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2. O SEMINÁRIO TEOLÓGICO DE SÃO PAULO

2.3. O Seminário Unido (1930-1932)

Nos anos posteriores houve um esfriamento do entusiasmo inicial, e mesmo do vertiginoso crescimento, dos independentes, como desdobramento do processo de institucionalização e também do desgaste da polêmica com os presbiterianos, que na década de 1920 não despertava interesse em nenhum dos grupos. Em 1916 aconteceu o Congresso do Panamá, evento que dedicou boa parte das discussões à ação social das igrejas protestantes e à necessidade de uma maior cooperação interdenominacional. Deste evento participou Eduardo Carlos Pereira, juntamente com líderes presbiterianos como Erasmo Braga e Álvaro Reis. Um dos resultados desse congresso foi a criação do Seminário Evangélico do Rio de Janeiro 1921.

Em 1923 faleceu o líder Eduardo Carlos Pereira. Somaram-se a este outros elementos que dificultaram a manutenção do Seminário Teológico de São Paulo. A existência de poucos alunos era outro fator79

que ajudava a tornar pequena a receita

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Sobre isso Roldão Trindade Ávila registra: “A lamentação apenas era tanto alimento [a qualidade das aulas] para tão poucos alunos” (AVILA, 1983, p.52). Rubens Cintra Damião acrescenta que até a

do Seminário. A maior fonte de recursos da escola era as ofertas das igrejas levantadas para essa finalidade específica. O tesoureiro da igreja publicava periodicamente em O Estandarte um quadro indicando os valores dessas doações até a década de 20. A maior parte dos alunos era mantida por essas doações.

Devemos considerar ainda a crise econômica em função da quebra da bolsa de Nova York em 1929. A economia brasileira no período era baseada principalmente na exportação do café, e a referida crise faz sentir seus efeitos no Brasil. A maior parte das igrejas presbiterianas independentes estava situada nas regiões cafeeiras, sentindo fortemente o golpe da crise. As outras denominações também sentiam impactos dessa crise, o que provocara o início de tentativas de sistemas de cooperação interdenominacionais. Essa iniciativa resultou no empreendimento do Seminário Unido no Rio de Janeiro, no local em que funcionava o Seminário Evangélico. Devido às dificuldades financeiras para a manutenção do Seminário, o Sínodo da Igreja Independente decidiu pelo fechamento do Seminário de São Paulo e pela transferência do professor Alfredo Borges Teixeira e dos alunos Adolpho Machado Correa, Eduardo Pereira de Magalhães, Raphael Camacho e Roldão Trindade de Ávila80 para o Seminário da capital federal81.

O Seminário Unido consistiu na cooperação entre as igrejas Presbiteriana, Independente, Metodista e Congregacional, tendo funcionado de 1930 a 1932. Seu corpo docente ficou assim constituído: da igreja independente: Alfredo Borges Teixeira, ocupando também o cargo de reitor; da igreja presbiteriana: Julio C. Nogueira, Erasmo Braga, Galdino Moreira e Américo Cardoso Menezes, o primeiro também exercendo a função de secretário da congregação; da igreja Congregacional: Alfredo Azevedo; da igreja Metodista: Epaminondas Moura, além de professores convidados.

O ideal do Seminário Unido era bastante interessante e motivador, mas a realidade apresentava problemas difíceis de ser superados. Havia ainda a

década de 1930 o Seminário formava em média 10 alunos por década (ver entrevista em anexo). Nosso levantamento (demonstrado no capítulo 3), considerado como amostra do período em questão, confirma essa projeção.

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Estamos consultando para essa pesquisa um livro de memórias do Rev. Roldão Trindade de Ávila, no qual há registros importantes de sua experiência como aluno, professor e diretor do Seminário. Ávila acabou sendo diplomado pelo Seminário Unido em 1930, mesmo ano que os alunos foram transferidos. De fato, a maior parte da experiência discente de Ávila (seis anos) deu-se no Seminário de São Paulo.

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necessidade de investimentos. Uma instituição de educação teológica não se mantém somente com a receita das mensalidades dos alunos, dependendo do apoio financeiro das igrejas. Então se colocava o problema da fonte eclesiástica dos recursos numa instituição interdenominacional.

No decorrer do ano de 1930 houve a revolução – ou o golpe – que levou ao poder Getúlio Vargas. O sentimento dos independentes envolvidos no projeto era de frustração; conforme nos indica ÁVILA, os alunos estavam decepcionados “com a alta administração da Igreja por não ter encontrado solução” dentro dos recursos disponíveis (1983, p.60). Houve certo descontentamento também em função da “falta de comodidade, se tratando de instalações inadequadas” (1985, p.4), contrastando com a expectativa de “uma instituição como se propagava com título pomposo” (1983, p. 60). Mesmo assim Ávila faz questão de ressaltar que “o ensino foi muito proveitoso, e a vida de plena harmonia entre os representantes das denominações cooperantes foi muito agradável, com estímulos recíprocos para os estudos” (1985, p.4).

Em 1932 as igrejas cooperantes passaram a faltar com o apoio à escola. Em reunião do Sínodo da Igreja independe ocorrida no mesmo ano, Alfredo Borges Teixeira já comunicara que aquele seria o último ano da cooperação, solicitando que fossem tomadas medidas para a reabertura do Seminário em São Paulo.

Em 1932 faleceu um dos idealizadores e grande incentivador do projeto de cooperação, Erasmo Braga, aumentando o desânimo pela continuidade do projeto. Todavia, Júlio Andrade FERREIRA considera que o principal motivo para o fracasso do projeto foi a falta de planejamento da transição dos seminários locais para o Unido:

O erro inicial dos organizadores do Unido foi o pretender, sem um preparo prévio pelo menos, matar os seminários denominacionais. Desencadearam-se lutas que se devem, em parte, a choque de interesses (que denominação quereria arriscar a estabilidade de sua educação teológica, trocando o certo pelo incerto, como então se dizia?) e em parte por desinteligências inevitáveis nessas ocasiões

O Seminário Unido foi fechado em 1932, com o lamento de seus entusiastas, para quem o fracasso do projeto de unificação se deu com uma nota irônica, pois “apesar do nome Unido, a instituição causava muitas desuniões”82 (FERREIRA, 1985, p.19, grifo nosso).