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A Faculdade de Teologia e o reconhecimento do MEC (1981-2012)

2. O SEMINÁRIO TEOLÓGICO DE SÃO PAULO

2.6. A Faculdade de Teologia e o reconhecimento do MEC (1981-2012)

Na década de 1980, houveram mudanças significativas na gestão da igreja que afetaram diretamente o Seminário de São Paulo. Em 1981 foi eleito para presidente do Supremo Concílio da Igreja Independente Abival P. da Silveira, inaugurando um período de transformações significativas tanto na igreja quanto no Seminário. Uma de suas promessas de campanha era justamente renovar as áreas de educação religiosa e teológica.

No período houve a abertura de novos seminários independentes em Londrina, organizado em fevereiro de 1982, e Fortaleza, inaugurado em março de 1986, com o objetivo de consolidar a presença da IPI no norte-nordeste. Abival entendia que a sobrevivência da igreja na região depende da existência do Seminário. Em entrevista ele nos revelou o entendimento sobre esse assunto:

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Livro de Atas da Congregação da Faculdade de Teologia. nº.3, p.9.

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Nesse período a gente então deu ênfase de que precisava formar um ministério com uma nova mentalidade, uma nova capacitação. Porque a Igreja não preparava liderança, não estava preocupada com liderança, nem estava preocupada em capacitar os pastores para um novo momento na vida da Igreja. Foi quando a gente resolveu dar uma atenção especial em Educação Teológica. Acabamos abrindo Londrina, Fortaleza, e não foi gratuitamente. Fortaleza, o objetivo era exatamente abrir um espaço para que a Igreja Independente acontecesse no Norte, Nordeste. Nós não tínhamos igreja lá. Tínhamos “igrejolas”, sem ser pejorativo, mas estava morrendo porque ela não era parte do corpo, ficava lá esquecida, isolada. Então plantar um Seminário lá, o objetivo não era só a educação teológica. Era você ter um polo de irradiação de influência na vida da Igreja. Então ali o ministério podia se encontrar, os Congressos, os Seminários.

A abertura desses seminários permitiu, entre outras coisas, que o Seminário de São Paulo não fosse mais o centro das atenções e das críticas que constantemente questionavam o trabalho que era ali realizado. Os recursos para a realização desses novos projetos vieram da Fundação Eduardo Carlos Pereira. O apoio dessa Fundação foi fundamental, porém insuficiente para conter as crises financeiras que constantemente permeavam a tesouraria da Igreja Independente. A Fundação pode investir recursos somente em imóveis e não na manutenção direta dos seminários. Essa dificuldade jurídica e econômica, que às vezes é maior ou menor, provocou vez por outra discussões sobre a viabilidade ou não da manutenção de todos os seminários.

Leontino Farias do Santos, um dos alunos expulsos na crise de 1968, foi eleito diretor do Seminário em 1981, ocupando o cargo até 1999. Nos anos 1980 o Seminário recebeu professores vários dos alunos que estiveram envolvidos nos conflitos do período anterior. Uma das preocupações mais fortes foi com a formação acadêmica do corpo docente, que teria até o final da década de 1990 a totalidade de seus professores com Mestrado e alguns com Doutorado. Colaborou para isso o envolvimento da Igreja Independente no Programa Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião no Instituto Metodista de Ensino Superior, atualmente UMESP – Universidade Metodista de São Paulo. Nesse programa realizaram estudos de pós-graduação dezenas de egressos do Seminário Teológico de São Paulo.

Outras mudanças indicam os novos rumos que foram dados a partir da ênfase na qualidade acadêmica da formação teológica. Desde 1978 já haviam sido incluídas as disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Metodologia da Pesquisa Científica. Na década de 1980 o curso passaria a ter duração de cinco anos letivos, e não mais quatro.

Em 1999 o Ministério da Educação e Cultura (MEC) decidiu pelo credenciamento dos cursos superiores de bacharelado. Em função disso, a Assembleia Geral da Igreja Independente decidiu, em 8 Fevereiro de 2003, concentrar todos os esforços para buscar a autorização e posteriormente o reconhecimento do curso de Teologia em seus três seminários. A decisão não deixa de revelar, de certa forma, uma ingenuidade da igreja ao tomar tal decisão desconhecendo os procedimentos para a realização de tal projeto. Por outro lado, os envolvidos com a Faculdade sabiam que esse passo era muito importante para preservar o Seminário das conflituosas relações político-eclesiásticas a que esteve submetido em boa parte de sua história. Ao menos seria possível atenuá-las, obrigando o debate sobre a questão educativa concentrar-se prioritariamente nas questões político-pedagógicas. Sobre isso é interessante o depoimento de Gérson C. de Lacerda:

Eu não sei se [o reconhecimento] daria mais autonomia, mas eu acho que a Igreja é obrigada a trabalhar com mais seriedade. Eu visitei o reverendo Mendonça quando ele estava muito doente, ele já não se levantava mais da cama – logo depois ele veio a falecer – e eu era o diretor do Seminário, e nós estávamos trabalhando na busca do credenciamento, e quando eu fui me despedir dele, a ultima vez que o vi, ele segurou minha mão e disse: “Gérson, não desista do credenciamento, vocês têm que buscar o credenciamento”. E aquele, me parece hoje, quando já caminhamos bastante nesse processo... eu sinto que a Igreja também ficou comprometida, eu não sei se a Igreja tem consciência de onde ela entrou, acredito que não, mas a Igreja foi obrigada a investir mais no trabalho da Fundação, quem representa a Faculdade perante o MEC é a Fundação, e a Igreja não pode inventar projetos mirabolantes para o Seminário de uma hora para outra, sob o risco de perder o credenciamento. Então a Igreja, hoje, é obrigada a tratar com mais seriedade, a Igreja não pode, simplesmente chegar aqui e despedir todo o corpo docente e colocar professores que não tenham habilitação de acordo com os padrões do MEC, então isso obriga a Igreja a trabalhar de outra maneira em relação à Faculdade de Teologia132.

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Como exigência do processo de reconhecimento, a igreja precisou reformular seu programa de educação teológica. Durante esse processo, a igreja tomou consciência da inviabilidade de conseguir o credenciamento dos três seminários, que a essa altura contava também com centros de extensão, em que o Seminário de São Paulo atendia a cidade do Rio de Janeiro e o Seminário de Fortaleza atendia a cidade de Manaus. A decisão foi polêmica, resolvendo pelo encerramento das atividades dos Seminários de Londrina e Fortaleza, bem como dos centros de Extensão, buscando a partir de então a continuidade do Seminário de São Paulo, que desde meados do ano 2000 estava sediada em prédio próprio, em prédio adquirido pela Fundação Eduardo Carlos Pereira na Rua Genebra, no centro de São Paulo, para sediar o Seminário. Essa decisão gerou mais um longo debate sobre a questão educativa133.

O processo de obtenção da autorização foi concluído em 15/1/2009, quando o Ministério da Educação publicou autorização para o funcionamento da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente - FATIPI. Uma das novidades foi o concurso de seleção de docentes promovido pela Fundação Eduardo Carlos Pereira. Dentre as mudanças necessárias em função do reconhecimento legal, percebe-se que os temores conservadores se confirmam em relação às dificuldades para uma gestão centralizadora. O próprio relatório de Avaliação do MEC inclui a expressão que tanto incômodo causara anos antes:

O processo de oficialização provocou mudanças, como, por exemplo, a adequação da estrutura curricular ao Parecer CNE/CES Nº 51/2010 e da estruturação e atuação do NDE e da CPA à legislação correspondente. Isso significa, conforme percebido e expresso, tanto pelo corpo docente, como pelo discente, cultivar maior abertura para o mundo do

conhecimento e para a sociedade, inclusive pela incorporação de novas

tecnologias ao processo de ensino e de aprendizagem134 (grifos nossos).

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Abival, que havia participado da implementação destes Seminários, assim descreve sua opinião sobre isso: “Eu acho um erro estratégico fechar. Londrina até que você aceita, porque você pode, daqui do Seminário de São Paulo, perfeitamente atender essa região toda. Mas acho que Fortaleza foi um erro estratégico da Igreja, o fechamento do Seminário lá. A Igreja vai sofrer um retrocesso, vai sofrer um retrocesso muito grande. Porque o Seminário, acho, exerceu um papel muito bom nesse sentido, foi muito positivo. Por isso eu acho que a Igreja perdeu a visão: porque a Igreja no Norte e Nordeste é outra Igreja. Outra realidade, outro contexto. E você fechando o Seminário lá, você fechou a porta do futuro da própria Igreja. Numa reunião que me convidaram para conversar um pouquinho sobre esse assunto, eu falei: “Olha, fechar o Seminário de Fortaleza é fechar a Igreja Independente no Norte e Nordeste”. E a médio e longo prazo é isso mesmo”. Ver entrevista em anexo.

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Uma das primeiras decisões conciliares após a autorização concedida pelo MEC foi a de transferir a Faculdade para um novo local, em terreno comprado pela fundação Eduardo Carlos Pereira para essa finalidade, em Santa Izabel município localizado a cerca de 60 km da cidade de São Paulo. Trata-se de nova polêmica envolvendo o conflito de projetos para a educação teológica. A motivação para a transferência está associada a um projeto conservador, que pretende afastar os estudantes da influência perniciosa e ter controle total sobre a formação dos estudantes. Leonildo Silveira Campos analisa a questão da seguinte forma:

No imaginário da igreja a educação teológica deveria ser dada na forma de internato, em que você tem a figura da instituição total, trabalhada pelo Erving Goffman. Numa “instituição total”: o individuo está ali 24 horas por dia, monitorado e controlado. Então, no fim de quatro anos ele sai com aquela cabeça formada. Isso deve acontecer, de preferência, afastado do burburinho da cidade e sem a oportunidade para o aluno estudar fora em outra universidade e sem o problema para ele trabalhar fora também. Então ele fica financiado pela igreja 24 horas por dia durante quatro anos. Quando ele sai dali, sai um sujeito dentro dos critérios exigidos pela instituição religiosa. Então me parece que a intenção, ao comprar Santa Isabel era fazer de lá um lugar desses. Já que a igreja não precisa de muitos pastores, então mesmo que tenha poucos alunos... só que o projeto de transferir o Seminário do centro, reconhecido pelo MEC, para o meio do mato... não há transferência fácil para uma Faculdade reconhecida. Tem que abrir um novo processo de funcionamento e depois de reconhecimento, e o MEC não vai reconhecer nada que esteja dentro do mato, sem um projeto pedagógico e um projeto institucional, que garanta que vai ter gente, que vai ter clientela para este tipo de formação acadêmica135.

Entra a autorização e os trâmites para a nova mudança de local, a faculdade obteve o reconhecimento do MEC, em portaria publicada no Diário Oficial da União, nº 251, em 31 de Dezembro de 2012, com conceito 4.

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Figura 2.14. Cerimônia de Formatura no Templo da Primeira Igreja Independente

Fonte: Caderno de O Estantarde, 2005 (Centenário da Educação Teológica).

Figura 2.15. Corpo Docente do Seminário em 1985

Figura 2.9. Cerimônia de formatura no Templo da Primeira Igreja Independente (2004)

3. ANÁLISE DO PROJETO EDUCACIONAL DO SEMINÁRIO TEOLÓGICO DE