2, 1968, pp. 218-219.

50 Algumas pessoas mais abonadas aproveitaram a ocasião para investir em terrenos que depois

subemprazavam em lotes aos pescadores. Da documentação notarial extraímos os nomes de José Francisco Lopes de Paiva e seu irmão (?) José Jerónimo Lopes de Paiva, escrivão da Câmara. Algumas das propriedades deste último foram posteriormente compradas por José de Sousa Guerra - cf. Ap. Doe., A.D.P. - does. n.os222, 258, 301, 315, 316, 317, 329, 330, 645 e 786.

A demarcação dos lotes e respectivos emprazamentos, feitos com o objectivo de promoção da construção, constituem um incipiente plano de urbanização e passam por uma vontade de organização do tecido urbano com algum racionalismo. Os areais foram sendo conquistados para a edificação e organizados em parcelas estreitas e fundas, que permitem a presença de duas frentes: numa, levanta-se a frontaria da casa, na outra, existe um quintal, quase sempre murado, que constitiu parte importante do conjunto habitacional, local essencial numa vivência ligada ao mar.

A pré-existência dos terrenos arenosos está esclarecidamente vincada na toponímia do local, na Rua da Areia ou na Rua do Fieiro. Facto que mereceu uma explicação por parte de Veiga Leal ao escrever que a Rua da Areia "tem este nome por ser já formada em area solta da praia, e em falta de chãos sólidos para edificação das muitas casas que cada dia se innovam, e brevemente virá a ser preciso denominar as ruas da area com distinctivos, porque a vereança teve e tem a providencia de dar arruados os chãos para edifícios, que nalguns estão já levantados e demarcados outros; mas como se não acham successivamente continuados, é tudo ao presente rua d'Area"52.

A partir do desenvolvimento linear da Rua dos Ferreiros, via quinhentista de comunicação para Vila do Conde, paralela ao curso do ribeiro que vinha da Poça da Barca, delimitam-se outras linhas condutoras do casario com orientação norte-sul, de traçado rectilíneo e paralelas umas às outras. Abriram-se para poente da Rua dos Ferreiros, as Ruas da Areia, de Trás-os-Quintais e Nova da Areia53 (depois designada

52 Noticia da Vila da Póvoa de Varzim, feita a 24 de Mayo de 1758, p. 310.

53 As referências mais remotas a estes arruamentos são para a Rua da Areia (actual Rua 31 de Janeiro) o

ano de 1757, para as Ruas de Trás-os-Quintais e Nova da Areia (actual Rua da Lapa) o ano de 1762 - cf. BARBOSA, Jorge - Art. cit., in Bol. Cult. "Póvoa de Varzim", vol. XIX, n.° 1, p. 62; vol. XIII, n.° 1, 1974, p. 109; vol. VII, n.°2, 1968, p. 219.

da S.a da Lapa), definindo-se um desenho geométrico, de orientação não arbitrária, que

tem, a ocidente, a linha da costa como limite natural54.

Junto à fortaleza, definiu-se um outro pólo dinâmico, assente na importância da

Rua da Ponte, arruamento aberto na primeira metade de Setecentos55 e que se

integrava no eixo de alongamento de orientação nascente-poente, ao conduzir do

Pelourinho à praia. Dos meados do século datam as referências à Rua da Fortaleza56

que, conduzindo ao edifício que lhe deu o nome, lançou as bases para a ocupação mais intensa daquele local.

Pelo norte do leito do Esteiro, corria-lhe paralela a Rua Nova da Junqueira, já

traçada pelos finais de Seiscentos57 e que, do largo da Capela de S. Roque, levava aos

areais da Areosa. A par da Rua da Ponte, ao serem as linhas primeiras e mestras da condução do casario, contribuiu para a definição urbanística da vasta área denominada Junqueira. A Rua da Areosa é o primeiro ensaio de ocupação urbana com direcção a Norte. Surgida em 1782, a partir do desmembramento do topo poente da Rua Nova da Junqueira, orientou-se de forma paralela ao mar, abrindo um novo sentido para a expansão urbanística que foi plenamente assumido nos inícios de Oitocentos.

54 A linha da costa funcionou como um elemento físico ordenador e limitador do crescimento: "Si certaines

croissances s'effectuent au hasard des disponibilités foncières, avec pour conséquences des zones urbanisées faiblement structurées, d'autres s'appuient sur des dispositions physiques qui les ordonnent. Les éléments régulateurs sont des éléments physiques, des configurations matérielles, des constructions sur lesquels s'appuie la croissance". A costa desempenhou um papel de linha de crescimento natural ao atribuir uma direcção e alinhamento para esse crescimento, ao mesmo tempo que constituiu uma barreira que o limitou - cf. PANERAI, Philippe - Croissances, in "Elements d'analyse urbaine", pp. 23-24.

55 A mais antiga notícia sobre a existência deste arruamente data de 1727 - cf. BARBOSA, Jorge - Art. cit., in

Bol. Cult. "Póvoa de Varzim", vol. XIV, n.° 2, 1975, p. 304.

56 No ano de 1762 aparece já como existente - cf. Idem - Art. cit., in Bol. Cult. "Póvoa de Varzim", vol. XI, n.°

2, 1972, p. 278.

57 Pelo menos pode-se dar como já aberta pelos anos de 1694 - cf. Idem - Art. cit., in Bol. Cult. "Póvoa de

A Rua da Senra, com a função de pôr em ligação o arrabalde da Vila Velha e a Areosa, tem a sua existência comprovada para os inícios do século XVIII .

O movimento expansionista de toda a zona litoral, compreendida entre a Igreja da Lapa e a Areosa, cujas raízes se encontram em meados de Setecentos, prosseguiu pelo período de 1791 a 1832. Os indicadores da expansão urbanística desta área, privilegiada pela sua situação de proximidade em relação ao mar, encontram-se na abertura de novos arruamentos e na ocupação dos espaços ainda vazios com novas construções, que levaram ao prolongamento e adensamento das ruas existentes.

Analisando em primeiro lugar a afirmação do bairro sul ou da Lapa, percebemos que a sua expansão se deu em duas direcções, para sul e para poente. Vários aspectos poderemos constatar numa análise mais detalhada.

Na Rua dos Ferreiros (GRÁFICO 23), com orientação norte-sul, é notório o ritmo

contínuo do crescimento do casario. A urbanização deste arruamento, que seria mais concentrada na sua parte norte (desembocando junto ao Pelourinho), permite, no entanto, que não só nesse topo mas ao longo de toda a rua se verificasse uma

alternância entre casas e terrenos baldios59. Assim sendo, esses lotes vazios

M 6 0

intercalados com os edifícios foram recebendo progressivamente novas construções , ao mesmo tempo que a urbanização avançava para sul.

Distinguia-se, porém, uma ocupação diferenciada entre o lado direito e o esquerdo, sendo o primeiro aquele que revelava uma ocupação mais intensa, relacionada com o percurso definido pelo regato da Poça da Barca que formava o limite

58 Bastante antiga, encontra-se documentada no ano de 1711 - cf. Idem - Art. cit., in Bot. Cult. "Póvoa de

Varzim", vol. XVIII, n.° 2, 1979, p. 309.

59 O QUADRO 7 aponta-nos para o ano de 1828, a existência de pelo menos três terrenos e três leiras junto

às casas. Vários lotes de chãos de areia foram sendo vendidos, ao longo de todo o período, para a construção de habitações ou para a função de logradouros - cf. QUADRO 10.

60 A título comprovativo, remetemos para o Uvro de Arruamentos de 1792 que indica que o pescador

Manuel Francisco levantou a sua "casa térrea nova" sensivelmente a meio do lado direito da rua (orientação

sul dos lotes61. Deste lado, os terrenos podiam-se prolongar até ao curso de água ou, no caso dos que ficavam mais a norte, até à Rua de Trás-os-Quintais62, onde a existência de um portão lhes atribuía uma segunda entrada. Ao longo do alinhamento esquerdo, as casas defrontavam a nascente com vastos campos63, chamados da Galé e dos Favais e, por duas vezes, interrompia-se a banda de construções para a passagem das águas de dois regatos64. Um, mais a sul, procedia de Regufe65, passava no Lugar dos Favais, cruzava a Rua dos Ferreiros e vinha encontrar-se com o regato da Poça da Barca. O outro, próximo do topo norte da rua, trazia as águas dos Lugares da Mariadeira e Coelheira e, pelo Lugar dos Favais e Campo da Galé, seguia em direcção ao Esteiro, era o chamado "ribeiro da Galé"66. A ambos se dava indiferentemente a designação de regato dos Favais. Acompanhando o percurso do ribeiro de Regufe formou-se a

Quingosta dos Favais ou "rua publica que vem dos Favais" .

Os terrenos e casas mais meridionais da rua, situados junto à "estrada que vai para Villa do Conde", confinavam com "hua bouça" chamada da Areia, composta de "terra labradia e sercada de parede". No fim da rua localizava-se, ainda, a "Cortinha dos Alhos"68.

A Rua dos Ferreiros é de todos os arruamentos o que apresenta a maior concentração de habitações ao longo do período considerado, além de que sofreu um aumento bastante significativo ao passar de 106 casas, em 1792, para 131 em 1832,

61 São muito numerosos os exemplos de terrenos, com ou sem construção, que confinam com o regato - cf.

Ap. Doe., A.D.P. - does. n.05 193, 212, 293, 306, 462, 476, 484, 519, 548, 717, 750, 760, 773, 777, 778 e

814.

62QuADRo7eAp. Doc., A.D.P., does. n.os210, 223, 385, 528 e 593.

63 Ap. Doe., A.D.P., does. n.os6, 171, 348,418,531,539, 557, 564, 571, 664 e 789.

64 BARBOSA, Jorge - Toponímia..., in Bol. Cult. "Póvoa de Varzim", vol. XI , n.° 1, 1972, pp. 74-77. 65 Ap. Doe, A.D.P., doc. n.° 640: "regato que vem de Regufe".

66 Ap. Doc., A.D.P., docs, n.05 664 e 869: "ribeiro da Galé" e "regato que corre para o Esteiro".

67 Embora não fosse considerada nos Arruamentos, nela existiam construções - Ap. Doe., A.D.P., docs. n.os

15, 348 e 630. Corresponde à actual Rua dos Favais.

recebendo mais 25 edifícios. O seu crescimento, para além de se prender com a antiguidade da ocupação, deve ser intimamente relacionado com a função que lhe pertencia, sendo uma das principais saídas da Vila, o eixo viário para Vila do Conde.

A Rua da Areia (GRÁFICO 25), aberta a poente da anterior, era extensa e

prolongava-se pelo sítio da Poça da Barca. No seu lado direito (orientação sul-norte) denota-se um volume de construção bastante mais acentuado, que relacionamos com o facto de neste lado, os lotes se estenderem para nascente até ao encontro do regato da Poça da Barca69, podendo também os quintais serem confinantes com a Rua de Trás- os-Quintais, onde, por vezes, eram fechados com pequenos muros contendo uma porta. Estamos na presença da mesma realidade que caracteriza a Rua dos Ferreiros, sendo o quarteirão criado por estes dois arruamentos atravessado a meio, no sentido norte-sul, pelos referidos regato e rua. Para além das vantagens da proximidade da linha de água, um outro aspecto deve ter influenciado a preferência pela banda nascente; quando foi rasgada apresentava-se como a mais ocidental das ruas e, por isso, o casario implantou-se com as fachadas fronteiras à praia e ao mar, já que o loteamento do lado esquerdo seria menos protegido porque mais integrado na duna que delimitava a enseada.

No alinhamento poente encontrava-se também a organização tipológica dos lotes profundos, definidos por duas frentes. Daí que sejam vários os terrenos que se prolongavam para a Rua Nova da Areia ou da S.a da Lapa, podendo conter construções ou estarem ainda desocupados .

No topo sul desta rua deparamos no ano de 1795 com "huma morada de cazas térreas" que "confrontão da parte do poente com area solta" e em 1813 é ainda possível encontrar "huma morada de cazas térreas com seu terreno de areia baldio" que

69 Ap. Doc., A.D.P., does. n.os193, 274, 388, 411, 57&, 734 e 821; Ap. Doe., A.M.P.V, C, doe. n.° 1.

70 O QUADRO 7 mostra a existência na Rua da S.» da Lapa de portais, casas e chãos de areia solta

confronta "do poente com o mar"71, o que demonstra que a Rua da Areia tinha um percurso mais extenso do que os arruamentos paralelos que foram sendo abertos a poente, o que aliás é perceptível na planta de suporte.

A tendência geral que caracteriza a Rua da Areia, no período em questão, é de um aumento do volume construído, de forma mais ou menos equivalente nos dois lados. Entre 1806 e 1810 verificou-se uma inversão nessa tendência que, no entanto, pensamos esconder uma outra realidade. Assim sendo, as casas em falta já deveriam fazer parte do novo arruamento denominado Rua da Poça da Barca, o qual, para efeitos de pagamento da décima, só surge a partir de 1814, sendo nesse ano formado por 18 casas. Se juntarmos este número às 71 casas da Rua da Areia obtém-se um total de 89, o que ultrapassa a contagem efectuada nesta última rua em 1810 (80 casas) mas aproxima-se da evolução do ritmo de crescimento anteriormente apontado e como a representação gráfica melhor esclarece (através da junção dos GRÁFICOS 24 e 25). De

1814 até 1832 a cadência construtiva saldou-se num acréscimo de 6 edificações.

O casario implantava-se em alternância com os espaços vazios, que embora abundantes nos dois bordos da rua, predominavam no lado poente72, e foram cedendo lugar a novas edificações. Os lotes sem construção podiam ser simples terrenos baldios ou fechados por muro e porta, como os que formavam as traseiras dos edifícios da Rua de Trás-os-Quintais e assinalavam o arranque norte da Rua da Areia73. Como explicar a fraca urbanização deste topo da rua que ficava próximo da Rua da Fortaleza tão densamente ocupada? É mais uma vez o percurso desenhado pelas linhas de água que condiciona e define a ocupação do solo. Assim, o regato que vinha da Poça da Barca para o Esteiro (ao qual se tinha juntado o de Regufe), por entre as Ruas dos Ferreiros e Areia, desviava o seu curso para poente apanhando parte da Rua da Areia, onde

71 Ap. Doc., A.D.P., does. n.os 131 e 450.

7 2 QUADRO 10. 7 3 QUADRO 7.

recebia não as fachadas das casas desta rua mas, como era habitual, os quintais daquelas que se situavam nos arruamentos paralelos, ou seja Trás-os-Quintais e S.a da Lapa74.

A Rua de Trás-os-Quintais (GRÁFICO 26), como o próprio nome sugere, era bordada pelos quintais das artérias que lhe ficavam paralelas, ou seja das casas das Ruas dos Ferreiros e Areia. Até 1793 apenas existia uma linha de 12 construções no seu lado esquerdo (sul-norte), possuindo quintais que se estendiam até à Rua da Areia. À medida que se avançava para sul a posição do casario e quintal invertia-se, ou seja, passaram a ser as casas da Rua da Areia que prolongavam os quintais até à de Trás- os-Quintais.

A partir de 1794, apontam-se construções no lado direito, mas numa oscilação de 1 a 2 casas. Deste lado, dominavam os portais dos quintais da Rua dos Ferreiros ou pequenas casas levantadas no fundo desses terrenos e que continuavam a pertencer à construção cuja fachada estava implantada na referida rua .

Caracterizava este curto arruamento uma grande constância no número de casas que, entre 1792 e 1830, variaram de 12 a 15, sendo dado o maior aumento entre este ano e 1832, quando atingiu as 18 edificações.

Para explicar a situação tão particular desta rua, deve-se atender ao facto do seu percurso se apresentar muito mais curto do que hoje o conhecemos, pois a determinada altura, o arruamento, que avançava para sul, dava lugar ao leito do regato da Poça da Barca, que se apresentava bordado pelos quintais das outras ruas. Pensamos que o ponto onde este regato se encontrava com o que vinha dos Favais e inflectia para poente, seria onde acabava a rua, ficando assim as casas do lado esquerdo em face

74 As habitações do início do lado nascente da Rua Nova da Afeia ou da S.a da Lapa apresentavam-se em

confrontante com o referido "regato que vem da Poça da ffarca", ao quaí se vinha juntar o dos Favais (ou Regufe), o mesmo acontecendo com as casas do lado poente da Rua de Trás-os-Quintais - cf. Ap. Doe, A.D.P., docs. n.os429, 430, 508, 563, 636, 648, 658 e 667.

pelo "puhente com o regato de agua que vem dos Fabais e Poça da Barca"76. Por outro

lado, pela sua implantação entre dois arruamentos mais importantes e, como estamos na presença de um esquema morfológico que privilegia os lotes compridos de duas frentes, restava-lhe receber os portões dessas vias principais.

Num movimento de apropriação das areias mais próximas da enseada, tinha já

existência confirmada no ano de 1762 a Rua Nova da Areia (GRÁFICO 27). Assumida a

orientação norte-sul, vemos que no lado direito o casario formava uma extensa mancha, com o valor de 52 casas em 1793; neste ano a sua dimensão era semelhante à da Rua da Areia, respectivamente 78 e 79 casas. Porém, no ano seguinte as 52 moradas acima referidas reduziram-se para 8, passando as restantes (mas não todas) a contar no lado direito (sul-norte) do novo arruamento chamado do Fieiro, rasgado mais a poente. A partir de então, as duas bandas foram dominadas por uma tendência de estabilidade que se prolongou até 1832, com leves oscilações de pouco significado.

Desde 1814, esta artéria aparece nos Arruamentos com a designação de Rua da