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A problemática do desemprego na região

Neste ponto importa aferir a problemática do desemprego no território caracterizado e a sua evolução. Tal entendimento poderá contribuir para investigar a motivação da atividade empreendedora no feminino e na região afeta, bem como elencar a premissa de que estas atividades contribuem para colmatar as contingências do mercado laboral em que operam, i.e., partindo da premissa que a mulher no papel de empreendedora vem reforçar o tecido económico local.

No último recenseamento da população em Portugal, encontramos o total de 662.180 desempregados e desempregadas, repartindo-se entre 327.600 homens e 334.580 mulheres, para um

universo de 5.010.822 residentes como população ativa142 (INE,2011). Em 2011 a região do Algarve tinha a taxa mais elevada de desemprego do continente143 português. Comparativamente ao mesmo trimestre e no ano atual de 2017 tal realidade alterou-se, encontrando-se as regiões norte (com uma taxa de 9,5%) e a área metropolitana de Lisboa (9,4%) com o mais alto número de desempregados (INE, 2017b).

Gráfico 12 – Evolução da taxa de desemprego nas regiões do continente (INE, 2017b)

Outra das curiosidades reveladas nos dados demográficos apurados, é que apesar de existirem mais mulheres do que homens, nesta região, a taxa de desemprego é mais elevada nos homens (PORDATA, 2016b), o que nos leva a procurar correspondências que justifiquem o fenómeno.

É indubitável que a estrutura da região do Algarve tem sofrido mutações, as quais entendemos à primeira análise como positivas, uma vez que o desemprego desceu. Não obstante, importa compreender o papel das agentes – mulheres empreendedoras – nesta mutação, uma vez que no que tange ao segundo trimestre de 2017, os números vêm contrariar tendências no campo dos estudos de género. Embora com um ligeiro diferencial, mas que nos importa destacar, o desemprego nesta região é maior nos homens do que nas mulheres - respetivamente a proporção de 8% nos homens e 7,2% nas mulheres. Já comparativamente ao cenário português o paradigma altera-se, correspondendo a 8,4% nos homens e 9,3% nas mulheres (INE, 2017b). É relevante observar através destes dados que apesar de no país ainda existirem mais mulheres desempregadas que homens, as taxas têm vindo a aproximar-se ao longo dos anos. Ferreira (2010) afere- nos que as taxas de desemprego das mulheres, ainda nos anos noventa do século passado, foram sempre superiores às dos homens numa média aproximada de dois pontos percentuais.

Respeitante à sua distribuição geográfica, os indicadores (PORDATA, 2016b) revelam-nos também que existe mais desemprego nas localidades do Algarve com maior aglomerado populacional, e.g. Albufeira,

142Tabela de Dados Estatísticos referente à população residente com 15 ou mais anos de idade, por Local de residência, por sexo, grupo etário, condição perante o trabalho e nível de escolaridade (INE,2011).

143Os dados referem-se ao continente, pelo que não incluem as ilhas, que já no cenário global português são as que têm a mais elevada taxa de desemprego.

Lagoa, Olhão e Portimão, excetuando os casos de Vila Real de Santo António e Castro Marim (pequenos núcleos onde se aferem também elevadas taxas de desemprego).

A problemática do desemprego na região é analisada no relatório da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (Santos et al., 2015), que identifica como hipotéticas causas o facto de o Algarve ser uma região periférica, o seu fraco desempenho empresarial, a predominância de atividades sazonais pouco diversificadas e de cariz muito tradicional, não se aproveitando na totalidade os recursos existentes desta região.

Apesar da diminuição percentual do nível de desemprego no Algarve, nos dados mais recentes, um dos pretextos evidenciados na sua fundamentação diz respeito ao problema da sazonalidade. Conforme se verifica no gráfico seguinte, no período de 2016/2017, o desemprego aumenta no primeiro e último trimestre do ano – datas coincidentes com a época baixa. Já o período das estações mais quentes reativa o emprego na região, a qual apresenta forte dependência laboral no setor do Turismo e atividades afetas.

Gráfico 13 – Evolução da taxa de desemprego nos 4 trimestres 2016/2017 (INE, 2017b)

Santos et al. (2015) corroboram que os bloqueios cognitivos e produtivos de que a região padece se devem sobretudo por gravitar as suas atividades em torno do turismo, limitando a visibilidade para outros eventuais recursos endógenos existentes no ecossistema algarvio e por consequência limitando o seu potencial de inovação regional.

A este propósito Barreira (2006) analisava ser mister um novo olhar sobre a região. A autora ressalva a necessidade de capitalizar conhecimento através de novos modelos de sistemas de transferência de modo a que as empresas do Algarve possam se solidificar, tornar-se mais competitivas e crescer, criando de igual modo mais emprego. Passados dez anos deste estudo, constatamos que o pilar do desenvolvimento da economia regional continua ancorado no turismo e muito dependente deste assim como os registos continuam a acusar falta de inovação na região (Santos et al., 2015). Não obstante, Barreira (2006), considera que o turismo é um forte setor, pois as empresas do ramo integram fortes ligações internacionais e por consequência um conjunto alargado de informações e conhecimentos que podem vir a ser geradores

de inovação. Não obstante, continua a não chegar para colmatar o desemprego durante um desempenho que se quer anual e não periódico.

Paralelamente à sazonalidade e ao desemprego, o Algarve é uma região periférica - situada no ponto mais a sul de Portugal -, o que resulta muitas vezes em fracas interações institucionais, que fragmentam e desarticulam os empresários e as empresárias com as entidades centrais e as novas iniciativas empreendedoras. A este propósito já Freire (1995) registava na sua investigação que as entidades com poder de decisão estão fortemente centralizadas na capital, em Lisboa. Passados mais de vinte anos o paradigma mantém-se. A centralização é entendida como uma fragilidade para o território do Algarve, descrita no RIS3144 (Santos et al., 2015) e que produz nesta um impacto negativo. A par desta celeuma, os autores citados consideram que seria desejável concentrar as prioridades das políticas públicas para gerar investimentos em setores mais diversificados, para além do entorno ao turismo. Por este motivo, torna-se premente que se encontrem novas oportunidades de ação empreendedora, de modo a esgrimir quer os recursos endógenos quer os recursos exógenos que existem e não estão a ser de todo aproveitados.

Para diversificarmos os setores de atividade necessitamos pois de pessoas com competências diversificadas. Neste raciocínio e se existirem barreiras sobre a população (quer de género, etnia, classe ou idade) estaremos a corroborar para uma estrutura pouco facilitadora à atividade empreendedora.

Sem embargo, os indicadores (INE, 2016a)apontam para uma recuperação do mercado laboral desde o ano de 2016. O Algarve é dotado de um ecossistema muito próprio e sem prejuízo do exposto relativamente às dificuldades, não é demais evidenciar o que nos oferece, i.e., localização com clima ameno e estável, boas praias, terrenos férteis para a agricultura, larga costa para a pesca, zonas com riqueza interior no que diz respeito ao património material e imaterial - edifícios históricos e riqueza cultural-, elevada miscigenação através de populações migrantes que oferecem mão-de-obra para trabalhar ou que criam o seu próprio emprego, que investem na região, ou que simplesmente aqui vêm residir – logo consumir-, entre outras condicionalidades quer internas quer externas.

Ao colocarmos todos estes parâmetros na balança e refletirmos sobre as problemáticas identificadas em torno do desemprego, compreendemos que as políticas públicas de atuação não têm sido suficientes, ou, por outro lado, a sua aplicação prática não tem sido a mais eficaz. Retomamos assim o enfoque dicotómico da estrutura e agência, questionando se o fenómeno do desemprego será produto de uma causa exclusivamente estrutural ou se também os e as agentes afetas na região não têm sido suficientemente proativos.

Muito embora lentamente a recuperar, o que observamos é que o desemprego persiste e continua a ser uma adversidade a combater. Por outro lado, não podemos isolar o fenómeno do desemprego das tendências nacionais e internacionais. Na polifonia de debates sobre o assunto (Corrêa da Silva et al, 2015; Félix, 2017) é ponte assente que os tempos austeros recentemente vivenciados traduziram níveis nunca antes experienciados de desemprego, extensíveis a todo o território português e também europeu.