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A flexibilidade e a globalização do mercado de trabalho atual

Numa perspetiva longitudinal podemos dizer que enquanto o século XIX se identificou com a modernidade, o século XX afirmou-se pelo conceito de globalização (Sales Oliveira, 2011). Há também quem o conceptualize como pós-industrial (Touraine, 2005).

Seria infrutífero caminhar neste capítulo sem revisitar os conteúdos que encadeiam o desenvolvimento do campo da Sociologia do Trabalho. Para melhor compreendermos e porquanto contextualizarmos o quadro atual que atravessamos, importa deslindar o histórico dos principais movimentos que delimitam os diferentes cenários da evolução do trabalho.

Recolhemos de Freire (1995) e sua tese pioneira sobre o trabalho independente em Portugal, que o objeto de estudo constitui-se numa vasta extensão de todas as atividades humanas que se constituem graças ao trabalho. O autor revisita-nos os sucessivos objetos de análise da Sociologia do Trabalho, os quais num espectro cronológico e estrutural se precederam em Portugal, i.e., no ano de 1960 o impacto da indústria

leva a que as análises sociológicas se debruçassem sobre o período de produção mercantilizada, em que a teoria Fordista impunha produzir o máximo num determinado espaço de tempo. Segue-se a teoria de ação de Touraine (2005), acerca dos movimentos operários, marcando um grande incentivo no desenvolvimento da sociologia do trabalho após o 25 de abril de 1974. Já Tripier (1991) sente a necessidade de focar uma sociologia do mercado de trabalho. Crozier (1977) e Sainsaulieu (1987) transferem-se para uma sociologia da empresa. A partir de 1990 e perante os movimentos de globalização as realidades de análise transmutam- se para abordagens pós-tayloristas, onde o cerne se concentra então no Homem, enquanto ser criativo e inteligente, em detrimento da força das máquinas. Nos tempos atuais debruçamo-nos com maior incidência no setor terciário devido ao seu grande crescimento.

É incontornável que quando abordamos problemáticas como o desemprego – ancoradas nos estudos da Sociologia do Trabalho – nos seja necessário assistir a um entrosamento com variados ramos de estudo,

e.g. Sociologia Política, Sociologia das Organizações, Sociologia do Desenvolvimento (Almeida, 2005).

Analisar a realidade atual, implica relacionar épocas vividas. No revisitar de contextos e teorias aventamos que os alicerces do estruturalismo se encontram neste trabalho preteridos pelas novas escolas onde figuram a teoria de escolha racional e a sociologia compreensiva (Weber, 2010). Remetemo-nos nesta análise ao paradoxo dos conceitos escolásticos de poder simbólico versus habitus (Bourdieu et al., 2004), assumindo que o primeiro prevalece com mais determinação nesta contemporaneidade. Reconhecemos desde cedo, no momento de escolha da temática de estudo, que o repto do empreendedorismo se tem tornado perlocutório nos tempos vigentes. Importa por tal relacioná-lo com as realidades do quadro laboral que vivenciamos, quer no que toca à temática que envolve a globalização como às suas consequências e sobretudo às exigências da flexibilidade do e da agente.

Sendo que seguimos a linha teórica de agência, e por consequência, o poder do e da agente em decidir a sua ação, entendemos que ele e ela têm capacidade para contornar obstáculos, inclusive o desemprego, e procurar a construção do seu posto de trabalho. Aqui caracterizamos um empreendedorismo por necessidade. Por outro lado, quando nos referimos ao empreendedorismo por oportunidade, tratamos mais do conceito de satisfação pessoal. A mulher, no seu ancestral papel de cuidadora do lar, tendo consciência de suas potencialidades, de suas necessidades, avança nestes termos para criar algo que a motive, algo que denote as suas apetências profissionais perante a vida social, cultural e económica em que se envolve estruturalmente (Carrilho, 2015). A mulher constrói o seu papel, ela é agente e tem o seu poder de ação weberiano perante a estrutura que a envolve. Não é assim a estrutura que determina, mas sim a agência perante a envoltura estrutural. E seria uma ousadia – característica estereotipada como sendo pouco feminina (Amâncio, 1992) – avançar que todo a envoltura social se desenvolve em troca de interesses e influências, desde o meio empresarial, o meio político, o meio académico. Não obstante, este breviário será, pois, aprofundado no capítulo seguinte bem como ao longo do desenvolvimento de todo o estudo.

Destarte, utilizando a clássica classificação dos setores de atividade10 de Fischer e Clark, demarcamos as posições dos setores de atividade mais salientes em quatro momentos: (1) até 1950 setor

10Importa acrescentar que os setores de atividade divergem, porém, pelas assimetrias locais e pelos estágios de desenvolvimento de um país ou região, i.e., nos países menos desenvolvidos o setor primário tem maior peso, já nos países em desenvolvimento a terciarização é predominante. Em Portugal, a estrutura profissional tem vindo a alterar- se, no início do século XX resumia-se em proporção às atividades primárias. Doravante, assistimos a uma forte tendência ao setor terciário, face a variadas circunstâncias, e.g., diminuição da mão-de-obra na agricultura por força do êxodo

primário (atividades de exploração dos recursos da natureza, produzindo os bens essenciais à sobrevivência); (2) 1950 setor da indústria e automação (diz respeito à transformação de bens primários produzidos, com vista ao consumo); (3) 1980 setor terciário (apesar de não produzir nenhum bem, envolve o agrupamento de atividades que prestam serviços à população) e (4) após 1990 corresponde à era da flexibilidade laboral (Touraine, 2005). Esta última vem ao encontro dos mercados livres. A este propósito torna-se perentório precisar neste enfoque dois conceitos: o liberalismo e o neoliberalismo. Também estes têm que ser entendidos à luz do seu enquadramento histórico e estrutural. Etimologicamente liberalismo remete-nos ao conceito de liberdade. O termo surge pelo viés teórico dos clássicos John Locke (1986) e Adam Smith (1999), nos séculos XVII e XVIII aquando da revolução francesa11, na pretensão de romper com o absolutismo e acentuar a liberdade do indivíduo. Os autores citados repudiam a interferência do Estado nas trocas económicas entre privados, evocando o primado do laissez-faire. Com esta ideologia emergem as classes burguesas e que posteriormente vão estar ligadas ao trabalho nos serviços. Hoje apelidada de liberalismo clássico, esta corrente denuncia-se em função da ausência de políticas de proteção social bem como de regulamentação, despoletando o individualismo metódico aliado à competição dos mercados.

Face a esta conjuntura e já nos primórdios do século XX surge nos EUA a Escola de Chicago, na qual Keynes (in Keynes e Krugman, 2007) enceta a sua defesa de intervenção, embora moderada, do Estado na economia, mantendo as ideias de liberdade e autonomia do indivíduo mas assegurando assistência e proteção às pessoas desfavorecidas na pretensão de combater as taxas de desemprego que então se faziam sentir. Viviam-se os designados trinta anos dourados.12 A partir da linha de pensamento keynesiana, mas com posteriores desenvolvimentos, surge um novo conceito, o neoliberalismo13, postulando a contínua defesa da liberdade do e da agente e as privatizações, na abertura económica, com o objetivo primordial de abrir portas ao mundo numa política de mercado global14.

Sem embargo e seguindo os postulados de uma sociologia compreensiva weberiana, entendemos não alimentar posições derrogatórias, construídas a ‘preto e branco’ sobre mercados liberais ou neoliberais nas quais se fundem evidentes semelhanças15. Este breve prólogo é suficiente para compreendermos os

rural e mecanização agrícola, automatização do setor secundário e novas exigências sociais que refletem a diversidade de emprego em áreas prementes como o turismo, a cultura, o crescimento do comércio, os serviços financeiros, a educação e a saúde. É neste contorno que, concomitantemente, surge a mão-de-obra feminina (Touraine, 2005). 11Importa registar que nesta mesma época coincide o despoletar nas Ciências Sociais do domínio científico da Sociologia, pela necessidade premente de analisar os movimentos do trabalho, expandindo posteriormente os seus objetos de estudos para vastos campos de análise de grupos sociais em interação.

12Expressão de Jean Fouriastié (1907-1990, economista francês que cunhou o termo para descrever a situação de prosperidade vivida em França a partir da segunda guerra mundial). Este período fértil a nível financeiro, também conhecido como a idade do ouro, durou de 1944 a 1974 em que as comunidades melhor posicionadas beneficiaram de um rápido crescimento económico. Identificamos sobretudo o Japão e outros países europeus. Todavia Portugal não usufruiu (Casaca, 2008).

13Atente-se que esta corrente é atravessada por dois movimentos, o keynesianismo – também apelidado por alguns teóricos de liberalismo social – e a posição de Friedman (2012) que denuncia que o Estado não tem capacidade para desenvolver economicamente um país, justificando que canaliza os seus escassos recursos a investimentos que não trazem valor produtivo à sociedade e apenas concertam populismo aos governantes. O autor citado chega a defender a ausência de salários mínimos sendo contra qualquer regulamentação estatal que iniba a ação das empresas privadas. 14Importa-nos esclarecer a necessidade desta breve alusão aos dois conceitos – liberalismo e neoliberalismo – uma vez que é através destes que desenvolvemos a nossa leitura do conceito de ‘mercado livre’, tão presente na temática da globalização e porventura no fenómeno de empreendedorismo, foco do nosso estudo.

15Pela consulta teórica damos conta que existem e perspetivamos que sempre existirão diferentes posições, elencando prós e contras, semelhanças e diferenças aos mercados liberais ou neoliberais. A insatisfação é um estágio da natureza humana, e.g., alguns apontariam as fraquezas dos países subdesenvolvidos subjugados à concorrência dos países mais

movimentos atuais à luz das teorias acionadas. A liberdade de agência – e importa esclarecer neste debate que-pode ter significados distintos segundo diferentes ideologias políticas, todavia, o que nos importa é analisar criticamente o impacto das ações enquadradas às suas realidades. Entendemos ser mais importante reforçar que as práticas laborais derivam de constructos sociais (Liu e Chen, 2010), i.e., cada estágio vivenciado procura melhorar o anterior seguindo sempre um caminho que é contínuo, não é fechado e definitivo. Entendemos ainda que é tarefa do sociólogo e da socióloga observar os factos à luz da sua contextualização estrutural e histórica, sob pena de se obter deficientes interpretações, reiterando que cada caso é único, é novo e deve ser tratado com a sua ‘identidade’ própria.

Touraine (2005) elenca-nos que durante muito tempo analisamos a realidade social em termos políticos, i.e., o poder e o Estado, em seguida substituímos o foco de análise pelos paradigmas económicos,

i.e., classes sociais e riqueza, sendo que de acordo com sua análise estas categorias tornam-se incipientes

para explorar o momento atual. Para o autor (Touraine, 2005) carecemos de novos paradigmas que concentram o foco sobre os problemas culturais, privilegiando diagnósticos sobre interação do e da agente nas redes sociais de trabalho e reorganizando o pensamento social neste novo cenário global.

Após esta incontornável súmula histórica, vamos focar o momento social atual caracterizado pela globalização. Conforme esclarece Rodrigues (2000) a globalização não é um fenómeno recente, mas sim um processo genealógico que tem as suas raízes na longa história da modernidade. No discurso sociológico a globalização é um processo de integração económica, cultural, social e política entre várias nações (Giddens, 2002). O fenómeno revela-se uma força condutora de rápidas mudanças sociais que está a reestruturar as sociedades contemporâneas.

Sobre as origens desta realidade social e após revisão literária constatamos que emerge na década de setenta do século passado, sobretudo devido à saturação dos mercados internos que têm necessidade de conquistar e expandir fronteiras. Agregado a este contexto destacam-se o desenvolvimento de novas tecnologias e a evolução de novas linhas de transportes, que, por sua vez, vêm encurtar distâncias entre as comunidades. Estes são assim os elementos condutores de aproximação entre sociedades e que facilitam a sua integração global. Na continuidade desta leitura, o termo global incumbe um processo de união de informações, produtos e serviços, procurando sobretudo privilegiar e evoluir as empresas e o mercado laboral no campo da comunicação, tecnologia e transnacionalidade (Castells, 2006).

Deste modo constatamos que a globalização alterou o mercado de trabalho no respeitante ao conjunto de oportunidades em oferta versus a procura existente ao nível laboral. Sem embargo, atendemos que o mercado de trabalho condiciona muitos outros factores da vida social, e.g. as relações sociais, a capacidade de consumo da população, a relação entre a vida laboral e a vida familiar e pessoal e a nível macro o desenvolvimento económico de um país. A introdução do próprio conceito de mercado de trabalho surge enformada no domínio da Economia, sendo por natureza um conceito pouco sociológico e abstrato nesta matéria, conforme nos sugere Marques (2000, 2013). Todavia e debatendo os impactos sociais que o mesmo acarreta nas pessoas torna-se premente analisar as relações sociais que se geram no seu entorno,

ricos, todavia também os primeiros têm a ganhar por ficarem menos isolados e terem acesso a mais informação face ao fenómeno advento da globalização.

e.g., o emprego, o desemprego, os setores de atividade, as hierarquias institucionais, os salários, as

competências.

Toda esta análise conjuntural centraliza-se nas transformações sentidas em torno da Economia e do trabalho e no modo como esses elementos influenciam as sociedades e os seus agentes. Acerca da nova organização de trabalho na era global, Almeida (2005) recorre a Gilbert Durand16 para analisar a construção de um novo modelo laboral que está em rutura com o modelo obsoleto da organização fordista ou taylorista. Recorde-se que o modelo fordista-taylorista surge com a industrialização e privilegiava a produção em série em detrimento das capacidades humanas dos e das agentes sociais. No quadro contemporâneo surgem outras prioridades direcionadas sobretudo à criatividade e à cultura. Atrevemo-nos a acrescentar que também o empreendedorismo – matéria que iremos desenvolver nos capítulos seguintes – constitui requisito prioritário neste novo modelo.

Held e Goldblatt (1999) agrupam as diferentes posições em três correntes: hiperglobalistas17, céticos18 e transformacionistas19. Segundos os autores, para os hiperglobistas geramos um mundo sem fronteiras, para os céticos eliminam-se as localidades, já para os últimos compreendemos uma comunicação multidirecional entre povos. É é nesta última corrente que nos revemos no desenvolvimento deste trabalho.

Por sua vez, Sousa Santos (2012) enumera-nos os factores que, a seu ver, contribuíram para o quadro destas metamorfoses, e.g., com a globalização chegam também as mudanças tecnológicas, a diversidade cultural de mão-de-obra, as novas demandas e exigências de clientes, os modelos de gestão em constante remodelação, uma reconfiguração do conceito de trabalho e diferentes expectativas da sociedade.

Sousa Santos (1997) cria duas denominações do fenómeno: a globalização hegemónica versus a contra-hegemónica. Para o autor, a globalização contra-hegemónica incorpora as diferenças de cada comunidade local num mercado global e liberal. Entendemos assim a globalização contra-hegemónica como a promoção das economias locais e comunitárias diversificadas, ligadas a forças exteriores provenientes da força da globalização, mas, ressalve-se, não dependentes das mesmas. As iniciativas locais, de pequena escala, diferem consoante o seu espaço físico, a cultura e as necessidades desse local.

Advogamos que os processos transnacionais, quer económicos, quer culturais, encontram-se interligados irrevogavelmente, i.e., o local e o global cooperam entre si. Atendemos à aceção que quaisquer iniciativas cosmopolitas, dirigidas a uma transnacionalidade, estão, porém, ancoradas, enraizadas em locais concretos. É uma missão global defender os direitos humanos, sobretudo em locais onde exista maior

16(1921-2012), Professor, sociólogo e antropólogo francês que dedicou os seus estudos à pedagogia do imaginário. 17Para os hiperglobalistas o Estado perde autoridade para o Mercado Económico, que é o cerne deste movimento. A decisão política depende assim da força do poder financeiro de cada país. Assim é função do Estado procurar atenuar as clivagens de classes sociais e concentrar-se no poder da ação humana para dar sentido a uma unificação global de sociedades.

18Para este grupo de pensadores, o Estado prevalece e o objetivo é dominar o mercado ocidental nos negócios mundiais. Neste entendimento denunciam a marginalização dos países do terceiro-mundo por oposição ao crescimento dos países desenvolvidos e registam um aumento de disparidades sociais no mundo.

19Os transformacionistas adotam uma posição mais moderada, concentrando-se no seio das preocupações dos dois grupos teóricos anteriores. Temos como integrantes desta escola Giddens, Castells, Scholte, entre outros. Para estes, a globalização associa-se a novas formas de organização política e económica e sugerem que tanto as pessoas como os Estados Nação têm que se adaptar a este mundo em permanente transformação, onde não está límido o espaço nacional / internacional, compreendendo-se que o local é em simultâneo global.

carência e deturpação das normas igualitárias. Acreditamos que o global acontece localmente e conforme Sousa Santos (1997) sugere, importa desenvolver a inteligibilidade recíproca entre os diferentes locais de modo a superar as necessidades de cada qual, através de alianças translocais. Importa ainda transportar o multiculturalismo emancipatório que o autor sublinha, uma vez que, anuímos que “temos o direito de ser

iguais quando a diferença nos inferioriza e de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.” (Sousa

Santos, 2003, p. 56, 2011, p.1)

Esta premissa elencada é válida ao longo de todo este estudo, que analisa em simultâneo, assimetrias de género e assimetrias regionais, a forma como se desenvolvem e caminham para ultrapassar barreiras e atingir um êxito, quer em termos de representatividade de género, quer em termos de identificar oportunidades para empreender no locus. Definimos êxito neste estudo como o alcance de objetivos pessoais e ou profissionais por parte do e da agente social. Readaptando a conceptualização de Cabral in Sales Oliveira (2011) aos nossos propósitos, o conceito de êxito social é introduzido neste paralelismo para identificar as atitudes do ator social quando tem que lidar com as inferências da globalização nas localidades e as suas perceções sobre os factores determinantes desse êxito, o que tem profunda relação com o percurso de vida e pertença de classe social (Cabral in Sales Oliveira, 2011).

Já Casaca sedimenta que as transformações ocorridas no mundo do trabalho durante o século XX fizeram surgir um novo léxico social e político "(…) globalização, descentralização, flexibilização” (Casaca, 2008, p.167). Os factores resultantes desta condição social atual sustentam a construção social de um mercado de trabalho flexível, que necessita da criatividade dos atores sociais envolvidos para sobreviver. Para Almeida (2005) a interpretação do conceito de flexibilidade pode resultar em variáveis no mercado laboral, nomeadamente o tempo de trabalho, o local e o seu estatuto jurídico “(…) por outro lado, significa

assegurar que uma atividade humana específica (ou um factor produtivo) se adapta às circunstâncias mutáveis na produção (…)” (Almeida, 2005, p. 153,154). Há quem considere que a flexibilidade resulta numa

precariedade de trabalho, uma vez que não se preveem condições de segurança em termos contratuais, contudo, por outro lado, incentiva os atores sociais a se tornarem mais competitivos, despertando a sua multifacetada capacidade de sobrevivência. A este propósito Rebelo (2005, 2006) constrói uma dupla conotação: a flexibilidade precarizante e a flexibilidade qualificante. À primeira relaciona o termo quantitativo, i.e., a procura de trabalhadores que respondem a determinado volume insconstante de trabalho. Já a flexibilidade qualificante é aquela que é capaz de responder à competitividade de mercados, por força das ecléticas competências dos trabalhadores.

Em torno do viés teórico da globalização e seus impactos ao nível do mercado de trabalho, importa ainda referir as mudanças setoriais acerca do tipo de empregos com maior predominância no contexto vigente. Segundo os indicadores estatísticos mais próximos à data deste estudo (PORDATA, 2016b), em Portugal, o setor de atividade com mais população empregada é o terciário, apresentando um largo afastamento dos restantes setores, e.g., 318, 4 milharespara o setor primário, 1128,3 milhares para o secundário e 3158,6 milhares para o terciário. Esta tendência vem aumentando nos últimos tempos de acordo com a mesma fonte (PORDATA, 2016b).

A globalização, para além de alterar a composição laboral, tem vindo a afetar os quadros tradicionais de identidade, que, estão a dissolver-se em prol de novos padrões. Obriga deste modo a que os e as agentes

sociais adotem uma posição diferente na construção da sua vida pessoal e profissional. Ademais, Giddens (2000a) constata que os laços económicos, sociais e políticos atravessam fronteiras e acabam por condicionar a estrutura e os e as agentes de cada país neste movimento relacionado. O debate em torno desta temática tem gerado inúmeras posições, quer no meio académico, quer na opinião pública: há quem reconheça benefícios na globalização e os que apenas encontram prejuízos para as sociedades20.

Beck (2006) transmite-nos que o trabalho a tempo inteiro está a dar lugar a esquemas mais flexíveis,

i.e. trabalho a partir de casa através de recursos internáuticos, múltiplos empregos, horários de trabalho

parciais, entre outros. Vários autores e autoras determinam o fim do conceito de ‘carreira’ ou ‘trabalho para a vida’ dando azo a uma metamorfose radicada na capacidade de adaptação humana. A noção de