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Contornos de um empreendedorismo no feminino

Perante as contingências laborais em torno do empreendedorismo, acresce-nos neste estudo a problematização da representatividade de género. O papel da mulher tem vindo a conquistar espaço na sociedade sobretudo na necessidade presente do mercado laboral, pela simples aceção de que a mulher é um ser cada vez mais ativo e consciente de si própria. Neste entorno, aumentam as possibilidades de adquirir mais venturas para si própria e para a sua vida. Assim argumentam Fernandes, Campos e Silva (2013) acerca da evidência do empoderamento feminino, registando um aumento gradativo de empreendimentos organizados por mulheres neste novo cenário económico.

Atendemos à premissa de que empreender é liberdade, i.e., a liberdade de ser mulher e de ser reconhecida como uma mais-valia no desenvolvimento económico e social, é afinal, um dos patamares que se procura atingir nas questões de igualdade de género. Respeitar o seu mérito enquanto mulher e a sua diferença enquanto ser-humano, contribuir com o seu potencial, o seu perfil e o seu portfólio de

65De entre os quais se integram por ordem de classificação: Suécia, Nova Zelândia, Hong Kong, Irlanda, Reino Unido, Dinamarca, Países Baixos, Finlândia, Noruega, Canadá, Austrália, Singapura, Estónia, Luxemburgo, Lituânia, Suíça, Bélgica, Taiwan, Portugal e Eslovénia.

conhecimentos e competências. Através de um processo heurístico a mulher contemporânea vai constituindo a sua própria episteme num quadro científico sui generis.

Sales Oliveira (2014) assenta que as últimas décadas do século XX foram marcadas pela feminização no mercado de trabalho, conquanto, estudos nacionais e internacionais revelam que a mulher portuguesa acumula trabalho remunerado - despendendo quase sempre as mesmas horas laborais do que o homem- com trabalho não remunerado -tarefas domésticas e cuidado de dependentes – filhos e outros familiares necessitados-, contrapondo, o homem que continua a envolver-se menos neste tipo de funções. Para a investigadora, isto representa um acréscimo no esforço da mulher e provoca dificuldades de conciliação entre a vida familiar e a vida laboral. O desafio das mulheres empreendedoras é tanto maior assim que se toma em consideração que são elas que, em maioria, se encarregam das tarefas familiares e domésticas (Robeyns, 2003). Conciliá-las com a sua atividade profissional poderá complicar o seu desempenho, alerta Sarkar (em entrevista), que aponta ser este o principal obstáculo nas mulheres. Todavia, em termos de prestação laboral, Sarkar não identifica diferenças entre mulheres e homens. Nesta linha, depreendemos que as mulheres têm uma capacidade de resiliência acrescida, uma vez que lhes incumbe realizar diversas tarefas em simultâneo e com eficácia. Curiosamente Schouten (2012) enfatiza a responsabilidade das mulheres mesmo nos atos domésticos e familiares, constatando que “também noutros assuntos as mulheres

na prática são as mais racionais: é comum que as mulheres se encarreguem da gestão dos recursos financeiros da família, conferindo aos homens o dinheiro para os seus vícios (…)” (Schouten, 2012, p. 34).

Concluímos daqui a capacidade proativa da mulher e, de modo alegórico, relacionamos o seu potencial com um mercado de trabalho voltado para a flexibilidade de desempenhos.

Uma divisão de tarefas equitativa tem sido uma preocupação sobretudo feminina, todavia os homens também se têm, pouco a pouco, posicionado no debate da equidade. Assunção (em entrevista) defende que os homens acabam por ganhar com esta divisão de papéis. Ganham sobretudo espaço, pois se existir uma congénere distribuição de tarefas, o homem consciente verifica facilmente que a sua função já não será tão pesada no âmbito da responsabilidade social e económica, bem como em determinados setores da atividade diária. Por outro lado, também o homem deseja ter mais tempo para os assuntos familiares (Ferreira, 2010). Devemos compreender que o próprio é prejudicado em questões de licença parental, não podendo, caso queira, dedicar mais tempo à família. Esta condicionante parte da estrutura social que temos, pelo que nas questões de género, tanto a mulher como o homem têm a ganhar defronte de cenários de igualdade. Assunção alerta-nos que é preciso que também o homem esteja ciente, que contribua cada vez mais para uma paridade de género e por conseguinte para a coesão social.

Seguimos a analisar o conceito de empreendedorismo e a relação de género. Ahl (2002) defende que o género é um constructo social e que se desconstrói face ao conceito de empreendedorismo. Importa-nos reforçar esta abordagem a partir do título tomado para este trabalho – O Empreendedorismo no Feminino na região do Algarve. A inserção estratégica do artigo ‘no’ vai ao encontro de um discurso sexualmente neutro, na procura de uma produção científica neutra, uma vez que permite esclarecer que, no presente estudo temático, o nosso objeto de estudo é exclusivamente feminino. Por outro lado, a ausência desse mesmo artigo iria dar enfase a posições gendradas, i.e., a abordagem de ‘empreendedorismo feminino’ determina uma classificação estereotipada, acentuando a diferença entre as expressões empreendedorismo

e empreendedorismo feminino numa tradição funcionalista. Doravante e sem essência de género, entendemos que o conceito de empreendedorismo pertence apenas ao ser-humano, seja homem ou mulher. Santos reforça esta premissa reconhecendo que ‘os diferentes conceitos e definições sobre o

empreendedorismo não fazem distinção de género, uma vez que as características empreendedoras encontram-se presentes tanto nos homens como nas mulheres (…)” (Santos, 2014, p. 2). Pelos motivos que

vão sendo elencados na construção teórica deste trabalho, constitui uma matriz premente desnaturalizar o conceito de empreendedorismo, quanto ao sexo, idade e nacionalidade. É relevante a menção a ‘nacionalidade’, uma vez que nos deparamos com um vasto multiculturalismo na região do Algarve, com o qual iremos cruzar a análise na segunda fase deste trabalho.

Discutido que está o posicionamento do género no fenómeno, interessa-nos prosseguir a analisar os perfis associados à ação de empreender, ou, por outro lado, os perfis mais debatidos na literatura económica e aliados à atividade empresarial. Sem embargo, na abordagem de perfis de género, já Amâncio (1993a) nos referenciava as características estereotipadas de homens e mulheres em contexto de decisão.

Tabela 3 – Perfis de género relacionados com gestão e ou liderança (Amâncio, 1993a).

Atente-se que ao discernirmos os conceitos de empreendedorismo e empresarialidade, estamos a propor que também os perfis agregados a cada um dos conceitos sejam distintos. Na tabela de Amâncio, entendemos encontrar traços de comportamentos estigmatizados e que se relacionam mais com o conceito de empresarialidade e liderança. A mulher é desvalorizada de processos decisórios por se rotular de frágil, dependente, sensível, sentimental e afetuosa. Na desconstrução defendida por Ahl (2002), seria impossível compreender os múltiplos ‘eus’ ou a fragmentação identitária que existe nos variados contextos em que a mulher se assume como mãe, conselheira, estudante ou até mesmo subordinada sem romper com os dogmas estruturais. A autora defende por tal uma perspetiva pós-estruturalista que lhe permita atenuar as ideias dominantes associadas em contextos de liderança, organização e administração. Ahl (2002) propõe uma rutura com o estigma social de que a liderança é por norma pertença masculina e uma mulher líder é um desvio de padrão.

Coelho (2014) investiga as diversas teorias de liderança, refutando o quadro acima apresentado. A autora colige algumas características que, através da sua pesquisa, encontra como vantagens na liderança

feminina, i.e., as mulheres tendem a preocupar-se mais com o desenvolvimento de trabalhadores e trabalhadoras, definem de forma mais clara responsabilidades e constroem equipas de trabalho mais proativas. De acordo com a proposição definitória tomada para o conceito de empreendedorismo no início deste capítulo, reforçamos o perfil da criatividade como o mais determinante no empreendedor ou na empreendedora. Nesta base, nenhum dos adjetivos apontados por Amâncio satisfaz este papel, até porque, cremos, os objetivos são diferentes.

Enviesado à matéria de perfis, encontra-se o motor da ação, i.e., as motivações. Vericat (2013) aponta que o espírito empreendedor tem cinco estímulos: i) a experiência pessoal; ii) vontade de aproveitar as competências e potencialidades adquiridas; iii) alcance de objetivos pessoais; iv) vontade de replicar ideias observadas em outros contextos e adaptar em cenários próximos e v) ensejo de desenvolver uma atividade fora dos modelos tradicionais. Este último vem fortalecer a relação da inovação com o ato de empreender. O Global Entrepreneurship Monitor pela primeira vez em dezasseis anos de atividade, elaborou um estudo exclusivo acerca do empreendedorismo no feminino (GEM, 2015e), reconhecendo-se desta forma a necessidade e o crescimento da temática. No barómetro do empreendedorismo conclui-se que as mulheres, em quase metade das economias analisadas pelo GEM a nível mundial, revelam igual ou maior nível inovador na sua atividade, comparativamente aos homens (2015:9). Apesar disso, em Portugal a intenção de empreender corresponde a apenas 13% nas mulheres face a 25% nos homens. Através da classificação dos últimos Censos (INE, 2011), apuramos que em Portugal, 162 055 mulheres têm atividade própria e que gera emprego para outros. Estas mulheres têm a idade média de 44,9 anos, são, na sua maioria, casadas (104 573) e 27,8% possuem habilitações de nível superior. Ainda assim e apesar do cenário caminhar positivamente, Sarkar alerta-nos para que “a participação das mulheres em atividades empreendedoras varia muito de país

para país (…) Em nenhum dos países desta amostra a atividade empreendedora das mulheres é superior à dos homens. (…)” (Sarkar, 2010, p. 64).

Blanco (em entrevista) revela encontrar na sua escola muitas mulheres vítimas de segregação laboral, assim como muitas mulheres receosas de arriscar na sua própria atividade, porque têm escassas condições financeiras para fazê-lo, ou até porque se sentem repelidas por uma sociedade patriarcal. Neste rescaldo, relacionamos à mulher um dos obstáculos fatores já aqui registado: o medo, a que designamos por ‘temor ibérico’. Importa desmistificar que este temor não pertence somente ao sexo feminino embora a este seja mais latente, pelas diversas circunstâncias societais aqui exploradas.

Não obstante, Blanco reforça que cada vez mais mulheres optam por criar o seu próprio emprego, reforçando a importância de estudos que analisem os impactos sociais e económicos que o fenómeno do empreendedorismo de mulheres tem vindo a provocar nos diversos vértices da sociedade.

Mas vejamos por onde se distribui a força laboral feminina. Nos estudos apurados (Informa D&B, 2015), as mulheres estão mais ligadas ao setor terciário. Sabemos, no entanto, que este é uma categoria por demais heterogénea, albergando uma enorme diversidade de atividades (Sales Oliveira, 2011).

Tabela 4 – Representatividade das mulheres consoante o setor de atividade (Informa D&B, 2015). Principais

setores de atividade

Cargos de

liderança Cargos de gestão Empregados número de Peso no

empresas Peso no volume de negócios Peso no emprego Serviços 36% 40% 56% 24,5% 9,7% 22,6% Retalho 32% 37% 53% 17,7% 16,3% 14,7% Indústrias (1) 24% 30% 41% 11,6% 26,7% 25,1% Construção 16% 26% 11% 10,2% 5,8% 9,4% Grossista 24% 30% 37% 9,6% 20,6% 7,5% Alojamento e restauração 32% 35% 56% 8,7% 2,1% 7,3% Universo empresarial 28,2% 33,8% 42,3%

Pela tabela constatamos que a representatividade feminina ainda é deficitária em algumas atividades. O setor da construção encontra-se tipificado ao género masculino. As mulheres nos cargos de gestão tendem a diminuir à medida que as empresas são maiores. A este propósito, a Lei 62/2017 de quotas de género, aqui já referida, vem precisamente atuar no busílis da questão. As assimetrias entre homens e mulheres evidenciam-se perante empresas lideradas por homens – observando-se uma composição de gestores maioritariamente masculinos. Em contrapartida, nas empresas lideradas por mulheres figuram equipas mistas, num resultado mais equilibrado ao nível do género. Nesta abordagem, acrescentamos ainda que as empresas com maior antiguidade no mercado contam sobretudo com homens na gestão, num feito geracional que nos leva a conferir uma continuidade na representatividade de género (Informa D & B, 2015). Para colmatar estas e outras eventuais disparidades de género, e na continuidade de uma linha de atuação encetada já há alguns anos, foi elaborado e aprovado o V Plano Nacional para a Igualdade de Género, Cidadania e Não-discriminação 2014-2017 (Diário da República, 2013). Privilegia entre outros eixos a Independência Económica, o Mercado de Trabalho e Organização da vida Profissional, Familiar e Pessoal. No limiar da terceira área estratégica, retiramos para esta exposição as medidas que mais se relacionam com os intentos desta investigação e.g. 41) pretende-se reforçar junto das empresas privadas a implementação de planos de igualdade; 43) valoriza-se as empresas que incorporam mulheres nos seus conselhos de administração, utilizando como critério de desempate em caso da candidatura de projetos a fundos comunitários, vencendo as empresas que têm mulheres no cargo de administração; 44) promove-se o empreendedorismo no feminino através de linhas especialmente dedicadas a este fomento; 45) promove-se o associativismo e o empreendedorismo das mulheres agricultoras; 46) avalia-se a evolução das diferenciações salariais entre homens e mulheres; 48) divulga-se os instrumentos de conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar, promovendo uma partilha equilibrada de tarefas entre homens e mulheres, e 49) distinguem-se boas práticas no âmbito da responsabilidade social de empresas.

Com vista a consolidar a nossa apreciação a este Plano, recorremos ao mais recente relatório de avaliação intercalar (CIG, 2017) sobre o impacto das diretrizes registadas. Neste documento aborda-se a

importância de alteração de documentos públicos com linguagem inclusiva ou neutra, bem como relatórios estatísticos desagregados por sexo, sendo que as medidas estão sendo implementadas já por algumas instituições públicas. Importa ainda registar que em todas as ações de sensibilização para a igualdade de género realizadas pelo CIG, o numerário de adesões do sexo feminino é sempre superior aos participantes do sexo masculino. Este último resultado denuncia a alienação masculina na conciliação da paridade laboral, impossível de se desenvolver sem a contribuição de ambos e na conjugação dos interesses de ambos, homens e mulheres.

Perante o diagnóstico (CIG, 2015) avistamos ao longe os objetivos propostos para uma coesão social. É um caminho que se faz percorrendo, justificando-se a existência de continuados planos ancorados numa estratégia política, económica e social.

Tomamos agora a análise do papel da mulher enquanto empreendedora. Que benefícios poderá a mulher trazer no seu papel de empreendedora? Assunção (em entrevista), entende que o facto de as mulheres criarem o seu próprio emprego poderá assumir-se como uma alavanca para a reestruturação dos papéis de género na sociedade. Será então, atente-se, uma das formas de reconhecimento do potencial da mulher, de diminuir a segregação laboral e outros estereótipos persistentes. A socióloga opina ainda, que quando a mulher se torna autónoma e é proprietária da sua atividade laboral, potencialmente não sofre tantos preconceitos de género, uma vez que ela conduz a sua vida.

Segundo Monteiro, Silveiro e Daniel (2015) podemos também avistar um handicap presente na heterogeneidade das representações de mulher empreendedora, na evocação de atributos associados ao estereótipo de feminilidade, e.g. simpatia, beleza, elegância, vaidade, traduzindo vantagens para a mulher. Assim anui Santos que advoga que “os atributos denominados ‘femininos’ começam a ser valorizados. As

pessoas qualificadas como inovadoras e intuitivas estarão mais aptas para conquistarem os cargos de chefia e liderança” (Santos, 2012, p. 221). E mais acrescenta que “as mulheres se destacam em algumas habilidades, (…) em especial, pela capacidade empreendedora e de encarar com seriedade os desafios que se apresentam a cada dia” (Santos, 2012, p. 221). A autora enumera competências como motivação,

capacidade de trabalhar em grupo, organização, gestão de conflitos, gestão do tempo, atenção aos detalhes e vai mais longe, apelidando a mulher de criativa e intuitiva. Fernandes, Campos e Silva (2013) apontam a figura da mulher “elástica” e acreditam que a empreendedora tem vindo a introduzir características aos negócios que antes não eram tão valorizadas, tais como criatividade, sensibilidade, flexibilidade, cooperância e persuasão. Características tradicionalmente conotadas com o mundo feminino e que sempre foram vistas de forma preconceituosa, passam a ser consideradas essenciais.

Acentuando a tónica no debate permanente estrutura e agência, registamos duas posições de especialistas que trabalham diariamente o empreendedorismo no feminino em Espanha. Vericat (2013) defende que o desenvolvimento deste empreendedorismo se encontra condicionado por três factores e suas variáveis, e.g., factores sociais (educação, formação para empreender, normas sociais e culturais); factores económicos (acesso ao financiamento, acesso a igualdade de oportunidades, influência da estrutura do emprego público e privado, estágio de inovação e abertura do mercado) e factores institucionais (existência de políticas públicas de apoio às mulheres empreendedoras, proteção de propriedade industrial e apoio ao

crescimento e transferência de conhecimentos). Para a ensaísta este conjunto de elementos tem que compor o esqueleto de uma estrutura. Por outro lado, Blanco (em entrevista) alerta para a problemática que reside na própria mulher, i.e., na generalidade elas geram atividades mais pequenas, têm menos autoconfiança e são mais avessas ao risco. É questionável em que medida se poderá associar esta tendência a um perfil feminino ou antes a condicionantes estruturais.

Para Santos (2012) a mulher é intrépida na medida em que é caracterizada como destemida e autoconfiante, com forte desejo de independência e realização. Ademais, a autora observa que enquanto tendencialmente os homens iniciam negócios relacionados com a sua atividade anterior, as mulheres passam por um processo de busca pessoal e não apenas profissional, podendo concertar outras atividades e iniciar novas aprendizagens.

O factor flexibilidade, presente no novo motor laboral advento da globalização, pode ser favorável se pensarmos que permite à mulher adaptar os seus horários, sendo autónoma para fazê-lo, e assim ter mais facilidade para as demais tarefas, conforme defende Sousa Santos (2012). Já Sarkar (em entrevista) discorda desta posição, uma vez que um empreendimento (projeto) é como um recém-nascido, carece de dedicação quase exclusiva, ocupando assim mais tempo e carga horária. A propósito, Schouten recorda-nos a contradição dos horários perante a incumbência de tarefas domésticas e o tempo livre para os projetos femininos “É irónico que, apesar da sua chamada supremacia na casa, a mulher raramente tem um espaço

para si e para a sua autorrealização, como foi referido por Virginia Woolf, no ensaio ‘A room of one’s own’, entre outros textos” (Schouten, 2012, p. 71). A gestão do tempo configura-se assi, como um aspeto que

carece de uma acentuada mudança nos papéis de género, a qual, acreditamos, se enceta pelo motor da conscientização do e da agente, do seu empoderamento, no sentido de Lourdes Pintasilgo (Carrilho, 2015). Por outro lado, da consciencialização weberiana resultam também as escolhas racionais (Scheeffer, 2013). No momento da escolha da atividade, confrontamos os resultados apurados (Informa D&B, 2015) para concluir que as mulheres se concentram em maioria na área dos serviços. Perspetivamos, sem generalizações, que tal se deve por se encontrarem mais experientes e intuitivas com o lado humano, o que as leva a lidar com facilidade com o público e revelar neste quesito uma capacidade de bargaining maior do que os homens. Seguindo o acervo aqui explorado (Ahl, 2002; Santos, 2012, 2014; Fernandes, Campos e Silva, 2013; Coelho, 2014; Monteiro, Silveiro e Daniel, 2015) as mulheres têm mais facilidade em compor equipas, são persistentes, cuidam dos detalhes, vêm o trabalho como um desafio e não como um fardo, são destemidas e autoconfiantes.

Agregamos a esta panóplia o facto de a mulher surgir como empreendedora em cenários de crise, como a recente instabilidade política e económica nacional. Em analogia com os dados históricos a aprofundar no capítulo seguinte, a mulher entra no mercado de trabalho em conjuntura de guerra, diante de crises económicas, políticas e sociais. Este é um elemento que entendemos reforçar o papel da mulher e a sua natureza de resiliência no trabalho.

Neste quadro colaboram múltiplas ferramentas. A entrevistada Amich fortalece o cenário afirmando a existência dos inúmeros recursos internáuticos para mulheres. Através destes, um maior número de pessoas promove e reconhece as ações empreendedoras de mulheres, realizam-se workshops online para

mulheres, entre outras ações fundamentais para a difusão das suas atividades. As plataformas tornaram-se uma ferramenta modal para universalizar o empreendedorismo, de entre as quais encontramos a associação oficial women win win66, e vão surgindo outras, algumas oficialmente registadas, outras apenas reconhecidas no mundo cibernético, com o propósito de empoderar as mulheres.

Sousa Santos (2012) fortalece esta premissa referindo que a experiência tem demonstrado à sociedade que em qualquer situação, desde que em igualdade de oportunidades, a capacidade de desempenho das mulheres é igual à dos homens. A mulher tem vindo a provar que sabe detetar o factor ‘oportunidade’, estando consciente de si própria, i.e., em processo Bildung67 (Siljander et al, 2012).

Também Amich (em entrevista) respalda que atualmente as mulheres trazem consigo uma preparação académica superior e apura em dados recentes, que 30% das empresas na Europa são lançadas por mulheres. A própria fundadora da rede social de mulheres reforça acreditar que uma sociedade que não investe nas suas mulheres empreendedoras é como uma pessoa que nunca alcançará o seu verdadeiro potencial.

Sendo que o empreendedorismo no feminino está em evidência, por consequências ou não do fenómeno de globalização, cogitamos que carece neste exato momento de uma alavanca, nomeadamente