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A formação continuada é uma oportunidade de valorizar o coletivo da escola

5 A PESQUISA DE CAMPO E SUAS NUANCES

6 A FORMAÇÃO CONTINUADA NAS ESCOLAS COM ÊNFASE NO PROFESSOR REFLEXIVO

6.1 SUGESTÕES PARA CONTRIBUR NA ORGANIZAÇÃO E EFETIVAÇÃO DA FORMAÇÃO CONTINUADA NO CONTEXTO ESCOLAR

6.1.5 A formação continuada é uma oportunidade de valorizar o coletivo da escola

Estar atento à importância de vivenciar coletivamente momentos de intercâmbio de conhecimentos nos espaços escolares é uma característica a ser desenvolvida pelos profissionais da educação. Essa perspectiva é uma ferramenta importante para evitar o individualismo, o trabalho isolado do grupo e de impedir que a tarefa docente se distancie da proposta pedagógica da escola. Para isso, cada professor precisa articular os saberes de sua disciplina com os conceitos educacionais mais amplos e capacidade de envolver-se com a coletividade.

Para Perrenoud (2002, p. 61), “a cooperação profissional sempre está na ordem do dia [...] e a capacidade de reflexão de cada um é um ingrediente da análise coletiva do andamento do grupo e um dos principais trunfos no ajuste das relações profissionais em equipe”. Por isso, os encontros de formação continuada são momentos cruciais para as escolas potencializarem o crescimento coletivo do corpo docente.

Percebemos que a função de professor assume um aspecto central no que tange a reflexão e o trabalho coletivo nas instituições escolares. Nessa perspectiva, é fundamental o professor conhecer a sua profissão e se identificar com ela, pois para Alarcão (1996), o professor que descobrir o sentido da sua profissão, irá descobrir a si mesmo como professor para ajudar os alunos a descobrirem a si próprios como alunos.

A autora enfatiza que se o professor não gostar da descoberta, deve “ter a coragem de abandonar a profissão antes que ela se torne um fardo demasiado difícil de suportar”. (ALARCÃO, 1996, p. 187). Nesse sentido, é possível enfatizarmos que ao identificar-se com a profissão, o professor se torna o próprio ator de sua constante formação e estará sempre aberto a compartilhar e cooperar com o coletivo da escola.

A interação com os demais profissionais da escola é um processo a ser construído diariamente, a partir de um anseio, de uma necessidade, do compartilhamento de uma atividade ou experiência exitosa, na interação durante momentos de planejamento e encontros formativos. A necessidade dos encontros de formação continuada valorizar a interação coletiva, ouvindo o individual e problematizando no coletivo, se potencializa a partir do momento em que as pessoas percebem mudanças nelas próprias, em suas ações e reflexões, exigindo dos indivíduos certo tempo e esforço, porém, é fundamental para entender melhor a profissão docente, bem como, as limitações pessoais e profissionais, pois “o indivíduo cria o espírito, desenvolve a mente na proporção em que o conhecimento das coisas se acha corporificado na vida que o cerca, o eu não é um espírito isolado [...]. O ato de pensar

representa uma atitude indagadora e investigadora, em vez de o ser de domínio e posse”. (DEWEY, 1959a, p 325). Assim, o pensamento quando é revisitado e ampliado com novas considerações ou convicções que advêm do outro, materializam novas estratégias acerca daquilo que necessitamos deliberar ou resolver.

No entanto, a valorização da coletividade nos encontros de formação continuada precisa ser bem encaminhada ou conduzida pelos formadores, pois pode ocorrer que muitos professores participem dos encontros formativos para buscar somente receitas prontas ou a procura de determinados procedimentos para melhorar o seu processo ensino e aprendizagem.

A participação e o envolvimento dos professores nos encontros de formação precisam ir além da busca de receituário. Deve priorizar a caracterização de ações ou atitudes profissionais, bem como, a valorização dos valores, práticas e pensamentos de cada um, potencializando reflexões acerca do porque e o que é feito durante o fazer pedagógico diário. Nesse sentido, analisar ou refletir as práticas pedagógicas de forma coletiva pode ajudar os professores a ter mais segurança diante de determinadas situações, ou pode ajudá-los a entender ou compreender melhor essas situações ou determinadas teorias e experimentos. Notamos a importância do professor se tornar um profissional reflexivo que esteja atento as suas necessidades docentes, empregando o pensamento como “um meio para um determinado fim, utilidade prática ou um valor”. (DEWEY, 1959b, p. 220).

Acerca disso, é possível aproximarmos do valor que a experiência articulada com a coletividade pode exercer para a solidificação das práticas exitosas que acontecem diariamente nas escolas e em muitas situações não são compartilhadas ou destacadas, de forma a promover reflexões ou a própria valorização de determinadas experiências docentes. Para Dewey (1959a, p. 153),

A experiência para a educação é primariamente ação ativo-passivo; não é, primariamente, cognitiva. Mas a medida do valor de uma experiência reside na percepção das relações ou continuidades a que nos conduz. Ela inclui a cognição na proporção em que seja cumulativa ou conduza a alguma coisa ou tenha significação.

Por isso, associarmos experiências com coletivo pode promover mudanças, pois ao entrar em contato com novas ou diferentes práticas, pensamos em possibilidades, estratégias e consequências, podendo levar o sujeito a constituir significações a partir de suas ações. Para Oliveira (2009, p. 293), “cada individuo se educa en la medida que tiene oportunidades de

contribuir de alguna manera con su propia experiencia personal, sin importar el nivel de escasez o abundancia de esta, fortaleciendo así el intercambio de experiencias o ideas”21.

É interessante destacarmos que nos encontros de formação continuada à valorização do coletivo e os aspectos que envolvem o educandário, não podem se sobressair sobre o prestígio que cada profissional possui, ou seja, é fundamental os formadores conciliarem os aspectos e/ou conceitos pedagógicos e educacionais dos profissionais, com as características pessoais de cada professor. Podem surgir descontentamentos ou desapontamentos acerca do que é exposto pelos professores ou pelos formadores.

Essas situações podem ser evitadas se o corpo docente se envolver de forma efetiva em uma formação que seja comum para cada educandário, tendo a proposta pedagógica da escola um importante papel para este envolvimento docente. Além disso, os formadores precisam conhecer o chão da escola, ou seja, a realidade na qual os professores estão inseridos.

Os próprios docentes necessitam confiar em seus formadores, mas é importante destacar também que os formadores precisam ousar e se preparar para trabalhar nos encontros formativos, assuntos ou temáticas que possam ir além de suas próprias especializações ou dos temas que melhor dominam ou conhecem.