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2. O SEMINÁRIO TEOLÓGICO DE SÃO PAULO

2.5. O Seminário durante a Ditadura Militar (1963-1979)

A volta do Seminário para o primeiro edifício dedicado exclusivamente a promover a educação teológica promoveu um clima de festa. Porém, a estadia ali durou apenas sete anos, pois em onze de fevereiro de 1960 a Faculdade estaria envolvida em nova mudança. Desde 1958 a Igreja Independente havia tomado a decisão de construir um prédio em projeto definitivo para abrigar a educação teológica. Neste ano, decidiu-se pela venda do prédio da Rua Visconde de Ouro Preto e adquiriu-se um terreno de 20.800 metros quadrados no Km 12 da Rodovia Raposo Tavares, Jardim Bonfiglioli. Entre o período de 1958 e 1960, ano em que foi inaugurada a primeira fase das obras, o templo da Primeira Igreja voltou a abrigar o curso teológico.

Figura 2.9. Edifício do Jardim Bonfiglioli, onde o Seminário funcionou de 1963 até 1970

Fonte: Revista do Seminário Teológico de São Paulo (1985)

A inauguração ocorreu em 21 de Abril de 1963, data de comemoração de cinquenta e oito anos da instituição. O jornal O Estandarte registrou: “Eis finalmente, pronto e consagrado, o magnífico prédio do Seminário Presbiteriano Independente do Brasil, materialização em cimento e ferro de velhos anseios dos nossos primeiros lutadores”; a matéria trazia uma fotografia do edifício, acompanhada da frase: “seja a

nossa casa de profetas um exemplo de ordem, disciplina e lealdade” (O Estandarte, 30/04/1963, p.1).

O prédio construído serviria para as aulas, biblioteca, residência do zelador, capela, refeitório e dormitório dos alunos em regime de internato. A construção ainda não estava acabada e, nos anos posteriores, foi lançada uma campanha nacional para dar continuidade ao planejado. Os primeiros anos da década de 1960 foram tensos. Havia um intenso debate ideológico, que culminou no golpe militar de 1964. O debate ideológico foi marcado por muitos conflitos que afetaram as instituições seculares e religiosas no Brasil. Muitos, principalmente os jovens, em grande parte por meio dos movimentos estudantis, se envolveram politicamente com essas questões, reivindicando mudanças nas estruturas da sociedade. Esses acontecimentos não eram isolados, e podiam ser verificados em outros lugares, como os movimentos estudantis na Europa e as ditaduras “colonizadoras” na América Latina.

Esse clima tenso afetou também as comunidades religiosas, gerando conflitos internos e provocando nas lideranças religiosas de diversas denominações uma tomada de decisão. Quase sempre a decisão tomada compactuava com os poderes dominantes. Rubem Alves era então pastor presbiteriano e escreveu importante texto sobre esse período, no qual analisa a participação das igrejas protestantes diante da repressão instaurada pela ditadura:

Eu conhecia a psicologia daquele momento que se vivia no Brasil: “caça as bruxas”. Eu aprendera no estudo e na experiência das Inquisições, período em que desaparece a inocência e a simples delação já constitui veredito. A política eclesiástica aparecia como profecia da política secular. As duas são uma mesma coisa. [...] Somente muito tempo depois compreendi os fundamentos sociais dos meus temores. A Igreja Católica tem uma eclesiologia muito forte – na verdade é uma eclesiologia muito forte. Suas fronteiras institucionais e sua teologia delimitam um espaço e um tempo imensos, transbordando das limitações apertadas dos espaços e tempos políticos. Ela aprendeu a arte da sobrevivência. E esta arte tem a ver com a manutenção da integridade institucional, sempre que algum perigo surge. Assim, em meio à “caça às bruxas”, a Igreja Católica constitui-se numa “cidade-refúgio”, “santuário” onde os perseguidos encontram abrigo. O fato de pertencerem à Igreja era mais forte que a sua pertinência ao Estado. Mas com as Igrejas Protestantes a situação era diferente. Comunidades pequenas, marginais, sem reconhecimento, desejosas de “pertencer” a algo maior: nada melhor que uma situação de “caça às bruxas” para afirmar, perante o Estado, a sua lealdade, garantindo assim o seu direito de participar do poder (ALVES, 1995, p.154-5).

As lideranças assumiram posições quase sempre contrárias ao comunismo. A participação das igrejas protestantes não diferiu em seu conteúdo, e seus efeitos se reproduziram de modo bastante semelhante em suas denominações. Poucos dias antes do golpe militar, o pastor da Primeira Igreja Independente de São Paulo, Daily França, encaminhou documento ao presbitério, e fez aprovar a Moção do Presbitério de São Paulo à preclara Congregação da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, pois a Faculdade era considerada pelos autores “um foco de influência marxista”. Note-se que Daily era professor do Seminário, e não estava fazendo uma autocrítica neste documento. Neste caso, a crítica era endereçado aos estudantes. O texto foi publicado em O Estandarte, e nele podemos perceber o nível da batalha ideológica que estava em andamento:

Considerando que o Comunismo, materialista e ateu, é uma força indiscutivelmente diabólica que se insinua nas sociedades humanas apresentando-se como salvação da humanidade, garantindo a promessa de nivelamento das classes sociais e os recursos econômicos equitativamente distribuídos aos povos; considerando, ainda, que a malfadada ideologia do materialismo histórico, ameaça alcançar, já

agora, as próprias igrejas evangélicas e a nossa Faculdade de Teologia, sob o estulto e desgraçado pretexto de que o Cristianismo

começou comunista; pretexto êste, tão infeliz, que induz crentes e

estudantes de teologia a se esquecerem de que a passagem em se

baseiam é, antes, uma veemente condenação ao Comunismo Ateu, pois um hino de glória à liberdade do amor cristão “E todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos” (portanto, nenhuma referência de poder estatal; [...] Resolve: Hipotecar a essa Colenda Congregação [de professores do Seminário] seu irrestrito apoio a todas as medidas que forem tomadas com o fim altamente cristão, de imunizar a nossa Escola de Profetas contra a contaminação do veneno satânico da tremenda doutrina marxista (O Estandarte, 15/03/1964, p.8-9, os grifos são nossos).96

O conflito com os estudantes começou a se desenhar quando estes começaram a publicar textos em O Estandarte com teor crítico e contestador. Esses textos eram objeto de críticas por parte dos pastores, que usavam o mesmo jornal para travar debates em torno dos assuntos em questão. O editorial de 15 de março

96

Leonildo depõe, sobre isso: “estava no livro de atas da Primeira igreja de São Paulo uma denuncia feita pelo Daily e encaminhada para o presidente do presbitério São Paulo, dizendo que o Seminário estava cheio de comunistas e que os alunos tinham envolvimento com o marxismo, e que precisaria a igreja exercer uma ação para limpar a influência subversiva que existia no Seminário”.

de 1964, mesma edição que traz a Moção à Faculdade, é intitulado princípio de autoridade, e condenava a contestação das autoridades da igreja como um grave mal a ser extirpado97.

Os confrontos entre autoridades eclesiásticas, professores e estudantes se intensificaram cada vez mais. Já em 1956 o Diretor Wilson Guedelha era acusado, em cartas de estudantes, de ser considerado um professor com qualidade abaixo do esperado98. Esses conflitos resultaram na demissão do Diretor Wilson Guedelha, e do Deão Ciro Machado, em 1966, tendo sido substituídos por Rubens Cintra Damião e Abival Pires da Silveira. Porém, a crise agravou-se no final da década de 1960, e remonta a reivindicações dos alunos, que elaboraram uma crítica detalhada a cada disciplina e professor, propondo reuniões com a diretoria para um diálogo que produzisse melhorias99.

Os estudantes reclamavam da má qualidade das aulas, segundo seu julgamento, e da falta de assiduidade dos professores. Eles se reuniam em Assembleias e preparam uma espécie de dossiê de cada disciplina e professor. Descreveremos algumas dessas análises:

97

No referido editorial lemos: “Humanamente falando e não saindo da orientação divina, a Igreja se constitue uma ordem social. Assim, é constituída de pluralidade de igrejas locais com uma pluralidade de indivíduos que mantêm entre si o elemento unidade coletiva, à volta do bem comum e geral. Sem prejuízo da liberdade lícita de cada membro do grupo da comunhão eclesiástica, deve ser mantido o elemento unidade de princípios, de padrão de fé e de ação para que a finalidade da Igreja seja alcançada. E o elemento desta unificação social é a autoridade. Se, na sociedade em geral, a autoridade tem o direito de obrigar os sócios no que concerne à consecução dos seus fins, por que razão na Igreja como ordem social, haveríamos de deixar de lado e de descuidar do princípio da autoridade” (O Estandarte, 15/3/1964).

98

Livro de Atas da Congregação da Faculdade de Teologia. nº.1, de 21 de Fevereiro de 1956, p.140.

99

O depoimento dos alunos corrobora no sentido da exigência por qualidade. Temo, por exemplo, o depoimento de Leontino: “Em 1968, a gente, pelo fato dessa consciência crítica, a gente sempre queria que a faculdade oferecesse mais e melhor. A gente achava que o que os professores produziam e realizavam não atendiam a demanda das exigências da época. Então havia uma expectativa de mais, de querer mais. Alguns nomes se destacaram nessa época: o reverendo Abival, que dava aula de Teologia da Missão, e dava aula de Introdução à Teologia, acho que era isso. E ele foi quem fez a diferença nessa época. E o reverendo Daily França, que era pastor da Primeira Igreja, presidente do Supremo Concílio. Ele tinha feito Filosofia na USP, e ele era um dos poucos que entregavam um programa de curso (de aula não, de curso), e a gente se empolgava. Mas os outros não, e a gente tinha dificuldade” (Ver entrevista, anexo 6).

Figura 2.10. Edifício do Jardim Bonfiglioli

Fonte: Revista do Seminário Teológico de São Paulo (1985)

Objetivando a melhoria do curso atual, expressamos as seguintes ponderações e sugestões para as cadeiras abaixo declinadas: [...] 2. EXEGESE DO VELHO TESTAMENTO: a) evitar o curso dispersivo e concentrado em termos esparsos como vem sendo dado até agora; b) necessidade de estudo de crítica bíblica; c) necessidade de vinculação com um conhecimento, à altura, de História do Velho Testamento; [...] 7. HISTÓRIA DA FILOSOFIA: a) necessidade de estudo comparativo e mais concentrado nos sistemas, a fim de possibilitar uma visão de conjunto da História da Filosofia; b) estudo dos filósofos modernos, de maneira a relacioná-los com o item anterior. 8. LÓGICA: a) necessidade de estudar o pensamento lógico, sua metodologia, ao invés de uma continuidade apenas, do curso de História da Filosofia [...].100

Ao final de cada análise, a conclusão: “o atual professor não tem condições de dar a matéria”. Os estudantes elaboraram a partir dessa análise um documento que foi entregue à direção do Seminário, lido perante a Comissão de Professores em 27 de Maio de 1968, do qual destacamos alguns pontos:

100

Temos notado sensível desinteresse dos professores em vincular a Faculdade ao mundo teológico. [...] Temos notado uma falta de preparo, de reformulação, de atualização dos cursos [...]. Temos notado que não há “entrosamento” das diversas matérias do currículo. [...] Temos notado a perpetuação de uma situação de emergência [as soluções paliativas haviam se tornado a regra]. [...] Cremos na necessidade de pensarmos na interrupção “provisória”, através de planejamento para o futuro101.

A proposta era a de uma reforma radical na educação teológica102. Houve uma resposta pública aos estudantes em culto especial realizado na Primeira Igreja Independente de São Paulo, em 21 de abril, aniversário do Seminário, pelo Dr. Célio de Melo Almada, presidente da Fundação Eduardo Carlos Pereira103. Dr. Célio, juiz de direito aposentado, reconhecia que eram necessárias reformas, mas reivindicava maior atenção da igreja para o Seminário, reconhecendo que o clima que permeava o ambiente estudantil seria diferente se o caso tivesse recebido a atenção necessária:

Muitos de nossos jovens e dentre eles muitos dos próprios seminaristas estão contaminados desta esperança vã, de que o Estado resolva todos os problemas sociais e que a Igreja desça de sua dignidade, para empunhar a bandeira das reformas políticas e sociais [...] Não estamos abandonando moral e materialmente uma instituição tão cara ao nosso passado? Que igreja é esta que não cuida da educação condigna dos vocacionados para o Santo ministério?104

Havia ainda a influência que os estudantes traziam dos ambientes acadêmicos que frequentavam. Era o espírito da época, e as atitudes dos estudantes refletia o ideal de mudanças. Muitos seminaristas conciliavam a formação teológica com cursos na USP105, e se envolviam com os movimentos

101

Ver anexo 10.

102

Muitos desses estudantes viriam a ocupar as instâncias de poder na década de 1980, na direção da igreja e do seminário, e na docência do mesmo, quando foi possível realizar essa reforma.

103

Instituição responsável pela manutenção do Seminário organizada pela IPIB em 13/5/1963. A Fundação Eduardo Carlos Pereira foi fundada na década de 1960. A legislação do município de São Paulo permite que somente entidades e fundações religiosas possam organizar cemitérios. Em função disso, um grupo empresarial ofereceu à igreja Independente uma parceria, na qual a igreja seria responsável pela organização da Fundação para administração do Cemitério de Congonhas. Os recursos dessa parceria deveriam atender, em primeiro lugar, à aquisição de imóveis para atender à educação teológica.

104

Citado por Leonildo Silveira CAMPOS (2005, p.19).

105

Os alunos frequentavam os cursos das áreas de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, afins ao curso de Teologia. Realizavam esses cursos os alunos que eram candidatos oficiais por seus

estudantis, participando de passeatas e assembleias106. O diálogo entre alunos e professores prosseguiu improdutivo, e as críticas aos professores eram recebidas com incômodo. Leonildo, um dos estudantes da época, relata algumas páginas desse conflito:

Naquela altura aconteceu algo curioso: Quando a crítica estava mais ou menos contra os demais professores e ainda não estava muito clara com relação ao Daily, ele estava achando que os alunos deveriam ser ouvidos e que nas reuniões da congregação os alunos deveriam ter espaço. Então os alunos foram avançando nas reivindicações. Mas quando chegou a hora de questionar o próprio, aí ele achou muito ruim. Foi então que os professores deixaram de fazer reunião da Congregação no prédio do Seminário. Eles descobriram que os alunos haviam colocado microfones ocultos na sala da reitoria e nós, os alunos, ficávamos no andar de baixo escutando a discussão deles para saber “qual seria a melhor estratégia para esvaziar a influência comunista que existia no Seminário”107.

Tratava-se de uma relação de poder. Daily Resende França, à época era também o presidente do Supremo Concílio108 da Igreja Independente. A partir daí, o representante dos alunos não foi mais convocado para participar das reuniões da Congregação dos professores; e os estudantes, então, colocaram microfones escondidos na sala de reuniões dos professores para se inteirarem do que estava acontecendo, o que evidencia o clima de animosidade que se estabelecera. Com isso, as reuniões passaram a ser realizadas na Primeira Igreja, longe da Faculdade.

Os alunos, por sua vez, continuavam se reunindo, e o próprio deão do Seminário, Abival Pires da Silveira, participou de várias reuniões dos alunos

presbitérios, o que significava que tinham as despesas com o curso de Teologia pago por seus Concílios. Gérson C. de Lacerda, um dos estudantes que aproveitou a oportunidade para cursar História na USP, recorda que eles aproveitavam a proximidade com a Universidade de São Paulo e para lá caminhavam cerca de meia hora (ver entrevista, anexo 5).

106

O depoimento de Leonildo o comprova: “Quando, em 68 eu entrei, as coisas estavam mais ou menos tranquilas. Porém, em 68, com o movimento estudantil, nós tínhamos um centro acadêmico muito atuante, chamado “Centro Acadêmico Eduardo Carlos Pereira”. O presidente do Centro Acadêmico era Guilherme Ataualpa de Montezuma Breder, Guilherme Breder. Breder era oriundo do Seminário do Centenário, no Espírito Santo, que o Boanerges tinha fechado. Ele, e também alguns outros seminaristas que vieram expulsos de Campinas (1967) para o Seminário Independente. Eles eram muito atuantes no Seminário de São Paulo e no Centro Acadêmico Eduardo Carlos Pereira. Por outro lado havia alguns estudantes que estudavam na USP. [...] Então estes estudantes participavam do movimento estudantil, de passeatas da USP, e levavam os estudantes do Seminário também”. Ver entrevista, anexo 7.

107

Ver a entrevista de Leonildo S. Campos, anexo 7.

108

O Supremo Concílio era o órgão máximo da estrutura politica e eclesiástica da igreja Independente. É conduzido por uma diretoria eleita e composta por representantes eleitos dos Presbitérios. Atualmente o Supremo Concílio corresponde à Assembleia Geral.

buscando mediar as relações entre direção, professores e alunos. Todavia, o conflito permaneceu até que os alunos tomaram a decisão de não se submeter às provas no final do semestre, como forma de protesto. Para isso encaminharam, em 16 de junho de 1968, uma declaração, assinada por todos os estudantes, à Congregação dos Professores, em que assim declaravam:

Considerando que têm solicitado um diálogo para esclarecer situações surgidas nesta Faculdade [...] que esta atitude assumida destoa de um sensato encaminhamento do diálogo pretendido [de impedir a participação dos alunos nas reuniões dos professore]. [...] Para os alunos, num clima dessa natureza, inexistem condições de preparar-se e apresentar-se aos exames já marcados; são obrigados, pesarosamente, a comunicar-lhe que não comparecerão aos exames do mês de julho e que aguardarão o restabelecimento de clima favorável à normalização do ambiente para o prosseguimento do curso e a abertura do diálogo sério, que vem sendo solicitado, e que já teria solucionado o problema109.

A Congregação dos professores reagiu expulsando todos os alunos signatários da referida declaração, em comunicado publicado dois dias após o recebimento do documento enviado pelo corpo discente. Segue parte deste comunicado:

Considerando que a última atitude assumida pelos alunos desta Faculdade, ao assinarem um documento no qual declaram que não comparecerão às provas parciais de junho, já devidamente marcadas, caracteriza uma rebelião; que essa atitude é agravada pelas manifestações antecedentes, através de outros documentos, bem como pela imposição de condições para o prosseguimento do curso; que, em um Seminário Evangélico, é inadmissível tal atitude, reprovável até em escolas seculares [...]; que qualquer orientação e deliberação sobre as atividades escolares desta Faculdade são de alçada exclusiva da Congregação, nos termos do Regimento Interno, não cabendo ao corpo discente ditar normas de conduta, nem impor condições; delibera excluir todos os alunos que assinaram a mencionada declaração, nos termos do artigo 53, inciso IV, do Regimento Interno. A presente deliberação não elide a possibilidade de reexame de casos particulares, a critério desta Congregação, mediante entendimento com os concílios da IPIB. As atividades escolares continuarão normalmente, com o prosseguimento dos exames, aos quais poderão comparecer os alunos que não assinaram o referido

109

documento110. Os alunos ora excluídos deverão desocupar seus alojamentos até o último dia corrente do mês111.

Os seminaristas só seriam readmitidos com carta de recomendação de seus concílios de origem. Um aluno de seminário pode ser candidato oficial de seu presbitério. Isso implica em um processo de exame de seleção e acompanhamento do aluno durante o processo de formação, ao final do qual o aluno dá os passos para sua ordenação ao sacerdócio. O Seminário também recebe alunos que não são candidatos oficiais. Todavia, em meio a esses acontecimentos, só seriam aceitos alunos fossem candidatos oficiais de seus presbitérios, e os que foram expulsos deveriam passar por um novo processo de seleção em seus concílios.

A atitude dos alunos foi classificada como ato de rebeldia, tal qual eram consideradas as atitudes de estudantes universitários em vários lugares, no ano que não terminou112

. Situados em seu contexto, esses acontecimentos foram inscritos dentro de um conflito ideológico internacional, e que fazia buscar qualquer tipo de influência comunista em diversos setores da sociedade, inclusive nas Faculdades de Teologia. Neste sentido, outros seminários teológicos passaram por problemas semelhantes e tiveram suas atividades suspensas113.

Ademais, fazia aumentar essa desconfiança o fato de os seminaristas participarem de passeatas estudantis. Os estudantes que faziam cursos na USP tomavam contato com esses movimentos, e acabavam envolvendo os seminaristas. Havia também, por parte de setores mais progressistas, uma tentativa de abertura da educação teológica para os temas que movimentavam o mundo. Em 1968 houve um congresso da Associação Brasileira de Estudantes de Teologia, em Campos do Jordão, para discutir o tema da secularização. Deste evento participaram dois alunos

110

As atividades escolares continuariam com os alunos que não tinham sido expulsos, embora nenhum houvesse para continuidade desses atividades.